Entre o Real e o Sonho – Parte III: Ecos da Alma
Amanda sempre foi o tipo de mulher que controlava tudo. Na sala de aula, era firme, respeitada. Seus alunos a viam como uma figura de autoridade, quase intocável. Mas por dentro, havia um silêncio que crescia com os anos — uma inquietação morna que
ela enterrava sob a rotina, sob a responsabilidade, sob os livros.
Durante muito tempo, viveu à sombra de uma dúvida: “Sou mesmo livre para desejar o que quero?”
Mesmo com Rafael, que a amava profundamente, ela se censurava. Tinha medo de parecer demais. Medo de se mostrar crua, desinibida, suja. Sentia-se entre o que o mundo esperava dela e o que sua pele, seu ventre, sua alma ansiavam.
Desde os vinte anos, fantasiava em segredo com a ideia de ser dominada, de se entregar por completo a dois homens. Não por submissão — mas por poder. Queria sentir-se desejada, totalmente, sem vergonha. Queria ser devorada, adorada, possuída. Mas ao
mesmo tempo... se envergonhava de si mesma por querer isso.
“Será que sou vulgar?” — perguntava, sozinha, antes de dormir.
“E se ele pensar que não sou mais a mulher ‘certa’ pra ele?”
Mas Rafael nunca a julgou. Quando ela, hesitante, revelou seu desejo, ele não recuou.
Apenas a ouviu — de verdade — como poucos homens sabem fazer. E isso, mais do que qualquer brinquedo, foi o verdadeiro gatilho da libertação de Amanda.
A viagem de lua de mel se tornara, para ela, mais do que uma celebração do amor — era uma travessia. Ali, longe dos olhos do mundo, ela podia se despir de todos os papéis:
professora, esposa, mulher controlada. E ao se despir, descobriu-se mais inteira.
Na noite em que sonhou com Leo, ela acordou tremendo — mas não de medo. Era desejo, sim. Mas também uma nova consciência: ela não precisava se anular para ser digna de amor. Ela podia ser intensa, voraz, imaginativa — e ainda assim, ser amada, respeitada.
Pela manhã, olhou-se nua no espelho do quarto. Observou os seios marcados pelas mãos de Rafael, o pescoço levemente roxo, a pele ainda quente. Pela primeira vez em muito tempo, achou-se bela. Não no sentido estético comum, mas no sentido visceral: era uma
mulher que sentia. Que ousava.
Ela pensou no sonho com Leo — e no realismo quase assustador da cena. Não era apenas o toque ou a penetração. Era a sensação de ser o centro de uma dança íntima,
selvagem e consensual. Era estar no controle e ao mesmo tempo perder o controle. Era confiar a dois homens seu corpo e seu prazer. E isso... era poder.
No café da manhã, olhou Rafael nos olhos e disse:
— Se um dia acontecer... de verdade... quero que seja com você me guiando. Quero me sentir segura. Mas também... quero ser a mulher que sempre escondi de mim mesma.
Rafael apenas estendeu a mão por sobre a mesa. Tocou sua pele, firme.
— Então vamos encontrá-la juntos.