A princípio, esse conto teria apenas 3 capítulos, mas eu sou o tipo de autor que escreve capítulo por capítulo – e a história acabou se estendendo. Portanto, agora terá mais um ou, no máximo, dois capítulos.
Neste site, existem inúmeros contos que vão direto ao ponto: sexo, sexo e sexo. Não é o caso aqui. Quem me acompanha sabe que costumo escrever histórias mais dramáticas e trabalhadas. Às vezes, também faço textos mais diretos, mas essa não é uma delas. Enfim... vamos à terceira parte!
Minha irmã me levou até o sofá, pediu que eu me sentasse, agachou-se na minha frente e limpou, com o dedo, uma lágrima que escorria do meu olho. Em seguida, disse com carinho:
— Fique aqui um pouquinho. Vou preparar um chá para você, tudo bem?
Eu apenas assenti com a cabeça. O simples fato de estar ali, no apartamento dela, já trazia um alívio imediato. Ela foi até a cozinha, e eu fiquei refletindo sobre tudo o que havia acontecido.
O tempo passou. Logo, ela voltou com o chá e duas xícaras em uma bandeja. Sentou-se ao meu lado, colocou as mãos sobre os joelhos e ficou me observando. Eu também olhava para ela. Naquele momento, não sei exatamente o que aconteceu. Ficamos caladas. Nenhuma palavra foi dita.
Parecia que eu estava em uma sessão de terapia silenciosa — aquele tipo de sessão em que o terapeuta não faz perguntas nem dá conselhos, apenas escuta com o olhar e transmite acolhimento com a presença. O silêncio falava por nós duas. Era como se, sem precisar dizer nada, ela entendesse a dor que eu carregava.
Cerca de dois minutos depois, ela encheu as duas xícaras de chá — uma para ela e outra para mim. Estendeu a minha com delicadeza e, antes que eu bebesse, levou a dela aos lábios e tomou o primeiro gole. Depois, com um tom suave, disse:
— Beba. Vai te fazer bem.
Segurei a xícara entre as mãos, sentindo o calor invadir meus dedos como um carinho discreto. Ela continuou, com a voz tranquila:
— Esse chá ajuda a acalmar. A erva-cidreira alivia a tensão e o nervosismo... E a camomila relaxa o corpo, sabe? Não resolve tudo, claro, mas... ajuda a desacelerar a cabeça.
Olhei para ela e, sem dizer nada, levei a xícara à boca. O aroma era reconfortante. Dei um gole. O sabor leve e quente percorreu minha garganta, e por um instante senti que a respiração ficou menos pesada.
Ela me observava em silêncio, como quem sabia que, naquele momento, mais do que palavras, eu precisava apenas de um chá quente e de alguém ao lado.
Fomos bebendo o chá em silêncio, sem trocar uma única palavra. Minha irmã sempre teve esse dom raro de transmitir calma apenas com a presença. Era carinhosa nos gestos, nos olhos, na forma como colocava a mão sobre meu joelho ou ajeitava meu cabelo atrás da orelha. Mas, ao mesmo tempo, ela nunca foi de rodeios. Sabia ser direta — quando precisava ser — e isso também era uma forma de cuidado. Com ela, não havia enrolação, mas havia afeto.
Depois que terminamos o chá, colocamos as xícaras de volta na bandeja. Ela se ajeitou no sofá, respirou fundo e então disse, com a voz firme, mas serena:
— Então...
Aquela palavra, "então", seguida de uma pausa que durou poucos segundos, mas que para mim pareceu longa o suficiente para antecipar o que viria. Eu já conhecia bem aquele tom: era o equilíbrio exato entre o acolhimento e a firmeza. Ela não ia me forçar a falar, mas também não ia permitir que eu fugisse de mim mesma.
— Você vai contar pra ele?
Meu estômago revirou.
— Não posso. A voz saiu um sopro.
Ela inclinou-se para frente, as mãos cruzadas sobre os joelhos. — Não pode ou não quer?
Olhei para as minhas mãos. — Ele vai me odiar.
— Talvez. Ela não mentiu. Nunca mentia. — Mas ele merece saber. E você merece se libertar.
O peso daquelas palavras me esmagou. — Eu não sei como dizer...
Letícia respirou fundo. Depois, com uma calma que só ela tinha, falou:
— Vou te ensinar.
E então, minha irmã mais velha fez o que sempre fez – pegou minha bagunça e colocou ordem.
— Sente-se com ele. Olha nos olhos dele. E fala assim: "Renato, eu te traí. Foi com Daniel. Durou oito meses. Terminei hoje. Não foi por falta de amor. Foi por falta de coragem de te dizer que estava morrendo por dentro."
Meu queixo tremia. — Ele vai me deixar.
— Pode ser. Ela não baixou o olhar. — Mas se você não contar, Maris, isso aqui— ela apontou para meu peito —vai apodrecer. E um dia, não vai sobrar amor nenhum para salvar.
A sala ficou em silêncio. Fora da janela, um pássaro pousou no parapeito, bicando migalhas invisíveis.
— Por que você tá fazendo isso? perguntei, a voz embargada.
Letícia sorriu, triste. — Porque eu te conheço. Você não é uma mentirosa. Você só se perdeu.
E então, minha irmã fez algo que não fazia desde que éramos crianças – pegou meu rosto entre as mãos e encostou a testa na minha.
— Você é forte, Maristela. Mais do que acha. E não importa o que acontecer... Ela puxou meu queixo, obrigando-me a encará-la. — Eu tô aqui.
Eu engoli o choro. — E se ele me expulsar de casa?
— Você vem pra cá.
— E se ele contar pra família toda?
— A gente enfrenta.
— E se... se ele nunca mais me olhar como antes?
Letícia soltou um suspiro. — Aí, minha irmã, você aprende a viver com a consequência do que fez. Mas pelo menos... Seus olhos brilharam. — Pelo menos você não vai mais ter que carregar o peso sozinha.
E então, eu chorei.
Chorei como não chorava há anos. Chorei por Renato, por Daniel, por mim. Chorei pelo casamento que eu machuquei e pela mulher que eu tinha me tornado.
Letícia não me abraçou. Ela me segurou. Como se soubesse que eu precisava desabar, mas não podia desabar inteira.
Quando a crise passou, ela me entregou um lenço. — Limpa o rosto. E decide. Ou você fala, ou eu falo.
Meu coração gelou. — Você não faria isso.
— Eu jurei proteger você, Maris. Às vezes, proteção é dar um empurrão quando a gente tá à beira do abismo.
O celular vibrou no meu bolso. Era o Renato.
"Chego em casa em 1 hora, mais ou menos. Vou passar no mercado. Quer alguma coisa de lá? Você já chegou em casa?" — dizia a mensagem.
Comentei com minha irmã sobre o que Renato havia escrito e, em seguida, perguntei:
— O que eu respondo?
Ela me olhou e perguntou:
— Onde você disse que estaria?
— No shopping com minhas amigas, mas não falei quais — respondi.
Ela então disse, com a calma de sempre:
— Certo. Então diga a ele que você estava com suas amigas, mas que me encontrou no shopping e veio para a minha casa.
Foi exatamente isso que escrevi. Meu marido apenas respondeu com um joinha e, logo depois, voltou a perguntar:
— Quer alguma coisa do mercado?
Respondi que não, e a conversa foi encerrada.
Minha irmã então se levantou e disse que me levaria para casa.
— Eu já estou mais tranquila, não precisa — tentei argumentar.
Mas ela foi firme:
— Não estou te dando uma escolha. Vou te levar até o seu prédio.
No caminho para minha casa, minha irmã ligou para o marido, o Rodolfo, e perguntou:
— Está sozinho?
Ele respondeu que sim, que ele, Renato e os outros amigos tinham ficado em uma resenha depois do futebol, e que Renato havia ido ao supermercado, enquanto ele já estava voltando para casa.
Minha irmã simplesmente contou a ele o problema que eu estava enfrentando. Toquei no ombro dela, querendo interromper, mas ela me olhou fixamente e falou baixinho:
— Não se preocupe.
A relação dela com o Rodolfo sempre foi muito boa, muito transparente em tudo. Depois de ouvir o resumo da história, Rodolfo apenas perguntou:
— Querem ajuda? Precisam de alguma coisa?
Minha irmã respondeu que não, e pediu que ele não comentasse nada com o Renato. Disse apenas que deixaria a irmã no prédio dela em segurança.
Rodolfo ficou preocupado, mas respeitou:
— Tudo bem. Se cuida. Te amo.
E ela respondeu com carinho:
— Te amo muito também. Tchau.
Finalmente, depois de um tempo, chegamos ao meu prédio.
Letícia encostou o carro com cuidado, desligou o motor e, antes mesmo que eu abrisse a porta, segurou a minha mão. O olhar dela varreu os arredores com atenção, como se procurasse por alguém.
Seus olhos estavam afiados, desconfiados. E mesmo sem dizer nome, eu sabia de quem ela falava: Daniel. O causador da bagunça que eu tinha permitido.
Ela suspirou e então olhou para mim com uma firmeza doce, mas incontestável:
— Chegamos. Agora é com você, maninha.
Engoli em seco.
Ela continuou, apertando minha mão de leve:
— Aguarde seu marido chegar. Senta com ele e fala. Com clareza. Sem rodeio. Sem enrolar.
— Tá... — murmurei.
— Não, não é só um “tá”. Você vai abrir tudo. Vai contar a verdade. Vai tirar esse lixo de dentro do peito.
Ela fez uma pausa e continuou, agora em tom quase profissional, como se falasse comigo no papel de psicóloga, não apenas de irmã:
— Sabe por quê isso é importante, Maris? Porque a culpa guardada demais começa a virar veneno. Você tenta esconder, tenta empurrar, mas ela fermenta. E um dia, ela explode. Ou você implode. E das duas formas, alguém se machuca.
Baixei os olhos. Ela me conhecia demais.
— Quando você fala a verdade — continuou —, você entrega ao outro o direito de reagir. De sentir. De decidir. E isso, por mais duro que pareça, é respeito.
Ela colocou minha mão entre as dela.
— Não seja covarde. E não me entenda mal. Você não é uma pessoa ruim. Mas está sendo covarde. E isso tem cura.
Assenti com um leve movimento de cabeça.
Desci do carro.
Quando o porteiro destravou o portão para mim, virei o rosto e a vi ainda ali, me observando. Letícia não sorriu. Apenas manteve os olhos firmes nos meus, como quem diz: “Vai. Enfrenta.”
Entrei. E só então ouvi o motor do carro dela se afastando.
Subi devagar. O elevador parecia mais lento do que nunca. A cada andar que passava, meu peito apertava. Meu estômago revirava. Eu me sentia uma prisioneira indo voluntariamente até a sala de julgamento.
Ao entrar no apartamento, fui direto ao banheiro. Lavei o rosto. Encarei meu reflexo no espelho por longos segundos. Quem era aquela mulher?
A mesma que, há alguns meses, começou a trepar com outro homem? A mesma que deu a buceta e o rabo para ele tantas vezes, como quem fugia de si mesma? A mesma que, hoje, treme de medo ao pensar na reação do único homem que realmente a amava? Sim, porque acho que o Daniel, por mais que tenha dito que me ama, sente algo mais parecido com posse do que com amor.
Renato... ah, o Renato, meu marido. À medida que o tempo vai passando, aproxima-se a hora em que ele chegará.
E eu sabia: o inferno estava prestes a começar.
Fui para o quarto. Sentei-me na beirada da cama. O ar-condicionado estava em temperatura baixa. E eu deixei. Queria sentir frio. Queria algo físico para corresponder ao que queimava por dentro.
Ali fiquei. Pensando em tudo.
Renato e eu construímos muito juntos. Mas, já faz muito tempo que ele mergulhou completamente na empresa dele. Cresceu, é verdade. Expandiu, abriu filial. Mas ao mesmo tempo em que crescia profissionalmente, ia sumindo da nossa vida.
Ele acordava pensando em metas, dormia falando de planilhas. E eu, embora também tivesse meu negócio, era diferente. Nunca fui movida pela ambição como ele. Sempre quis viver bem, claro. Mas também queria viver.
Faltou presença. Faltou toque. Faltou escuta.
Foi nesse vazio que Daniel entrou.
Não como desculpa. Como consequência.
O tempo passou, fui para a sala e me sentei cruzando os braços - as luzes estavam acesas, mas tudo parecia frio, gelado, o tempo acelerou e então... a chave girou.
Renato entrou carregando sacolas do mercado. Estava de camiseta clara, bermuda azul e mochila nas costas. Parecia leve, despreocupado. Ele me viu na sala, sentada e falou:
— Olá, amor, estou de volta.
E seguiu para a cozinha para guardar o que tinha comprado. Ele não percebeu o meu estado.
Eu o aguardei.
Depois que ele guardou tudo, veio até a sala. Quando se aproximou, aí sim percebeu meu estado.
— Você está pálida. Aconteceu alguma coisa?
Pedir que se sentasse ao meu lado. Ele obedeceu, os olhos fixos nos meus, enquanto se acomodava no sofá.
— Fala o que está acontecendo — insistiu, a voz mais grave agora.
Respirei fundo. Na minha mente, ecoou a voz firme de Letícia: "Sem rodeios. Fala."
— Eu te traí.
Ele parou de se mexer. Os olhos piscaram, mas o corpo ficou imóvel.
— O quê?
— Eu te traí. Durante oito meses. Com o Daniel.
Falei tudo de uma vez, como Letícia me sugerira.
O nome ecoou como chumbo entre nós. Sua expressão endureceu — parecia incapaz de processar minha confissão repentina.
— O Daniel...? Meu amigo?"
Assenti. A vergonha queimava meu rosto como brasa.
Ele se levantou num movimento brusco, recuando dois passos. Soltou uma risada — curta, seca, descrente.
"— O Daniel? Meu amigo de infância? O cara que eu considero um irmão?"
"— Eu terminei com ele hoje. Fui pra casa da Lê porque—"
"— CALA A BOCA."
Ele disse isso sem elevar o tom. Mas cada palavra doeu mais que um grito.
Silêncio.
— Então é isso — murmurou, a voz rouca. — Enquanto eu virava noites no escritório... enquanto ralava pra abrir a nova filial... — Seus dedos se fecharam em punhos. — Você tava dando pro meu melhor amigo?
— Eu me sentia sozinha, Renato.
Ele gargalhou — alto, estridente, um som que arranhava as paredes.
— Sozinha? — Os olhos dele brilhavam de raiva. — Você tem empresa, equipe, agenda cheia... Sozinha onde, Maristela? — Deu um passo à frente. — Sozinha... ou só entediada?
— Você se afastou de mim! — gritei. — Você virou um fantasma! Era trabalho, trabalho, trabalho!
— E isso te deu direito de abrir as pernas para o Daniel?
Fiquei calada, abaixei a cabeça. Ele começou a andar de um lado para o outro na sala, colocou as mãos na cabeça e depois as esfregou com força no rosto, dizendo:
— Porra! Porra! PORRA!
Renato então parou. Estava de costas para mim, respirando fundo, como se algo dentro dele estivesse tentando evitar uma bobagem. As mãos tremiam, mas não era só raiva — era desamparo.
— Eu sei... — ele disse, enfim, com a voz mais baixa, carregada de uma lucidez amarga. — Eu sei que, nesses meses, me afastei.
Fiquei em silêncio. Ele falava olhando para o chão.
— Pensei nisso várias vezes... Pensei que a gente estava se perdendo. Mas só me dei conta de verdade no aniversário da sua mãe.
Meu coração congelou. Eu me lembrava daquela data: um dia cheio, família reunida, sorrisos falsos para fotos reais. Eu tinha chegado atrasada porque estava em um encontro com o Daniel.
— A Letícia me chamou de canto — continuou. — Esperou um momento em que ninguém estava por perto e me disse uma coisa que, na hora, me fez refletir...
Ele virou-se para mim e levantou o olhar. Os olhos estavam vermelhos.
— Ela disse que estava feliz com o meu sucesso. Que eu estava crescendo, que a empresa estava voando. E que isso era lindo de ver. Mas que... a vida não era só isso. Que eu precisava lembrar da minha casa. Da minha mulher. Do casamento. Da família. E que sucesso nenhum vale a pena se você perde as pessoas enquanto sobe.
Meus olhos encheram d’água. Aquilo era Letícia — direta, mas cheia de verdade.
Renato prosseguiu:
— Ela falou sobre equilíbrio. E eu só agora entendi o que ela quis dizer. O equilíbrio de ser um homem que prospera... sem virar um estranho para quem dorme ao seu lado. O equilíbrio de sonhar grande... sem esquecer quem segurou sua mão nos dias pequenos. O equilíbrio entre crescer e permanecer.
Ele me olhou mais fixamente, agora com dor. Uma dor amarga.
— Eu não tive equilíbrio, Maristela. Confundi ambição com missão. Me enterrei naquela porra de empresa achando que estava construindo um futuro... e no meio do caminho, esqueci de você. Esqueci da gente.
Aquela confissão me desmontou. Porque era verdade. Era crua. Era a parte que eu também precisava ouvir. Mas então ele endureceu novamente.
— Mas nada disso... nada disso justifica o que você fez.
Ele avançou um passo.
— Porque quando você viu que eu estava distante, você não me chamou para conversar. Não me buscou. Não me gritou.
— Renato...
— Você foi transar com o Daniel.
Silêncio. Um silêncio de morte.
Ele fechou os olhos, respirou fundo e completou:
— A Letícia tentou me acordar. Mas eu acordei tarde. Tarde demais. E agora... não sei se dá para reconstruir alguma coisa em cima do que vocês dois destruíram.
Eu realmente não tinha como argumentar. Ele estava certo.
E então vieram as perguntas difíceis demais de responder.
— "Oito meses atrás..." — ele começou, a voz pesada. — "Foi quando você disse que começou o caso com ele. Eu me lembro que tinha ido viajar para o Rio de Janeiro a negócios. Onde foi a primeira vez que vocês transaram?"
Fiquei em silêncio.
Ele deu um grito:
— "FALA!"
Me assustei e, choramingando, respondi:
— "Isso... isso não tem importância..."
Ele se aproximou, pegou meu queixo com força e levantou a mão. Pensei que fosse me bater, mas ele se arrependeu no último instante. A voz dele saiu mais controlada, mas ainda cortante:
— "Fala, Maris. Eu preciso saber."
Soltou meu queixo e se afastou um pouco. Eu engoli seco e murmurei:
— "Foi aqui em casa..."
Ele balançou a cabeça negativamente, os olhos queimando de raiva.
— "Claro. Aquele dia foi quando você começou a me chifrar."
Respirou fundo, os punhos cerrados.
— "E onde foi a trepada?"
— "Amor, por favor, eu não quero..."
Ele explodiu:
— "FALA, CARALHO! VOCÊ JÁ FEZ A MERDA, NÃO TEM COMO REVERTER O PASSADO! ENTÃO FALA, PORRA!"
"Aqui nesse sofá", eu falei, quase em um sopro.
Falar que transei com o Daniel no sofá – e ele me ver exatamente sentada nele – fez o Renato ficar ainda mais exaltado.
Renato xingou: "Puta que pariu!"
Ele começou a me bombardear, nervoso, a voz ecoando pela sala:
"Você chupou aquele puto? Fez a rola dele crescer na sua boca? Ficou de quatro enquanto ele te penetrava com força? Você gemia, dizia que estava gostando?"
Tentei falar, mas ele cortou, gritando:
"FICA CALADA! NÃO ME INTERROMPE!"
E continuou, cada palavra como uma facada:
"Cavalgou na pica dele? Ele também comeu o seu cu? Onde ele costumava gozar?"
Eu me encolhi, as lágrimas queimando. Ele riu, um som amargo:
"Meu Deus... Meu Deus... Se eu errei com você, você ERROU MUITO MAIS. EU NUNCA – NUNCA – TE TRAÍ!"
Em seguida, ele acabou dizendo algo que me feriu como uma lâmina no peito:
"Sabe de uma coisa? Sua irmã é uma mulher muito melhor que você. Eu deveria tê-la conhecido antes... quem sabe não estaríamos casados? O Rodolfo é que tem sorte."
Respirou fundo, os olhos injetados de raiva, e prosseguiu:
*"Mas sabe o que eu não entendo? POR QUE AGORA? Por que depois de 8 malditos meses você resolveu confessar essa traição do caralho? Essa punhalada que me deu pelas costas... e eu nem estava sentindo-a."
Fiquei sem ação.
Ele cuspiu as palavras:
— Tá sentindo vergonha agora? O remorso bateu? Fico pensando em como vocês deviam rir da minha cara...
Eu falei:
— Eu nunca fiz isso. Nunca.
Ele riu - não era riso de felicidade, era riso de dor.
— Tá bom, sei.
Arrastou as mãos pelo rosto, exausto.
— A Letícia... quando me falou aquelas coisas na festa da sua mãe, já sabia do seu caso. Ou no mínimo desconfiava. Só eu, o otário, não sabia de nada. Como fui tão imbecil?
Respirei fundo, as pernas bambas.
— Acho melhor eu ir pra casa da minha irmã. Te deixar sozinho pra assimilar...
Ele cortou:
— Acho bom mesmo. Eu... preciso de tempo. E esse lixo do Daniel vai me pagar. Cadê aquele ordinário agora?
Pegou o celular com força, discou. O toque ecoou: uma vez, duas, três... Nada.
— COVARDE! FILHO DA PUTA! — gritou pra tela. — Não tem culhão pra me encarar?
Ele foi andando pelo corredor. Eu fui atrás dele, e ele bateu na porta do quarto de hóspedes com um estrondo. Levei um susto com o barulho. Então, fui para o nosso quarto, joguei roupas numa mala qualquer. Quando passei pelo quarto de hóspedes, gritei:
— Tô indo pra casa da Letícia!
A voz dele veio atravessando a madeira:
— VAI PRO INFERNO! TÔ ME LIXANDO!
Fora de casa, liguei pra minha irmã. Ela atendeu imediatamente - parecia que tava esperando.
— Mana... — engasguei-me.
Ela nem deixou terminar:
— Já tô indo. Fiquei perto daí durante todo esse tempo, sabia que ia dar merda. Rodolfo já sabe. Espera na portaria – Já, já, tô aí.
Continua...