PARINTINS - O AMOR ESTÁ NO AR - 3 - VOCÊ?

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3103 palavras
Data: 30/06/2025 23:33:46

Pessoal, desculpa a demora, eu estava na Ilha de Parintins, o lugar onde se passa essa história. Infelizmente, a internet na cidade é instável, mas não vou deixar meus leitores na mão, né? Segue o capítulo de hoje:

O bar do Batuca estava fervendo naquela noite. Risadas, copos tilintando, música ao fundo... até que, de repente, tudo parou. Uma confusão chamou a atenção de todos. No meio do salão, Jonas Benevides, visivelmente alterado, tentava levantar após ser empurrado por um rapaz que parecia ter o dobro do tamanho dele.

Cauê, que até então só observava, não conseguiu mais ignorar. Sem saber exatamente como intervir, avançou decidido, ajudou Jonas a ficar em pé.

— Chega! — Gritou, segurando Jonas pelo braço.

Os ânimos ainda ferviam, mas a intervenção inesperada desestabilizou os brigões. Aproveitando a brecha, Cauê puxou Jonas dali, quase o arrastando. Na pressa, jogou algumas notas sobre o balcão, torcendo para que cobrisse tanto a cerveja quanto o prejuízo.

— Bora, cara! Anda! — Resmungou, enquanto Jonas tropeçava nas próprias pernas, ainda gesticulando no vazio como se lutasse contra fantasmas.

— Eles iam ver só, aqueles abestados... — Balbuciava Jonas, misturando palavras e risadas descontroladas.

Cauê respirou fundo, revirando os olhos a cada frase sem sentido. O rapaz parecia brigar sozinho com o vento. E, entre um xingamento e outro, soltava piadas tão desconexas que, por pouco, não arrancavam uma risada dele.

Sem ter muitas opções, levou Jonas até a praça da Catedral, onde pelo menos poderia pensar no que fazer.

Assim que alcançaram um dos bancos, Jonas se jogou como quem acabava de cruzar a linha de chegada de uma maratona.

— Porque me tirou de lá? Eu ia, ia dar uma surra naqueles abestados! — Protestou, com um dedo trêmulo apontando pra ninguém.

Cauê cruzou os braços e bufou.

— Você ia era levar uma surra, isso sim. — Respondeu, mas logo percebeu que qualquer tentativa de diálogo naquele estado era inútil.

Passou a mão no rosto, depois na cabeça, olhando em volta como se o universo fosse lhe dar uma solução.

— Brincadeira. — Soltou Cauê. — E agora? Se eu ligo pros meus pais, tô lascado. Mas deixar esse doido sozinho? Desse jeito ele se mete em mais confusão. — Olhou para o rapaz sentado, que continuava resmungando. — Ah, garoto, olha a encrenca que tu me arrumou. — Coçou a cabeça. — Onde é que tu mora, hein?

Jonas, com um sorriso bobo e olhos semicerrados, respondeu entre uma gargalhada e outra:

— Em Parintins. — E caiu na risada como se tivesse contado a melhor piada do mundo. — Maninho, tu só pode tá de brincadeira.

Cauê piscou, sem acreditar.

— O pai dele! — Exclamou, como quem tinha acabado de encontrar uma saída.

Puxou o celular e, em uma busca rápida, encontrou o endereço do presidente do Caprichoso. Graças a Deus pela internet. Na sequência, acenou para um mototaxista que passava.

A missão, porém, estava longe de ser simples. Levar Jonas até até o tuc tuc, ou triciclo, foi uma cena à parte. O rapaz ria, tropeçava, tentava abraçar Cauê no meio do caminho e, por pouco, não derrubou o motorista duas vezes antes mesmo de subir na parte traseira do veículo.

Quando finalmente conseguiu acomodar Jonas na moto — meio deitado, meio abraçado ao condutor —, Cauê soltou um suspiro pesado. Observou o tuc tuc se distanciar pelas ruas de Parintins, levando junto, por enquanto, aquele problema.

Foi então que percebeu seu próprio coração batendo mais forte, acelerado de um jeito estranho. Levou a mão ao peito, confuso.

— Que que é isso agora? — Sussurrou, franzindo a testa.

Tentou se convencer de que era só o estresse da situação. Só isso.

— Não, Cauê. — Disse pra si mesmo. — Você não precisa de mais problema agora.

E, mesmo tentando se convencer, ficou ali, parado, olhando o vazio como quem sabia, no fundo, que aquela história estava longe de acabar.

Cauê chegou em casa exausto. O cheiro de limpeza parecia impregnado nas paredes daquele lugar que, aos poucos, começava a chamar de lar. Largou a mochila no sofá, chutou os tênis para o canto e foi direto para o banheiro.

O banho — se é que podia ser chamado assim — foi uma tortura. A água gelada descia em jatos impiedosos, como se brotasse direto de algum rio perdido no Polo Norte. Cauê se encolheu, respirou fundo, praguejou mentalmente e, mesmo assim, deixou que a água castigasse sua pele. Havia algo de revigorante naquilo, uma lembrança incômoda de que a vida, às vezes, não dava trégua.

Ao sair, enrolado na toalha, pegou o celular e, sem pensar muito, digitou no grupo da família — aquele que o pai, em sua eterna poesia meio brega, havia nomeado de "Família do Coração", em homenagem à mãe de Cauê.

***

Cauê:

Gente, sério. Eu não consigo com esse chuveiro. Parece que a água vem direto da geladeira.

***

A resposta veio quase instantânea, como se o pai vivesse de plantão esperando qualquer sinal dos filhos.

***

Eron Pai:

Vamos providenciar um chuveiro elétrico nos próximos dias, filho. Inclusive, a escola do Garantido está precisando de um professor de música. (link)

***

Cauê soltou um suspiro longo, daqueles que começam no peito e terminam nos olhos, na forma de um revirar quase automático. Não era uma novidade. Sempre que ele abria qualquer brecha, o pai enfiava um anúncio, uma vaga, uma oportunidade — ou, como Cauê enxergava, mais uma pressão.

Sabia, no fundo, que Eron não fazia aquilo por mal. Ao contrário, era amor. Amor disfarçado de cobrança, de empurrões que, às vezes, vinham mais como tropeços do que como incentivo. Eron acreditava no filho. Acreditava mais do que o próprio Cauê, e talvez aí morasse o problema.

Cauê se sentou na beirada da cama, olhando fixamente para a tela do celular. O link da vaga piscava como se gritasse: "E aí? Até quando você vai fugir do que nasceu pra fazer?".

A dúvida mordia. Sempre mordeu. Era um músico que não sabia se queria ser músico. Já tinha sido de tudo um pouco: empacotador de supermercado, garçom em hotel, auxiliar em churrascaria, atendente de petshop, bilheteiro de cinema e até caixa de lotérica. Nunca faltou disposição para trabalhar — disso ele se orgulhava —, mas também nunca ficou tempo suficiente em lugar nenhum para dizer que, de fato, pertencia àquilo.

E o pai sabia. Sabia do talento do filho. Sabia que a música estava nele, no sangue, no olhar, nas mãos que tamborilavam qualquer superfície como se buscassem ritmos escondidos no silêncio. Só que... será que Cauê acreditava nisso? Será que, algum dia, ele se permitiria ser quem nasceu pra ser?

O som de uma notificação interrompeu seus pensamentos. Mais uma mensagem no grupo.

***

Eron Pai:

Pensa com carinho, filho. A gente te ama e acredita em você.

***

Cauê deixou o celular de lado, deitou-se e encarou o teto. O frio da água parecia ter ficado na pele, mas, naquele momento, o que congelava era outra coisa. Uma pergunta, simples e cruel, martelando sem parar: "E eu? Quando vou começar a acreditar em mim?".

***

O som do metal se retorcendo, os gritos de Rafael e as vozes dos curiosos formaram uma mistura caótica que invadiu os ouvidos de Jonas no momento em que o carro capotou. Tudo aconteceu rápido demais. O cheiro forte de gasolina se espalhava no ar, impregnando suas narinas e alertando para o perigo iminente.

Mesmo com o corpo dolorido, ignorando o dom que tanto tentava esconder, Jonas reuniu toda a força que lhe restava. Arrastou Rafael para fora dos destroços, sentindo cada músculo protestar. O medo de uma explosão era mais forte que a dor. Assim que deixou o amigo a uma distância segura, sacou o celular com mãos trêmulas e discou para o Samu, depois para a polícia.

O coração disparava, a respiração falhava, e foi só então que percebeu: a perna estava quebrada. Uma dor aguda, cortante, subiu até o cérebro como um choque elétrico. O corpo não suportou. Jonas tombou no asfalto frio, os olhos se perderam no céu estrelado — a última imagem antes que tudo se apagasse.

Mas, diferente das outras vezes, aquele desmaio não trouxe apenas o vazio. Algo, ou alguém, apareceu.

Quando os sentidos voltaram, ainda que confusos, Jonas viu um rosto. Alguém estava ali. Um rapaz, de traços firmes, olhar atento e expressão decidida.

— Tá bem? — Perguntou ele, estendendo a mão. A voz tinha um tom firme, mas havia gentileza, quase conforto.

Jonas piscou, confuso. — Quem... quem é você? — Questionou, tentando entender onde estava e por que aquele estranho parecia tão real.

Antes que a resposta viesse, a realidade se impôs de maneira brusca. Um jato de água fria acertou seu rosto em cheio, tirando-lhe o fôlego e qualquer vestígio daquele estranho sonho.

— Mas que...? — Jonas se ergueu assustado, as mãos limpando a água que escorria pelos cabelos e rosto. Seus olhos encontraram primeiro o balde — agora vazio — e depois a figura de seu pai, Otaviano, o segurando sem nenhum pingo de arrependimento. Atrás dele, Dona Rosa, a velha e paciente secretária da casa, apenas balançou a cabeça. Já acostumada com os confrontos constantes entre pai e filho, ela deixou um rodo encostado na parede e uma roupa de cama limpa dobrada sobre a cadeira.

— Não limpo mais esse quarto, não. — Resmungou, saindo sem esperar resposta.

— Que isso, pai? — Jonas se levantou, ainda atordoado, procurando uma toalha.

— Isso aqui, seu moleque! —Rosnou Otaviano, empurrando o celular contra o rosto do filho. — Tu aconteceu! Quer desgraçar meu nome, pirralho insolente?!

O vídeo começou a rodar na tela. Jonas viu as imagens dele mesmo, no bar, discutindo, sendo empurrando por dois homens — até ser arremessado para longe.

— A assessoria do Caprichoso já tá correndo pra consertar essa merda. — Continuou o pai, batendo o dedo na tela. — Eles querem que você grave um vídeo pedindo desculpas... e que...

— Pai, eu não tive culpa! — Rebateu Jonas, apertando a toalha contra o rosto. — Aqueles idiotas que começaram! Eu só...

— Me admiro de ti, Jonas. — Otaviano balançou a cabeça, bufando, a veia do pescoço quase saltando. — Um garoto que tinha tudo pra dar certo... brigando por aí, como qualquer marginal. — As palavras escaparam mais duras do que ele planejava. — Tenho pra mim que tu quebrou mais do que a perna naquele maldito acidente...

O silêncio que se seguiu foi pesado, denso. Jonas encarou o pai, a expressão se fechando, os olhos marejando — de raiva, de frustração, de dor.

Otaviano percebeu, e se arrependeu no mesmo instante em que as palavras saíram. Mas o orgulho o impediu de voltar atrás.

— Vai te arrumar. —Ordenou, cruzando os braços. — A equipe de imprensa chega em vinte minutos.

Jonas não respondeu. Apenas apertou os olhos, respirou fundo e seguiu para o banheiro, com os pensamentos mais confusos e barulhentos do que qualquer sirene naquela noite.

No banho, Jonas se lembrou do rosto do homem que o ajudara na situação do bar. Fazia tempo que não se interessava por ninguém. De repente, uma reação inesperada do próprio corpo o assustou. Impressionado, Jonas olhou para baixo e arregalou os olhos. Quem era aquele rapaz misterioso e que sensações eram essas que ele despertava?

***

A rotina da família Alencar estava bem definida há muitos anos, uma dança silenciosa e bem ensaiada que todos cumpriam sem sequer perceber. Naquela casa, havia uma divisão tácita: Eron era o homem das manhãs e Vera, sua esposa, a senhora das noites. Enquanto ela descansava, preparando-se mentalmente para a apresentação importante que teria mais tarde, Eron ocupava seu posto na cozinha, preparando um café da manhã farto e acolhedor para os filhos.

Distraído, cantarolava baixinho enquanto dispunha pães, frutas, tapiocas e uma garrafa de café recém-passado sobre a mesa. Mesmo com Cauê e César já crescidos, para Eron eles sempre seriam seus curimins, como gostava de chamá-los com carinho. Eron se sentia realizado cuidando deles, e agora, prestes a iniciar seu novo ciclo como professor na universidade federal após o recesso de carnaval, parecia mais disposto do que nunca a manter viva aquela dinâmica familiar.

Quando Cauê apareceu na cozinha, ainda meio sonolento, foi recebido com um pedido que soou estranho.

— Filho, vai tomar café na sala, por favor. — Disse Eron, com uma seriedade que não era muito comum. — Preciso falar com teu irmão.

César, o mais novo, estranhou, mas obedeceu sem questionar. Restaram apenas Eron e Cauê à mesa. O rapaz se sentou, cruzando os braços, observando o pai com uma mistura de curiosidade e leve apreensão. Conhecia bem a diferença entre as broncas da mãe — afiadas, precisas, inevitáveis — e as do pai, que quase sempre pareciam mais tentativas de conversas desconfortáveis do que reprimendas de fato.

Eron respirou fundo, ajeitou os óculos no rosto e encarou o filho.

— Eu te criei com responsabilidade, certo? — Perguntou, com um tom grave.

Cauê arqueou uma sobrancelha, sem saber exatamente onde aquilo ia dar.

— Claro, pai. O senhor é um ótimo pai. — Respondeu, enquanto servia café na própria xícara, tentando manter a naturalidade.

O silêncio que se seguiu pareceu alongar-se mais do que deveria, até que Eron quebrou de vez a tensão:

— Filho... tá circulando um vídeo do filho do presidente do Caprichoso.

Cauê não entendeu de imediato, mas percebeu que havia algo sério no tom. Quando processou o que fora dito, levou a xícara à boca, mas acabou se engasgando, cuspindo parte do café.

— Vídeo? — Repetiu, aflito.

— Isso mesmo. — Eron pegou o celular no bolso e, após alguns toques na tela, mostrou o vídeo ao filho.

Cauê assistiu em silêncio, os olhos arregalados à medida que reconhecia as cenas. Ao terminar, deixou o aparelho sobre a mesa e olhou diretamente para o pai, que cruzou os braços, respirando fundo.

— Por favor, me diz que você não se meteu em confusão, Cauê. — Pediu, tentando soar firme, mas o tom saía mais preocupado do que repreensivo. — Sua mãe não precisa de mídia negativa agora.

Cauê ergueu as mãos, em sinal de paz.

— Não, pai. Fica tranquilo. Eu só ajudei o cara. Um homem tentou agredi-lo do nada, e eu... só o tirei do bar. Foi isso. Sem briga, sem confusão. Pode ficar tranquilo. — Garantiu, tentando parecer o mais convincente possível.

Eron assentiu, aliviado, embora uma sombra de preocupação ainda pairasse em seu rosto. Naquela família, até os cafés da manhã podiam ser acompanhados de pequenas doses de tensão — mas sempre regadas a muito amor.

O dia transcorreu de forma tranquila, embora vez ou outra Cauê se pegasse lembrando do rosto de Jonas. Era curioso. Na verdade, Cauê nunca havia se apaixonado por alguém de verdade. Sempre focado nos estudos e na música, preferiu não se envolver profundamente com ninguém. Perdera a virgindade aos dezoito anos, com um colega da faculdade — uma experiência que, apesar de significativa na época, nunca passou de algo casual. Quando revelou sua sexualidade aos pais, eles receberam a notícia com surpresa, é verdade, mas nunca lhe faltara apoio ou amor.

No fim da tarde, Milena o levou até o Curral do Garantido. Era lá que aconteceria o ensaio para o Carnaboi, o primeiro grande evento no qual Milena participaria desde que se tornou Levantadora de Toadas. Faltavam apenas duas semanas para a apresentação, e o tempo parecia correr mais rápido do que nunca.

A equipe musical do Garantido já havia enviado um setlist para Milena estudar e decorar as músicas. Cauê, tomado pela curiosidade — e pela paixão natural que tinha pela música —, aprendeu todas as canções junto com a mãe, como se também estivesse se preparando para subir no palco.

Quando chegaram ao curral, os músicos já estavam no meio do ensaio. O som das toadas preenchia o espaço, vibrante e contagiante. Assim que Milena e Cauê se apresentaram, foram recebidos de maneira calorosa. Todos pareciam verdadeiramente felizes com a chegada da nova voz do Garantido. Milena, claro, não perdeu tempo em puxar sardinha para o lado do filho.

Foi então que, de forma quase natural, um dos músicos colocou um violão nas mãos de Cauê.

— Toca "Fúria de um Campeão" pra gente. — Pediu alguém, acompanhado de sorrisos de expectativa.

Sem pensar duas vezes, Cauê ajeitou o instrumento no colo, respirou fundo e deixou que seus dedos percorressem as cordas com destreza. As primeiras notas ecoaram nítidas, seguidas de firulas rápidas, precisas, que demonstravam não só técnica, mas uma conexão real com a música. A pequena demonstração foi o suficiente para chamar a atenção de Rogério Lourenço, o novo diretor musical do Garantido — outro recém-chegado a Parintins.

O ensaio seguiu por três horas. No começo, Milena e Cauê estavam um pouco retraídos, mas aos poucos, o entrosamento surgiu de forma natural, quase espontânea. As brincadeiras, os risos, a paixão compartilhada pela música. Tudo foi criando um ambiente acolhedor. Ao final, Rogério se aproximou de Cauê, oferecendo-lhe a oportunidade de participar oficialmente dos ensaios, com direito a um salário. E, se tudo corresse bem, talvez ele pudesse até mesmo se apresentar na Arena do Bumbódromo.

Quando o ensaio terminou, Milena e Cauê aguardavam na calçada, esperando Eron ir buscá-los.

— E aí, o que você achou? — Perguntou Milena, com um sorriso de canto, olhando para o filho.

— Legal. Os músicos são animados. — Respondeu Cauê, tentando parecer contido, embora internamente se sentisse radiante pelos elogios que recebera. — Os caras são feras.

Milena segurou o rosto do filho com ambas as mãos, como costumava fazer desde que ele era pequeno.

— E acreditaram em você, filho. Eu tô muito orgulhosa.

Cauê sorriu, mas logo desviou o olhar, como se algo chamasse sua atenção para longe.

— Mãe, acho que vou dar uma volta na cidade. Posso?

— Claro, filho. Mas nada de encrenca, hein?

Depois de um abraço apertado e a promessa de que se comportaria, Cauê subiu numa moto-táxi e seguiu em direção à Praça da Catedral. O lugar estava cheio de vida. Turistas caminhavam, casais namoravam nos bancos, e, na frente da imponente catedral, dançarinos do Caprichoso ensaiavam uma coreografia.

Cauê comprou uma pipoca e escolheu um banco de onde podia observar tudo. Enquanto mordiscava os grãos estourados, não pôde evitar observar — e julgar mentalmente — a performance dos dançarinos do bumbá contrário.

No entanto, seu momento de distração foi interrompido de forma súbita. Sentiu uma mão tocar suas costas e, no susto, acabou engasgando com uma pipoca. Tossiu, tentou respirar, mas parecia que o milho tinha se alojado exatamente no ponto errado de sua garganta.

Em questão de segundos, alguém se posicionou atrás dele e realizou a Manobra de Heimlich. Cauê sentiu uma pressão súbita no abdômen, e, num impulso, o grão de pipoca saiu disparado, voando alguns metros adiante.

— Caraca, mano, que susto! — Exclamou a voz que acabara de salvá-lo.

Cauê se virou, pronto para reclamar, ainda com a mão no peito e tentando recuperar o fôlego. Mas as palavras morreram em sua boca.

— Você. — Murmurou, surpreso.

— Você. — Repetiu Jonas, igualmente surpreso, encarando-o de olhos arregalados.

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