Sabe quando você acorda com a sensação de que o mundo tá te olhando diferente? Foi assim que me senti no dia seguinte à festa da Melissa. O corpo ainda lembrava da noite intensa com o Jonas — o jeito que ele me tomou no banheiro, o quanto me fez gozar só com aquele olhar quente de homem seguro e cheio de desejo.
Mas na alma… uma coisa tava diferente. Mais afiada. Mais alerta.
Cheguei no trabalho tentando ser a Luana de sempre. Camisa social leve, cabelo preso com uma presilha simples, café na mão e sorriso educado no rosto. Mas bastou passar pela porta do escritório pra perceber: o clima tinha virado.
Melissa me cumprimentou como se nada tivesse acontecido.
— Bom dia, Lu! Dormiu bem depois da festa?
Olhou nos meus olhos com aquele sorrisinho que mistura charme com desafio. Eu respondi com a mesma leveza:
— Dormi sim. No melhor lugar do mundo: nos braços do meu homem.
Ela riu, sem perder a pose, e voltou pra estação dela.
Mas aquele olhar… aquele olhar dizia “eu sei que você viu”. E ela sabia que eu também sabia que ela sabia.
No fundo, a gente já tava jogando um jogo sem tabuleiro.
Já o Maurício, meu chefe… bom, ele passou por mim duas vezes. Na primeira, fingiu que não me viu. Na segunda, cruzou comigo no corredor, deu um sorriso educado, mas rápido demais pra parecer natural. Não falou nada. Só o suficiente pra manter a pose.
O dia passou arrastado. Trabalhei focada, evitei café na copa, evitei cantinho da fofoca, e saí no horário exato. Zero brecha.
Cheguei em casa e Jonas percebeu na hora que meu humor tava firme, mas minha cabeça cheia.
— E aí? Tudo certo lá?
— Tudo… sob controle.
Contei pra ele os detalhes. Da frieza do Maurício. Da Melissa agindo como se tivesse tudo milimetricamente sob domínio. E ele, claro, ficou tenso. Mas não me podou. Só disse:
— Se cruzarem a linha, tu me fala. Ou larga isso de vez.
— Pode deixar. Já te prometi.
Mas é engraçado, né? A gente promete, a gente se blinda… mas quando a tensão fica no ar, a cabeça começa a rodar sozinha.
E foi à noite, deitada no sofá depois do banho, que recebi a mensagem dela. Melissa.
“Oi, Lu. Tô com saudade da nossa conversa. Queria te pedir desculpa… por qualquer desconforto. Foi tudo leve demais, eu nem percebi os limites. E queria que a gente não deixasse isso afastar nossa amizade.”
Li, reli… e senti.
Não era só uma desculpa. Era uma isca.
Melissa era do tipo que sabia mexer. Que não forçava. Que vinha com o toque certo. E mesmo sabendo que o que rolou naquela festa ultrapassou uns limites invisíveis, uma parte de mim… queria entender onde aquilo podia dar.
Mas, por fora, respondi seca. Limpa.
“Oi, Melissa. Tá tudo bem. Só estou focada no trabalho agora, beleza?”
Ela visualizou. Digitou. E apagou. Ficou por isso.
A semana começou daquele jeito: quente, corrida e com o Jonas arrumando mala de novo. Desta vez, o destino era o Rio de Janeiro. Viagem rápida, mas o suficiente pra mexer comigo — a cama sem ele sempre parece maior… e mais fria.
Na quarta à noite, segunda noite sem ele, recebi uma mensagem da Luiza.
“Tá fazendo o quê, safada? Vem aqui pra casa. Tô entediada.”
Moramos no mesmo corredor, então nem precisei pensar duas vezes. Vesti uma camiseta larguinha, uma calcinha confortável, e fui. Quando abri a porta do apê dela, aquele cheirinho de vela aromática me recebeu junto com a risada gostosa da Luiza.
Ela tava com um copo de vinho na mão, sentada no sofá, e já me puxou com aquele abraço apertado, como se a gente não se visse há meses.
— Ai, amiga, tu veio mesmo! — disse ela, me servindo uma taça de vinho. — Já tava aqui, falando sozinha com minhas plantinhas.
Ficamos conversando sobre tudo: trabalho, Melissa, o chefe, o que rolou na festa, e claro… do quanto Jonas tava fazendo falta. Luiza ouvia tudo com atenção, olhando pra mim com aquele jeitinho que só quem conhece bem tem.
Foi então que a porta se abriu.
Pedro.
Entrou com duas sacolas na mão, cabelo bagunçado, camisa meio aberta no peito, e aquele sorriso largo que ele sempre solta quando tá animado.
— Opa! — ele falou, ao me ver. — Sabia! Tinha certeza que tu ia desconfiar que eu ia trazer pizza e veio aqui buscar teu pedaço, né?
Caí na gargalhada.
— Eu juro que nem sabia, mas agora que tu falou, parece que li tua mente.
Ele deu um beijo na testa da Luiza, depois um abraço apertado em mim, do jeito que só ele sabe dar — apertado o suficiente pra esquentar, leve o bastante pra não passar do ponto… ainda.
— Trouxe pizza grande e cerveja. E olha… cheguei na hora certa, né?
Luiza piscou pra mim e disse:
— A cerveja caiu do céu. A gente já tava quase abrindo vinho demais.
Pedro sorriu, largou as coisas na cozinha e foi pro quarto.
— Vou tomar um banho antes. Mas ó, esperem por mim pra comer, hein. Ou se quiserem me dar uma ajudinha… esfregar minhas costas, sei lá. Fico agradecido!
Eu e Luiza nos olhamos e caímos na risada juntas.
— Abusado — disse ela, revirando os olhos e mordendo o lábio de leve. — Mas ele sabe brincar, né?
— Sabe até demais — respondi, pegando minha taça e me afundando no sofá.
Ali, naquele apê com cheiro de pizza e vinho, risadas soltas, e lembranças de tantas noites compartilhadas entre os quatro, eu já sabia que aquela noite tinha tudo pra sair da rotina.
E mesmo com o Jonas longe, eu sentia que ele… de alguma forma, estaria ali comigo.
Porque entre a gente, tudo sempre foi à base de confiança, desejo e liberdade bem cuidada.
E eu? Eu tava começando a sentir que precisava de mais uma noite daquelas.
Só que com o Pedro ali no chuveiro, e Luiza sentada do meu lado mordendo o canto da taça… talvez não fosse só mais uma.
Pedro desapareceu no banheiro, e o barulho do chuveiro logo preencheu o apê. A gente ficou ali no sofá, eu e Luiza, com as pernas cruzadas, rindo das bobagens, relembrando momentos que a gente já viveu os quatro juntos. E olha… não foram poucos.
Teve aquela viagem pra Praia do Forte, a noite no bangalô, o primeiro fim de semana onde tudo começou a mudar entre a gente. A troca de olhares. O beijo. E o resto… bem, o resto é só de lembrar que meu corpo já arrepia.
— Sabe o que é engraçado? — ela soltou, me olhando de lado.
— Hm?
— Mesmo com tudo que a gente já viveu… ainda tem momentos em que eu te olho e penso: essa mulher ainda guarda coisa que a gente não viu.
Arqueei a sobrancelha e dei um gole no vinho.
— Talvez eu guarde mesmo. Ou talvez você só não provocou o suficiente ainda.
Luiza sorriu, lenta, maliciosa, e deu aquela mordidinha na beirada da taça, do jeitinho dela.
— Hum… então é disso que a gente tá falando agora?
Ficamos em silêncio por um segundo. Mas o silêncio era tudo, menos vazio. Era cheio de tensão boa, de calor, de memórias e de vontade.
O barulho da água cessou. Pedro tava saindo do banho.
— Olha lá… o rei da pizza tá chegando — eu brinquei, só pra quebrar um pouco aquela carga que começava a pesar entre nós duas.
Pedro saiu do quarto só de toalha, cabelo molhado, e um sorrisinho de canto, do tipo que já sabia o que tava rolando só pelo clima no ar.
— Demorei? — perguntou, passando a mão no cabelo.
— Só o suficiente pra deixar o suspense — respondeu Luiza, com a voz mais baixa, olhando pra ele de cima a baixo.
Ele foi direto pra cozinha, pegou as cervejas e voltou pra sala, agora com uma camisa jogada por cima da toalha.
— Agora sim… pizza, cerveja e duas mulheres lindas me esperando. Isso sim é uma quarta-feira bem vivida.
Sentou no meio do sofá, entre nós duas, e começou a cortar a pizza. Mas ninguém ali tava com pressa pra comer.
Luiza pegou uma fatia e, do nada, passou pra mim, segurando com a ponta dos dedos, olhando nos meus olhos. Um gesto simples. Mas ali… tudo parecia ter outro peso. Eu mordi de leve, e ela riu, lambeu o dedo e virou pro Pedro.
— E aí, amor… vai ficar só de toalha a noite toda ou vai se vestir como gente?
— Depende… a Luana parece confortável assim, né?
Me joguei pra trás, fingindo espanto.
— Olha o respeito! Tô de visita, viu?
Ele deu risada, pegou a cerveja e brindou com a gente.
— A gente nunca foi só visita, Lu. E você sabe.
E eu sabia. Meu corpo inteiro lembrava. E apesar do Jonas estar longe, a liberdade que a gente construiu juntos sempre foi com confiança. Com desejo compartilhado. E com o tipo de entrega que poucos casais conseguem ter sem se perder.
Naquela hora… eu sentia que a noite tava só começando.
E que o que ia acontecer dali pra frente… seria mais do que só reencontro.
O clima naquela sala tinha mudado.
A pizza tava servida, a cerveja gelando nas garrafas, mas a gente mal lembrava de comer. O que enchia o ar não era o cheiro de queijo ou de malte. Era outra coisa. Aquela mistura de olhares demorados, risos entrecortados e gestos que iam além do casual.
Pedro, ainda só com a toalha amarrada na cintura, sentou-se no sofá entre mim e Luiza. Ela se aninhou nele com a maior naturalidade do mundo, jogando a perna sobre a dele e passando o dedo devagar na linha do seu peitoral ainda úmido do banho. A mão dele pousou na coxa dela, sem cerimônia, e os dois começaram a se tocar ali mesmo, na minha frente, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.
Eu fiquei quieta. Só observando.
Eles se beijavam com fome, do tipo que começa leve mas carrega história. Mãos que sabiam onde tocar, bocas que se buscavam com intimidade. A respiração deles começou a mudar, mais pesada, mais sincopada. O corpo da Luiza já se encaixava no dele como quem conhecia o caminho de cor.
E eu?
Eu só olhava.
O calor subiu pela minha nuca, meu corpo reagia mesmo que eu não fizesse nada. Aquela cena, tão viva e tão perto, me pegava num lugar profundo. Mas dentro de mim, algo me puxava de volta: Jonas não tava ali. E eu sabia o quanto a gente valorizava esse equilíbrio, esse respeito, esse "a gente se permite, mas juntos".
Pedro, percebendo meu silêncio, levantou um pouco o rosto e me encarou com aquele sorriso meio safado, meio provocador.
— Vai só ficar assistindo, Lu?
— Hoje sim — respondi com a voz baixa, mas firme. — Jonas não tá aqui.
Luiza olhou pra mim e sorriu, entendendo no mesmo segundo.
Pedro, por outro lado, ainda brincou:
— Nem uma participação especial?
— Você é abusado demais — rebati, rindo, mas o tom já não era só de negação. Tinha ali… uma frestinha.
Ele ficou de pé, ainda com a toalha, o corpo à mostra, aquele olhar brincalhão nos olhos. Chegou perto, quase sem tocar.
— Só um carinho… nada demais. A gente confia um no outro, não é?
Respirei fundo.
A tensão naquele instante era real. Meu coração batia alto, meu corpo ardia de curiosidade… mas também de dúvida.
Fiquei em silêncio por uns segundos… e deixei meu olhar responder. Só me aproximei, devagar. Sem pressa. Sem promessas. Só um instante. Um gesto rápido, quente, e controlado, passei a língua por cima da cabeça de sua rola e em seguida abocanhei, fiz dois movimentos sensuais e sair.
E então, me afastei com um sorrisinho contido.
— Pronto. Agora sossega, Pedro.
Ele riu. Luiza mordeu o lábio. E tudo ali ficou… carregado, mas calmo. Como se a gente tivesse acendido uma vela… e soprado antes da chama crescer demais.
Naquela noite, voltei pro meu apê sentindo o corpo elétrico e a cabeça fervendo.