Depois dos nos reencontra depois de três anos e fudemos bastante, os dois indiretamente declararam guerra: meu tio Carlos e o Jeff. Se passaram oito meses desde então e agora tá essa porra de guerra. Cada canto da cidade tem cheiro de sangue e bala, e eu no meio desse tiroteio emocional que nem escolhi participar.
✶
Oito meses atrás, logo depois da trepada apocalíptica que rolou no quintal da minha casa, começou o inferno. Carlos sumiu por semanas, mas voltou quando ele ficou sabendo que eu e o Jeff tínhamos assumido um namoro. Jeff, por outro lado, após me assumir, saiu do radinho, o dono da Rocinha foi morto em confronto, e o Jeff logo assumiu o posto. Apareceu na Rocinha como um rei coroado. O moleque virou chefão, dominou todas as bocas, limpou a concorrência e impôs silêncio até em urubu.
E eu? Me afastei do Jeff. Nunca concordei com o fato dele ser radinho, ainda mais o dono do morro. Mas ele diz ter feito tudo isso por causa de grana e poder. Continuei acordando cedo, enfiando o jaleco manchado no corpo e indo curar ferida de guerra de quem já dormiu na minha cama.
✶
O hospital virou uma zona de conflito não-oficial. Um campo neutro onde se cospe sangue, mas ninguém atira. Semana sim, semana também, entra baleado das duas frentes. E como sempre, é minha mão que fecha os cortes.
Comecei a me acostumar com o absurdo. Mas teve um plantão que me marcou.
Era começo de abril, e eu estava virado de 24h quando entrou um garoto novo, uns 16 anos, com a barriga aberta por tiro de fuzil. Era da base do Jeff. Tava segurando as tripas com as próprias mãos, chorando e chamando pela mãe.
Enquanto eu costurava a barriga dele, ele murmurava: — O major... foi o major...
Não sei se era delírio ou confissão. Só sei que o moleque morreu ali mesmo. Morreu olhando pra mim. Aquilo me apartiu e me deixou possesso.
— Esse aí é do bonde do Jeff. — cochichou Sandro, que tava do outro lado da sala, limpando uma poça de sangue com a cara fechada.
Sandro era marrento, fortão, braço direito do Jeff agora. Ele entrou pro hospital como segurança, mas já virou figurinha marcada aqui dentro. Todo mundo sabia que ele era do crime, mas ninguém falava nada. Vai que ele lembra de você lá na Rocinha, né?
— O moleque ainda respira? — perguntei.
— Respira porra nenhuma. Só mexe o olho. — Sandro respondeu, cuspindo pro lado e voltando a limpar com calma. Aquilo me embrulhava o estômago, mas fingi costume.
Fingi. Porque no fundo meu estômago rodava. Porque o Jeff tava mandando os soldados pra guerra, e meu tio Carlos tava jogando os cana tudo pra cima dos morro. Era toque de recolher, caveirão na rua, e muito corpo sem nome vindo parar aqui no hospital. E no meio disso tudo? Eu. O Paulão.
Meus plantão viraram guerra silenciosa. Eu escutava os nomes dos mortos e ia ligando os pontos. Tava tudo conectado. E o Rodrigo, fofoqueiro do jeito que é, sempre vinha me contar o que ele ouvia dos médicos e dos PM que chegavam puto da vida.
— Ô, Paulão... cê viu que o Diguinho morreu? — Rodrigo falou baixo, já com a cara toda montada, cheio de brilho no olho.
— Que Diguinho, caralho? — perguntei.
— O que ficava com a mochila do Jeff, ué. Aquele viadinho bonito. Levaram ele pro IML agora pouco.
— Puta que pariu...
Encostei na parede, respirei fundo. Já era o terceiro dessa semana. Só do lado do Jeff.
Rodrigo notou minha tensão e deu um sorrisinho sacana.
— Tá com medinho, Paulão? Vai que teu boy morre e sobra só teu tio pra tu gozar...
— Vai tomar no cu, Rodrigo. — rosnei, empurrando ele de leve. — Tu fala demais, por isso ninguém te leva a sério.
— Falo mesmo, e boto meu cu na reta se for preciso, mas não fico nesse chove-não-molha que nem tu. Cê ama os dois e vai acabar chorando pelos dois também. — ele respondeu, rindo, enquanto sacava o celular e mostrava um print.
Era foto de um tiroteio no Complexo. Carro da PM virado e mais de três corpos no chão. Um deles tinha o braço tatuado igual ao Soldado Ganso, parceiro do meu tio Carlos.
— Se esse aí for o Ganso mesmo... vish, amanhã vai ter operação até no cu do morro. — Rodrigo murmurou, mexendo no cabelo cacheado com uma unha pintada.
— Esse hospital vai lotar de novo. E eu vou ter que tá com cara boa enquanto por dentro tô me esfarelando. — falei, botando o jaleco direito. — Foda-se. Ninguém precisa saber.
Mas no fundo, eu sabia. Sabia que o pau tava torando. O Jeff não ia recuar, e o Carlos muito menos. Eu tava sendo testado a cada dia, e pior: sem poder falar com nenhum dos dois. Era sumiço de um lado e desprezo do outro. Me deixaram no vácuo, enquanto a cidade virava um tabuleiro de xadrez sangrento.
A noite caiu. O hospital tava fedendo a mijo, sangue e café frio. O ar-condicionado quebrado fazia a gente suar por tudo. Dei um tempo na sala de descanso. Encostei na cadeira dura, botei a cabeça pra trás e fechei os olhos. Mas foi só uns cinco minutos antes de escutar a voz do Sandro no rádio:
— Chegando dois feridos. Um é da PM. O outro, dizem que é do bonde do Jeff. — ele disse, sério.
Meu corpo travou. Levantei como um foguete, o coração disparado.
— Cês tão de sacanagem. — falei alto, andando apressado pro corredor.
Os dois chegaram em ambulâncias diferentes, mas quase ao mesmo tempo. O da PM sangrava na barriga. O do tráfico tava desacordado, com a perna estourada.
— Identifica logo essa porra! — gritei.
Rodrigo chegou perto com a prancheta.
— PM: nome Rodrigo Cardoso. Não é do grupo do Carlos. Tranquilo. — falou rápido. — O outro... tá sem documento.
— Merda... — sussurrei, encarando a cara dele. Não era ninguém que eu conhecia. Respirei aliviado. Mas só por um segundo.
Rodrigo puxou meu braço.
— Paulão... chegou um áudio aí... escuta essa merda.
Ele botou o celular no meu ouvido. Era um recado do próprio Jeff, gravado no Zap, que alguém mandou vazar.
— "Cês tão achando que eu vou recuar? Eu vou invadir aquela porra de hospital também, se for preciso. Se Carlos pensa que tem o poder, eu mostro que tenho o povo. E o povo vai entrar. Nem que seja pra sangrar."
O chão saiu debaixo dos meus pés. Rodrigo me encarou com os olhos arregalados.
— Paulão... cê tem que escolher um lado logo. Senão cê vai morrer com os dois.
✶
Rodrigo, meu colega de hospital, virou uma espécie de âncora emocional — ou desgraça com glitter. A gente se apoia do jeito que dá. Às vezes com piada, às vezes com álcool. Teve um dia que ele me puxou pro canto e disse:
— Paulão, essa guerra vai acabar em tragédia grega, e a tua rola é o cavalo de Troia.
Eu baixei a cabeça, mas sabia que ele táva certo.
No meio do caos, chegou um novo personagem: o tal do Primo, braço direito do Jeff. Branquelo, tatuado, olhinho psicopata. Foi ele quem começou a cruzar a linha proibida: atacou uma viatura da PM na zona sul, matou dois e deixou recado escrito com sangue no muro: "Morello é o próximo."
Carlos surtou. Subiu o morro de madrugada com o BOPE inteiro. Mataram seis. O Primo sumiu por dois dias. Voltou direto pra sala de trauma do hospital, com três tiros no peito.
— Respira, caralho! — eu gritava enquanto fazia compressão.
Rodrigo vomitou do lado enquanto preparava o material com seu jeitinho estérico, mas eficiente. O sangue jorrava quente no chão. Mas a morte venceu. O cara morreu na minha maca, me olhando nos olhos.
✶
O luto no morro foi tipo terremoto. Jeff não apareceu, mas mandou flores. Sandro, o braço esquerdo, chegou puto, arrastando a maca, xingando Deus e o mundo.
— Foi o Carlos, porra! A gente sabe! E se tu continuar cuidando dos homens dele, Paulão, tu vai pra vala junto.
Fingi que não ouvi. Mas naquela madrugada, fui pra casa andando e chorei no banho.
✶
Duas semanas depois, recebo um chamado interno no hospital: baleado da PM vindo direto da operação no alto do morro. Quando abro a ficha, quase deixo o tablet cair.
André Bico-Fino. Um dos homens mais fiéis ao Carlos. O cara chegou ensanguentado, gritando palavrão e cuspindo sangue.
— Paulão! Tu é o tal do Paulão? — ele disse enquanto eu costurava o ombro dele. — Carlos ainda pensa em ti. Falou teu nome ontem, com ódio e tesão. Sabia? Você é muito famoso na corporação...
Engoli seco.
— Faz teu trabalho, irmão. Salva minha vida. O major me quer vivo. Mas se eu morrer aqui, ele vai fazer desse hospital um campo de execução.
✶
Dali pra frente, comecei a viver à base de cafeína, cigarro e paranoia. Tinha dias que eu sentia cheiro de pólvora na minha mochila. Comecei a deixar roupa separada, mochila pronta caso tivesse que sumir de repente.
E então, numa madrugada de plantão, Carlos apareceu.
Vestido de preto, boné baixo, sem farda. Encostou na porta da sala de medicação e disse:
— Precisamos conversar.
— Não temos mais nada pra falar, Carlos.
— O Jeff mandou matar o Bico-Fino. Acha mesmo que eu vou ficar parado?
— Eu não sou juiz de porra nenhuma.
— Mas é testemunha. E é meu.
— Não sou nada teu, não sou dele, sou de ninguém porra!
Ele me encurralou na parede. O cheiro dele ainda me dava calafrio.
— Eu penso em ti toda noite, Paulão.
— Então para de me transformar em alvo.
— Não posso. Tenho que pegar aquele filho da puta. Ele está matando meus soldados. Tenho que te proteger daquele verme.
Carlos me arrancou um beijo. Eu não resisti. Fudemos pra caralho ali mesmo.
Ainda encostado na parede da sala de medicação, o gosto do beijo de Carlos queimando minha boca, respiração acelerada, pau latejando debaixo da calça, eu tentava entender o que caralho tava acontecendo. Mas ele não deixava tempo. Me prensou com o corpo quente, o cheiro de pólvora misturado com perfume amadeirado invadindo minhas narinas.
— Porra, Paulão... tu ainda geme igualzinho, mané. — sussurrou com voz rouca, encostando a boca no meu ouvido.
— Tu não vale nada, Carlos... — falei, mordendo o beiço e agarrando a camisa preta dele. — Tá aqui metendo pressão em mim e matando os cara lá fora. Cê quer me foder ou me usar, seu filho da puta?
— Os dois. — ele disse direto, com aquele olhar gelado. — Mas primeiro vou te foder.
Me virou bruscamente e me jogou contra a maca. As luzes de emergência piscavam, o barulho da sirene do lado de fora era abafado pelas paredes do hospital, e ali dentro, a tensão entre nós explodiu em tesão bruto. Ele puxou minha calça pra baixo com força, me deixando de cueca, e meteu a mão com raiva por dentro.
— Porra... ainda vem molhado pra mim? — falou com desprezo e tesão ao mesmo tempo, apertando meu pau com raiva. — Tu gosta dessa merda toda, né? Gosta de ser minha putinha e a dele ao mesmo tempo.
— Cala essa boca e mete logo, porra! — respondi, já de pau duro, corpo tremendo de raiva e vontade.
Ele me virou de frente de novo, tirou o cinto com um estalo seco, abriu a calça e botou o pau pra fora. Eu conhecia aquele pau mais que meu próprio nome. Grande, grosso, veia saltada, cabeça rosada latejando de desejo.
— Tu não vai nem dar beijo agora, caralho? — provoquei, lambendo o canto da boca.
— Vai tomar no cu, Paulão. Quem manda nessa porra sou eu.
E me beijou. Com ódio, com fome, com saudade. Me pegou pela nuca e me derrubou de joelhos. Botei o pau dele na boca com vontade. Sentia a cabeça bater na garganta, os gemidos dele vindo abafado. Ele segurava meu cabelo, gemendo baixo, olhando pro teto.
— Porra... cê chupa como se fosse o último pau da tua vida.
— Cala a boca e goza, majorzinho de merda.
Ele me puxou de volta, me virou de costas e rasgou minha cueca. Me jogou em cima da maca e cuspiu no cu, sem dó.
— Tu sabe que eu não trouxe camisinha, né?
— Se fode aí. Já tem minha alma, quer proteção agora?
Ele riu, nervoso. Passou a rola na entrada e empurrou com força. Meu corpo foi pra frente com o impacto.
— AI, CARALHO! — gritei, mordendo o ombro.
— Chora não, meu puto... vai ser só uma rapidinha. Depois tu volta pros teus plantão de merda aí...
Ele metia com força. Sem carinho, sem romantismo, só raiva e tesão. O som da pele batendo enchia a sala. O cheiro de sexo, suor e sangue criava um clima insano. Minhas mãos agarravam os lençóis, e os olhos reviravam com cada estocada.
— Tu gosta, né, seu filho da puta? — ele rosnava. — Gosta de me trair com traficante e depois vir pedir minha rola.
— Eu gosto da porra toda! — gritei. — Gosto do teu pau, da língua dele, e da porra da guerra também! Cês dois que são viciados em mim, seus otários!
Ele deu um tapa na minha bunda com tanta força que senti o ardor subir pela espinha. Metia cada vez mais forte, falando palavrão, gemendo baixinho no meu ouvido.
— Vai gozar, Paulão... se prepara, porra...
— Vai tu também... goza logo e sai da minha frente, seu desgraçado...
Eu gozei primeiro, todo melado em cima da maca. Ele veio logo depois, enterrado até o talo, esporrando dentro com raiva e prazer. Ficamos ali ofegantes, sem força, suados, olhando um pro outro com ódio e desejo.
Carlos puxou a calça, respirando fundo.
— Isso não muda nada, Paulão.
— Eu sei. Tu ainda vai tentar matar o Jeff.
— E ele vai tentar me matar também.
— E eu? — perguntei.
Ele me olhou fundo, sério, a voz embargada.
— Tu vai morrer com nós dois, se continuar no meio.
E saiu, sem olhar pra trás, deixando o cheiro dele no ar e minha alma dividida no chão do hospital.
✶
Dias depois, Jeff fez o mesmo. Entrou no hospital com máscara e jaleco. Me arrastou pro banheiro, fechou a porta com tranco e me encarou.
— Carlos tá se armando. Eu sei. Mas se ele vier, vai cair.
— Eu não quero saber, Jeff. Gostava mais quando você era menor de idade, cheio de sonho e invadindo minha casa. Agora fica aí, igual um diabo ceifando os moradores com essa guerra besta sua e do meu tio Carlos.
— Tu quer sim. Esse menor morreu. Carlos me tirou todas as oportunidades na vida depois daquela foda a três. Concurso, trabalho, tudo ele embargava. Não vou deixar ele embargar nosso amor. E se ele morrer antes de mim, tu precisa saber que fui eu. E que foi por tudo que ele já fez contigo e comigo.
— E tu fez o quê por mim, Jeff? Largou o tráfico? Voltou pra escola? Não, você só me assumiu porque eu basicamente te obriguei e sei muito bem que você diz pra todo mundo que eu te dava dinheiro por isso que me assumiu.
— Eu te amei no silêncio, caralho.
— Amor não salva ninguém nesse inferno.
Deixei ele lá. Fui chorar no depósito, entre caixas de luvas cirúrgicas e pacotes de soro fisiológico.
Chorei escondido por uns dez minutos, engolindo tudo com gosto de sangue e vergonha. A cabeça latejava e a alma parecia rangêra. Nem sabia mais se era culpa, raiva ou só saudade da minha própria dignidade.
Mas foi só botar o pé no corredor de novo que senti. O ar pesou. E o coração começou a bater na sola do pé.
Jeff tava ali. Tirando a máscara, e o jaleco. Era possível ver o seu olhar de demônio desatado.
— Vai fugir de novo? — ele perguntou, voz baixa, mas cortante. — Ou agora vai encarar?
— Jeff, não começa… — tentei.
— Cala a porra da boca, Paulão.
Ele veio devagar, pisando firme. Enfermeira nenhuma teve coragem de barrar. Rodrigo se escondeu atrás da porta da copa com a mão na boca.
— Tu chorou, né? — ele disse. — Foi chorar porque sabia que fez merda.
— Eu... não quero mais essa guerra, Jeff.
— TU DEU PRA ELE.
O corredor parou. Até o barulho do oxigênio das enfermarias sumiu. Só ficou o grito dele no ar, vibrando no teto.
— TU DEU TEU CU PRO CARLOS, PORRA! — ele berrou, dedo na minha cara, os olhos vermelhos, marejados, mas cheios de fogo.
— Não foi assim... — sussurrei, mas minha voz não saiu nem pra mim.
— Tem vídeo, Paulão. Áudio. Ele me mandou. O filho da puta me mandou. — Jeff bufava, sem humor nenhum. — Cê gemendo, falando "tio", rebolando em cima dele igual puta carente. Falando para ele te encher de leite. Que ele era o único que te comia com gosto.
Baixei o olhar. A garganta fechou. O mundo rodou e a única coisa que consegui fazer foi me encostar na parede fria do hospital e deixar meu corpo escorregar até o chão.
— Foi só uma vez, Jeff... — falei, quase sem voz. — Eu tava carente, cansado dessa guerra, Ele apareceu. Eu... cedi.
— CÊ DEU PRA ELE MESMO DEPOIS DE TUDO? — ele gritou. — Depois de ele mandar meu irmão, meus companheiros? De querer me prender, me torturar? TU DEU PRA ELE, PAULÃO?
— E tu? Tu matou quantos? Traiu quantos? Jurou me amar e transava com garota no Complexo da Rocinha só pra manter moral com os cria.
Silêncio. Ele travou. Mas não por muito tempo.
Jeff ajoelhou na minha frente. Pegou meu rosto com a mão suja de pólvora e lágrima. Me olhou fundo, com um olhar que era faca e também amor maldito.
— Eu matei por você. Ele só te comeu.
Pausa.
— Mas agora vai ser diferente.
— Jeff...
— Eu vou matar ele, Paulão. Nem que tu nunca mais olhe na minha cara. Eu vou matar seu tio. E vai ser por você.
Me beijou. Com ódio. Com dor. Com a língua cortando meu orgulho e os dentes arrancando minha vergonha.
Depois saiu andando pelo hospital como se fosse dono. E eu fiquei ali, no chão frio, com o gosto dele na boca e o cheiro do Carlos ainda grudado no corpo.
Eu era a guerra. E nem percebi.