Entre o Real e o Sonho – Parte IV: Onde Mora a Verdade
Amanda observava Rafael enquanto ele dormia. O peito dele subia e descia em ritmo sereno, os músculos relaxados, o rosto entregue. E foi ali, naquela quietude, que ela sentiu o peso de tudo o que estavam vivendo.
“Até onde isso vai? Até onde eu posso ir sem me perder?” — pensava.
Desde o início da viagem, algo nela havia se soltado. Como se o vento grego tivesse soprando para longe camadas antigas de autocensura. Mas junto com essa libertação, vinham também os fantasmas: os julgamentos da mãe rígida, o ex-namorado que a
chamava de "demais", a professora do ensino médio que dizia que “mulher que se valoriza não se expõe”.
Rafael acordou e encontrou Amanda pensativa, os olhos fixos no mar pela janela. Se aproximou sem dizer nada, apenas a abraçou por trás.
— Em que você está pensando? — sussurrou contra sua nuca.
Ela demorou para responder. Era a primeira vez que sentia medo real de ser completamente honesta. Não sobre fantasias sexuais — mas sobre o medo de ser rejeitada por mostrar sua sombra.
— Tenho medo de me perder nisso — confessou. — Medo de ir tão fundo no desejo que não consiga mais voltar.
— Voltar pra onde? — ele perguntou.
— Pra quem eu era. Pra quem você se apaixonou.
Rafael ficou em silêncio por alguns segundos. Depois a virou de frente, segurando seu rosto com firmeza e doçura.
— Amanda... eu me apaixonei por você inteira. Não só pela mulher gentil, inteligente, equilibrada. Mas também por aquela que esconde segredos, que se excita com o proibido, que fantasia coisas que nem ousava dizer em voz alta. Eu sempre soube que você tinha esse lado... e eu amo ele também.
Ela tentou conter as lágrimas, mas falhou. Havia anos que não chorava sem motivo prático. Era como se algo estivesse se quebrando, e se reconstruindo ao mesmo tempo.
— E se um dia eu quiser ir além...? Se eu quiser viver isso de verdade? Você não vai me ver diferente?
— Eu quero que você vá além. Mas com verdade. Sem se forçar, sem me proteger demais, sem medo de ser julgada. Confiança de verdade é a gente caminhar até onde o outro vai — e às vezes um pouco mais, se for juntos.
Amanda ficou muda. Nunca ouvira um homem dizer algo assim. Pela primeira vez, ela se viu como mulher inteira: não mais dividida entre a "correta" e a "pecadora", a "desejada" e a "respeitável".
Aquela noite, eles não transaram como amantes, mas como cúmplices.
Ela contou sobre seu primeiro desejo por dupla penetração, ainda adolescente, quando assistiu sem querer uma cena proibida na internet. Sobre como se sentia envergonhada toda vez que imaginava outro homem tocando seu corpo. Como parte dela queria viver
isso, mas outra sentia culpa por desejar ser "tomada", como se isso a tornasse fraca.
Rafael ouviu tudo sem interromper. Apenas segurou sua mão, apertando quando ela ficava nervosa.
— Desejar não é fraqueza, Amanda. É coragem. Pouca gente tem a coragem de querer de verdade.
Ela sorriu, tímida, e o beijou.
— Acho que estou começando a ter.