Eram fotos. Mari e Jonas em um parque. Rindo. Sentados próximos demais. Em outra, Jonas tocava o rosto dela com delicadeza, talvez limpando algo, talvez só um gesto espontâneo. Havia também uma imagem dentro de um carro, Mari dormindo com a cabeça quase encostada no ombro dele. E uma última, em um café, onde os dois se olhavam com uma intimidade difícil de explicar.
Tecnicamente, nada explícito. Mas a linguagem corporal, os ângulos, os momentos capturados ... tudo sugeria algo além da amizade. As fotos foram tiradas por um profissional, para parecerem ser mais do que são.
O peito de Celo apertou. A garganta secou. Sentiu-se traído por algo que, racionalmente, não deveria sentir.
— Celo ... — Sussurrou Cora, mais perto. — Você não precisa mais fingir que não sente. Ela seguiu. Você pode também.
Ele virou a cerveja de um gole. Pediu outra. Depois mais uma. Cora não o apressava. Apenas deixava o tempo fazer o trabalho sujo. Deixou que Celo bebesse além da conta.
— Você merece alguém que te queira de verdade. Alguém que esteja aqui. Agora.
E então o beijo aconteceu. Celo não resistiu. Ou talvez tenha se rendido. Era difícil dizer. O álcool queimava, mas não mais que as imagens rodando em sua mente. As mãos de Cora o envolviam com fome e promessa.
E ele ... apenas deixou acontecer.
Continuando:
Parte 29: “A Nossa Música Nunca Mais Tocou”
A cabeça latejava. A boca seca era puro arrependimento. O som dos pratos e copos sendo organizados no bar misturava-se ao zunido incômodo que martelava seus ouvidos. Celo despertou aos poucos, como se estivesse emergindo de um pesadelo disfarçado de alívio e a empurrou, de leve, sem intensidade, somente para criar uma distância entre os dois.
Cora ainda estava ali, sentada ao seu lado, ainda um pouco mais próxima do que deveria. O beijo foi longo, mas sem intensidade ou prazer para Celo.
Ele levou a mão à testa, massageando as têmporas, tentando lembrar exatamente até onde tinha ido. O gosto amargo da cerveja ainda estava presente, mas o gosto pior era outro, aquele que vinha de dentro. Um peso no estômago.
— Você tá bem? — Perguntou Cora, com um sorriso que tentava ser doce, mas soava mais como armadilha.
Celo olhou em volta. Percebeu que o bar estava esvaziando. Alguns amigos da jovem cantora ainda conversavam no canto. Seu Zé, lá no fundo, fingia não ver.
Ele se ajeitou no banco, afastando-se sutilmente.
— Cora ... — Disse, baixo, tentando manter a calma. — Isso aqui não tá certo.
Ela franziu a testa, ainda tentando manter a sedução na voz.
— Não começa com isso, agora. Você não reclamou antes ...
— Porque eu não estava em mim. E você sabe disso.
— E daí? Eu estava. E queria. Ainda quero. — Ela se inclinou, tentando alcançá-lo com os lábios.
Celo virou o rosto.
— Cora, para. Chega. Não força.
— Forçar? — Ela recuou, sentida, depois irritada. — Eu só estou tentando algo que você também quer, mas não tem coragem de admitir.
— Não. Eu não quero. — Ele respirou fundo, tentando controlar o tom. — Eu nunca quis. Você sabe disso. Só se aproveitou de um momento em que eu estava vulnerável.
— Ah, claro! — Ela levantou a voz, rindo com sarcasmo. — E se fosse a Anna? Você teria resistido? Aposto que não!
O nome o pegou desprevenido.
— O que a Anna tem a ver com isso?
— Tudo. Você tem esse cuidado todo com ela, uma admiração. Essa tensão não resolvida. Se fosse ela, você não daria esse “show”.
— Não é verdade. — Celo respondeu firme, com um olhar que agora ardia. Mais por conta da lucidez, do que do álcool. — A Anna se enquadra na mesma situação que você. É próxima da Mari. E mais: ela jamais agiria como você está agindo agora.
— Como assim? — Cora rebateu, ferida.
— Desesperada. Invasiva. Forçando algo que não é recíproco. — Celo se levantou do banco, jogando algumas notas em cima do balcão para pagar as bebidas. — Você é linda, Cora. Inteligente, divertida. Mas tá buscando o que quer que seja no lugar errado. E da pior forma possível.
Ela permaneceu em silêncio, o rosto endurecido, respirando fundo para conter as lágrimas ou a raiva — talvez os dois.
Celo, já com as chaves na mão, parou na ponta do balcão antes de sair.
— Me desculpa se em algum momento eu te dei esperanças. Mas o que aconteceu aqui ... não deveria ter acontecido. Boa noite, Cora.
E então ele se foi. Cora se sentia humilhada. E furiosa.
A porta da edícula se fechou com um estalo seco. Celo largou as chaves sobre a bancada, retirou a camisa e jogou no canto do quarto. A cabeça ainda latejava. Ele passou a mão pelo rosto, o gosto do beijo de Cora ainda presente, incômodo. Tinha ido até ali em busca de paz, para reorganizar os pensamentos, curar feridas que ele mesmo se recusava a tratar. E quase deixara tudo desmoronar.
Se deitou na cama, o colchão simples de sempre, o teto de madeira familiar, o som distante da cidade que se preparava para dormir ... e ainda assim, o peito era uma guerra.
Mari. As fotos. Jonas. Cora.
Virava de lado. Depois de costas. De bruços. Sem posição. Sem descanso. Até que, depois de um tempo indeterminado, os olhos finalmente se fecharam. E o sono o levou …
O bar estava cheio naquele sábado. Gente local, turistas curiosos, e os clientes de sempre que ocupavam suas mesas como se fossem tronos.
Celo subiu ao pequeno palco com um sorriso discreto, a camisa dobrada até os cotovelos, o violão afinado com precisão. As luzes eram quentes, suaves. A alma, ainda machucada — mas é quando ela mais canta.
— Boa noite, pessoal. — Disse ao microfone, com a voz já carregada de sentimento. — Hoje é dia de clássicos. Só o que não envelhece.
Começou com "Verdade Chinesa", do Emílio Santiago.
“Era só isso que eu queria da vida
Uma cerveja, uma ilusão atrevida
Que me dissesse uma verdade chinesa
Com uma intenção de um beijo doce na boca”.
A plateia silenciou. Alguns cantavam junto, outros apenas ouviam. Mas todos sentiam. E se juntaram a ele no refrão:
“Senta, se acomoda, à vontade, 'tá em casa
Toma um copo, dá um tempo que a tristeza vai passar
Deixa, pra amanhã tem muito tempo
O que vale é o sentimento e o amor que a gente tem no coração”.
Depois veio "Romaria", de Renato Teixeira.
"É de sonho e de pó, o destino de um só ...".
A canção ecoou como prece, atravessando gerações sentadas no salão.
Seguiu com "Codinome Beija-flor”, do Cazuza.
“Pra que mentir, fingir que perdoou?
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou
Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções?
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos beija-flor”.
Era impossível não pensar em Mari. Em tudo que tinham sido. Em tudo que não eram mais. Então ele sorriu, e chamou a plateia para dançar com "Tarde em Itapuã", de Vinicius e Toquinho.
"Um velho calção de banho, o dia pra vadiar ... um mar que não tem tamanho ...".
O clima mudou. As dores ficaram mais leves. O bar virou lar.
A noite seguiu por quase duas horas, com clássicos nacionais enfileirados, sem pausa, até que ele se despediu e foi ovacionado pela plateia.
Naquela noite, ele foi o artista que sempre quis ser. O homem que lembrava quem era. O pai que voltava a se reconectar com a própria alma. E por um momento, um breve, precioso momento, tudo estava em paz.
No dia seguinte, a estrada de volta parecia mais curta. As músicas no rádio não eram melancólicas, eram apenas trilha sonora para o silêncio bom de quem reencontrou um pouco de si.
Celo chegou em casa no fim da tarde. Tomou um banho demorado. Separou a roupa para o trabalho do dia seguinte, mexeu no violão e conferiu contratos. Cansado, dormiu cedo.
Acordou com a vibração do celular na manhã seguinte. Celo virou de lado, ainda sonolento. Desbloqueou a tela. A notificação trazia um nome que fazia o coração dar um tropeço: Mari.
"Podemos nos encontrar? Pode ser à noite. Está na hora de resolvermos as coisas, seguirmos em frente com nossas vidas".
Ele leu uma vez. Depois outra. E mais uma. As palavras estavam ali, claras. E ao mesmo tempo, nebulosas. “Seguir em frente”.
Doía.
Porque ele havia acabado de construir uma nova parede para conter aquela dor. Um novo discurso, uma nova armadura. Um novo jeito de não sentir. Mas bastou uma mensagem definitiva para tudo voltar.
A lembrança dela. A falta. A dúvida. A esperança.
Ele se sentou na cama, os cotovelos sobre os joelhos, o celular na mão como se pesasse mais de vinte quilos. Os olhos fixos na tela.
Ela queria resolver. Mas será que ele queria mesmo escutar? Ou pior: será que estava pronto para o que ela tinha a dizer?
{…}
Dois dias antes:
A estrada parecia longa demais, embora ela não conseguisse prestar atenção em absolutamente nada. O volante em suas mãos trêmulas era o único ponto de contato com a realidade. Todo o resto, o mundo ao redor, o barulho dos pneus no asfalto, os postes passando pelas janelas … era borrado, distante, irrelevante.
Mari chorava sem som. As lágrimas escorriam sozinhas, como se o corpo soubesse o caminho mesmo quando a alma se recusava a segui-lo. O peito doía com uma força absurda e ela tentava conter os soluços, sufocando-os como se fossem vergonhosos. Mas não era vergonha. Era perda. Era luto.
Ela pensava no que escrevera na carta. Pensava na “Mari” cheia de esperança que a redigira, linha por linha, com a mão firme e o coração aberto. Na mulher que queria amar de novo. Que queria tentar.
E agora … agora tudo aquilo parecia uma piada de mau gosto. “Como foi que ela não viu?”. Celo já tinha partido. Ele já não estava mais ali.
Ele tinha dado todos os sinais, em cada silêncio, em cada recuo, em cada gesto sem reciprocidade. Ela que se recusara a enxergar. E o que mais doía — o que doía de verdade — era perceber que ele parecia bem. Bem demais.
Beijava outra mulher. Sem hesitar. Sem lutar contra. E talvez aquilo dissesse mais do que qualquer conversa que os dois pudessem ter tido.
Quando entrou em casa, o relógio marcava quase vinte e uma horas. Estava exausta — não de corpo, mas de alma. Como se tivesse lutado uma guerra invisível. E de certa forma, tinha mesmo.
Abriu a porta devagar, deixando o silêncio preenchê-la. Não havia mais lágrimas. Não havia mais o que remoer. Ela foi direto para o banheiro, tirou a roupa e entrou debaixo da água quente. Deixou que aquilo lavasse tudo: a dor, a raiva, a culpa, a ilusão.
O vapor embaçou o espelho e ela nem se reconheceria se o encarasse. Mas não era hora de se ver, era hora de se sentir.
Ao sair, enxugou-se com calma. Vestiu uma roupa leve, sem pressa, como quem sabe que está prestes a tomar uma decisão. Sentou-se na beira da cama. Olhou o envelope sobre a cômoda.
Abriu. Leu.
"Eu te amo, Celo. Ainda amo. Mas quero recomeçar. E só posso fazer isso se você vier comigo ...".
Não teve forças para continuar. Dobrou novamente. Guardou na gaveta. Não ia rasgar. Não ainda. Mas também não entregaria mais.
Respirou fundo. Pegou o celular. Procurou o nome: Jonas. Fez a chamada.
Ele atendeu no segundo toque, a voz ainda rouca de surpresa:
— Alô?
— Está ocupado? Quer sair? — Perguntou Mari, sem rodeios, sem drama. A voz ainda frágil, mas firme.
Jonas silenciou por um segundo e então respondeu, com um sorriso que ela quase podia ouvir:
— Claro! Posso ir te buscar em uma hora.
— Combinado.
Desligou.
Levantou-se. Passou um batom discreto no espelho ainda embaçado. Pegou uma bolsa pequena. Talvez estivesse indo rápido demais, sim. Talvez não fosse certo. Talvez não fosse o ideal. Mas Mari não estava fazendo escolhas baseada no que os outros pensariam. Ela só não queria mais esperar. Esperar alguém que não voltaria.
E Jonas ... Desde que aparecera, ele sempre esteve ali. Com os olhos certos, o toque respeitoso, o timing delicado de quem sabe que carinho não é invasão. Ela não sabia onde aquilo daria. Mas sabia que merecia alguém que a escolhesse de verdade. Todos os dias. Em todos os momentos.
E, naquela noite, Mari não estava apenas saindo de casa. Ela estava saindo da sombra de um amor que, provavelmente, terminara de morrer.
Uma hora depois, Mari ouviu a buzina discreta na porta. Ela respirou fundo antes de sair. Não por hesitação, mas por simbolismo. Estava, de fato, atravessando um limiar.
Jonas estava encostado no carro, com uma camisa escura, calça jeans e aquele jeito tranquilo que sempre carregava. Ao vê-la, sorriu com uma leveza que quase fez Mari esquecer das últimas horas.
— Você está linda. — Ele disse, sem exageros, sem expectativas, só verdade.
— Obrigada. Estou me sentindo … diferente hoje.
Ele abriu a porta para ela, ajeitou seu cinto e dirigiu devagar, sempre sorrindo ao olhar para ela.
O restaurante escolhido por ele ficava em uma ruazinha calma, decorado com luzes amarelas e samambaias penduradas. Era íntimo, discreto, com música suave e poucos clientes. A escolha perfeita para alguém que queria apenas conversar.
Mas Mari não queria só conversar. Não naquela noite.
Sentaram-se. Pediram vinho. Ela pediu o prato preferido dele antes que ele dissesse qualquer coisa, rindo da surpresa no rosto de Jonas.
— Eu escuto mais do que você pensa. — Mari provocou, com um sorriso que carregava um novo brilho.
Durante o jantar, Mari não desviava os olhos. Tocava no braço dele de leve ao rir. Perguntava coisas íntimas, diretas. Já fora, lá atrás, uma mulher provocante e astuta, mas a vida lhe trouxe severas consequências. Precisa ser essa mulher outra vez. Queria saber como ele amava, como ele via o futuro, o que ele esperava de uma mulher.
Jonas, sempre tão sereno, se via fisgado. Mari estava diferente, não só mais determinada, mas mais livre. Como quem tinha deixado um peso no caminho.
— Você parece … mais leve, hoje. — Ele comentou, enquanto preenchia as taças pela segunda vez.
— Estou … — ela respondeu, olhando nos olhos dele. — … Acho que finalmente me dei conta de que não preciso mais esperar …
Jonas ficou em silêncio por alguns segundos. Depois estendeu a mão, tocando os dedos dela com a calma de quem respeita. Mas com o desejo de quem esperou tempo demais.
— Não vou te apressar, Mari. Mas também não vou me esconder. Estou aqui. Do jeito que você quiser.
Ela sorriu. Um sorriso novo. Quase atrevido.
— Que bom, porque eu quero. — Mari disse, deixando que o silêncio depois disso falasse mais alto que qualquer explicação.
O jantar, antes calmo e agradável, trouxe expectativa e tensão.
Saíram de lá e foram para um bar charmoso, pequeno, com luz baixa, gente rindo em mesas de madeira e um cantor solitário ao violão, quase uma licença poética aos olhos de Mari.
Se sentaram perto do palco. Pediram drinks. Mari pediu um gin tônica com hibisco. Jonas, um whisky suave. Dançaram sem se levantar. Só com os olhos, os gestos, os sorrisos.
Ela passou os dedos pela borda do copo, deixando a pulseira deslizar. Olhou para ele, decidida, sem rodeios:
— Você me deseja, Jonas?
Ele arregalou um pouco os olhos, pego pela ousadia inesperada, mas respondeu sem titubear:
— Muito mais do que deveria.
Ela riu.
— Ótimo. Porque eu também te desejo. E hoje, não quero voltar pra casa sozinha.
Ele a olhou, esperando a confirmação nos olhos.
— Está me dizendo o que eu acho que está?
Mari mordeu o canto do lábio, inclinou-se sobre a mesa e respondeu num sussurro firme:
— Estou. Vamos sair daqui?
Jonas chamou o garçom. Pagou. Deu a volta na mesa e a ajudou a levantar.
Não segurou sua mão, não ainda. Mas a conduziu com o corpo inteiro, com o gesto inteiro, como quem sabe a preciosidade que carrega.
No carro, o clima oscilava entre tensão e antecipação. Mari encostou a cabeça no vidro por um momento, olhando as luzes da cidade se alongando.
— Tem certeza? — Jonas perguntou, ainda incrédulo, enquanto parava o carro no semáforo.
— Tenho. Estou exausta de viver em dúvidas, Jonas. Pela primeira vez, quero me permitir. Quero que hoje à noite, meu corpo seja só meu. E que, se eu escolher te dar parte dele, que seja por desejo. Não por carência. Não por fuga. Só por vontade.
Jonas assentiu, respeitoso, mas sentindo o coração disparar.
— Conheço um lugar bom. Discreto. Confortável.
— Então vamos. — Disse ela, com uma firmeza que encantava. — Hoje eu quero o que é simples. Um quarto, uma cama, e alguém que me olhe como você está me olhando agora. Como se fosse me devorar.
E então ele virou à esquerda. A noite estava apenas começando. E Mari, plenamente ciente do que queria, do que precisava, não estava fugindo do passado. Estava escolhendo o presente.
Jonas entrou num motel de alto padrão, pois Mari merecia apenas o melhor que a vida tinha para oferecer. Enquanto estacionava, ainda a encarou uma última vez, tendo a certeza de que a convicção dela não falharia.
Foi Mari quem tomou a iniciativa, quando saíram do carro, ainda na garagem do quarto de motel, enlaçando os braços em seu pescoço e o puxando para o primeiro beijo. Jonas deixou toda a preocupação de lado, se transformando em segundos, do homem paciente e respeitador, para o amante experiente e ciente de suas habilidades.
Com sua pegada firme, uma mão na nuca, outra na bunda, beijou Mari com intensidade, sedento, mostrando o quanto a desejava. Mari se derreteu em seu abraço, submissa e entregue, se sentindo a mulher mais desejada do mundo.
— Te quero mais que tudo, agora … — Mari sussurrou, os lábios ainda úmidos do beijo intenso que haviam compartilhado na garagem do motel.
Jonas, com os olhos escurecidos de desejo, não precisou de convite. Ele a ergueu nos braços com facilidade, suas pernas se enrolando automaticamente em torno de sua cintura enquanto ele a levava para o quarto, o calor entre os dois já era insuportável.
A porta do quarto se fechou com um estrondo, mas nenhum dos dois se importou. Jonas a empurrou contra a parede, suas bocas se encontrando novamente em um beijo voraz, quase brutal em sua intensidade. Seus dentes roçaram os lábios dela, suas línguas se entrelaçando em uma dança selvagem. Mari soltou um gemido baixo, sentindo o corpo dele pressionar o seu, a dureza do pau já evidente contra a curva do seu quadril.
— Você sabe o que faz … — Mari arquejou, seus dedos se enrolando nos cabelos dele, puxando com força.
Ele sorriu contra a boca dela, as mãos descendo para agarrar sua bunda com firmeza, apertando e massageando a carne macia.
— E você é uma delícia … um tesão. — Ele respondeu, a voz rouca de necessidade.
Ele a virou de costas, as mãos descendo o zíper do vestido, puxando-o para baixo com um gesto rápido. O tecido caiu no chão, revelando o corpo dela, apenas um sutiã de renda e uma calcinha minúscula cobrindo o que ele mais queria.
Mari sentiu o ar gelado do quarto do motel bater na sua pele, mas o calor do corpo de Jonas, atrás dela, era o suficiente para mantê-la quente. Ele mordiscou seu pescoço, as mãos indo direto para os seios dela, apertando-os com delicadeza, os dedos encontrando os mamilos já duros através do tecido fino do sutiã.
Mari até se lembrou de um tempo em que o pudor desnecessário guiava suas decisões, a mantinha como refém, mas não mais. Já perderá demais por ter sido daquela forma. Era hora de ser diferente. Se não para o Celo, que fosse para Jonas.
— Tira isso … — Ele ordenou, a voz tremendo de desejo.
Ela obedeceu, soltando o gancho com um gesto rápido, os seios libertos. Ele os agarrou, os dedos brincando com os mamilos, apertando e puxando, enquanto ela gemia, o corpo arqueando contra o dele.
— Hummm … que delícia … — Mari gemeu manhosa.
Jonas a virou de volta para ele, seus lábios mergulhando em seu pescoço, depois em seu colo, antes de finalmente engolir um dos mamilos em sua boca. Ele chupou com força, a língua circulando o mamilo enquanto ele apertava o outro seio com a mão. Mari gritou, as pernas tremendo, as mãos dele segurando-a firme para mantê-la de pé.
— Jonas … por favor … — Ela implorou.
Os dedos dele desciam para a calcinha, puxando-a para o lado para expor a xoxota molhada. Ele esfregou o dedo na entrada, sentindo a umidade, antes de afundar dois dedos nela, sentindo a musculatura se contraindo ao redor deles.
— Você está tão molhada … — Ele sussurrou, os dedos se movendo dentro dela, encontrando o ponto que a fez gritar.
— Ahhhh … assim … bem aí …. Ahhhh ….
Ele acelerou o ritmo, os dedos saindo e entrando com força, a palma da mão batendo no clitóris a cada movimento. Mari apertou os olhos, os gemidos saindo sem controle, as pernas tremendo enquanto ele a levava ao limite.
— Não para … demais … como é bom … — Ela gritou, o corpo se contorcendo enquanto ele continuava a foder sua xoxota com os dedos.
A boca dele continuava em seus seios, mordendo e chupando. Ele adicionou um terceiro dedo, esticando-a, o som molhado da xoxota enchendo o quarto. Quando ela finalmente chegou ao orgasmo, foi como uma onda, seu corpo tremendo violentamente, os dedos dele continuando a bombear dentro dela, prolongando a sensação.
Mari praticamente desfaleceu em seus braços.
Jonas a deitou na cama, os olhos dela ainda meio fechados, o corpo fraco pelo prazer. Ele tirou as próprias roupas num instante, o pau duro surgindo, pulsando de necessidade. Colocou o preservativo rapidamente e subiu na cama, posicionando-se entre suas pernas, o pau roçando na xoxota molhada.
— Você está pronta para mim? — Ele perguntou, a voz rouca.
Mari abriu os olhos, olhando para ele, o desejo brilhando nos olhos.
— Sim, me fode. — Ela implorou.
Ele segurou o pau, alinhando-o com a entrada da xoxota, antes de empurrar para dentro com um movimento calmo, mas derradeiro.
Mari gritou de prazer, o corpo arqueando, sentindo-se completamente preenchida. Ele começou a se mover, devagar no início, cada movimento uma tortura doce. Ele a beijou profundamente, as línguas se encontrando, os corpos se movendo em sincronia.
Mas logo, ele perdeu o controle, o ritmo acelerando, o quadril batendo contra o dela com força. O quarto cheio de sons: os gemidos dela, os grunhidos dele, o som molhado dos corpos se encontrando. Mari apertou as pernas em torno da cintura dele, seus dedos cravando nas costas, sentindo o suor escorrer entre eles.
— Você é incrível, Mari. Perfeita. — Ele sussurrou, a voz quebrando, o pau entrando e saindo dela com força.
— Incrível é você … esse pau grosso dentro de mim … Ahhhhhh … — Ela gritou, o corpo tremendo, outro orgasmo se aproximando.
Jonas sentiu a xoxota ordenhando seu pau, o que o levou ao limite. Mari estremecia em mais um orgasmo intenso. Ele se inclinou, mordendo o pescoço dela, os quadris se batendo em ritmo brutal. O gozo veio farto, em jatos fortes, enchendo a camisinha, e a bucetinha pulsava na mesma sintonia.
Jonas desabou sobre ela, os corpos suados, os corações batendo descontroladamente. Ele rolou para o lado, puxando-a para mais perto, os dois ainda tremendo de prazer.
Ficaram abraçados, trocando beijos, enquanto se recuperavam.
— Eu sabia que valeria a pena esperar, persistir, que seria fantástico … — Ele sussurrou, os dedos acariciando o cabelo dela, brincando com a mecha de cabelo branco.
— Se eu soubesse que seria assim, não teria feito você esperar tanto. — Mari respondeu, com o corpo ainda fibrilando, a xoxota vibrando novamente de prazer. Não sabia se o que dizia era verdade, só sabia que precisava dizer.
Ela se virou, olhando para ele, os olhos cheios de desejo.
— De novo?
Jonas sorriu, a mão descendo para a xoxota dela, sentindo a umidade.
— Só se for agora. — Ele respondeu, o pau já começando a endurecer novamente.
Aquele pernoite estava apenas começando.
{…}
O portão se fechou atrás de Cora com um estalo seco. Seus saltos batiam firmes no piso da garagem enquanto ela entrava pela porta da frente. O corpo ainda ereto, a maquiagem borrada no canto dos olhos, o batom quase apagado. A expressão era de alguém que havia perdido, mas que se recusava a parecer frágil.
Dentro da sala, as luzes estavam baixas. Giba estava sentado no sofá de couro, com um copo de whisky quase cheio na mão. A TV ligada sem som. Ele a encarou assim que a porta se abriu.
— Até que enfim ... — Ele disse, com a voz baixa, mas tensa.
Cora parou, tirando os sapatos no tapete sem olhar para ele.
— ... Achei que ia voltar só segunda. — Completou ele, num tom carregado de ironia.
— Mudei de ideia.
— Engraçado. Passou o dia fora, sem dar notícias, sem dizer onde estava ... E agora volta como se tivesse ido comprar pão.
Ela pegou um copo da prateleira, serviu um pouco de água e respondeu sem emoção:
— Eu avisei. Mandei mensagem de manhã.
— "Talvez eu volte só segunda" — Repetiu Giba. — Isso não é aviso, Cora. Isso é sumiço.
Ela virou a água de uma vez só, colocou o copo na pia e respirou fundo.
— Giba ... você quer mesmo começar com isso agora?
— Quero, sim. Você sumiu. Nunca fez isso antes. Nem quando viajou com aquelas amigas suas. Hoje foi diferente. E eu quero saber: onde você estava?
— Não interessa.
— Como não interessa?
— A gente tem um acordo, lembra? Liberdade. Confiança. Você não confia em mim? — Cora disparou.
— Confiança não é sinônimo de desaparecimento. — Giba se levantou, encarando-a de perto. — Você está estranha, voltou com essa cara ... E quer que eu acredite que tá tudo normal?
— Talvez seja você que não aguenta a liberdade que tanto prega. — Cora retrucou, cruzando os braços.
— Não inverte as coisas, Cora! Você sumiu. Me deixou aqui com a cabeça a mil, e nem agora é capaz de dizer o que aconteceu?
Ela desviou o olhar, a garganta travando. Não podia dizer. Não queria dizer. Não sobre o Celo. Não sobre a humilhação. Sobre ter sido rejeitada de um jeito que nunca imaginou que seria.
— Eu só precisava de um tempo. Um dia sozinha. — Tentou, já sem convicção.
Giba riu, um riso amargo.
— Mentira. E você sabe. Tem alguma coisa aí que você não quer contar.
— Porque não é da sua conta! — Ela rebateu, com a voz finalmente alterada. — Eu não te cobro quando você sai para as suas “aventuras”! Por que essa histeria agora?
— Porque você não é boa em mentir. E dessa vez tem mentira, sim. — Giba estava perdendo a paciência.
Ela o encarou. Os olhos marejando, mas cheios de raiva. Não dele. Dela mesma. Do Celo. Do mundo. De como tudo tinha saído do controle.
— Não enche, Giba. Vai tomar outro whisky, ver se você relaxa.
Ela deu as costas, subiu as escadas a passos firmes. Giba ainda gritou lá de baixo:
— Cora! Não me trate feito idiota!
Ela não respondeu. Entrou no quarto e fechou a porta com um estalo. Encostou as costas nela, sentindo o peito apertado. Não queria chorar. Mas os olhos já não obedeciam mais. Escorregou até o chão, sentada, com o rosto nas mãos. A humilhação da rejeição ainda pulsava como um corte fresco.
“Você se enganou, Cora”. A frase de Celo ecoava. E ela se sentiu pequena. De verdade.
Do outro lado da porta fechada, a voz de Giba voltou a ecoar, ainda mais impaciente:
— Esqueceu que combinamos de encontrar a Anna, o Paul, o Chris e a Fabi?
Cora, já deitada de lado na cama, apertou os olhos, respirou fundo e respondeu, irritada:
— Vai você, Giba. Me deixa em paz.
Silêncio por dois segundos. Então, a resposta veio como um tiro seco:
— Eu vou mesmo. E é melhor você ter uma boa explicação pra me dar quando eu voltar, ou nossa conversa vai ser de outra forma!
Cora não respondeu. Apenas virou para o outro lado, encarando a parede. Alguns minutos depois, ouviu a porta da casa bater com força. O motor do carro, o portão abrindo e fechando … Giba tinha ido.
Quando se deu conta de que estava finalmente sozinha, se levantou da cama com o corpo pesado. Caminhou até o espelho, passou os dedos sob os olhos manchados de rímel. O orgulho ainda doía. Sentou-se na beira da cama, pegou o celular e, depois de hesitar, iniciou uma videochamada.
A imagem logo se estabilizou e revelou Amanda, uma amiga antiga, de fora do círculo mais próximo. Estava sentada no sofá, com um vinho na mão e o rosto curioso.
— Menina! Eu achei que você só ia me ligar amanhã! Me conta tudo! — A amiga disse, animada.
Cora forçou um sorriso, mas ele morreu antes de se formar. Do outro lado da tela, Amanda percebeu de imediato.
— Ei ... Você tá bem? O que aconteceu?
A resposta veio com a voz embargada, mas firme:
— Ele me rejeitou.
Amanda piscou algumas vezes, surpresa.
— O ... tal Celo?
Cora assentiu, segurando as lágrimas. Amanda suspirou, mexendo a taça na mão.
— Amiga ... você se arrisca por bobagem. Até hoje eu não entendo essa sua birra com a Anna. Sério. A mulher te adora. Vocês são tão próximas ... isso não tem sentido.
A expressão de Cora mudou na hora. O olhar perdeu qualquer traço de fragilidade e virou lâmina.
— Até você? Cê sabe muito bem o motivo disso. — Cora levantou da cama e começou a andar pelo quarto. — Tudo é a “Anna”. Sempre foi. A primeira a conseguir tudo. A primeira a brilhar. A primeira a ser ouvida. E a gente ali ... pegando migalha.
— Você tá exagerando … — Amanda tentou dizer.
— Não tô! — interrompeu Cora, quase gritando. — Você sabe como é! Eu só queria ser a primeira, uma vez. Uma única vez. Ser aquela que o cara escolhe. Que entra na sala e muda tudo. Mas não ... sempre ela.
Silêncio dos dois lados por um instante. Amanda quebrou o gelo com doçura, mas sem abrir mão da franqueza:
— E por que não pediu?
Cora franziu a testa.
— Como assim?
— Por que não falou com a Anna? Por que não foi honesta? Tenho certeza de que, se você tivesse aberto isso pra ela, ela abriria mão. De verdade. Ela te respeita, Cora. Sempre respeitou.
A boca de Cora se abriu, mas nenhuma palavra saiu. O peito subia e descia, pesado. Por um momento, a imagem dela tremulou na tela, instável — como ela mesma.
Amanda, mais uma vez com um olhar doce, finalizou:
— Não é ela que te faz sombra, Cora. É você que vive se escondendo atrás da raiva, quando tudo o que queria era ser vista.
Cora desligou antes de responder. E, naquele momento, se sentiu totalmente sozinha. E injustiçada.
{…}
Já passava das onze horas da manhã do domingo quando Jonas estacionou na frente da casa de Mari. O sol batia forte no capô, mas o clima dentro do carro ainda estava imerso em outra atmosfera: íntima, calma, envolta por silêncios que falavam mais do que qualquer conversa.
Jonas desligou o motor e se virou para ela.
— Quer que eu te ligue mais tarde? — Perguntou, com aquele cuidado de quem não quer ultrapassar nenhum limite.
Mari o observou por um instante, séria, mas com o canto dos lábios ameaçando um sorriso.
— Por que você não fica para o almoço?
Jonas piscou, levemente surpreso.
— Não vou atrapalhar?
— Vai sim. Vai atrapalhar minha solidão. — Mari disse, com leveza. — Agora sai daí e entra comigo.
Ele sorriu, meio sem jeito, e a seguiu até a porta. Mari abriu e entrou direto, com ele colado atrás. Na sala, Daniela estava sentada no sofá com o celular na mão, e Diego vinha do corredor, ainda com o cabelo úmido do banho recém tomado.
Os dois pararam ao ver a mãe entrando com um homem.
— Filhos … — Disse Mari, com a postura de quem não queria enrolar — … esse é o Jonas. Meu namorado.
Jonas até tentou disfarçar a surpresa com a palavra "namorado", mas Mari o olhou com firmeza e um toque de desafio, como quem dizia: “não tem mais volta”.
Daniela abriu um leve sorriso. Diego franziu um pouco a testa, mas disfarçou.
— Oi. — Disseram, quase em uníssono, ainda digerindo a informação.
— Jonas, esses são meus filhos, Diego e Daniela.
— Prazer em conhecê-los. Já ouvi muito sobre vocês. — Disse Jonas, simpático, estendendo a mão.
Daniela apertou com educação. Diego também, mas manteve o olhar avaliativo.
— Vou preparar algo pra gente comer. — Disse Mari. — Dani, me dá uma mão?
Daniela se levantou de imediato. Antes de ir, lançou um olhar rápido para o irmão, daquele que diz: fica calmo.
A sós com a mãe na cozinha, ela não resistiu:
— Você falou mesmo? Assim, de primeira? — Perguntou Daniela, com um riso contido enquanto ajudava a mãe a cortar legumes.
— Falei. Você viu a cara deles?
— Vi. Quase me engasguei segurando a vontade de rir. — riu Daniela. — Mas mãe … você tá bem?
Mari parou por um instante. Respirou fundo.
— Tô. Não sei o que é isso, onde vai parar. Mas é leve. É gostoso. E, acima de tudo, é escolha. Dessa vez, é escolha.
Enquanto isso, Diego, na sala, tentava ser cortês.
— E então, Jonas, o que você faz?
— Sou investidor. Trabalho com a introdução de marcas consolidadas em mercados emergentes.
— Legal. — Diego cruzou os braços. — E ... você e a minha mãe se conhecem há muito tempo?
— Alguns meses. Nos conhecemos em um evento na casa de amigos em comum.
Diego assentiu, calado. Mesmo a contragosto, entreteve Jonas até Mari chamar os dois para a mesa.
O almoço cheirava a casa de verdade. Mari preparou arroz soltinho, feijão fresco com louro, bife acebolado na manteiga e salada de folhas com manga. No centro, uma travessa com batatas ao murro, salpicadas com alecrim e azeite.
Jonas elogiou a comida a cada garfada.
— Isso aqui parece comida de domingo de novela. — Disse ele, arrancando um sorriso de Mari e até um comentário meio divertido de Diego:
— Pois é, minha mãe cozinha bem mesmo ... quando quer.
Todos riram.
A conversa fluiu. Daniela puxava temas leves, Jonas se mostrava respeitoso, discreto, e sabia ouvir. Mari parecia feliz, natural, rindo com frequência e lançando olhares cúmplices para o novo companheiro.
Mas nem tudo passava despercebido. Havia algo de artificial no ar.
Após o almoço, enquanto Mari e Jonas lavavam a louça juntos — rindo entre respingos de água e pratos molhados — Diego chamou a irmã no corredor.
— Você sabia disso?
Daniela olhou nos olhos do irmão. Não havia ironia ou julgamento. Só uma espécie de compreensão madura.
— Sabia que ela estava conhecendo alguém. Não que ela ia assumir assim, do nada.
— Isso tá tudo muito rápido.
— E o papai? Foi rápido também, não foi? Ele já tem uma fila de mulheres. A diferença é que a mamãe sempre foi discreta. Talvez até demais. Mas ela merece. O papai já seguiu em frente. Nada mais justo que ela também o faça.
Diego ficou em silêncio por um tempo. Engoliu em seco.
— É só que ... sei lá. É estranho ver outro cara ali, lavando louça com ela, como se ...
— Como se a vida tivesse seguido? — Provocou Daniela. — Porque seguiu, Diego. Pra todo mundo.
Ele assentiu. Um pouco contrariado. Um pouco convencido. Acima de tudo, querendo proteger a mãe, mesmo sem saber se ela ainda precisava de proteção.
Na cozinha, Mari enxugava um prato e dava uma leve cotovelada em Jonas.
— Se continuar elogiando minha comida assim, vou querer você aqui todo domingo.
Jonas sorriu, com brilho nos olhos.
— Já me sinto em casa.
Passaram a tarde juntos, conversando, entrosados. Assim que Jonas se foi, a realidade se instalou novamente. Toda a impulsividade deu lugar a pensamentos mais realistas, era hora de se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Escreveu, deletou, reescreveu, apagou novamente … nunca foi tão difícil redigir uma simples mensagem. Por fim, chegou ao texto final, mas programou o envio para a manhã seguinte:
"Podemos nos encontrar? Pode ser à noite. Está na hora de resolvermos as coisas, seguirmos em frente com nossas vidas”.
Apertou “enter”. Agora era só esperar o horário programado, a manhã seguinte, e a resposta do Celo.
{…}
Segunda de manhã:
"Podemos nos encontrar? Pode ser à noite. Está na hora de resolvermos as coisas, seguirmos em frente com nossas vidas".
Celo releu a mensagem. Duas, três vezes. O peso daquelas palavras não estava apenas no conteúdo, mas no tom.
"Seguir em frente".
Ele havia feito isso, ou pelo menos tentou. Se afastou. Mudou de casa. Evitou a rotina sufocante do passado. Viu gente nova. Viveu experiências diferentes. Tocou sua vida. Mas agora, ao ler aquela mensagem, percebeu que tinha sido apenas um movimento lateral, não um passo à frente.
Sentia um nó na garganta. Aquela não era uma mensagem injusta. Mari estava certa. Era o que precisavam fazer. Mas ... por que doía tanto?
Depois de alguns minutos olhando o teto, ele respondeu:
"Ok. Vou até você à noite."
E foi isso. Simples e objetivo. Mensagem enviada. Decisão tomada. Mas naquela segunda-feira ... o dia simplesmente não andou.
Tentou revisar projetos, mas não se concentrava. Responder e-mails era como tentar montar um quebra-cabeça com as peças erradas. Até o café parecia sem gosto.
E então, notou algo diferente: Diego. O filho, que normalmente almoçava com ele trocando ideias sobre programas, piadas internas ou qualquer bobagem do TikTok, mal falou. O prato à frente estava quase intocado. E ele não sustentava o olhar por mais de dois segundos. O dia de trabalho estava calmo, sem coisas preocupantes.
Depois que a louça foi colocada na pia, Celo respirou fundo e chamou:
— Diego ... vem cá um instante. Vamos conversar.
O garoto hesitou, mas sentou-se no sofá à frente do pai. Mexia nos dedos, inquieto.
— O que tá acontecendo? — Celo perguntou, direto. — Você tá estranho desde cedo. Por que tá fugindo de mim?
— Não tô fugindo, pai. Tô ... só tô com a cabeça cheia.
— Filho ... eu te conheço. Pode me falar. Você sabe que pode.
Diego abaixou os olhos. Abriu a boca para dizer algo, mas fechou de novo. Suspirou fundo. E então, sem ter mais como adiar, deixou escapar:
— Mamãe tá namorando.
Silêncio.
A frase pairou no ar como um soco que não faz barulho, só reverbera por dentro.
Celo engoliu seco. Sentiu a respiração falhar por um segundo. Um silêncio pesado se formou, e só o som do ar-condicionado preenchia o ambiente.
Ele baixou o olhar, como se tentasse processar a informação. Justo? Sim. Ela tinha todo o direito. Mas não tornava mais fácil.
Sentiu o peito apertar, como se um buraco tivesse se aberto ali dentro. Não era apenas ciúme. Era a constatação do fim. Do fim real. Tangível. E de que agora não havia mais volta.
— Faz ... quanto tempo? — Conseguiu perguntar, com a voz mais baixa que o normal.
— Eu não sei direito. Acho que começou agora. Mas ... Ontem ela o apresentou pra gente. Lá em casa. — Diego fez uma pausa, aflito. — Pai, desculpa. Eu ...
Celo balançou a cabeça devagar.
— Não precisa se desculpar, filho. Você só me contou a verdade.
E aquela verdade — justa, inevitável, necessária — acabou de vez com o que ainda restava da ilusão.
Celo respirou fundo. Endireitou o corpo no sofá. Sentiu-se exausto de verdade. Mas sabia que ainda não era o fim. Não. Ainda havia um tempo pela frente. Uma conversa marcada. Com ela. Com Mari. Quem sabe ainda houvesse esperança?
{…}
Celo encerrou o expediente mais cedo naquela segunda-feira, mas demorou o dobro do tempo para se arrumar. Escolheu a camisa azul de linho que Mari sempre dizia combinar com seus olhos. Trocou duas vezes de calça, penteou o cabelo com mais cuidado, passou um perfume discreto, mas marcante. Olhou para si no espelho antes de sair. Um último esforço. Um gesto quase instintivo, como quem vai para uma despedida querendo ser lembrado com carinho.
Chegou à antiga casa por volta das sete horas. A luz da varanda estava acesa. Ele tinha a chave. Ainda tinha. Mas hesitou. E tocou a campainha.
Daniela atendeu.
— Pai! — Ela sorriu, surpresa. — Tá bonito, hein? Tá indo pra um encontro?
Celo riu baixo, um tanto sem graça.
— Mais ou menos isso. Vim ver a sua mãe. Ela me chamou.
— Entra. Vou avisar a mamãe que você chegou, então.
Ele entrou. A casa cheirava a lavanda, como sempre. Tudo no mesmo lugar. Mas diferente. Ou, talvez ele, é que tivesse mudado.
Sentou-se no sofá. Passou os olhos pela estante. Fotografias de uma vida inteira. Memórias que pareciam de outra encarnação. Poucos minutos depois, Mari desceu as escadas. E, por um instante, o tempo parou.
Ela vestia um vestido simples, de tecido leve e cor neutra. Um discreto batom rosado. Cabelo cortado, só um pouco — o suficiente para ele perceber. Estava mais magra. Mais bonita. Mais ... ela. E Celo sentiu um aperto no peito. Porque percebeu que, mesmo tentando seguir em frente, ainda era ali que seu coração morava.
Ela não disse nada. Apenas caminhou até o aparador, pegou o Bourbon que ele sempre gostou e serviu dois copos. Entregou um a ele. O silêncio que se seguiu era denso. Familiar, porém incômodo. Celo deu um gole. Respirou fundo.
— Você cortou o cabelo ... ficou bom. — Disse, enfim. — E ... tá muito bonita, Mari.
Ela forçou um sorriso, sem saber se agradecia ou ignorava. A presença dele ali bagunçava suas certezas. Sua convicção fraquejava. Aquele elogio que ela sempre quisera ouvir …
Sem rodeios, ela foi direto ao que precisava ser dito, ou corria o risco de não conseguir.
— Eu te chamei aqui pra gente resolver como vamos fazer com o divórcio. Acho que está na hora de sermos práticos. Tomarmos essa decisão juntos.
Celo sentiu a cabeça girar. O peito apertou ainda mais. Ele abaixou o copo e endireitou o corpo.
— É isso mesmo que você quer? Eu ...
— Para com isso, Celo. — Mari o interrompeu, com a voz firme. — Você já seguiu em frente. Deixou bem claro o que quer para o seu futuro.
Ele tentou falar, mas ela foi mais rápida, impulsiva:
— Eu vi você com a Cora. Aos beijos … Eu fui atrás de você naquela cidadezinha … pensei em dar uma última chance para a gente, ver se …
Celo ficou em silêncio por um segundo. Surpreso. E então, reagiu.
— Não foi o que pareceu. Eu ... eu a empurrei, logo depois. Ela que me beijou. De surpresa. Eu juro por tudo, Mari. Não teve nada. Eu jamais faria isso com alguém próxima a você.
Mari riu, amarga.
— Ah, claro. A culpa nunca é sua, né? Ela te beijou ... E a outra? Era só uma amiga, né? Fora as que eu só ouvi falar. Também não foram o que pareceu? Você não queria?
— Você sabe que não é assim. — Celo tentou se defender.
— Eu sei que tô cansada, Celo. — Mari respirou fundo, a voz falhando. — Eu sei que falhei com você, não fui a esposa dos seus sonhos, mas eu cansei de esperar. De tentar entender o que você quer, enquanto você se perde em outras pessoas.
Celo abaixou o olhar. Sentiu o peso da verdade. Quis dizer que ainda a amava. Que nenhuma daquelas mulheres importava. Que, no fundo, nunca conseguiu deixar de ser dela. Mas o tempo da fala já tinha passado. E agora era o tempo das consequências.
— Mari ... se eu disser que ainda quero tentar, que ainda amo você ... ainda tem chance?
Ela hesitou. Seus olhos marejaram. Mas ela balançou a cabeça devagar. Não confiava mais nas palavras dele.
— Você teve essa chance. Várias vezes. Eu pedi ajuda, pedi presença, pedi parceria. E você sempre teve outra coisa mais urgente, mais sedutora, mais fácil.
Silêncio.
— Agora sou eu que tô seguindo em frente. E dói. Não vou negar. Mas ... agora dói de um jeito diferente. Porque eu sei que tô fazendo isso para me proteger.
Celo assentiu, engolindo o nó na garganta. Não havia mais espaço para promessas. Nem tempo para se redimir ali.
— Tudo bem, Mari. Você tem razão … seria injusto eu querer bagunçar a sua vida depois de ter ido embora. Me desculpa. Eu aceito os termos que você decidir. Eu que fui embora.
Celo se levantou, olhou para ela uma última vez e antes de sair, apenas disse:
— Eu só desejo que você seja feliz, Mari. Você merece.
Celo se foi, ciente de que nada daquilo era culpa dela. Amar também era saber a hora de deixar para lá, de abrir mão, de se afastar.
Mari disse tudo o que queria dizer, mas nem ela mesma acreditava nas palavras que saíram de sua boca. Aquelas palavras estavam contaminadas por raiva, dor e ressentimento. Apesar de corretas, não espelhavam seus verdadeiros sentimentos.
Continua …
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