No coração pulsante do centro de São Paulo, onde o barulho dos comércios da rua 25 de Março ecoava durante toda a semana, havia uma casa que resistia ao tempo e à modernidade. Era a residência de Luizão, um homem negro de 58 anos, imponente com seus 1,90m de altura, corpo robusto e uma presença que não passava despercebida. Carregava uma aura de autoridade e um charme rústico: olhos intensos, sorriso misterioso e histórias que pareciam viver em silêncio dentro dele. Seu maior orgulho, além do físico bem preservado, era o dote avantajado de 24 cm, grosso, assunto recorrente nas conversas sussurradas entre os poucos que o conheciam mais intimamente.
O imóvel de Luizão era um sobrado de quatro andares, que mais lembrava um pequeno prédio. Localizado em uma rua dominada por lojas e movimento intenso durante a semana, tornava-se um refúgio silencioso aos finais de semana. Após a separação da esposa — que foi embora para o Nordeste levando os dois filhos — Luizão optou por não vender a casa herdada dos pais. Em vez disso, teve uma ideia ousada: transformar o imóvel na Pensão do Luizão, um abrigo acessível e bem localizado para homens que precisavam morar no centro da cidade.
Pensou em cada detalhe com cuidado. Além dos quartos, criou um pacote completo de hospedagem que incluía café da manhã, jantar caseiro e lavanderia uma vez por semana. O diferencial estava no clima familiar, na comida quente servida com capricho e na organização rigorosa que impunha respeito. Era um sistema simples, direto e eficiente — ideal para trabalhadores que passavam o dia fora e buscavam praticidade ao voltar para casa. Luizão cuidava de tudo com zelo. E nos finais de semana, era ele quem assumia as panelas, revelando um talento surpreendente para a cozinha. A pensão logo se tornou conhecida entre operários e estudantes que buscavam conforto, discrição e um lugar bem localizado para viver.
Cada andar da casa foi adaptado com funcionalidade. No térreo, uma loja de lingeries ocupava a fachada, e ao lado dela, um portão discreto dava acesso à pensão. No segundo andar, havia uma sala espaçosa com varanda voltada para a rua, além de uma cozinha, lavanderia e banheiro — área comum dos moradores. Uma escada no canto da sala levava aos andares superiores. O terceiro andar reunia cinco quartos compartilhados, cada um com duas camas, ocupados por dez operários de uma construtora. Eles saíam para o trabalho às 5h da manhã e retornavam só às 19h, optando pelo pacote com jantar incluído. Já o quarto andar contava com cinco quartos individuais. Um deles era a suíte de Luizão, com sacada para a rua. Os outros quatro, maiores e mais confortáveis, dividiam um único banheiro no corredor — ideais para quem prezava por privacidade.
Luizão era firme quanto às regras: apenas homens podiam se hospedar. Dizia, meio brincando e meio sério, que não queria que a pensão virasse um “bordel”. Para manter a casa em ordem, contava com Dona Márcia, que cuidava da limpeza e da cozinha de segunda a sexta. Nos finais de semana, o próprio Luizão assumia o fogão, surpreendendo os moradores com pratos caseiros saborosos, cujos aromas tomavam conta da casa.
Um ano após a inauguração da pensão, os quartos compartilhados viviam ocupados pelos trabalhadores da construção civil. Já os individuais, por serem mais caros, tinham procura menor. Apenas um estava alugado: o de Jean, um jovem de 25 anos, branco, corpo malhado e uma bunda grande e empinada que chamava atenção até sob as roupas largas que costumava usar. Natural do Maranhão, Jean veio a São Paulo para cursar Medicina na USP Leste, em Ermelino Matarazzo. Sem conseguir vaga próxima à universidade, seguiu a recomendação de um amigo engenheiro, cujo irmão morava na pensão.
Filho de uma família abastada — donos de uma rede de supermercados no Maranhão — Jean recusava a ideia de dividir quarto. Ao saber dos quartos individuais disponíveis no sobrado, não pensou duas vezes. Visitou o local, gostou do ambiente e fechou o aluguel. Optou pelo pacote completo, com café da manhã e jantar inclusos, pagos pela família, o que lhe garantiu uma rotina tranquila.
Todas as manhãs, Jean descia até a cozinha no segundo andar para tomar café com Luizão. Eram momentos calmos, com conversas leves sobre o cotidiano, a cidade ou os desafios da faculdade. O aroma do café fresco e do pão quente criava uma atmosfera acolhedora. Luizão, sempre atento, observava Jean com curiosidade: o jeito como ele se mexia, o sorriso discreto, o brilho no olhar quando falava do sonho de ser médico. Havia algo naquele rapaz que lhe chamava a atenção, uma energia difícil de definir — mas que despertava sentimentos inesperados.
Por enquanto, a pensão seguia seu curso. Os trabalhadores chegavam exaustos, jantavam e subiam para descansar. Jean, com sua rotina de estudos, destoava daquele ambiente pesado e viril, trazendo leveza e contraste. E Luizão, no comando de tudo, sentia que algo novo estava prestes a acontecer naqueles corredores. A casa, com seus quartos cheios de histórias não contadas, parecia pronta para virar palco de algo muito maior do que o cotidiano.