A volta pra casa foi silenciosa, mas não pesada. Ela dirigia com uma mão só, a outra repousada na minha coxa, firme e quente. Não disse nada por um bom tempo, mas aquele toque dizia mais do que qualquer coisa. Eu já estava com o corpo mais mole que o normal — não de cansaço, mas de expectativa. Daquela que se espalha nos músculos e arrepia a pele só de pensar no que vem depois.
Assim que entramos no apartamento, senti o cheiro de lavanda misturado com alguma madeira que não consegui identificar. Familiar e ao mesmo tempo carregado. Como se o lugar todo estivesse esperando a gente voltar.
— Vem — ela disse, tirando os sapatos e seguindo pro quarto. Fui atrás, obediente, mas com o coração batendo em dois ritmos diferentes.
Ela me mandou sentar na beira da cama e foi até o armário, de onde tirou uma caixa de madeira escura, bonita, com entalhes nas laterais. Abriu com calma. Eu vi uma venda azul, um colar de couro, uma chave pequena, uma foto antiga.
— Essa foi a mulher que me iniciou. Júlia.
A imagem me pegou desprevenido. Uma mulher jovem, sorriso doce, cabelo preso, vestidinho claro. Ela tinha cara de professora de colégio particular, daquelas que todo mundo respeita porque não precisa levantar a voz. Tinha o tipo de beleza que passa despercebida na rua, mas que fica na cabeça quando fecha os olhos.
— Eu era nova. Muito nova. Vinte e um. Ainda achava que sabia o que queria. Ela me ensinou a esperar. A confiar no que não se vê. Um dia me deixou nua, vendada, sentada no chão, por horas. Só me disse: "fique aí". E eu fiquei. Comecei irritada. Depois confusa. Depois... entregue. Quando ela voltou, não disse nada. Só me tocou o queixo e perguntou: "você entendeu agora?"
Lorena olhava pra foto com carinho.
— Eu não soube responder. Mas entendi. No corpo.
Eu fiquei quieto. Só ouvia. O quarto inteiro parecia em silêncio, como se até o ar tivesse parado pra escutar com a mesma reverência que eu.
— E o Rodrigo? — perguntei, quase sussurrando.
Ela fechou a caixa, devagar.
— Eu encontrei o Rodrigo muito tempo depois. Ele leu Bukowski num sarau e foi o único que riu na parte errada. Eu me apaixonei ali. Não pela risada. Pela liberdade que ela carregava.
Ela me olhou de lado, meio rindo:
— Ele nunca precisou levantar a mão. Só estar na sala já basta. Me fez sentir livre sendo dele. Nunca quis me prender, só me mostrar onde eu gostava de ser presa.
Aquilo me arrepiou. Eu entendi. Mais do que devia.
— Vamos preparar o quarto — ela disse, levantando.
Ela disse "vamos preparar o quarto", mas era mais do que isso. Era como se estivéssemos montando um altar. Não só pro que viria depois — mas pra mim. Pro que eu estava virando.
Trocamos os lençóis, sim. Cetim escuro, pesado, do tipo que escorrega fácil. As velas foram acesas, os acessórios organizados numa bandeja discreta, e por um instante eu pensei que ali terminaria a preparação da noite. Mas ela me olhou diferente.
— Agora é sério. Agora a gente vai te montar de verdade.
Ela abriu o armário e puxou uma gaveta menor. Dentro, uma fileira de plugs em cores e materiais diferentes. Alguns eu já conhecia. Outros não. Ela pegou um dos menores, metálico, com a base estreita e uma pequena pedra escura na ponta.
— Esse aqui é discreto. Firme. Fica no lugar sem chamar atenção. — Ela me mostrou com naturalidade, como se fosse parte do figurino. — Vai usar ele durante o jantar inteiro. E vai lembrar de mim em cada passo.
Eu assenti, sem dizer nada. Fiquei nu ali mesmo, no canto do quarto, enquanto ela lubrificava o plug com calma. Me fez apoiar no encosto da cama, abriu minhas pernas com os dedos no interior das coxas, e o encaixou em mim com aquele cuidado que ela sempre teve: firme, mas gentil. O tipo de gesto que me fazia sentir possuído antes mesmo do toque virar sexo.
— Agora vamos te vestir — disse ela, levantando-se.
Depois, ela abriu outra gaveta. E aí veio a surpresa.
Tirou uma calça de alfaiataria azul-escura, uma camisa branca de linho leve, e — ao contrário de tudo o que eu esperava — nenhum espartilho, nenhum vestido, nenhuma cinta-liga ou meia fina. Apenas uma peça que ela segurou entre os dedos com um meio sorriso:
— Mas por baixo, claro… você ainda vai usar isso.
Era uma calcinha de renda preta, delicada, que ela já tinha usado em mim antes.
Eu a peguei com as duas mãos, quase trêmulo. A textura entre os dedos me devolveu à sensação de ser moldado.
— Mas... — comecei, sem saber bem o que perguntar.
Ela percebeu.
— Tá se perguntando por que eu te vesti como homem hoje, né?
Assenti, sem voz.
Ela veio até mim, colou a boca no meu ouvido.
— Porque hoje você vai ser meu garçom. Meu anfitrião. Meu servo.
Ela deslizou a palma da mão pelo meu peito.
— E também porque amanhã… você vai ser minha noiva.
Meu corpo inteiro se arrepiou.
— A masculinidade que você veste hoje é a última. É a fachada. A casca que eu ainda permito. Mas por dentro — e ela puxou levemente a calcinha pela cintura, me olhando com aquele brilho calmo nos olhos — você já é só meu.
Vesti a calcinha com cuidado. Depois a calça. Depois a camisa.
Ela não colocou gravata. Nem abotoou até o fim. Deixou meu peito à mostra. Disse que gostava da minha clavícula assim: oferecida.
Ela mesma ajeitou minha gola. Me olhou com uma mistura de orgulho e posse.
— Parece um homem. Mas só eu sei o que tem por baixo.
Ela começou a se arrumar. E assistir Lorena se vestir era um privilégio. Cada gesto tinha um peso. O coque elegante com fios soltos. O vestido vinho com fenda lateral. O decote profundo. A gargantilha de couro fina, discreta, que poucos entenderiam.
Enquanto ela terminava, me dei conta de que não era sobre gênero. Nunca foi. Era sobre forma e função. Eu podia estar com uma camisa social — mas quem eu era agora, no fundo, estava na calcinha rendada que apertava sutilmente meu sexo enquanto eu organizava a mesa. Nos talheres alinhados. No vinho respirando. Nos olhos dela me guiando em silêncio.
Ela cozinhava, e eu obedecia. Preparávamos tudo como um casal, mas eu sabia que não éramos iguais. E gostava disso.
Quando a mesa estava pronta e as velas acesas, ela se aproximou e me abraçou por trás, os braços em volta da minha cintura.
— Pronto, Caio? — murmurou.
Não respondi de imediato. Respirei fundo. A calcinha contra minha pele, o plug encaixado dentro de mim, a camisa de homem no corpo e o corpo dela atrás do meu.
— Tô pronto, sim. Pra te servir.
Ela sorriu contra meu pescoço.
— É só o começo. Ainda hoje, você vai aprender a esperar. E amanhã… vai aprender a pertencer.
Quando a campainha tocou, eu não precisei perguntar quem era. Meu corpo soube antes de qualquer som. Rodrigo. O mesmo homem que já tinha me calado com as mãos, que já me fez abrir sem palavras, que me marcou não só com gestos, mas com a certeza de que meu corpo agora respondia a ele tanto quanto a ela.
Lorena caminhou até a porta com passos elegantes, sem disfarçar o sorriso.
— Ele chegou — disse, como se o mundo finalmente estivesse no lugar.
Ela abriu a porta. Rodrigo entrou com a calma de quem não precisava anunciar nada. Não era visitante. Era dono.
Estava com uma camisa escura, bem ajustada, calça de tecido leve, colarinho aberto. Um cheiro discreto, limpo, viril. Quando os olhos dele encontraram os meus, eu soube: ele lembrava de cada gesto que me ensinou, de cada silêncio que impôs. E eu lembrava do gosto dele. Do peso. Da voz no meu ouvido dizendo: "Assim, Caio. Mais fundo."
Lorena me chamou com um estalar de dedos. Me aproximei.
Rodrigo não disse “oi”. Ele me olhou de cima a baixo, sorriu com um canto da boca e soltou, como quem confirma um investimento:
— Está pronto. Ela te vestiu como homem, mas ainda sente como meu submisso.
Assenti, sentindo a calcinha apertar sob a calça. O plug dentro de mim fazia cada passo lembrar quem eu era agora.
— Fica de pé aí ao lado da cadeira — disse Lorena, sentando-se com elegância. Rodrigo se sentou logo depois. Eu fiquei em pé, servindo os dois. Água, vinho, entradas. Nenhum dos dois me agradecia com palavras. Só com olhares. Aprovação silenciosa.
Durante o jantar, eles conversaram como um casal que já tinha me incluído no meio sem perguntar. Falaram sobre mim como um projeto comum. Rodrigo descreveu como me fez ajoelhar e como eu tremia quando ele segurava meu queixo.
— Você não viu, Lorena, mas ele geme baixinho quando obedece. É como se o corpo agradecesse.
Ela riu, satisfeita.
— Ele aprendeu comigo o gosto da espera. Com você, aprendeu a entrega.
Enquanto eles comiam, as mãos de Lorena passavam discretamente pelo meu quadril. Rodrigo, num momento, me puxou pela ponta da camisa.
— Ainda com a calcinha? — perguntou.
Assenti.
— Mostra pra mim.
Soltei o botão da calça com dedos trêmulos, abaixei um pouco. O tecido preto da renda apareceu. Os olhos dele brilharam.
— É isso. Ela molda por fora. Eu reforço por dentro.
Lorena então se levantou e pegou minha taça. Bebeu um gole de vinho, passou os dedos pelos meus lábios molhados.
— Caio, vai tirar a mesa. Depois, vá pro quarto. A gente vai terminar o que começamos.
— Nós dois — completou Rodrigo.
— Hoje, você não vai ser só nosso. Vai ser o reflexo do que a gente é juntos.
Saí com a bandeja nas mãos, o coração batendo forte, o plug ainda dentro de mim, a renda contra minha pele. Sabia que não tinha mais volta. E não queria.
Abro a porta do quarto e paro.
O ar lá dentro é mais denso, mais quente, como se carregasse uma eletricidade ritual.
Eles estão ali. Sentados na cama como se fossem tronos.
Minha rainha. Meu rei.
Lorena está no centro, com as pernas cruzadas, vestida com um robe de seda vinho entreaberto, revelando a pele clara, as coxas fortes, os seios erguidos com naturalidade.
Rodrigo está ao lado dela, nu da cintura pra cima, apenas com uma calça escura, o peito largo exposto, os braços firmes apoiados atrás do corpo, como quem se reclina num trono e espera.
Eu não falo. Não pergunto. Só ajo.
Caminho até eles com a cabeça baixa. Me ajoelho no chão.
Curvo o tronco. Encosto a testa no tapete.
Sou deles.
Ouço a voz de Lorena. Suave, mas sem espaço pra dúvida:
— Fica de quatro. Mostra pro seu rei o que já é dele.
Obedeço. Curvo o corpo. Ajoelho, mãos no chão. Sinto o plug dentro de mim se mover. É a última vez. Meu corpo estremece. Lorena se levanta, caminha até mim por trás, agacha, passa a mão entre minhas nádegas e retira o plug com precisão lenta. Ouço-o ser deixado de lado.
— Limpo, treinado, macio. Como eu gosto.
Ela se levanta de novo.
— Rodrigo, é seu.
Ouço o som da calça sendo desabotoada. Os passos dele atrás de mim. E então, sem hesitação, ele segura minha cintura. Puxa de leve, como se me ajustasse.
A ponta dele roça minha entrada já aberta. Meu corpo treme.
Mas ele não entra ainda.
— Esperando a autorização dela? — ele pergunta, rindo com a voz baixa.
Eu só consigo gemer, quase sem som. Então a ouço.
— Pode, meu amor. Toma o que é seu.
E ele entra.
Lento, fundo, firme.
Meu corpo inteiro se curva para recebê-lo. Meus braços vacilam. Rodrigo me segura pelos quadris, me mantém onde quer. Ele começa a me foder com um ritmo que não é bruto — é soberano. Ele já me teve antes. Mas agora... agora é diferente. Agora sou definitivamente dele. Dela.
Lorena observa, sentada à frente da cama, as pernas abertas. Se toca, os olhos fixos nos meus.
— Olha pra mim, Caio.
Levanto o rosto. Vejo ela. Sinto Rodrigo dentro de mim, preenchendo tudo.
— Sente ele? — ela pergunta.
— Sim...
— Então agora me sente também.
Rodrigo sai devagar. Me deita de costas com um gesto. Fico ali, nu, com as pernas abertas, ofegante. Ela sobe sobre mim. Monta meu quadril. Encaixa-se sem esforço. Me engole. Me cavalga.
Mas não me deixa tocar.
Ela segura meus pulsos sobre a cama, me imobiliza.
— Não é você quem me fode, entendeu? Sou eu quem uso sua ereção pra meu prazer.
— Sim, senhora — digo entre gemidos.
Ela se move em cima de mim com ritmo firme, sensual, devorador. E então, sem parar, olha pra Rodrigo.
— Pega a boca dele. Eu cuido da frente, você da garganta.
Rodrigo vem por cima, nu agora, e encaixa o sexo nos meus lábios. Me penetra a boca com o mesmo domínio com que me penetrou atrás.
Eu estou preso entre os dois.
Eu sou via. Instrumento. Carne de prazer.
Ela cavalga meu sexo. Ele fode minha boca. Meus olhos quase se viram de prazer e entrega.
E então ela diz:
— Goza sem tocar. Prova que teu corpo é nosso.
E eu gozo.
Com ela em cima de mim.
Com ele na minha boca.
Com o corpo tremendo.
Com o coração rendido.
Silêncio.
Ela desce de mim, me beija no peito. Rodrigo acaricia meu cabelo como quem afaga um animal fiel.
— Nosso. — diz ela.
— Completo. — diz ele.
E eu só consigo sorrir, com lágrimas nos olhos, ainda deitado, ainda aberto, ainda deles.
Me deixaram na cama como um brinquedo recém-testado. Meu peito subia e descia, o corpo ainda trêmulo. Mas eles não estavam satisfeitos — e eu também não queria que estivessem.
Rodrigo me puxou pelo braço, me virou de lado, encaixou-se atrás de mim novamente.
— Ainda mole? — ele perguntou, rindo.
— Ainda quente — respondeu Lorena, subindo por cima do meu peito, trazendo a boceta até o meu rosto.
— Come ela direito agora — ele sussurrou no meu ouvido, enquanto me penetrava por trás.
— Mostra pra sua rainha o que aprendeu.
Abri a boca, puxei a língua. Lorena se encaixou com naturalidade, com o peso calculado. Ela gemia baixinho, rebolando no meu rosto. Rodrigo me preenchia por trás com estocadas lentas, mas profundas, uma mão apertando minha cintura, a outra descendo pelo meu peito até alcançar minha ereção que voltava a crescer.
Eu estava entre eles. Literalmente.
Meu rosto encharcado do gozo de Lorena. Meu cu marcado pela firmeza de Rodrigo. Minha alma entregue.
Depois de gozar na minha boca, ela se deitou ao lado, recuperando o fôlego.
Rodrigo me deitou de bruços. Subiu em cima de mim. Fudeu-me com força crescente, os gemidos dele enchendo o quarto. Eu já não distinguia onde começava meu prazer e onde terminava a obediência.
Quando ele gozou, ficou dentro de mim por mais alguns segundos. Depois saiu, me virou de costas e bateu levemente no meu rosto.
— Ajoelha entre nós. Quero ver tua boca aberta.
Fiz.
Lorena sentou-se à minha frente, Rodrigo atrás de mim, como se me cercassem.
Ela começou a me masturbar com toques delicados, depois mais firmes. Rodrigo me acariciava as costas, me mordia o pescoço. Sussurrava:
— Você ainda é homem, Caio. Mas é o nosso. Nosso brinquedo. Nosso macho submisso.
Lorena mandou que eu penetrasse nela de novo. De quatro, ela se apoiou na cabeceira da cama.
— Vem, Caio. Me come como um bom súdito, sem pressa. Com reverência.
Fui. Entrei nela com cuidado. Me movi com ritmo lento, obediente. Ela gemia mais alto, se contorcia, mandava eu parar, depois recomeçar.
Rodrigo me observava, acariciando-se. Logo ele veio atrás, enfiou dois dedos em mim enquanto eu metia nela. Me fazia sentir os dois ao mesmo tempo.
Era sexo, mas era também rito. Louvor. Entrega em camadas.
Depois, Lorena se deitou de costas, abriu as pernas, me chamou com o dedo.
Rodrigo me posicionou sobre ela. Ajeitou-se atrás.
— Vamos foder ele juntos.
Enquanto eu a penetrava, ele me penetrava. Três corpos, uma só cadência.
Eu gritava de prazer. Ela gozou primeiro, gemendo meu nome. Ele gozou dentro de mim outra vez. E eu gozei por último, de novo sem tocar. Só pelo prazer de ser deles.
Horas se passaram assim. Com beijos, risos baixos, posições trocadas.
No chão, na cadeira, em pé contra a parede.
Eles se alimentando de mim e eu deles.
Eu de joelhos, eles se beijando acima de mim.
Eu comendo Lorena de lado, com Rodrigo deitado, observando, masturbando-se lentamente.
Rodrigo metendo na minha boca enquanto Lorena me apertava as bolas.
Ela sentada no colo dele, me chamando com um dedo para lamber os dois.
A madrugada virou religião.
Quando enfim caímos na cama, suados, exaustos, nossos corpos se entrelaçaram num silêncio cheio de sentido.
— Você é nosso, Caio — disse Lorena, deitada sobre meu peito.
— E agora a gente vai ensinar você a se manter assim — completou Rodrigo.
Eu sorri.
Fechei os olhos.
E dormi sabendo que tinha me tornado exatamente o que eles queriam.
Não sei dizer quando virou rotina. Só percebi quando passei a sentir falta.
Era terça-feira, e Lorena me chamou na sala dela entre dois pacientes. Me fez trancar a porta e sentar no sofá. Sem tirar os olhos de mim, ajoelhou-se no carpete, puxou minha calça social — por baixo, eu usava uma calcinha azul clara, uma das que ela escolheu na última vez em que saímos juntos — e chupou meu pau com fome e autoridade. Quando acabou, me deu um beijo demorado e voltou a atender, como se nada tivesse acontecido.
Na quinta, Rodrigo me encontrou na recepção e me mandou buscar um envelope na sala dele. Quando entrei, ele já me esperava sentado. Mandou-me fechar a porta. Sem uma palavra, abaixou minha calça e empurrou dois dedos lubrificados dentro de mim, testando a resistência do plug que Lorena havia deixado ali pela manhã. Depois me virou, me fez ajoelhar com a cabeça na cadeira e me penetrou, com força lenta, brutal, deliciosa. Quando gozei no chão do consultório, ele limpou com meu próprio lenço de bolso e mandou-me sair sem dizer nada.
E eu obedeci.
Houve noites em que Lorena me deixou trancado com um vibrador no quarto, sem poder tocá-lo. Dias inteiros com plugs diferentes — curvados, em forma de coração, com cauda de coelho. Comecei a identificar os tipos só pelo formato. Às vezes, passava a tarde atendendo na recepção com as pernas pressionadas, sentindo o metal ou o silicone me lembrando de quem eu era.
Ela dizia que isso me educava. Rodrigo apenas sorria.
Certa vez, Lorena me chamou no meio do expediente. Me despiu em seu consultório, colocou um sutiã de renda, uma cinta-liga leve e uma saia de prega curta. Por cima, uma camisa branca masculina — a mesma que eu costumava usar com gravata. Me beijou como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo, depois sentou-se na cadeira giratória e abriu as pernas. Eu a comi ali, ajoelhado, sentindo o sabor do prazer dela e a dor deliciosa do plug que Rodrigo tinha escolhido naquela manhã.
Foram semanas assim.
E aos poucos, percebi algo novo: minha obediência já não era apenas submissão. Era confiança. Era poder também. Um poder silencioso. Eu sabia o que dava prazer a ela. Sabia como agradar Rodrigo. Sabia quando me calar e quando gemer.
Eu estava pronto.
E então… naquele dia.
Entrei no consultório como sempre. Ajeitei a camisa, a calça social, a calcinha apertada por baixo. Cumprimentei Lorena com um beijo discreto no pescoço, e ela sorriu sem dizer palavra. Quando fui à recepção, ela estava lá.
— Bom dia — disse, com a voz doce, quase tímida.
Cabelos castanhos, lisos, presos num coque despretensioso. Olhos grandes, escuros. Um vestido claro e simples, sandálias discretas. Pele suave. Corpo delicado. Pequena, magra, como uma flor que ainda não foi tocada.
— Você é o Caio?
— Sim — respondi.
Ela estendeu a mão.
— Eu sou Elisa. A nova estagiária.
O aperto de mão foi leve. Ela sorriu. E por um instante, algo brilhou nos olhos dela. Uma hesitação. Uma entrega inconsciente.
Naquele momento, senti uma coisa estranha.
Não era ciúme.
Não era desejo puro.
Era… a vontade de cuidar.
De moldar.
De ensinar.
Lorena passou por nós logo depois, sem olhar diretamente. Apenas me lançou um leve sorriso pelo canto da boca. Um sorriso que dizia tudo.
Eu ainda era submisso.
Mas talvez, só talvez… fosse hora de descobrir o que é mandar.
E ao olhar Elisa, ali tão limpa, tão nova, tão parecida com quem eu fui…
…algo despertou em mim.
Algo que ainda nem sei nomear.
Mas sei sentir.
E quero descobrir.