Entre o Real e o Sonho – Parte IX: Depois do Voo
A noite se desdobrou como um véu de seda ao vento.
Os corpos se entrelaçaram com lentidão e reverência. Nada foi bruto, nada foi apressado. Quando Amanda enfim sentiu os dois homens a tocarem em sincronia — Rafael com seu amor ardente e presente, Marco com sua precisão contida e misteriosa —, não havia mais separação entre o corpo e o desejo. Era como se ela deixasse de ser apenas ela, e se tornasse um campo aberto, onde o prazer se plantava sem medo de colheita.
A dupla penetração não foi agressiva, nem cinematográfica. Foi um acordo tenso e delicado entre limites e vontades. Rafael estava atrás dela, sustentando seu corpo com firmeza e doçura, guiando os movimentos com olhos que diziam “estou aqui”. Marco à frente, mais lento, atento, com as mãos nos quadris dela como quem segura algo precioso demais para deixar cair.
Amanda sentia tudo. A invasão. A expansão. Mas também o acolhimento. Não havia vazio. Apenas preenchimento — físico, emocional, simbólico. Um corpo inteiro sendo desejado. Um corpo inteiro dizendo “sim”.
E no meio disso, lágrimas. Não de dor. Mas de alívio. Como se parte dela, há anos silenciada, tivesse finalmente encontrado uma linguagem para se expressar. Uma que não cabia em palavras, apenas em gemidos, tremores, arrepios.
— Você está comigo? — perguntou Rafael, ofegante.
— Eu nunca estive tão com você — respondeu ela, ofegante também.
Marco apenas sorriu, e a beijou entre os seios, suave. Como um selo final sobre a noite.
Depois
Quando tudo terminou, Amanda deitou-se entre os dois. O suor secando na pele, os músculos ainda vibrando, o coração sereno. Nenhum dos homens disse nada por um tempo. O silêncio era grato. Denso. Completo.
Ela olhou para o teto. Sorriu. Não por prazer. Mas por libertação.
Rafael segurava sua mão. Marco, respeitoso, afastou-se um pouco, permitindo que o calor a dois voltasse a preencher o espaço.
— Você ainda é minha mulher? — Rafael perguntou em sussurro, com um meio sorriso.
— Agora mais do que nunca — disse Amanda, virando o rosto para ele. — Porque agora eu sou minha por inteiro. E isso me permite ser sua.
Ele a beijou. Um beijo de reencontro. Porque o que ela vivera com Marco não a afastou dele. A aproximou.
Marco se vestia, discreto. Pegou o papel com as palavras — Desejo. Confiança.
Liberdade. — e entregou a ela.
— Obrigado por me deixar fazer parte disso. Vocês são raros. — E então, com um gesto respeitoso, saiu, deixando a porta encostar sem som.
E naquela madrugada...
Amanda e Rafael voltaram à cama. Sem pressa, sem expectativa. Apenas os dois.
Ele tocou seu rosto e disse:
— Você voou. E eu tive o privilégio de ver suas asas.
Ela chorou de novo. Mas agora com um sorriso. O corpo doía um pouco. Mas a alma...não tinha mais feridas.
Ela não era mais apenas professora, esposa, mulher “correta”.
Agora, era também mulher vivida. Desejada. Livre.
E ali, entre os lençóis ainda quentes, ela soube que algumas fantasias, quando vividas com amor, não quebram. Elas curam.