No trote do peão - 4

Um conto erótico de Hollister
Categoria: Gay
Contém 3294 palavras
Data: 24/07/2025 23:42:14

Francisco passou a ser um pouco menos indiferente comigo. Começou a pedir ajuda com tarefas que ele claramente conseguia fazer sozinho — arrumar feno no galpão, checar a cerca, carregar uma caixa ou outra. No começo, achei que era só por praticidade, mas logo percebi que ele queria mesmo era companhia. E, de algum jeito, a minha.

Só que, toda vez que a coisa entre nós parecia esquentar... Rafael aparecia. Sempre com um sorriso fácil, uma piada na ponta da língua, um comentário que me fazia rir quando eu queria mesmo era continuar no silêncio. Ele conseguia quebrar a tensão com charme, como quem sabe exatamente onde pisa.

Foi aí que começou uma disputa silenciosa. Rafael apostava nas palavras. Francisco, no silêncio. Um tirava risadas de mim. O outro tirava o ar.

Francisco começou a trabalhar sem camisa nos dias mais quentes, mesmo quando o sol não pedia tanto. Dizia que era por causa do calor, mas o olhar que ele jogava pra mim quando me via chegando dizia outra coisa. Rafael, por outro lado, aproveitava qualquer momento pra me chamar de “bonito”, “jeito bom de homem”, “doce demais pra essa fazenda bruta”. Eu ria, desconversava, mas por dentro... o jogo me corroía.

Só que Francisco tinha uma arma que Rafael não tinha: as dores na perna.

Era com elas que ele me pedia companhia nos fins de tarde, massagem nos músculos travados, ajuda pra subir a escada ou deitar com mais conforto. E eu ia. Sempre ia.

Até que, numa noite, ele me pediu pra levar o óleo no quarto. Disse que estava doendo mais do que o normal, e que o sofá já não tava dando conta.

Subi com passos lentos, sem saber direito o que esperar.

A porta estava encostada. Quando empurrei, encontrei Francisco deitado na cama, só de cueca. A luz amarelada do abajur desenhava cada linha do corpo dele como se fosse pintura a carvão. Ele não olhou direto pra mim — fingia ver algo na tela do celular, mas eu sabia que me esperava.

— Tá mais à vontade hoje? — perguntei, me aproximando da cama com o vidro de óleo na mão.

Ele largou o celular de lado e finalmente me olhou. Os olhos escuros, fundos, carregavam algo que eu não conseguia traduzir direito.

— Tá calor, não tá? — respondeu, simples.

Me sentei na beirada da cama, ao lado dele, e comecei a espalhar o óleo pelas pernas dele com calma. Ele não falou mais nada por uns minutos. Só respirava fundo de vez em quando, como se estivesse travando uma luta interna.

— Às vezes — ele disse de repente, sem me encarar — eu gosto de ficar sozinho.

— Eu sei — murmurei.

— Mas quando você vem... não me incomoda.

Sorri, mesmo sabendo que ele não tava vendo.

— Isso é quase um elogio, vindo de você.

Ele soltou um riso breve. Quase tímido.

— É que... você fala pouco quando não precisa falar. E entende o silêncio. Isso ajuda.

Passei os dedos com mais cuidado pela lateral da coxa dele, e senti o corpo se contrair levemente sob o toque. O quarto ficou mais quente. Ou era só a gente, transbordando o que não sabia nomear.

— Eu gosto de estar aqui — falei, baixo.

Francisco virou o rosto um pouco, finalmente me encarando. Havia algo no olhar dele — um pedido contido, uma confissão muda.

— Você me faz... esquecer a dor — ele disse.

— Qual delas?

Ele deu de ombros.

— Todas.

Ficamos um tempo em silêncio depois que ele disse aquilo. O ar parecia mais denso, como se qualquer palavra a mais fosse fazer o quarto pegar fogo. Eu continuei a massagem, subindo devagar pelas coxas, sentindo a tensão ali — e não era só muscular.

— Posso subir um pouco mais? — perguntei, com a voz baixa, como se falássemos num lugar sagrado.

Ele apenas assentiu com um movimento quase imperceptível da cabeça.

Passei as mãos com calma pela barriga dele, depois pelas costelas, e quando vi, já estava de pé sobre a cama, ajoelhado ao lado, tentando encontrar um jeito melhor de alcançar as costas. Ele se virou de bruços, sem falar nada. Só obedeceu ao toque.

— Vou ter que subir, senão meu braço não alcança — falei, rindo baixinho, tentando quebrar o clima que eu mesmo ajudava a criar.

Ele virou o rosto pro travesseiro e murmurou:

— Então sobe.

Sentei devagar no quadril dele, com cuidado, como se ele fosse quebrar. Me ajeitei com as pernas de cada lado, e comecei a massagear as costas largas, cheias de marcas do sol, da lida com o campo. Os músculos dele estavam tensos, mas o corpo... o corpo estava entregue.

— Você tem mãos macias — ele disse, quase num sussurro.

— E você, um corpo difícil de ignorar — soltei, sem pensar, antes de me arrepender.

Ele não respondeu. Mas não me mandou parar.

Continuei a massagem por longos minutos, sentindo minha própria respiração ficando mais curta. A dele também mudou. Até que ele se virou, lentamente, ficando de barriga pra cima. Me vi ali, montado no colo dele, as pernas dele entre as minhas, nossos rostos perto demais. O volume pressionado embaixo de mim.

— É estranho — ele murmurou, olhando fixo nos meus olhos.

— O quê?

— Isso tudo. Você... aqui. Eu não sei o que fazer com isso.

— Não faz nada, então. Só sente — respondi, mais calmo do que realmente estava.

Ele respirou fundo. Minha mão escorregou pela lateral do peito dele, e foi aí que nossos rostos se aproximaram, como se o quarto inteiro empurrasse a gente um contra o outro. O beijo aconteceu devagar. Sem pressa. Como se nenhum dos dois soubesse se devia mesmo.

Foram só alguns segundos.

O bastante pra me perder. E o bastante pra ele se assustar quando começou a ficar mais intenso.

Francisco virou o rosto de repente, como quem acorda de um sonho que não queria sonhar.

— Samuel... — ele sussurrou, com a voz falha. — Melhor... melhor não.

Senti o corpo dele se retesar sob mim, e antes que eu dissesse qualquer coisa, ele me tirou do colo com firmeza, mas sem grosseria. Se sentou na beirada da cama, com as mãos apoiadas nas coxas, respirando fundo, evitando meu olhar.

Fiquei parado, sem saber se tinha ido longe demais ou só tocado num ponto que ele mesmo ainda não entendia.

— Eu não sei o que isso significa — ele disse, sem me olhar.

— Nem eu — confessei.

Ele passou a mão no rosto, e depois no cabelo, como se tentasse se recompor.

— Não tá pronto, né?

— Não. Mas isso não quer dizer que eu não queira.

Nos encaramos por um momento, e havia um peso estranho no ar. Não de arrependimento. Mas de algo novo, que ele ainda não sabia como carregar.

Levantei, peguei o vidro de óleo do chão e andei até a porta.

— Se quiser conversar... ou só sentir, de novo... eu tô aqui.

Fechei a porta atrás de mim. E deixei o silêncio fazer o resto.

No dia seguinte, o calor apertou de um jeito que só se resolve com água corrente. Eu aproveitei pra descer até o rio com a Bárbara.

Tirei a roupa ali mesmo, ficando só de sunga. A água estava gelada, e o choque deu um arrepio bom que percorreu todo meu corpo. Mergulhei uma, duas, três vezes, deixando o corpo afundar até onde dava. Quando voltei à superfície e passei a mão no rosto, senti. Um par de olhos.

Olhei pro outro lado da margem e vi Francisco. Em pé, apoiado em uma árvore, o boné escondendo parte do rosto, mas não os olhos. Estavam ali, cravados em mim.

Fingi que não notei. Mas cada movimento meu passou a ser mais lento, mais consciente. As gotas de água escorrendo do meu peito, das minhas costas, descendo pela minha cintura. De repente, estar molhado demais virou arma.

E eu usei.

Ele não se mexeu. Só ficou ali. Assistindo.

No outro dia, quase no fim da tarde, fui tomar banho de mangueira nos fundos da casa. A Bárbara já estava ali, me esperando, e me deu um susto jogando o primeiro jato d’água no meu peito. Gritei e ela caiu na risada. Peguei a mangueira da mão dela e revidamos, os dois molhados, brincando feito criança.

Foi então que Rafael chegou.

— Ah, perdi a farra? — disse, tirando a camisa.

Sem cerimônia, veio direto até mim e começou a me ajudar a segurar a mangueira, depois passou a jogar água no meu rosto, depois no peito, e quando vi, ele já estava me tocando mais do que eu esperava. As mãos firmes, o sorriso no canto da boca, os dedos encostando nas minhas costelas, me fazendo rir sem querer.

E aí, como se um relâmpago tivesse cortado o céu limpo, senti.

Francisco.

Estava ali, parado na varanda da casa, com o olhar cravado na cena. Um olhar que queimava.

Bárbara entrou na casa depois de ver o Diego e eu fiquei ali com o Rafael, sentindo o calor do sol começar a diminuir. Ele parou por um instante olhando pra cima.

— Vai encarar o pôr do sol sozinho? — brinquei.

Ele sorriu de leve, mas não retribuiu com a mesma leveza de antes. Havia algo nos olhos dele. Um peso.

— Tava esperando você vir olhar comigo, na verdade.

Sentamos na grama, um ao lado do outro. Ficamos alguns segundos em silêncio. O tipo de silêncio que fala mais do que qualquer palavra.

— Samuel... — ele começou, olhando pra frente — eu não sou de ficar criando coisa na cabeça. Mas também não sou idiota.

— Que foi?

— Você e o Francisco. — falou direto. — Tá rolando alguma coisa?

Meu corpo ficou tenso. Não respondi de imediato.

— Por que tá perguntando isso?

— Porque eu gosto de você. E gosto demais, não só pelo o que aconteceu entre a gente, mas, por quem você é — respirou fundo — Mas... eu vejo como ele olha pra você. E, mais do que isso, vi como você olha pra ele.

— Rafael... — comecei, mas ele levantou a mão, pedindo pra continuar.

— Eu não tô aqui pra disputar nada, até achei que ele só queria me zoar, como sempre faz. Só quero saber onde eu tô pisando, pra não me machucar sem necessidade. Se tem alguma coisa acontecendo, me fala. Eu aguento. Só não quero ficar fazendo papel de bobo.

Baixei o olhar. Respirei fundo.

— Eu não sei o que tá acontecendo, Rafa. De verdade. Ele não fala. Eu não entendo o que ele sente... e nem sei direito o que eu tô sentindo. Foi tudo muito confuso. E rápido.

— Vocês se beijaram?

A pergunta cortou como faca.

Demorei.

— Foi uma vez... e ele se afastou logo depois.

Rafael olhou pro chão e balançou a cabeça devagar.

— É. Foi o que eu pensei.

— Mas isso não muda o carinho que tenho por você. Nem apaga o quanto me faz bem estar com você também.

Ele me olhou com tristeza nos olhos, mas sem raiva.

— O problema é esse, Samuel. Eu não quero só ser alguém que “te faz bem”. Eu quero ser a escolha. E se no fundo do seu peito ele já foi escolhido, mesmo que você não admita... então me diz agora, antes que doa mais.

— Rafael... eu não sei o que vai acontecer — falei baixo, quase num sussurro. — Eu gosto do Francisco. Mas é tudo tão esquisito com ele. Um passo pra frente, dois pra trás. Parece que a gente tá andando num chão que some quando a gente pisa.

Ele ficou em silêncio por um tempo. A respiração pesada. Olhei pra trás, Francisco ainda estava no mesmo lugar, observando.

— É... — ele suspirou, com um sorriso triste. — Sempre foi assim. Desde moleque, o Francisco tem esse jeito de... não querer aparecer, mas todo mundo olha pra ele.

— Parece que ele nem tenta chamar atenção, Rafa...

— Eu sei — cortou gentilmente. — E talvez esse seja o problema. Porque ele não precisa. As pessoas simplesmente gravitam em volta dele. E você... bom, você sabe disso.

Levantei o olhar. Tentei falar alguma coisa, mas ele continuou.

— Eu só não quero virar uma sombra. Ficar aqui do seu lado esperando você resolver o que sente, enquanto eu finjo que não tô me machucando. Eu não consigo fazer isso.

— Eu não quero te magoar — disse, sincero. — Eu me importo com você.

— Eu sei que se importa — ele assentiu. — Mas tem uma diferença entre se importar... e escolher. E eu não vou forçar a sua escolha. Só vou dar um passo pra trás. Me afastar um pouco.

Fiquei em silêncio.

— Isso não é um adeus, tá? — ele completou, se levantando. — Só... me chama se algum dia você souber que quer caminhar comigo, sem dúvidas. Até lá... eu vou cuidar de mim.

Assenti devagar, engolindo seco. Ele passou a mão de leve no meu ombro e beijou meu rosto com cuidado. Levantou em seguida. Vi Rafael se afastar em direção a porta, parou do lado do Francisco, falou alguma coisa e entrou, sumindo.

Fiquei ali, sozinho com o pôr do sol e o som do mato. Pensando no que eu estava fazendo com o coração de dois homens... quando nem o meu parecia ter certeza de nada.

Naquela noite, ele não me deu boa noite, ficou me encarando na mesa do jantar, olhava, desviava e voltava a reparar em todos os movimentos que eu fazia.

Frio. Quieto. Lindo.

E eu? Eu retribuí.

Se ele queria ser distante, eu sabia fazer igual. Não provoquei. Não brinquei. Não procurei. O ignorei como ele merecia.

Mas com Francisco, isso era o mesmo que jogar gasolina em fogo baixo.

Cada movimento meu era motivo pra ele me seguir com os olhos, parecia que estava pensando muito e em nada ao mesmo tempo.

— Essa semana vai começar a ficar mais frio, o inverno tá começando, as temperaturas vão baixar rápido por aqui — Bárbara falou — O que acha que usarmos a cabana que tem perto daquele lago e montar uma fogueira, Chico?

— Tudo bem, só precisa organizar as coisas, deve estar empoeirado lá, faz tempo que não uso o espaço — disse, sem levantar os olhos

— Eu e o Diego podemos fazer isso amanhã e no final de semana já estará tudo pronto, limpinho, vai ser gostoso — ela animou

— como vocês preferirem

— Não se esqueça que temos que ir embora já na próxima semana, as aulas da faculdade vão voltar e eu quero me organizar – Falei olhando a Bárbara

— Eu sei, podemos voltar aqui no término do semestre de novo, essas últimas semanas foram incríveis né — deitou no ombro do amado.

Nossos olhos se cruzaram por um segundo a mais do que o normal. Ele respirou fundo e voltou a encarar o prato. Fingiu beber água, mas a jarra ainda estava cheia.

Diego e Bárbara começaram a falar sobre a trilha que queriam fazer no sábado, mas eu já não ouvia direito. Tudo em mim estava voltado para a tensão que se armava entre mim e Francisco como um campo elétrico invisível, pronto pra explodir no primeiro toque.

Levantei da mesa e fui até a cozinha, Marlene já não estava mais lá.

— Você sabia que a gente ia embora? — perguntei, quase num sussurro, assim que vi ele cruzando a porta.

Ele demorou a responder.

— Sabia — disse, baixo também. — Só não achei que fosse tão logo. Já estava me acostumando a ter ajuda.

— Um mês parece pouco quando a gente não presta atenção no tempo e, você tem muitos funcionários aqui.

— Mas, é melhor quando a ajuda faz massagem — soltou, perto demais de mim.

Essas palavras me pegaram de surpresa. Fiquei em silêncio por alguns segundos, sem saber se respondia ou se apenas deixava a frase pairar entre nós dois, como fumaça.

— Amanhã cedo eu vou cuidar da limpeza da cabana — ele disse, tocando o meu rosto com a ponta dos dedos — Se quiser ir junto... — parou, pensou melhor — ...ou só aparecer depois, fica à vontade.

Levou o prato pra pia e saiu devagar, como quem sabe que deixou algo inacabado pra trás.

O céu ainda estava pintado de cinza quando eu abri a porta da cozinha. A brisa fria da manhã arrepiou os pelos do meu braço e, por reflexo, abracei o próprio corpo. Marlene já estava de pé, dobrando panos de chão com uma agilidade invejável.

— Trouxe as roupas de cama limpas, como pediu, menino — disse, colocando tudo em uma sacola plástica grande. — E botei sabão, vassoura, pano... tá tudo aqui.

— Obrigado, Marlene — sorri de leve, tentando disfarçar a ansiedade. — Bárbara já acordou?

— Ainda não. E se acordar, vai ter que aceitar que você foi antes — ela piscou. — Deixei o recado direitinho, como pediu.

Empilhei o material de limpeza e os lençóis na carroceria da caminhonete. Vestia uma camiseta de malha justa e uma calça de tactel fina, já meio suja do barro do quintal. Quando virei pra ajustar uma das cordas, ouvi passos pesados atrás de mim.

Francisco apareceu, a expressão ainda amassada de sono, mas os olhos atentos.

— Não esperava te ver aqui tão cedo.

— Achei melhor dar uma adiantada. O dia parece que vai virar. Pedi pra Bárbara não subir hoje. Achei que... seria melhor arrumar isso só nós dois.

Ele assentiu, lento. Os olhos demoraram um segundo a mais no meu rosto.

— Tá certo.

**

A trilha até a cabana era coberta de folhas molhadas, o chão escorregadio em alguns pontos. Deixamos a caminhonete perto de uma cerca baixa e seguimos a pé o resto do caminho. O vento frio cortava entre as árvores, mas eu nem sentia direito. Meu foco era o som ritmado dos nossos passos, o silêncio denso entre nós, e como, vez ou outra, Francisco me olhava de lado — rápido, mas o suficiente pra eu perceber.

Quando chegamos à cabana, o tempo parecia ter congelado ali. O ar era mais úmido, as janelas cobertas por teias, o cheiro de madeira e terra tomava o ambiente.

— Vou abrir as janelas pra ventilar — falei, entrando com as sacolas.

— Eu varro primeiro, depois você passa o pano — ele respondeu, já pegando a vassoura.

Trabalhamos em silêncio por longos minutos, nossos corpos se cruzando vez ou outra no espaço. Os braços dele levantavam a camisa quando ele alcançava as partes mais altas da parede, revelando parte do abdômen definido, coberto por uma fina linha de pelos. Eu desviava o olhar, mas nem sempre a tempo.

A cada troca de lençol, a cada toque acidental, era como se o ambiente ficasse mais apertado, mais carregado. O som do pano molhado contra o chão era o único que quebrava aquele silêncio carregado de tudo o que a gente ainda não estava dizendo.

— Tá ficando bom aqui — ele disse, finalmente.

— Faltou só uma coisa.

— O quê?

— A gente se molhar no rio. Faz parte do ritual de limpeza, não faz?

Ele riu, curto.

— Só se você aguentar o frio.

**

A água estava gelada, mas mesmo assim a sensação era boa. Eu entrei primeiro, e ele veio logo depois, mergulhando com o corpo inteiro. Quando emergiu, passou as mãos nos cabelos e piscou os olhos devagar. As gotas d’água escorriam do peito largo até a cintura, e mesmo com o frio, eu não consegui deixar de olhar.

— Vai querer correr o risco de pegar gripe? — ele disse, sorrindo.

— Já tô molhado mesmo.

Mas, de repente, o vento apertou e logo os primeiros pingos começaram a cair do céu, grossos e espaçados.

— Merda... — ele resmungou.

— Corre!

Subimos a trilha rindo, encharcados, os pés afundando na lama. Chegamos na cabana arfando, com os cabelos grudados no rosto e a camiseta colada ao peito.

Francisco trancou a porta e apoiou a mão na madeira por um momento, tentando recuperar o fôlego. Eu estava encostado na parede oposta, tentando fazer o mesmo.

Nossos olhares se cruzaram. A chuva do lado de fora batia forte no telhado de zinco.

O silêncio voltou — aquele tipo de silêncio que diz mais do que qualquer palavra.

E eu sabia... a tempestade não estava só lá fora.

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Comentários

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Um sussurro, um arrepio

A água gelada do rio

A corrida, a chuva

Um olha e a esperança

Bora Francisco...

Corre, abraça, beija...

Entra na dança.

Nossa tá muito bom, rsrs mas, espero que os fatos se concluam... o conto é ótimo falta o Francisco ir em frente.

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Francisco tem se libertador da dor para viver o amor.

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PORRA, ESSE FRANCISCO PRECISA SE DECIDIR DE UMA VEZ O QUE QUER FAZER. OU DAR OU COMER OU LIBERAR PRO RAFAEL. PARECE MOSCA DE PADARIA.

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