A ideia surgiu num grupo de WhatsApp da família: um fim de semana inteiro numa casa de praia emprestada por um conhecido. Clima de verão, cerveja, churrasqueira e mar à disposição. Ninguém pensou duas vezes. Mal chegou a sexta-feira, todo mundo já estava com mala pronta e cooler cheio.
Chegamos no final da tarde. A casa era grande, simples, de dois andares, com quintal aberto e acesso direto à areia. Os quartos foram sendo distribuídos de forma aleatória, conforme as famílias se acomodavam.
— Carlos, fica com Elias no quarto de cima — disse uma tia, distraída, enquanto contava travesseiros.
— Pode ser — respondi, com um sorriso discreto.
Do outro lado da sala, vi o maestro parar de organizar as bolsas e olhar diretamente pra mim. O olhar dele era rápido, contido... mas eu sabia ler. Não gostou. Nem um pouco.
Elias sorriu quando soube da divisão.
— A gente dá um jeito de se ajeitar. Só não ronca alto, hein.
— Só ronco depois de gozar — brinquei, deixando a frase no ar.
O maestro fingiu não ouvir. Mas eu sabia que ouviu.
A tarde seguiu com o pessoal organizando as coisas, colocando carne no freezer, gelando cerveja. Roupas leves, corpos suados, pés descalços pela casa. Eu vestia apenas um short de tactel frouxo e uma regata colada. Elias andava de bermuda sem camisa, mostrando o peito peludo, queimado de sol. E o maestro... bom, ele mantinha o short justo, sempre sem cueca, e aquele jeito calado de quem observa tudo.
Na primeira noite, depois do jantar, a maioria se reuniu no quintal para ouvir música, beber e jogar conversa fora. Aos poucos, alguns foram subindo para os quartos.
— Tô subindo também. Dormi pouco ontem — anunciei, fingindo sono.
Elias me acompanhou. No quarto, a luz fraca da luminária criava sombras nas paredes de madeira. Ele fechou a porta devagar, tirou a bermuda com naturalidade e ficou só de cueca.
— Aqui é quente, viu? Nem rola dormir coberto.
— Também acho. — Tirei a regata e joguei na cadeira. Fiquei só com o short.
Deitei na cama de solteiro encostada na parede. Elias se deitou na outra, mas ficou um tempo me olhando.
— Você e o maestro têm uma coisa estranha, né?
— Estranha como?
— Sei lá... quando você aparece, ele muda. Fica tenso. Te acompanha com o olho.
— Você repara demais, Elias.
Ele sorriu. Um sorriso lento, malicioso.
— Eu reparo em quem vale a pena.
Ficamos em silêncio por uns segundos. O ventilador de teto girava devagar, espalhando um ar morno. Ouvi risadas vindas do quintal. A casa ainda estava acordada.
— Posso te contar uma coisa? — ele disse, sem tirar os olhos de mim.
— Pode.
— O maestro me contou de vocês. Não com todas as palavras. Mas o suficiente.
Meu corpo gelou por um segundo. O olhar dele estava firme, mas não acusador.
Era mais... cúmplice.
— E o que você achou disso? — perguntei, tentando parecer indiferente.
— Que ele é um homem de sorte. — Elias se levantou da cama, veio até a minha beirada e se agachou. O rosto agora bem próximo. — Mas também é burro. Porque se eu tivesse um novinho assim, não deixava dormir num quarto com ninguém.
Antes que eu pudesse reagir, ele encostou os lábios nos meus. Um beijo calmo, molhado, cheio de segurança. Eu devia recuar. Mas não recuei.
E o mais perigoso... parte de mim queria que o maestro soubesse.
No di seguinte, o sol bateu forte logo cedo pelas frestas da janela. O calor era abafado, misturado ao cheiro salgado do mar. A casa estava silenciosa, com os primeiros sons de café sendo passado na cozinha.
Carlos acordou primeiro. Elias ainda dormia na cama ao lado, de costas, com o lençol baixo revelando a cueca branca colada ao corpo. A lembrança do beijo da noite anterior ainda queimava nos lábios. Um beijo que não deveria ter acontecido — mas aconteceu. E o pior: não saiu da cabeça.
Carlos se levantou devagar, colocou o short e desceu. Encontrou parte da família no quintal, organizando o café da manhã na mesa grande. O maestro estava encostado na pia externa, de braços cruzados, tomando café puro.
— Dormiu bem? — perguntou, com a voz rouca da manhã.
— Mais ou menos. O quarto lá em cima é quente pra caramba.
O maestro apenas assentiu, mas os olhos pareciam perguntar mais. Carlos sentou à mesa, sentindo os olhares pesarem.
— Elias ainda tá dormindo? — o maestro soltou, olhando pro lado.
— Tá. Rendeu ontem, né? — Carlos respondeu, com um meio sorriso.
O maestro apertou o maxilar, disfarçando. Não disse nada. Apenas voltou a beber o café, calado.
Minutos depois, Elias apareceu de sunga, descendo com toalha no ombro.
— Bom dia, povo! Bora de praia hoje?
Carlos quase riu. O timing era perfeito. O corpo bronzeado, o jeito espalhafatoso, a forma como Elias o olhava de relance — tudo parecia calculado. E o maestro notava cada detalhe.
— Vamos sim. Só esperar a maré baixar um pouco — disse alguém da família.
Logo estavam todos prontos, descendo em grupo pelo caminho de areia até a praia. A família espalhou as cadeiras, guarda-sóis e cangas. Crianças corriam, adultos abriam cervejas. Carlos entrou na água junto com Elias, os dois rindo, jogando água um no outro, se tocando "sem querer".
Do alto da areia, o maestro observava tudo. Óculos escuros, braço apoiado no joelho, boca cerrada. Ele não dizia nada, mas seus olhos queimavam mais que o sol de janeiro.
— Vamos dar uma caminhada? — Elias sugeriu a Carlos, depois de um tempo na água.
Carlos assentiu. Os dois começaram a andar pela beira da praia, deixando o grupo pra trás. O maestro os seguiu com os olhos até perdê-los de vista. Apertou a cerveja com força.
“Se ele acha que vai brincar comigo... está muito enganado.”
A areia estava morna sob os pés e a brisa do mar batia úmida no rosto. Carlos e Elias caminhavam lado a lado, às vezes se esbarrando de leve, como se o contato fosse casual. Nenhum dos dois tinha pressa. Só o som das ondas e o vai e vem das lembranças da noite anterior os acompanhavam.
— E aí... dormiu mesmo ou ficou pensando no que a gente fez? — Elias perguntou, com um meio sorriso travesso.
Carlos sorriu, sem virar o rosto.
— E você? Parece que sonhou com aquilo, do jeito que tava se esfregando na cama.
Elias riu.
— Se for pra repetir, nem precisa sonhar. A gente faz acordado mesmo.
Carlos parou, olhou pro mar, pensou um pouco.
— Isso vai dar merda, sabia?
— Já tá dando, e mesmo assim você não parou, Carlos...
O silêncio pairou. Os dois ficaram ali, olhando pro horizonte. Elias se aproximou mais, quase encostando o braço no dele.
— Você tá afim do meu amigo ou só curte o perigo?
Carlos virou o rosto e encarou Elias por uns segundos.
— E se for os dois?
Elias mordeu o lábio inferior, depois soltou um riso abafado.
— Então a gente tem um problema delicioso nas mãos.
O clima os envolvia, mas sabiam que era hora de voltar. Não podiam sumir por muito tempo sem levantar suspeitas. Caminharam de volta, a maré agora um pouco mais alta, molhando seus pés.
Quando chegaram perto do grupo, notaram de longe que o maestro estava mais solto, rindo alto, falando demais. Tinha uma cerveja na mão e outras tantas no cooler ao lado. Os olhos por trás dos óculos escuros pareciam mais escuros ainda.
— Olha só quem voltou da caminhada romântica — ele disse alto, quando viu os dois.
Algumas pessoas riram, sem entender o tom por trás da fala. Elias apenas sorriu e seguiu adiante, indo buscar uma toalha. Carlos ficou parado ali, encarando o maestro.
— Exagerou na cerveja, hein? — disse Carlos, tentando soar leve.
—Cerveja é o de menos. Tem coisa que sobe mais que o álcool... e desce queimando — ele respondeu, com um sorriso enviesado.
Carlos fingiu não entender, mas o recado estava claro. O maestro estava embriagado, sim, mas também envenenado de ciúmes. O dia ainda prometia... e a maré começava a virar.
O clima entre eles ficou denso como o calor abafado da tarde. O maestro, já meio bêbado, não disfarçava os olhares. Cada vez que via Carlos e Elias trocando alguma palavra, mesmo que boba, seu maxilar cerrava.
Durante o almoço, sentaram-se todos ao redor da grande mesa de madeira na varanda da casa de praia. Conversas paralelas, piadas entre tios e primos, crianças correndo por perto. Mas, entre as risadas da família, havia um silêncio latente entre Carlos e o maestro.
— Mais arroz, Carlos? — a prima ofereceu.
— Quero sim, obrigado — respondeu, tentando manter o tom casual.
O maestro ergueu a cerveja em direção a ele, quase em desafio:
— Tá se servindo direitinho hoje, né?
Carlos forçou um sorriso. — Melhor que passar fome.
Elias apenas observava a tensão entre os dois, achando aquilo um jogo perigoso e excitante.
Mais tarde, na praia, o grupo decidiu ficar para ver o pôr do sol. Cadeiras de praia enfileiradas, alguns já meio sonolentos com o vinho e o calor. Carlos estava sentado ao lado de Elias, rindo de algo bobo, quando sentiu o olhar do maestro queimando em sua direção.
Ao retornar para a casa, o sol já caía e o céu era uma mistura de laranja, azul e vinho. O pessoal se espalhou: alguns tomaram banho, outros foram cuidar do churrasco noturno.
Carlos foi para o quarto pegar uma toalha. Quando entrou, viu o maestro encostado na porta, olhando pra ele com os olhos pesados e voz baixa:
— Se divertiu bastante hoje, né?
— Com a família, sim. Com você não muito — respondeu, encarando-o.
O maestro fechou a porta atrás de si. Aproximou-se.
— Tá me testando? Aqueles sorrisos pro Elias… acha que eu não vejo?
— Você bebeu demais. — Carlos tentou manter a compostura.
— Bebi foi pouco pra aturar a vontade de te pegar ali mesmo, na frente de todo mundo.
Ele se aproximou, pegou Carlos pelo braço e o empurrou contra a parede. Os rostos estavam próximos. O hálito quente, cheirando a álcool e desejo.
— Hoje você vai dormir com quem? — ele perguntou, roçando os lábios no pescoço de Carlos.
Carlos sentiu o arrepio subir pela espinha.
— Com quem for mais discreto… — sussurrou.
O maestro passou a mão pela cintura dele, apertando com força.
— Então vem cá. Vamos ser discretos do nosso jeito.
Ele destrancou a porta e os dois saíram sem fazer alarde, cruzando pelos fundos da casa, evitando olhares. Entraram no carro estacionado ao lado e, como da última vez, sumiram estrada afora.
O carro seguia por uma estrada de terra mal iluminada, afastando-se da praia e das casas de veraneio. O maestro mantinha o olhar firme na direção, mas o silêncio entre os dois era carregado. Carlos sentia o peso do olhar dele mesmo sem encará-lo.
— Tu se diverte provocando, né? — ele disse, sem tirar os olhos da estrada.
Carlos sorriu de canto, olhando pela janela. — Eu só conversava...
— Conversava demais.
Pouco depois, o carro parou diante de um portão torto, parcialmente coberto por mato. O maestro desceu, abriu o cadeado velho e empurrou com força. Do outro lado, uma casa de alvenaria com pintura desbotada e janelas quebradas se erguia no meio do terreno abandonado.
Lá dentro, o ar estava abafado, com cheiro de madeira úmida e poeira. O som dos grilos e das ondas distantes preenchia o silêncio entre os dois.
O maestro trancou a porta atrás de si. Em poucos passos, já estava colado nas costas de Carlos.
— Tu acha que pode me deixar feito idiota te olhando de longe? — disse ele, sussurrando quente contra sua nuca.
Sem esperar resposta, puxou Carlos pela cintura e o empurrou contra uma parede da sala vazia. A lua entrava pela janela quebrada, riscando o chão com luz pálida.
Os beijos eram famintos, os toques brutos. As roupas foram arrancadas com pressa, jogadas no chão empoeirado. Quando Carlos se abaixou para chupar, o maestro gemeu alto, a voz ecoando pelo espaço vazio.
Mas ele não parou por muito tempo. Logo o ergueu, virou-o de costas e, com um movimento forte, penetrou de uma vez, fazendo Carlos gritar de prazer e surpresa.
— Isso... — rosnou — Essa bunda é minha.
E então, com Carlos ainda encaixado, começou a andar pela casa. Cada passo era um impulso, cada investida fazia o som do sexo ecoar nas paredes frias e nuas.
— Tu sente isso? — ele dizia, segurando forte na cintura de Carlos — É meu... tudo isso aqui é meu.
Chegaram a um quarto com chão de cimento nu. Ele encostou Carlos na parede, virou-o de frente, e voltou a metê-lo com força, olhos fixos nos dele.
— Goza pra mim — sussurrou, o corpo suado e tenso.
Carlos gemeu, estremeceu e gozou ali mesmo, o corpo todo tremendo. O maestro seguiu pouco depois, explodindo dentro dele com gemidos roucos, enterrando o rosto em seu pescoço.
Ficaram ali ofegantes, colados, o som do mar ao longe misturado ao som dos próprios corações.