Entre o Real e o Sonho – Parte VI: O Prelúdio do Toque
O bar era calmo. Iluminação baixa, jazz suave ao fundo. Amanda se aproximou devagar, sentindo os olhos de Rafael a acompanharem como uma corrente silenciosa de apoio.
Marco se virou com um leve sorriso — discreto, nada invasivo. Levantou-se para cumprimentá-la, educado, quase cerimonial.
— Amanda, certo? — disse em um inglês com leve sotaque italiano.
— Sim. — Ela se sentou ao lado dele, mantendo uma distância segura. Ainda assim, havia algo denso no ar, como eletricidade antes de uma tempestade.
— Obrigado por vir. Eu entendo que isso é... delicado.
Ela sorriu, tocando o copo de vinho com a ponta dos dedos.
— A palavra certa é raro. Normalmente a gente não escolhe nossos desejos com tanto cuidado. Só sente. Mas hoje eu estou... escolhendo sentir.
Marco pareceu entender sem precisar de muitas palavras. Ele não era o tipo que forçava conversa. Sabia esperar.
— Seu marido me disse que vocês têm uma conexão bonita. — Ele disse isso olhando para ela, não como quem avalia, mas como quem reconhece algo sagrado.
— Temos. E é por isso que estou aqui. Porque ele não quer me prender. E eu... não quero mais me esconder.
Um silêncio confortável se instalou. Eles beberam. Trocaram histórias leves — de viagens, sabores, perfumes. A tensão inicial deu lugar a algo mais profundo: uma
curiosidade mútua, um respeito que aguçava o desejo, não o reduzia.
Marco não encostou nela em nenhum momento. Mas olhava com presença. Um olhar que dizia: "Eu vejo você. E não tenho pressa de possuir o que respeito."
Depois de uma hora, Amanda se inclinou um pouco mais perto, a voz baixa, íntima.
— Posso te fazer uma pergunta mais... direta?
— Claro.
— Se isso acontecer... com você... o que você procura?
Ele pensou por alguns segundos antes de responder.
— Uma mulher entregue. Não no corpo apenas. Mas no olhar. No desejo claro. Quero que você me queira — e que ele te veja querer. Não quero ser um intruso. Quero ser um espelho.
Amanda mordeu levemente o lábio. Aquela resposta não era vulgar. Era poética.
Humana. E profundamente excitante.
Ela tocou a taça de vinho, mas agora com a mão trêmula.
— E se eu disser que estou quase pronta?
— Eu espero o tempo que for — disse Marco. — E se não acontecer, vou embora com a mesma reverência.
Ela sorriu. O corpo já pulsava, mas a alma... se sentia segura. E isso era novo. Era precioso.
Ela se levantou.
— Não hoje. Mas em breve.
Marco se levantou também. Beijou o dorso da mão dela com delicadeza.
— Quando você chamar... eu venho.
Amanda voltou para a mesa onde Rafael esperava. Ele não perguntou nada. Apenas a puxou pela cintura, a sentou no colo, e beijou seu pescoço com devoção.
— E então? — sussurrou.
— Eu acho que... o impossível está mais perto do que eu pensava. — respondeu ela, o rosto colado ao dele.