Algumas semanas se passaram. Fui até o apartamento de Clara. Ela abriu a porta com olhos cansados. Vestia um moletom velho, o cabelo preso com descuido, e ainda assim, ou por isso mesmo me pareceu linda.
— Pensei que não viria mais — disse, sem tom de cobrança, apenas uma constatação.
— Eu… não tinha pra onde ir.
Ela sorriu de lado e se afastou para que eu entrasse. Não perguntou nada. Só colocou duas taças sobre a mesa e serviu vinho. Um gesto quase automático, como quem já sabia onde essa noite ia terminar.
Nos sentamos no sofá. O silêncio pesava.
— Aposto que ela ainda vê ele, não é? — Clara perguntou, sem precisar dizer o nome de Gabriel.
— Sim. E ela… ela mandou uma mensagem.
— Dizendo o quê?
Puxei o celular e li em voz alta:
> "Não faz sentido, Luiz. Nada disso faz. Mas quando estou com ele, penso em você. Quando estou com você… eu sinto paz. E eu amo você. Mesmo que eu só saiba como machucar."
Clara desviou o olhar.
— E você acredita?
— Eu quero acreditar.
Ela riu. Um riso curto, amargo.
— Você é bom demais pra ela. E otário demais pra se dar conta.
— Talvez você esteja com inveja. Respondo rispidamente.
Clara me dá um tapa antes que possa me desculpar pela besteira que meu ego ferido me fez dizer.
Silêncio. Seus olhos ficam marejados, ela tenta me dar outro tapa mas dessa vez a beijo antes. Nossas línguas se entrelaçam. Acaricio o seu belo rosto.
Dessa vez Clara empurra minha cabeça para baixo, ela nunca pedia nada, e eu fazia com ela somente o básico, pois bastava para ambos, mas dessa vez era diferente. Ela deitou no sofá, abriu as apenas, afastou a calcinha de lado. Eu entendi e a chupei como nunca havia feito antes. Clara se contorcia, tinha uma entrega diferente ali.
Quando levantei para buscar o preservativo ela me puxou de volta, pela primeira vez fez um boquete em mim. Não sabia que ela sequer fazia isso. Estava vendo um lado desconhecido dela.
— Vem! Quero sentir você assim. Enquanto guiava meu pau pra entrada da buceta encharcada dela.
Tentei protestar mas ela me deu um envolvente beijo de língua enquanto me dava um abraço de pernas me puxando para dentro.
Dessa vez fizemos amor, como quem procura abrigo num vendaval.
Dessa vez, ela não me deu metades. Se entregou inteira. Quis me possuir, quis que eu esquecesse tudo ali — Gabriel, Priscila, os triângulos todos. Sussurrou meu nome como uma súplica.
Gozei dentro dela, mas isso não importava pra nós. Aquele momento parecia só nosso, como se o tempo parasse.
Mas, no fundo, ela sabia.
Depois, deitada ao meu lado, Clara olhou pro teto.
— Eu amo você. Mas não quero viver de migalhas. Se é ela que você quer… vá. Mas não me arraste junto.
— Clara…
— Eu estou saindo com o Thiago. Ele é simples. Não faz joguinhos. Talvez ele nunca me fira como vocês dois fizeram.
O nome me pegou de surpresa.
— O professor de fotografia?
— Ele me olha como se eu fosse suficiente. E, sinceramente? Depois de tudo… talvez eu mereça isso.
A notícia me quebrou, mas não ousei impedir. Ela estava certa. Clara merecia mais. E eu… ainda estava preso em Priscila.
Alguns dias depois Priscila reapareceu, me mandou uma mensagem me convidando a ir até seu apartamento. Garantiu que Gabriel não estaria lá.
Ela me recebeu em silêncio. O apartamento cheirava a lavanda. O cabelo solto, os olhos mais calmos.
— Você leu a mensagem?
— Li. Só não sei o que fazer com ela.
— Você não precisa fazer nada, Luiz. Eu só… precisava dizer.
— Mas ainda está com ele.
Ela abaixou os olhos.
— Não. Eu estava. Mas ontem… eu vi que estava só repetindo o ciclo. Usando ele pra não me encarar.
— E agora?
— Agora eu só quero ficar em silêncio. Sozinha. E entender se o que sinto por você é amor mesmo… ou só a vontade de me salvar de mim.
Ficamos assim, lado a lado no chão da sala, por horas. Sem beijos, sem promessas.
Eu a amava. Mas, pela primeira vez, não corri atrás. Só fiquei ali. Presente.
Talvez isso fosse o começo de um novo tipo de amor. Ou do fim definitivo.
Clara me mandou uma foto dias depois: ela e Thiago, sorrindo. O olhar dela tinha paz.
Senti uma pontada no peito. Não de ciúme. De perda.
Mas também de alívio.
Às vezes, deixar alguém ir é a maior prova de amor que a gente consegue dar.