ARMADILHA
O dia finalmente tinha chegado.
Sete e dez da manhã e Bya já tinha acordado. Não era insônia — era desejo. Ainda deitada, esticou os braços com preguiça, alcançou o celular e digitou sem pensar muito, com o coração acelerado:
“Não vejo a hora de chegar 11h30... tô aqui contando os minutos.”
Ela sabia que ainda era cedo, mas, depois de ontem, não podia correr o risco de alguma coisa dar errado de novo. Além do mais, queria que ele soubesse que ela estava pensando nele.
Fechou os olhos com o aparelho na mão, imaginando a resposta, como seria aquele encontro, os beijos...
Mal saiu da cama e já estava com um grande problema: o que vestir? Sem roupa nova, sem dinheiro e sem ideias — por que será que isso a deixava tão nervosa? Procurava roupas na internet em busca de alguma ideia.
Quase duas horas depois, o celular vibrou.
“Poxa, Bya, acordou cedo... Eu tô quase de saída, mas tá corrido. Preciso ainda dar um jeito aqui no quarto e limpar o carro antes de sair. Depois vou pagar uma conta, ir pra academia... Mas te encontro no posto, só não atrasa porque não vou ficar muito, ainda tenho que pegar a estrada depois.”
Ela releu devagar, a parte final — “não vou ficar muito” — acabava com ela, mas ainda deixava esperança.
Mesmo assim, usou da intimidade para deixar as coisas mais leves:
“Ahh sei, então já que é assim, eu posso te esperar lá na academia! A gente já vai junto. Se quiser, te levo um suco, quer?”
“Melhor não, né? Se o pessoal o pessoal do treino me vê saindo com você de novo, vão começar a pensar besteira...”
Foi um golpe seco. E o pior: silencioso. Uma vergonha que ninguém viu, mas que a magoou por dentro.
Ainda assim, digitou rápido:
“Ah, claro... tem razão, melhor mesmo. Vou direto no posto então.”
Levantou da cama num silêncio tenso. A vergonha se misturava com a vontade de parecer linda — queria estar maravilhosa. Estava magoada, mas continuava com um desejo dele. Era cruel — e totalmente familiar.
Decidiu improvisar com o que viu na internet. Pegou um jeans velho, cortou bem acima do joelho e fez um desfiado na barra. Vestiu a camiseta branca e larga de sempre, dobrou as mangas com cuidado, deixando o braço mais à mostra. Prendeu com um nó discreto nas costas, só pra marcar a cintura. O tênis também era o mesmo, mas limpou com sabão e escova, depois da vergonha de ontem com as garotas no ônibus.
No espelho do armário, viu a cara de sempre. Não estava se sentindo bem e nem especial como ontem. Sentia raiva e escovou rápido o cabelo para não se atrasar. Só passou um pouco de hidratante nos ombros e no colo. Guardou o batom e o lápis preto na bolsa capenga. Saiu de casa quase de cara limpa, para não ter problemas e nem chamar demais a atenção dos tios.
— “Vou só resolver umas coisas no centro, levar uns currículos.” Era a desculpa perfeita...
No caminho, estava nervosa, sentia-se insegura... Pensava que queria ser bonita igual à mulher da loja de lingerie. Desceu quatro pontos depois do posto só para poder usar o perfume de amostra grátis da perfumaria e terminar de se arrumar no banheiro da praça. Trancou a porta, abriu a bolsa e se olhou no espelho rachado.
Passou o lápis preto nos olhos tentando imitar um delineador, um pouco de batom nas bochechas e, por fim, o batom vermelho nos lábios. Olhou o reflexo e ajeitou a blusa. O sutiã era velho, mas os seios estavam firmes. O calor do banheiro já estava insuportável. Lembrou de prender o cabelo, fez o mesmo rabo de cavalo de ontem — bem alto — e gostou. O resultado era quase ruim, mas para ela foi suficiente para se sentir melhor.
Respirou fundo. Estava pronta.
Foi caminhando devagar até o posto, para não transpirar demais. Mal chegou, foi correndo até o banheiro se recompor — tomou um pouco de água da pia mesmo e se secou com papel higiênico. Só mais uns quinze minutos e ele viria. Respirava fundo para se acalmar, queria parecer relaxada quando ele chegasse. No espelho, olhava o rosto pintado, ensaiando o melhor ângulo.
Eram 11:33 e Bya já estava parada em frente à conveniência do posto, com o batom vermelho impecável, o cabelo preso num rabo alto como a vendedora sugeriu, sentindo o perfume adocicado que usou na loja — será que exagerei?, pensava. Olhava o telefone e via o movimento na avenida tentando disfarçar o nervoso. Ele estava atrasado — e ela já imaginava que isso ia acontecer. O sol batia forte no asfalto não muito longe dali. Sentia o calor umedecer a pele entre os seios, mas, por dentro, o calor era outro: um misto de expectativa, desejo, fantasia.
Diogo apareceu era quase meio-dia. O Fiat Bravo preto surgiu reluzente, contornando a esquina do posto — elegante — com os vidros escuros baixando devagar. Parou o carro na única vaga. Ela veio de encontro, sorrindo igual uma boba.
Lá estava ele: óculos escuros, cabelo úmido da academia, camiseta cinza justa no peito suado. Lindo, como ela imaginava. Ele puxou a maçaneta para ela entrar.
— “Oi, primeiro entra aqui, depois a gente pensa na cerveja,” disse, batendo a mão no banco com um sorriso largo.
Ela se inclinou para cumprimentá-lo com um beijo no rosto, mas ele virou a cabeça devagar.
— “Ei... não era assim que eu achei que você ia me cumprimentar. Tá me devendo um beijo, lembra?”
Bya mordeu o lábio sem saber o que dizer. Só sorriu. Ele se aproximou devagar, o coração disparado.
— “Você tá gata demais... antes de chegar aqui, tava quente por causa do sol, mas agora é por sua causa, Bya.” Ele falou tirando o cinto de segurança do próprio corpo e puxando-a pela cintura.
O beijo foi quente, pegado, intenso.
Dessa vez, não houve hesitação. Ela sentiu o corpo másculo dele contra o seu, o braço forte envolvendo sua cintura e a mão segurando firme sua nuca. O cheiro do carro, o suor dele, o som abafado da música — era tudo como ela tinha pensado. Muito melhor que o primeiro encontro.
Quando se afastaram, a boca dela estava um pouco borrada, mas ele nem disse nada.
— “Acho melhor você buscar as cervejas. Eu não vou conseguir levantar agora...” disse ele, apontando com os olhos para o calção de academia, onde o volume evidente do membro denunciava o que ela tinha provocado.
Ela riu, nervosa, se sentindo no topo do mundo.
— “Essa eu pago,” ela disse, descendo com a bolsa. “Pra retribuir o outro dia.”
Diogo não recusou, nem agradeceu. Quando ela voltou, ele estava no celular, enviando mensagem. Ele abriu a cerveja dela, fizeram um brinde e conversaram. Ele falava sobre a prova difícil da semana, o churrasco que ia com os amigos, os professores implicantes, os porres, as ressacas e até os planos para o fim de semana. Era quase um moleque falando da vida, contando vantagem, mas ela estava adorando. Saber mais das coisas dele era tudo que ela queria. Ela, por sua vez, não dizia praticamente nada de si — morria de medo que a sua vida simples o fizesse mudar de ideia.
O olhar dele às vezes a incomodava — ele falava com os olhos percorrendo seu corpo, a deixando insegura. Sentia vergonha da roupa, do tênis — ela não se sentia como a maioria das meninas da academia. E do nada, a mão dele foi parar na perna dela exatamente onde estava o machucado do tombo do outro dia.
— “Já tá melhor, desastrada?” ele perguntou rindo, com um toque firme.
— “Estica sua perna aqui pra eu ver...”
Por essa ela não esperava. Em segundos, lembrou da depilação atrasada por pura preguiça. Tentou só erguer e mostrar de longe, mas ele foi de encontro com as mãos, buscando a perna dela e a esticando de volta, apoiando-a em seu joelho.
Aquilo era um misto de ousadia e normalidade que ela não sabia interpretar. Sentia as mãos quentes segurando sua panturrilha e os dedos subindo e descendo lentamente, sem passar do limite. Ela contava de novo a história do tombo, repetia trechos, estava nervosa...
O calor do dia, o calor das mãos dele, junto com o calor do banco de couro, esquentavam tudo. Ali estava ela: numa intimidade que nem ela mesma poderia imaginar — dentro do carro dele, com sua perna esticada sobre o colo dele. E, mesmo sem querer, era quase obrigada a olhar pro seu calção longo que marcava as coxas grossas e o volume firme entre as coxas.
E foi bem aí, nesse exato momento — íntimo e erótico — que Bya teve certeza: estava quase apaixonadinha pelo Diogo. Ela desviava o olhar, o espiava quando ele não percebia. Ainda não conseguia encará-lo por muito tempo como ele fazia.
— “Bom... acho que você já deve estar querendo ir embora, né...Ainda vai viajar...”
— “Na real, pensei em dar uma volta contigo antes. O que você acha? Aqui tá meio barulhento, cheio de gente... Conheço um lugarzinho mais de boa...”
Ela não questionou, apenas sorriu, pegando as latas vazias para jogar fora.
— “Então faz assim: pega lá mais duas pra gente, enquanto eu abasteço. Tô com grana aqui.”
Quando ela voltou da conveniência, Diogo estava fora do carro, com os braços esparramados sobre o capô. Era mais alto do que ela lembrava — com ele ali dentro do carro, não parecia tanto, pensou. Ele conversava com o frentista — um senhor bem mais velho, barbudo, com uniforme do posto e boné.
Ao vê-la chegar, Diogo passou o braço ao redor dos ombros dela.
— “Essa aqui é minha amiga, a Bya,” disse, sorrindo com aquele olhar debochado. “Mas ela é Bya com ‘Y’, não é, Bya? Fala pra ele...”
— “Oi, Bya,” disse o frentista. “Eu sou o Alexandre com ‘X’.”
Os dois caíram na risada.
— “Prazer...” ela respondeu, meio sem jeito — e pela cara dela, só os dois tinham achado graça.
O carro seguiu pela avenida por vários quarteirões, atravessou a ponte e fez um retorno. De alguma forma — que ela não entendeu — foram parar numa praça de bairro, bem em frente ao posto, mas do outro lado do rio. Era bonitinha, discreta, pequena, com árvores grandes de ipê amarelo. Ele estacionou com calma, subiu os vidros e abriu o teto solar do carro.
Era lindo olhar as flores do ipê dali de dentro. O som suave, o ar abafado e aquele cheiro de couro misturado ao perfume dele faziam Bya arrepiar.
Ele se virou, sem dizer nada, e veio de novo. O beijo, dessa vez, foi mais longo, mais íntimo. As mãos dele foram mais ousadas, deslizando pelas costas dela, subindo pela lateral da camiseta até encontrar o contorno dos seios por dentro do sutiã. Não apertou com força — só o suficiente para deixar a pele dela queimando de vontade.
— “Você é cheirosa, Bya... e gostosa também,” ele murmurou ao pé do ouvido, com a barba por fazer roçando a pele dela.
Ela suspirou baixinho e fechou os olhos, sem nenhuma reação.
Sentia o quadril dele tentando vir de encontro ao seu, o banco de couro rangendo de leve a cada movimento. O carro escuro, o calor abafado, o cheiro de cerveja... era como um filme — um que ela não queria que acabasse nunca.
Diogo lentamente enfiou a mão por dentro da camiseta dela, seus dedos ágeis soltando os seios do sutiã com cuidado, como se já tivessem feito aquilo mil vezes. Ele beijava o pescoço dela enquanto uma mão firmava sua nuca e a outra acariciava os bicos do seio — já duros, excitados. A pele dela, úmida pelo calor abafado dentro do carro, deixava tudo mais fácil — o toque deslizava e fazia Bya se contorcer suavemente no banco.
Ela arfava, tentando conter o som da respiração. Diogo roçava os lábios nos dela, nos cantos da boca, nas bochechas... e murmurava em voz baixa:
— “Você é muito linda... Uma mulher especial. Muito mais do que imagina.”
Ela só conseguia acenar com a cabeça, muda e querendo acreditar.
— “Você tá gostando, tá?” ele dizia com uma espécie de ternura fingida, enquanto a olhava de longe. Ela, de olhos fechados, as mãos apertando a espuma do banco, se derretia por dentro. Sentia as pernas trêmulas, os mamilos duros, os lábios molhados e a respiração descompassada. Estava inteira entregue.
A mão que segurava o pescoço dela desceu devagar até encontrar a dela — tensa, agarrada ao couro quente do banco. Ele envolveu seus dedos com os dele e, aos poucos, os direcionou para o seu próprio corpo. Quando ela percebeu, sua mão estava sobre o volume duro sob o calção da academia. No reflexo, tentou puxar a mão, mas Diogo a trouxe de volta, pressionando levemente, guiando o toque. Só o tecido fino agora separava seus dedos da pele dele.
Bya ficou paralisada por um segundo. O coração batia na garganta. Ele mantinha o olhar preso no dela e disse baixinho, com um meio sorriso:
— “Não precisa ter medo... É só você e eu aqui.”
Ela sentia o calor do membro dele por baixo do tecido fino, a rigidez palpável. Ficou ali com a mão parada, insegura, mas entregue. O couro do banco rangia a cada movimento. A música do carro era quase inaudível agora — o barulho era só da respiração ofegante, do ranger do banco, dos beijos úmidos e dos toques.
Por um instante, Bya se esqueceu onde estava. Esqueceu a pracinha, o frentista, o posto, o tio, a prima — tudo. Era como se aquele carro fosse um mundo à parte — e Diogo uma armadilha, no centro de tudo que ela mais queria.
Ele passou a língua devagar no canto da boca dela e voltou a beijá-la com mais força. A mão áspera da musculação continuava brincando com os seios, apertando, puxando de leve os bicos, fazendo-a soltar pequenos gemidos. Tudo era intenso, abafado, erótico. O sol batia forte no asfalto, mas ali dentro o calor vinha de outro lugar. Ela tentou se controlar, mas acabou tremendo de leve — e se molhou inteira.
Ele sorriu, satisfeito com o que tinha acabado de acontecer. Olhou nos olhos dela dizendo:
— “É isso aí, Bya..., que bom...”
Ela, confusa, fechou os olhos, emocionada. Ria quase sem querer, meio envergonhada. Pela primeira vez, sentia-se desejada de verdade. Quase disse alguma coisa, mas sua voz não saía. Ele apertou sua mão contra o volume com mais firmeza. Ela sentiu a pulsação dele ali, vibrando por dentro.
— “Você sabe o quanto me deixa louco?”
Aos poucos, o beijo de Diogo se tornava mais demorado, mais úmido e invasivo. Ele não era só o cara bonito da academia com sorriso fácil — agora, era um homem no controle. As mãos dele percorriam o corpo dela como quem decora um caminho fácil, e, cada vez que ela hesitava, ele vinha com algum elogio ou provocação sussurrado:
— “Tá vendo como você é minha?” — ele murmurou, enquanto os dedos marcavam sua cintura por dentro da blusa. — “Nem precisa me falar nada, Bya. Eu sinto.”
Ela engolia seco, sem reclamar de nada, quase derretida.
O calor do carro, misturado ao som abafado da cidade e aos toques dele, criava um torpor — como se ela estivesse fora do mundo. Quando percebeu, sua mão de alguma forma já estava dentro do calção, guiada por ele próprio. Sentia a pele dele viva e quente, rígida... e o cheiro. Um cheiro forte, um suor espesso, diferente. Tinha algo primitivo naquilo — e também bastante desagradável.
Ele inclinou o corpo para o lado e, com um gesto lento, puxou o calção pela perna, deixando à mostra o membro ereto, úmido de calor, pulsando. Ele recostou de novo no banco, relaxado, como se aquilo não fosse nada demais. Os olhos dela se fixaram ali, a respiração se prendeu, como se o corpo não obedecesse mais. Mas ela não reagiu. Não se mexeu. Os segundos se esticaram. Longos demais. Ele estava tranquilo de olho no movimento da rua, virou o rosto, encarando-a. Um meio sorriso apareceu. Calmo, talvez cínico, até.
— E aí Bya, vai ficar só olhando? — ele perguntou num tom bem humorado, mas firme — Tá esperando que eu te peça por favor?
Ela olhou para frente, para os lados. A pracinha estava calma, mas ainda tinha trânsito, alguns carros passavam na rua. Uma senhorinha caminhava com um cachorro ali perto. A insegurança dela se mesclava com a excitação. Havia risco. E isso fazia tudo ser pior.
— Tá com medo, né? — ele se inclinou e sussurrou, mais perto do ouvido dela.
— Relaxa vai, eu tô aqui. Eu cuido de você.
Ele deu um beijo mordido nos lábios dela a puxando lentamente pela nuca, fazendo-a encostar o rosto em seu ombro. E dessa vez, sem ter que guiar ou pedir, a mão dela tocou no corpo dele pela primeira vez – o seu peitoral era firme, quente e úmido, a outra mão deslizou nos pelos da coxa... Agora ela era guiada só pelas suas vontades.
— Sabe o que eu mais gosto em você? — disse, segurando o queixo e a encarando nos olhos. — É que você tem cara de que nunca faria isso. Mas tá aqui. Comigo. Porque você quer... porque eu te escolhi.
Ela não respondeu. Ficou ali, com o rosto apoiado no ombro dele, enquanto olhava preocupada o movimento ao redor. O carro tinha vidros bem escuros, mas ainda estavam na rua, expostos... Alguns carros passavam ao lado, ouvia-se buzinas, a senhora com o cachorro agora estava mais perto. Pessoas caminhavam como se nada estivesse acontecendo.
Mas mão dele continuava ali, no rosto dela — firme, gentil. Alisando o cabelo dela, como se tudo estivesse seguro e aquela fosse só mais uma sexta feira bem comum. O membro dele também continuava ali, exposto, ereto, latejando – esperando uma iniciativa.
Então ele sentiu — quase imperceptível no começo — o peso da cabeça dela se soltando do ombro. O movimento era lento, quase hesitante, mas contínuo. Deslizou pelo peito dele, como se procurasse onde cair. Ele não se mexeu. Apenas observou comemorando a rendição.
Ele sorriu, satisfeito. Por um instante achou que ela fosse recuar — mas não. Ela se aproximou com o rosto devagar, ele pegou seu membro com a mão e retraiu o excesso de pele que cobre a glande, como quem prepara a cena.
O nariz dela tocou a pele quente. O cheiro veio forte. cru, salgado, misturado ao suor. Ela sentiu o estômago revirar, mas disfarçou. E foi nesse instante, com os olhos fechados por um segundo, que pensou: talvez não devesse ter vindo.
— Vai Bya... — ele sussurrou. — Só um pouquinho, a gente já está aqui mesmo... Depois te levo onde você quiser.
Ela não disse nada. Só abaixou a cabeça e tocou primeiro com a língua e depois com os lábios, devagar, como se ainda pudesse voltar atrás. O movimento ainda era incerto, sem ritmo. O olhar perdido, entre a maçaneta da porta e o vidro escuro a sua frente. Não havia prazer ali, só o medo de estragar tudo.
— Isso, Bya... assim, continua, Tá me deixando doido... — ele a elogiava, como quem treina um cão obediente.
Ela se ajeitou no banco, puxou o rabo de cavalo para o lado e segurou o membro com a mão. Finalmente, Diogo sentiu os lábios dela o envolverem — a sucção, quente e úmida, subindo e descendo até os pelos do seu colo. Mas o ritmo era sempre interrompido. O corpo dela seguia tenso, vacilante. Ela parava, tentava se afastar com gestos discretos, mas ele não dava espaço.
— Vai parar agora? Que maldade a sua... vai me deixar assim antes de ir embora?
O tom era leve, mas havia algo de ameaça. E ela entendeu. Parar ali talvez seria estragar tudo.
— Vai, Bya... — ele dizia baixinho. — Você não quer terminar isso pra mim. Você é tão especial... Me mostra...
Embora ela tivesse melhorado bastante ele ainda sentia um pouco de hesitação, sem ritmo, sem muita entrega. E antes que ela recuasse novamente, ele a segurou pelo rabo de cavalo e avançou, seu quadril ia de encontro ao rosto dela com calma e voltava se afundando de volta no banco quente. Tudo ali parecia seguir o compasso dele — até o ar.
Ele dizia sussurrando:
— Isso, fica assim pra mim, vai...
Ele se movia devagar dentro da boca dela, o banco de couro rangia enquanto ela tentava controlar a respiração e engolir ao mesmo tempo. Seus olhos já estavam úmidos, e Diogo percebeu que de repente ela mesma retomou o ritmo. — ela agora o chupava com vontade segurando o membro firme pela base numa corrida para que aquilo acabasse, ele apoiou as mãos de novo em sua cabeça e o gemido abafado veio acompanhado pelo jato quente e inesperado. Bya não engasgou, só tentou se afastar por reflexo quando ele disse:
— Ei, calma garota... não vai sujar aqui dentro, hein...
Ele a soltou depois que se acalmou, soltando um suspiro longo e relaxando no banco. Passou a mão pelo cabelo e tomou um gole da cerveja.
Ela se levantou rapidamente, aflita, e tentou abrir a porta para cuspir, tava trancada, o vidro não descia.... O gosto quente daquele volume aumentava dentro da sua boca, e, ela então simplesmente engoliu. O olhar dele era de aprovação, e sorria como se estivesse satisfeito.
— Olha aqui pra mim, Bya... caramba, hoje você foi 10 demais.
Ela sorriu por costume e não sabia o que pensar. Soltou o elástico do cabelo e se ajeitou no banco afivelando o cinto como quem pede pra ir embora. Sentia o rosto queimando, a boca amarga e o coração, estranho. Encontrou um olhar perdido quando se viu no espelho do quebra-sol, o batom tinha quase desaparecido por completo, assim como ela.
Ficou em silêncio enquanto ele ligou o carro e abriu as janelas. O som da cidade agora parecia insuportável. Sentiu o ar gelado vindo do painel refrescar sua pele e seus pensamentos... E ele se debruçando em silêncio sobre ela com um beijo carinhoso, quase apaixonado, pegando em seu cabelo e fazendo carinho em seu rosto - de repente nem tudo parecia perdido.
O carro saiu da vaga debaixo das árvores. Sem mais palavras.
— Tá tudo bem aí, Bya? Perguntou oferecendo a cerveja.
Ela fez que sim em silêncio, ainda meio anestesiada. Mas, por dentro, uma mistura de sensações a consumia: era vergonha e um certo arrependimento, junto com uma frustração e tesão secreto que não conseguia admitir. No fundo tinha medo de perde-lo, mas nada a fazia desistir da ideia de que aquele homem lindo a desejava. Ela estava no carro com ele, de novo. Ela tinha sido escolhida.
O carro seguiu em silêncio por alguns quarteirões. Ele dirigia cantando baixinho a música do rádio, batendo os dedos no volante com uma das mãos. Vez ou outra, pousava na coxa dela — como se já fosse o lugar certo. Bya não afastava. Não tinha como. A mão dele, quente, firme, parecia ter o direito de estar ali.
— Eu gosto de você quietinha assim, sabia? — ele disse, sem tirar os olhos da rua. — E você gostou de mim?
Ela soltou um “uhum” quase irritado, mas infantil. E ele riu, talvez sem perceber.
Estava inquieta, desconfortável no banco de couro, sentindo a calcinha molhada entre as pernas enquanto cruzava e descruzava as pernas. Só pensava em voltar logo pra casa, mas sabia que ainda ia demorar — até que não aguentou mais e precisou pedir:
— Diogo... será que... antes de me deixar no ponto... dá pra parar ali no posto de novo? Eu tô muito apertada. Não vou aguentar até chegar em casa.
Ele franziu a testa, meio contrariado:
— Não consegue segurar mesmo? eu te levo então.
Voltou pela rua devagar. O carro deslizou até o posto de sempre.
Diogo estacionou. Quando ela abriu a porta pra sair, ele disse brincando:
— Vai lá e não demora hein, senão te deixo aqui só volto te buscar semana que vem...
Ela correu em direção ao banheiro, tentando não tropeçar. No espelho do lavatório, o reflexo não perdoava: marca de batom perto da orelha, olhos úmidos inchados, rosto vermelho, cabelo bagunçado... ela precisava urgente restaurar a dignidade antes de voltar pra casa. Lavou o rosto com o sabonete de pinho do posto, limpou os braços, esfregou as pernas como se tivesse pecado. Depois tentou ajeitar o cabelo com as mãos molhadas, e se olhou no espelho. Não estava perfeita, mas... já dava pra dizer que era uma cidadã respeitável de novo. Ou quase.
Quando voltou, viu Diogo com a cerveja na mão e uma sacola na outra. Ela havia esquecido, mas entendeu tudo no mesmo segundo - eram as roupas sujas dele...
Mal tinha visto a sacola, e do nada, tomou um susto com o frentista saindo de trás do porta malas segurando uma outra sacola...
— Olha ela aí de novo... ele comentou com um sorriso torto. — Ué, tirou o batom, foi, Bya? tava bonito antes...
Ela sentiu o rosto queimar. Não sabia se era raiva ou vergonha.
Diogo sorriu, como se nada tivesse acontecido, e disse enquanto mostrava as sacolas:
— “É pra facilitar, né...” — ele comentou, colocando as sacolas no banco de trás pela janela aberta.
— “Lá na rua do seu ponto é ruim de parar... assim eu não preciso descer de novo.”
— “Claro... claro...” — respondeu ela, sem expressão. A cabeça começava a borbulhar com pequenas frustrações.
No caminho até o ponto de ônibus, Bya se encheu de pensamentos. O gosto ruim na boca voltou a incomodar e silêncio dentro do carro era pesado...Quanto será que tinha ali de roupa? Como é que ela ia chegar em casa com aquelas sacolas?
Ela quase não acreditava que tinha se oferecido pra lavar a roupa dele...Do nada ficou irritada e começou a repensar tudo - será que vale a pena tudo isso?
Mas, como se ele pudesse adivinhar os pensamentos dela, Diogo soltou, dirigindo tranquilo:
— “Será que a gente consegue fazer alguma coisa quando eu voltar?”
Ela imediatamente mudou o tom.
— “Lógico!... eu vou adorar.”
Ele imitou a voz dela, debochado:
— “Lógico!... eu vou adorar” — e os dois caíram na risada, como um casal adolescente brincando.
Ao chegar ao ponto, ela desceu do carro, abriu a porta traseira e pegou as sacolas. Diogo observava, relaxado.
— “Ainda bem que nem tá tão pesado assim...” — ela comentou entre o alivio e o arrependimento.
— “É porque eu dividi em duas sacolas, né... melhor pra não chamar atenção no ônibus. A mochila também é pra levar viu... mas dá pra colocar nas costas”
Ela balançou a cabeça contrariada e foi até a janela dele. Se inclinou e o beijou com intensidade. Ele segurou seu queixo com firmeza, a outra mão ainda no volante.
Ao se afastar, ele sussurrou:
— “Você foi muito 10 hoje Bya...Olha só como você me deixa louco, garota...” — e apertou com força o volume sob o calção.
Ela riu, envergonhada, indo embora com passos leves, o coração apertado Carregava peso nas mãos, peso nas costas e na boca um gosto azedo E ele, bem ele disparou, como sempre, com o carro sob o sol, de janela aberta, ouvindo música alta e provavelmente com um gosto de cerveja nos lábios.