[Recomeçar] … sem me esconder!
Atrás de um [ditador] … existe um grande amor
Eu sempre fui apaixonado por você…
[Reinventar…]
22 de fevereiro deEnquanto ajustava a gravata pela terceira vez, minha imagem no espelho me devolvia um olhar vazio. O terno preto parecia pesar toneladas nos meus ombros. Como é que se veste para enterrar a pessoa que você mais amou na vida?
Posso afirmar com convicção: este é o dia mais triste da minha existência. Hoje, vou enterrar o homem da minha vida.
Meus olhos se enchem d'água sem que eu consiga controlar. É irônico pensar nisso agora — Danilo foi a pessoa mais incrível que já conheci. Ele me ensinou que era possível amar sem medo, sem reservas. E foi quem mais me amou, mesmo quando eu não merecia. Justo agora, quando finalmente entendo que não sei mais viver sem ele, tenho que deixá-lo partir para sempre, talvez assim seja melhor para mim.
Na minha mente, passam cenas nossas: desde aquele primeiro encontro em 2012 até os pequenos momentos cotidianos que fizeram tudo valer a pena. A forma como ele torcia o nariz quando concentrado nos estudos. Como cantarolava baixinho enquanto cozinhava. O jeito que seus olhos brilhavam quando falava dos sonhos dele.
Droga! Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente. Talvez assim não tivesse machucado tanto alguém que só queria me ver bem. Ele não merecia um cara como eu. Orgulhoso, teimoso, com medo de se entregar completamente.
Respiro fundo, fecho os olhos, pressiono a testa com os dedos. Preciso encontrar forças para superar essa dor que me rasga por dentro.
Lembro de um conto que li uma vez, "Entre livros e paixões". Carlos, o personagem principal, morre no final. Chorei feito criança, tamanha foi minha surpresa. Fiquei tão abalado que nunca consegui terminar de ler. E agora, hoje, entendo melhor aquele sentimento devastador: quando a “morte” leva quem a gente ama, ela tem uma cruel generosidade — os momentos ruins somem da memória, e o que permanece são os sorrisos, os abraços, as promessas de amor eterno.
É assim que quero lembrar do Danilo: com ternura. Quero guardar os beijos roubados, as juras sussurradas, os planos que fazíamos deitados na areia da praia. Talvez, com as escolhas certas daqui pra frente, eu consiga reencontrar minha luz.
Terminei de me arrumar. A casa estava mergulhada num silêncio sepulcral — meus pais haviam viajado para Salvador na semana passada. Peguei as chaves do carro com mãos trêmulas e saí em direção ao local que pretendia ir enterrar o Danilo..
Liguei o rádio procurando alguma distração. A música começou a tocar:
"What would I do without your smart mouth
Drawing me in, and you kicking me out..."
("All of Me" – John Legend)
Foi o suficiente. As lágrimas vieram como uma represa que se rompeu. Precisei parar o carro em frente a uma padaria. Desabei ali mesmo, agarrado ao volante, lembrando de quando cantávamos essa música juntos no violão.
20 de fevereiro de 2015 – 17hO sol estava se pondo, pintando o céu de tons alaranjados quando finalmente encontrei coragem para dizer as palavras que vinham me sufocando por dias.
— Foi um erro, Danilo. A gente não devia ter ficado juntos nesse Carnaval.
Ele parou de desenhar círculos na areia e me olhou como se eu tivesse lhe dado um soco no estômago.
— Lucas... — a voz dele saiu rouca, incrédula. — Como você consegue ser tão frio? Você acha que eu não tenho sentimentos? Que isso tudo não significa nada pra mim?
— Você vai embora amanhã. — Forcei minha voz a soar firme, mesmo com o coração despedaçando. — Vai começar uma nova vida em São Paulo. Uma vida que não inclui... isso aqui.
— Eu já disse que desisto do estágio pra ficar com você! — Ele se levantou bruscamente, areia grudando nas pernas. — Eu te amo, seu idiota! Eu faria qualquer coisa por você, qualquer sacrifício!
A palavra "amor" ecoou entre nós como um tiro. Senti raiva — dele, de mim, da situação toda.
— Cala a boca! — o interrompi, perdendo completamente o controle.
Minha mão se moveu antes que pudesse pensar. O som do tapa ecoou pela praia deserta. Danilo levou a mão ao rosto, os olhos se enchendo de lágrimas de dor e choque.
— Me escuta bem. — Minha voz saiu mais dura do que pretendia. — Você tem um futuro inteiro pela frente. Seu orientador lutou pra te colocar nesse estágio. Você vai pra USP! Tem noção do que isso significa? Das oportunidades que vão se abrir?
— Não me importo com isso! — Ele gritou, as lágrimas agora escorrendo livremente. — Não me importo com diploma, com carreira, com nada! Só me importo com você!
— Danilo, chega. Cresce. — As palavras saíam como facadas, mas eu precisava continuar. — Você precisa de você mesmo, não de mim, nem de ninguém. O que vivemos foi lindo, foi real, e sim, me arrependo profundamente de ter te feito sofrer no começo. Mas não posso consertar o passado. Eu só quero que você seja feliz... mesmo que não seja comigo.
O silêncio que se seguiu era denso, carregado de tudo que não conseguimos dizer. Estávamos sentados na areia, a mesma onde tivemos nosso primeiro beijo, onde planejamos um futuro que agora eu estava destruindo com minhas próprias mãos.
Sabia que não teria coragem de ir à festa de despedida que ele organizara com os amigos. Queria algo só nosso, uma última memória que fosse apenas nossa.
Peguei o violão que trouxera, me levantei e estendi a mão para ele.
— Levanta. Por favor.
Ele hesitou, mas aceitou minha mão. Posicionei os dedos no braço do violão e comecei a tocar as primeiras notas daquela música que era nossa.
"You took my hand, you showed me how
You promised me you'd be around
Uh-huh, that's right
I took your words, and I believed
In everything you said to me
Yeah, huh, that's right..."
Era uma música de pink chmada Who Knew, que marcou a nossa historia!
Fechei os olhos. Não suportava ver as lágrimas no rosto dele, porque sabia que as minhas também cairiam. Quando terminei, larguei o violão na areia e o puxei para um abraço desesperado.
— Eu te amo, Danilo. — Sussurrei no ouvido dele. — Mais do que você imagina. É por isso que preciso te deixar ir.
Nossos lábios se encontraram. Talvez o beijo mais intenso e verdadeiro que já tivemos. Sal das lágrimas, gosto de despedida, promessa de que nunca esqueceria.
Era nossa última vez. A última música, o último abraço, o último beijo. Três anos antes, em 2012, nos conhecemos exatamente assim, ao som da mesma canção, a ali seria a nossa despedida.
[23h20]
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Depois de duas horas dirigindo sem destino pelas ruas da cidade,, resolvi ir à festa. Ele merecia essa presença, mesmo que meu coração estivesse em pedaços. Estacionei o carro ainda em dúvida se deveria entrar. A música alta vazava da casa, risadas e conversas animadas contrastando com meu estado de espírito, no fim, cedi era um erro, meu coração gritava para não descer, mas quem não nunca esqueceu seus instintos?. Assim que entrei na sala, vi Danilo beijando o ex. Henry, fiquei paralisado na porta, o mundo girando ao meu redor. Algumas pessoas me olharam, mas eu não conseguia me mexer. Danilo notou minha presença e se afastou bruscamente, o rosto em choque total.
— Lucas! — Ele gritou meu nome, mas eu já estava me virando.
Saí dali sem dizer uma palavra, empurrando pessoas pelo caminho. Danilo veio correndo atrás de mim.
— Lucas, espera, por favor! — Ele me alcançou no portão. — Deixa eu explicar!
— Volta pra tua festa. — Minha voz saiu controlada, gelada. — Não quero estragar tua última noite aqui.
— Me desculpa, isso foi um erro! — Ele segurou meu braço. — Eu tava bebendo, tava triste, e o Henry... foi só um momento de fraqueza!
— Um erro? — Ri sem humor. — O erro foi eu ter vindo aqui. Boa viagem, Danilo. Me esquece.
— Lucas, por favor! — A voz dele estava quebrada. — Não termina assim! Não depois de tudo!
Me virei, tomado por uma mistura explosiva de dor e raiva. As palavras saíram antes que pudesse pensar:
— Eu quero que você morra, Danilo. Some da minha vida, seu cretino.
Vi o impacto das minhas palavras no rosto dele. Como se eu tivesse lhe dado um soco. Danilo soltou meu braço, deu um passo para trás.
— Você... você não falou sério. — Ele sussurrou.
Mas eu já estava indo embora, entrando no carro sem olhar para trás. Essas foram minhas últimas palavras para ele.
Me arrependo?
Não sei. Talvez. Eu não admitia traição, nunca admiti. Tudo bem que não estávamos namorando oficialmente... mas havia algo ali, havia sentimento real. E ele soube destruir tudo com um beijo.
Chorei o caminho inteiro para casa, deixando Danilo lá, sozinho no portão, chorando também, e essa foi nossa última cena juntos.
[Abril de 2012]
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Meu nome é Lucas. Esta é uma história que, talvez, te faça me amar... ou me odiar. Não sou o mocinho desta narrativa — e, se me permitem a ousadia, tampouco sou um vilão. Sou apenas um homem marcado pelas escolhas que fez, e pelas que deixou de fazer. Um homem que aprendeu tarde demais que o amor não pede licença para chegar, nem para partir.
Antes de conhecer Danilo, já tinha experimentado o amor — ou algo parecido com ele — com três rapazes e duas garotas. Nunca me assumi completamente. Meu mundo era cuidadosamente dividido entre as aparências que sustentava e os desejos que escondia nas sombras. Só alguns amigos sabiam. Os mais íntimos. Os mais confiáveis. Os que conseguiam ver através das minhas máscaras.
O primeiro contato com Danilo aconteceu em 2012, numa época em que eu ainda estava envolvido com Victor — meu terceiro namorado. Estávamos juntos havia um ano e meio, numa dança complexa de idas, voltas e dúvidas constantes. Victor tinha deixado para trás um relacionamento de cinco anos para ficar comigo. Essa informação alimentava meu ego de um jeito quase doentio. Saber que alguém trocou uma vida inteira, uma rotina estabelecida, por mim me fazia sentir... poderoso. Invencível. Irresistivelmente desejado.
Victor falava muito sobre Danilo. Contava histórias engraçadas, compartilhava comentários ácidos, imitava trejeitos com carinho e admiração. Danilo era o tipo de cara que não passava despercebido em lugar nenhum. Era assumido completamente. Livre. Despudorado. Autêntico em cada gesto.
Isso me causava uma espécie de desconforto visceral que eu não sabia nomear na época. Talvez inveja. Talvez medo. Talvez admiração reprimida. Ele era tudo o que eu não conseguia ser: alguém que não ligava para o que os outros pensavam, que não perdia noites de sono imaginando julgamentos, que existia por inteiro, sem pedaços escondidos. E eu... eu me escondia até de mim mesmo, vivendo uma vida pela metade.
Num sábado qualquer de abril, estávamos num barzinho do bairro — eu, Victor e Luiz — quando o celular de Victor tocou. Era Danilo. Victor atendeu com um sorriso que me provocou uma pontada de ciúme inexplicável e depois estendeu o telefone para mim, como quem passa uma granada prestes a explodir.
— Alô, mistério, é você? — A voz de Danilo ecoou do outro lado, debochada e sedutoramente quente.
— Sim, sou eu mesmo. — Tentei soar desinteressado. — E aí, tudo certo?
— Nossa, que voz grossa... você é macho mesmo, tô passado! — Ele riu, e o som me arrepiou de uma forma que não esperava.
— Hahaha, minha voz é normal, pô...
— Caralho, parece voz de locutor. Que tesão.
Senti o rosto esquentar. Victor me observava com um sorriso divertido.
— Obrigado, então... — Pigarreei. — Vai vir aqui me conhecer?
— Acabei de passar na frente do bar. Tô com sono, cabeça cheia de trabalho da faculdade... deixa pra próxima. Marca depois com o Victor, tá bom? Quero muito te conhecer pessoalmente.
— Beleza, falou.
— Beijoooooo, mistério.
Ele me chamava de "mistério" porque eu havia pedido ao Victor que nunca revelasse quem eu era. Nem meu nome. Nem uma foto. Nem uma informação sequer. Nada. E Victor respeitava, talvez porque gostasse de brincar com esse jogo de esconde-esconde, ou porque, de algum modo, me proteger também o excitava. Eu era o segredo sujo de alguém que já tinha jogado limpo por tempo demais.
Esse foi o primeiro e único contato direto que tive com Danilo enquanto ainda namorava Victor. E, pensando bem hoje, foi melhor assim. Eu não teria sabido lidar com ele naquela época. Era uma versão engessada de mim mesmo, moldada pelo medo e pela insegurança. Não estava pronto para alguém como Danilo.
Talvez ninguém esteja nunca completamente pronto para encontrar sua alma gêmea.
Dois meses depois, Victor terminou comigo numa conversa que durou exatos quinze minutos. Disse que precisava de liberdade, que se sentia sufocado pelos meus medos e inseguranças. Que sair com Danilo, Yan, Mateus e Thiago tinha lhe mostrado o quanto era bom estar solteiro, sem precisar se esconder de ninguém.
— A gente foi ao centro da cidade ontem à noite — ele me contou, os olhos brilhando com uma alegria que há tempos não via quando falava comigo. — Bebemos, rimos, paqueramos um garoto de programa só por diversão. Foi libertador, Lucas. Eu tinha esquecido como é bom ser eu mesmo sem filtros.
Depois daquela noite, ele olhou para o nosso relacionamento como quem olha para uma jaula dourada. Bonita, mas que aprisiona. A verdade é que já estávamos nos arrastando havia meses. Ele queria sair, aparecer, viver plenamente sua sexualidade. E eu... eu ainda queria me esconder, me proteger atrás de muros que eu mesmo construía.
A dor foi intensa, mas também trouxe um alívio estranho. Como quando você para de tentar encaixar uma peça no lugar errado de um quebra-cabeça.
Mais tarde, algumas semanas depois do término, num grupo de WhatsApp que mantínhamos — carinhosamente batizado de "Quem Tem Birita, Vem Biritar (QTBVB)" — Danilo foi adicionado. Foi a Jéssica quem pediu, porque o prédio onde ele morava tinha uma área de lazer perfeita para nossa resenha do grupo.
Ele começou a interagir com todo mundo imediatamente. Memes engraçados, comentários espirituosos, provocações carinhosas. Eu, em silêncio, assistia a tudo como um espectador invisível. Fingindo total desinteresse, mas lendo cada palavra, cada emoji, cada piada interna que ele criava com o grupo.
Era impossível não reparar em como ele tinha o dom de fazer as pessoas rirem, de criar conexões instantâneas. Em poucos dias, já parecia parte integral do grupo, como se sempre estivesse estado ali.
Quando acordei numa manhã de sábado, vi uma mensagem dele no privado:
— Mistério... é você?
Sorri involuntariamente, sozinho no quarto.
Eu sabia que ele tinha ligado os pontos. Meus amigos moravam no mesmo condomínio que Victor. O nome Lucas não era exatamente raro no grupo... mas dentro daquele contexto específico, as pistas se alinhavam perfeitamente. Resolvi brincar um pouco:
— Oi? Que mistério? Quem é você?
Ele respondeu em segundos:
— Ah, desculpa então. Achei que fosse outra pessoa. Vlw.
Fiquei em silêncio por alguns minutos, olhando para a tela do celular. Depois, movido por uma curiosidade que não consegui controlar, mandei uma mensagem para Victor:
— O Danilo falou comigo. Foi você que mandou?
A resposta veio seca, cortante:
— Não.
Doía quando Victor era assim. Quando me tratava como um erro do passado que precisava ser apagado da memória. Por mais que eu dissesse a mim mesmo que não o queria mais, que estava superando, parte de mim ainda sangrava por ele. Ainda esperava um pouco de carinho, de nostalgia, qualquer migalha de afeto.
Horas depois, já no final da tarde, resolvi responder Danilo:
— Sou eu sim, lesado. Mistério, o próprio.
— Aíííí, eu sabia! Muita coincidência um Lucas no meio dos amigos do Victor e da Jéssica hahaha
— Besta. E aí, como estão as coisas?
— Tão indo devagar, mas tão indo. E com você? Como foi o término com o Victor?
A pergunta me pegou desprevenido. Era direta, sem rodeios. Tipicamente Danilo, como eu descobriria depois.
— Também tão indo. Sobre o Victor... foi meio inevitável, na verdade.
— Imagino. Ele me contou um pouco. Disse que vocês eram muito diferentes.
— Somos mesmo. Ele é mais... livre. Eu sou mais reservado.
— Reservado ou com medo?
Novamente, aquela honestidade brutal que me desarmava completamente.
— Um pouco dos dois, talvez.
— Entendo. Já passei por isso também.
Aquela noite foi longa. E deliciosa. Conversamos como se já nos conhecêssemos há anos, saltando de assunto em assunto com uma naturalidade surpreendente. Ele me falou sobre a faculdade de jornalismo, sobre os planos de fazer mestrado, sobre a família que demorou para aceitar sua sexualidade. Eu compartilhei medos que nunca tinha verbalizado, sonhos que mantinha guardados, angústias que me corroíam por dentro.
Danilo tinha essa coisa mágica de conquistar as pessoas no primeiro olhar, no primeiro emoji, no primeiro riso genuíno. Era como um imã humano, irresistível em sua autenticidade. E eu... eu resistia. Não só por orgulho ferido, mas por uma mágoa irracional. No fundo, numa parte primitiva e injusta da minha mente, eu culpava Danilo pelo fim do meu relacionamento com Victor. Ainda que soubesse, racionalmente, que isso era uma tremenda injustiça.
Mas naquele dia, naquela conversa que se estendeu pela madrugada, algo começou. Algo pequeno, quase imperceptível, mas que cresceria até se tornar a coisa mais importante da minha vida, algo que mudaria tudo, algo que, talvez, você que esteja lendo vai me amar ou me odiar, a única verdade que eu tive era que eu iria me vingar do Victor, através do Danilo, eu iria usar, e foder o psicológico frágil dele, aquele era o meu plano perversoEstou reescrevendo essa historia, me inspirei no reebot do outro Lucas, espero que gostem, quando eu escrevi eu abandonei ela por mexer comigo, mas anos se passou e eu superei tudo, não é uma história 100% real algumas situações são reais, vocês vão ver emoção, e sexo na medida certa, não será um conto 100% de putaria.