O ar na mansão do Dom estava carregado de um silêncio que pesava mais do que qualquer palavra. Passaram-se duas semanas desde a festa em Del Sol Valley, e ele não as procurou. Não precisou. Júlia e Rafaela vieram até ele por própria vontade — ou, pelo menos, foi o que tentaram convencer a si mesmas.
A confiança que exibiam naquela noite, envoltas em vestidos que brilhavam sob as luzes do salão, agora se dissipara como fumaça. Rafaela mantinha os dedos entrelaçados no colo, as unhas pressionando levemente a pele, deixando marcas quase imperceptíveis. Júlia, por sua vez, sentava-se ereta, mas seus olhos vagavam pela sala, evitando fixar-se em qualquer coisa por muito tempo.
O Dom as observava do outro lado da mesa de ébano, os dedos tamborilando levemente sobre a superfície polida. Ele não se apressou para falar. Sabia que o silêncio era uma ferramenta poderosa — e que, quanto mais ele se estendesse, mais elas se entregariam à própria inquietação.
Finalmente, Rafaela quebrou o silêncio.
— "Estamos passando por uma dificuldade com a renovação da casa." Sua voz era mais suave do que o habitual, quase hesitante. "O investidor desistiu."
Júlia completou, os lábios se apertando por um instante antes de soltar as palavras:
— "Precisamos de uma quantia... considerável."
O Dom não respondeu imediatamente. Em vez disso, levantou-se com uma calma deliberada e caminhou até o aparador, onde uma garrafa de uísque envelhecido repousava sobre um bandeja de prata. Ele serviu três copos, enchendo-os até a metade, e então retornou. Serviu primeiro Rafaela, depois Júlia, e por fim a si mesmo. Sentou-se novamente, girando o copo entre os dedos antes de levar o líquido âmbar aos lábios.
— "Qual é o valor da liberdade de vocês?"
A pergunta ecoou na sala como um golpe. Júlia engoliou em seco, sentindo o gosto do uísque queimar sua garganta. Rafaela fechou os olhos, como se tentasse se proteger das implicações daquelas palavras.
Ele prosseguiu, a voz baixa e calculista:
— "Dinheiro não se dá. Se investe. E toda dívida é uma coleira invisível."
Rafaela abriu os olhos e olhou para Júlia, buscando algum sinal de resistência, mas encontrou apenas a mesma incerteza que sentia. Elas haviam entrado ali sabendo que não estavam negociando com um homem comum, mas com alguém que jogava em um nível muito acima delas.
O Dom inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados sobre os joelhos, as mãos entrelaçadas.
— "Não quero a casa de vocês. Quero o que está dentro dela. Vocês duas."
Júlia sentiu um frio percorrer sua espinha. A voz dele não era ameaçadora — era pior. Era inevitável.
— "A dívida será registrada. A casa será reestruturada. Vocês manterão a aparência de independência… mas pertencerão a mim."
Rafaela respirou fundo, tentando manter a compostura.
— "O que exige em troca?"
Ele se levantou novamente, desta vez circulando a mesa até ficar atrás delas. Júlia sentiu a presença dele como um peso nas costas, e seus músculos tensionaram involuntariamente.
— "Vocês serão submissas por dívida. A casa de vocês será uma extensão do meu domínio." Suas palavras eram medidas, cada sílaba carregada de intenção. "Treinamentos semanais. Relatórios diários. Códigos de conduta. Castigos. E, se necessário… redistribuição de papéis."
Júlia apertou os punhos, as unhas cravando-se em suas próprias palmas.
— "Ainda poderemos ficar juntas?"
Ele parou de circular e se abaixou entre elas, colocando uma mão firme no queixo de cada uma, forçando-as a olhar para ele.
— "Sim. Mas só quando eu permitir. E só se obedecerem com perfeição."
O toque dele era ao mesmo tempo invasivo e hipnótico. Rafaela sentiu um arrepio percorrer seu corpo, uma mistura de medo e algo mais profundo, algo que ela não queria nomear.
O contrato foi assinado na manhã seguinte, em uma sala escura com paredes revestidas de madeira nobre. O documento era extenso, detalhando cada cláusula, cada obrigação, cada consequência por desobediência. Júlia leu cada linha com atenção, tentando encontrar uma brecha, uma saída, mas sabia que não havia. Rafaela assinou primeiro, sua caligrafia firme, como se quisesse provar a si mesma que ainda tinha algum controle.
Quando a última assinatura foi colocada, o Dom sorriu, um gesto quase imperceptível, mas suficiente para fazer Júlia estremecer.
— "Bem-vindas ao meu jogo."
As submissas da casa principal foram avisadas naquela mesma noite. Houve cochichos, olhares curiosos, mas nenhuma surpresa verdadeira. O Dom sempre expandia seu domínio, e elas sabiam que, mais cedo ou mais tarde, outras seriam trazidas para dentro de seus esquemas.
Naquela noite, Júlia e Rafaela voltaram para sua casa — agora não mais apenas delas, mas dele. Os cômodos pareciam diferentes, como se as paredes soubessem que haviam sido conquistadas. Rafaela sentou-se na cama, olhando para as mãos, enquanto Júlia permanecia em pé diante da janela, observando o luar que banhava os jardins.
— "O que nós fizemos?" Júlia murmurou, mais para si mesma do que para Rafaela.
Rafaela não respondeu imediatamente. Quando finalmente falou, sua voz estava fria, quase distante.
— "O que tínhamos que fazer."
E, naquele momento, ambas sabiam: a verdadeira dívida não era apenas financeira. Era muito mais profunda. Era uma rendição de vontade, uma entrega de si mesmas a um homem que não aceitava meio-termo.
O Dom, em sua mansão, olhava para o horizonte através da janela de seu escritório, um copo de uísque na mão. Ele sabia que não conquistara apenas dois corpos a mais — mas sim duas vontades que, em breve, aprenderiam a se curvar sem resistência.
E ele estava ansioso para ver quanto tempo levaria até que elas pedissem por isso.