*Ajudando a minha tia (viúva de meu tio), Marquesa de Sade (Cristina Lobato). Está escrevendo histórias com títulos de músicas, geralmente de sucesso, de Chitãozinho e Xororó, uma dupla inclível, nacida aqui, na cidade de Astorga. Na sequência, foi um pecado faltar essa aqui: ESTRADA*
A estrada não era só longa — era solitária também. E Luciana nunca imaginou que, aos 42 anos, estaria dormindo em beliches apertadas de postos de gasolina ou tomando banho em banheiros de beira de rodovia. A vida havia mudado. O salário do marido, sempre apertado, agora mal dava pro básico. Foi ele mesmo quem sugeriu:
− Se quiser ajudar, tem um conhecido que precisa de ajudante no caminhão.
Ela topou. Por ele. Por eles. E por si também, talvez. No começo, era apenas carregar caixas, anotar pedidos, manter o rádio ligado. O motorista, Cléber, era uns 10 anos mais novo, cheio de tatuagens e olhos que pareciam enxergar fundo demais. Nunca faltou com respeito, mas... também nunca deixou de olhar.
Luciana aguentou bem as primeiras semanas. Mas a saudade começou a se misturar com outra coisa — uma inquietação, um calor que não passava, nem mesmo à noite, deitada sozinha na boleia do caminhão.
Foi numa noite abafada em Rondonópolis. O frete atrasou, e o caminhão ficou estacionado num pátio barulhento. Cléber apareceu com duas cervejas na mão e um sorriso que parecia ter sido treinado em espelhos.
— Cê tá muito tensa, Lu. Quer conversar?
Ela aceitou a cerveja. E, sem entender muito bem como, a conversa deslizou por temas que nunca haviam tocado. Desejo. Vontade. Abstinência.
— Teu marido deixa tu viajar assim sozinha? — ele perguntou, encostando-se na lataria, com o cigarro pendendo nos lábios.
— Deixa. Ele confia em mim. — Ela respondeu, mas com uma voz que nem ela reconheceu.
— E você,... confia em você?
A pergunta ficou suspensa no ar, como um perfume proibido.
Naquela noite, Luciana cruzou uma linha. Entrou na cabine dele, sem promessas nem desculpas. Ela não o amava. Mas desejava. E quando ele a encostou no colchão estreito, sua pele tremeu como há muito não tremia.
Cléber não era gentil como seu marido. Era bruto. Apertava sua cintura com firmeza, puxava seus cabelos, sussurrava palavrões no ouvido. Ela deveria ter resistido — mas não queria. Quando ele a virou de bruços e a segurou pelos quadris, ela gemeu, não de dor, mas de rendição.
Nunca seu marido quis assim. Sempre com luz apagada, devagar, sem riscos, sem sal. Com Cléber, era como se ela descobrisse um corpo novo dentro do próprio.
E não foi só ele. Com o tempo, vieram outros. Um motorista solitário no posto de Goiânia. Um mecânico em Ponta Grossa. Um segurança em um terminal de carga em Minas. Todos diferentes, todos sujos de estrada e fome. E todos a fizeram se sentir viva de um jeito que o casamento jamais permitiu.
Ela se olhava no espelho dos banheiros e não via mais a esposa fiel, a dona de casa contida. Via uma mulher suada, de olhos cheios de histórias e pernas marcadas de mãos que seu marido jamais ousaria usar.
Quando voltou pra casa, dois meses depois, ele a recebeu com um beijo na testa. A mesma cama, o mesmo silêncio morno.
Naquela noite, ele tentou fazer amor. E ela deixou. Mas ao sentir a mesma sequência previsível, os toques tímidos, o fim rápido e monótono... Luciana fechou os olhos — e em sua mente, outra mão a puxava pelos cabelos.
A estrada tinha mudado mais que sua renda. Tinha desenterrado uma parte dela que ela mesma não sabia que existia.
E agora, deitada ao lado do marido, ela só pensava em quando seria a próxima viagem.
********
A volta pra estrada foi mais rápida do que Luciana esperava. Inventou uma desculpa qualquer — um novo contrato urgente, um bom dinheiro entrando — e o marido, como sempre, confiou. Mal sabia ele que não era o dinheiro que a fazia partir. Era a sede. A mesma que não se matava com água ou rotina.
Na segunda semana do novo frete, a rota parou em Uberaba. Cléber havia ido dormir cedo. Mas ela não. O calor era insuportável, o corpo pulsava, e os pensamentos ferviam em sua cabeça como óleo em chapa quente.
Do outro lado da rua, um bar aberto com luzes vermelhas piscando. Música sertaneja tocando alto, risadas, cheiro de cerveja derramada e desejo no ar. Luciana atravessou sem pensar duas vezes. De short jeans curto e camiseta colada ao corpo, deixou os cabelos soltos e os olhos afiados.
Entrou e foi direto ao balcão.
— Uma cerveja. No bico — disse, firme, encarando o atendente.
Tomou um gole longo, deixando escorrer um pouco pelos cantos da boca. Sabia que estava sendo observada. E queria isso.
Logo percebeu um homem alto, moreno, com braços fortes e a barba por fazer, sentado a duas banquetas de distância. Ele tentava não encarar, mas ela percebeu a luta interna.
Ela sorriu. Mordeu o lábio. Cruzou as pernas lentamente, fazendo questão de erguer um pouco o quadril.
— Quer beber comigo? — disse, direta, olhando-o como uma leoa encara sua presa.
Ele riu, um pouco sem graça, mas aceitou. Conversaram pouco. Não era conversa que ela queria. Era toque. Era cheiro de pele suada e o peso de um corpo masculino sobre o dela.
— Tem onde dormir? — ela perguntou, sem rodeios.
— Tem um quarto aqui em cima — respondeu ele, já sem disfarçar a vontade.
Subiram pelas escadas laterais, mal fechando a porta atrás de si. Ela o empurrou contra a parede, tirou a camiseta dele com pressa. O peito peludo e quente colou no dela. Luciana mordeu o ombro dele com força, e ele gemeu.
— Achei que era só brincadeira — disse ele, rindo, enquanto ela se ajoelhava.
— Não brinco com isso — ela respondeu, olhando pra cima com os olhos acesos.
Ela engoliu o pau com fome. Nada de delicadeza. Nada de pudor. Ele tentou se apoiar na parede, tentando controlar o corpo, mas ela não parava. Quando ele tentou interromper a gulosa, Luciana agarrou mais ainda as pernas dele, com a glande atingindo as amígdalas. – era loucura total. Ele, finalmente a conseguiu suspender nos braços.
Jogou-a na cama estreita, e Luciana riu alto.
— Me vira. Quero que me tome como se fosse a última vez.
E ele fez. Puxou seu short com violência, mordeu sua coxa, entrou nela com força. A cama rangia, os corpos colidiam como trovões. Ela gritava, sem vergonha, sem limites. Era um instinto puro. Selvagem.
Quando terminou com a buceta, ela mesma direcionou a ponta do cacete para o cu. Os dois suados e ofegantes, era como se fosse a primeira vez mútua.
Por fim, Luciana se levantou primeiro, pegou sua cerveja esquecida na mesa, deu um gole e disse:
— Obrigada. Eu precisava disso.
— Vai embora agora? — ele perguntou, ainda nu, sem entender.
— Vou. A estrada me espera. E talvez... outro bar.
Ela saiu com os cabelos bagunçados, o cheiro de sexo impregnado no corpo, e o gosto metálico do bico da garrafa ainda nos lábios.
Na estrada, Luciana não era mais ajudante de caminhoneiro. Era dona da própria fome.