Acordei antes dela e comecei a arrumar as coisas freneticamente para ir embora. Tati acordou pouco depois. Sentou na cama, me olhando por alguns segundos.
— Tá tudo bem?
— Tá — respondi, sem olhar para ela.
Ela percebeu que não estava. Mas não insistiu. Só ficou observando enquanto eu terminava de fechar a mala.
No caminho de volta, falei o mínimo possível. Respondi com monossílabos, forcei um sorriso aqui e ali, todos os sistemas operando no automático. Deixei Tati em casa. Ela me abraçou forte e me deu um beijo demorado. Não correspondi, e saí dali.
Só que eu não fui para casa.
Dirigi direto para a casa do João, tomado por uma raiva que já não cabia no meu corpo. Estacionei na frente, bati o portão com força. Um minuto depois, ele apareceu. Pelo cheiro e pelo barulho que vinha da casa dele, ele devia estar almoçando com a família.
— Que foi, mano? — ele disse, confuso.
Não respondi, mas tentei acertar um soco direto no rosto daquele filha da puta.
Ele só segurou a minha mão, antes que eu conseguisse causar qualquer dano. Era uma luta impossível, ele tinha quase trinta centímetros a mais que eu.
João apenas segurou meus braços e manteve a distância, como se eu fosse uma criança fazendo birra.
— Tá maluco? — ele gritou.
E naquele momento, eu estava.
Ele esperou alguma resposta minha. Eu continuei me debatendo, tentando acertar qualquer parte dele. O braço, o peito, a canela, o que fosse.
— Mano, tá bom, já entendi o que tá acontecendo. — João disse, calmo demais — Você sabe que é como um irmão pra mim, mas não tem como eu resistir a uma putinha como a Tati. Eu só vou brincar com ela um pouco... depois vocês podem voltar a namorar, quem sabe até casar.
Sabendo que não ia conseguir golpeá-lo, fiz a única coisa que me restava. Cuspi na cara dele.
O cuspe pegou no queixo dele, grudando na barba daquele miserável. Ele parou por um segundo. Olhou para mim e deixou a calma de lado.
O soco veio seco, direto na minha barriga. Todo o ar saiu do meu corpo de uma vez. As pernas falharam. Fui ao chão da calçada como um saco vazio, sem força nem para gemer.
— Vai embora daqui — ele disse, olhando de cima — antes que eu te machuque de verdade.
Ele fechou a porta na minha cara, rindo. Fiquei parado na calçada, ainda tremendo de raiva. Dei uma bica no portão, que com certeza me machucou mais a minha perna do que o portão.
A raiva foi diminuindo devagar, sendo substituída por outra coisa. Vergonha.
Vergonha de ter sido reduzido àquilo. De ter apanhado, sido desprezado, sido traído.
Aceitei que não conseguiria nada. Não ia machucá-lo. Não ia fazê-lo parar. Ele não sentiria pena de mim. Parte da tara do João era me ver naquela posição — humilhado.
Passei os dias seguintes em casa, me arrastando. Tati mandava mensagens, perguntava se estava tudo bem. Eu inventava desculpas: cansaço, trabalho, estresse.
Sabia que a gente tinha acabado. Só não tinha coragem de ter essa conversa com ela, e explicar o porquê estava tomando aquela decisão.
Ficava só me torturando imaginando as putarias que ela deveria estar conversando com o meu “amigo” por mensagem.
Segui nesse ritmo até chegar o final de semana. Passei o sábado inteiro no meu quarto, hora olhando para o teto, hora assistindo qualquer porcaria na TV para tentar não pensar em nada do que estava acontecendo na minha vida.
Foi só de noite que reparei que Tati não havia mandado nenhuma mensagem naquele dia. Talvez estivesse ocupada com alguma coisa, talvez tivesse aceitado que precisava de um tempo, sei lá. Era estranho, mas não era algo com que eu tinha energia suficiente para me preocupar.
De madrugada, fui acordado com meu celular tocando. Ainda totalmente grogue de sono, fui tateando minha cama até achar o celular. Era uma chamada de vídeo.
Atendi, sem falar nada. A tela abriu e, por um segundo, meu cérebro não processou o que via.
Era uma chamada do João. Mas não era o rosto dele que aparecia.
Era Tati. Ela estava de joelhos, usando uma lingerie preta rendada, meia-calça até a coxa. Os braços amarrados atrás das costas. Os olhos vendados com um pano escuro.
E eu, do outro lado da tela, congelado. Assistindo. Sem entender como tinha chegado ali.
<Continua>
Capítulo final já tá no meu blog! ouroerotico.com.br