Entre o Real e o Sonho – Parte V: Fronteiras
Haviam se passado dois dias desde a conversa mais sincera que Amanda já tivera com alguém. Ela se sentia leve, como se pela primeira vez pudesse respirar com o corpo inteiro.
Rafael a tratava com ainda mais admiração desde então. Era como se a cada camada que ela tirava, ele enxergasse algo mais bonito, mais verdadeiro. E ela começava a acreditar que podia, sim, ser desejada e livre. Ao mesmo tempo.
Durante um jantar à beira-mar, bebiam vinho branco gelado enquanto o sol se escondia atrás das montanhas da ilha. A luz dourada deixava tudo com uma aura de sonho — até o que eles estavam prestes a discutir.
— E se... — Rafael começou, com cuidado —, não fosse só um sonho?
Amanda ergueu os olhos lentamente. Já sabia onde aquilo ia dar.
— Você quer dizer... trazer alguém?
— Não quero forçar nada. Só pensei que... talvez, se tivermos limites claros, isso poderia ser real. Como uma extensão do que já vivemos aqui.
Amanda ficou em silêncio. Olhou para o mar, depois para o copo. O coração batia mais rápido — não de medo, mas de antecipação.
— Quais seriam esses limites? — perguntou, decidida.
— Não quero ninguém que mexa com o que temos. Seria uma experiência. Uma noite.
Um homem que entenda que está entrando em algo entre nós dois — não tomando parte disso. E só com o seu consentimento total.
— Sem contato emocional?
— Só físico. E ainda assim, com você no centro. Eu quero te ver, te sentir, te guiar.
Você é minha mulher. Ele seria... só uma ferramenta da sua fantasia.
Amanda riu.
— Você faz parecer que estou prestes a dirigir um carro novo.
— Um carro que você sempre quis dirigir. — Rafael piscou.
Depois do riso, veio a seriedade. Amanda respirou fundo.
— Só se for alguém que eu escolha. Que eu sinta... que posso confiar. Que não me fira com olhares sujos ou palavras baratas.
— Claro. E se em qualquer momento você quiser parar...
— A gente para.
Um pacto silencioso nasceu ali, com os olhos fixos e os dedos entrelaçados.
Na noite seguinte, estavam em um bar discreto, com música ambiente e clima íntimo.
Rafael sugeriu:
— Vamos fazer um jogo. Olhamos ao redor e, se alguém te atrair... você me diz.
Amanda hesitou no início. Mas conforme o vinho fluía e os olhares se cruzavam entre eles, começou a permitir-se. Não com pressa, mas com curiosidade.
E então ela viu. Um homem sentado sozinho no balcão. Cabelos castanhos escuros, pele dourada, camisa levemente aberta. Não era o mais bonito — mas havia algo no modo como ele olhava o ambiente, tranquilo, discreto, respeitoso. Os olhos não devoravam observavam.
— Aquele ali. — Amanda disse, quase em sussurro.
Rafael seguiu seu olhar.
— Quer que eu vá falar com ele?
Ela assentiu. Mas o coração batia como se fosse saltar do peito.
Rafael foi. Trocou algumas palavras com o desconhecido. Voltou.
— O nome dele é Marco. É italiano. Está viajando sozinho. Falei da nossa ideia vagamente. Ele foi respeitoso. Disse que só toparia se você se sentisse completamente confortável. Nada mais.
Amanda ficou em silêncio. Não porque estava assustada, mas porque algo dentro dela tremia — o tipo de tremor que anuncia o nascimento de uma nova versão de si mesma.
— Quero conversar com ele. Só conversar. Hoje.
— Perfeito — Rafael disse. — Só isso. Sem pressa. A gente só atravessa a fronteira quando você estiver pronta.
Amanda sorriu. Pela primeira vez, a fronteira parecia não ser um limite... mas uma porta.