**Um Novo Começo – Capítulo 8**
**Propriedade de Alberto – 18:00h**
Conseguimos. Despistamos os piratas e chegamos à enseada escondida que Ana conhecia. Ela sabe mesmo como navegar um barco, mas suas mãos tremiam um pouco ao amarrar a corda em uma raiz de mangue. Não sei se era pela adrenalina da fuga ou por estarmos, de fato, na boca do lobo.
A propriedade de Alberto era um insulto a tudo ao redor. Um casarão branco de dois andares se erguia no meio de um gramado impecável, quase uma miragem de luxo no coração da selva. Ao fundo, pousado como um inseto gigante, um helicóptero. Agora eu entendia a fonte do poder dele.
O motor do barco estava desligado, e o silêncio era preenchido apenas pelo som dos bichos na mata.
“E agora?” Ana sussurrou, os olhos fixos na casa. “Depois disso tudo, não temos combustível suficiente pra chegar na cidade.”
“Eu sei. Só o bastante pra voltar pra casa,” respondi, analisando o perímetro. “Talvez eu possa invadir a propriedade e conseguir combustível. Com certeza deve ter.”
“Ok, digamos que você consiga,” ela retrucou, cética. “O que é improvável, olha o tanto de marmanjo que ele tem como segurança. Mas, se você conseguisse, não seria melhor roubar os remédios em vez do combustível?”
A ideia fez sentido. “Acha que ele tem o que a gente precisa?”
“Claro,” ela disse, com raiva. “Esse merda sempre pega os suprimentos médicos que deveriam ir pro povo e só libera uma parte pra minha mãe. O resto fica com ele. Deve estar em algum lugar nessa casa.”
“Huumm... Invadir a garagem seria mais difícil, teria que cruzar o terreno todo. A casa é mais protegida, mas está mais perto.” Meus instintos militares assumiram o controle. “Conto cinco homens rondando a propriedade. O padrão deles é desordenado, deixando uma falha de perímetro a cada dez minutos.”
“Gabriel, esses caras são ex-moradores da ilha que se venderam pro Alberto. Alguns são assassinos, como eu te falei. Mas com certeza não são soldados profissionais.”
“Entendo. Isso explica a falta de coordenação.” Um plano começou a se formar. “Acho que consigo entrar sem ser notado, mas preciso de uma distração. Mesmo usando o ponto cego deles, ainda é arriscado.”
“O que você precisa?”
“Aquele resto de comida que você guardou.”
“A comida?”
“Me dá. Vou jogar longe, na direção oposta. Vai chamar a atenção dos cachorros, e os homens vão ter que ir ver o que é. Isso vai me dar a abertura que preciso.”
Ela me olhou, os olhos cheios de preocupação. “Mas e se um deles te pegar?”
Eu a encarei, a frieza que eu tanto odiava tomando conta de mim. *Aí eu terei que matá-lo.* “Não vai acontecer,” eu disse, a voz mais firme do que eu sentia. “Confia em mim.”
**Casa da Senhora Ivone – 21:22h**
O cheiro de café fresco se misturava ao de antisséptico. Kyle estava sentada ao lado da cama, exausta, enquanto Carla organizava alguns frascos.
“Olha, eu me abri com você, Carla... Confio que você não vai falar disso pra ninguém.”
“Claro que não. Fique tranquila, querida,” Carla respondeu, a voz suave. “Mas, Kyle... você não deveria deixar seus sentimentos tão confusos.”
“Eles não estão confusos, tá? Eu já te falei a quem meu coração pertence.”
Carla parou o que estava fazendo e a encarou com um meio sorriso. “Deus, garota... nem você acredita mesmo nisso.”
Kyle cruzou os braços, na defensiva. “Ok, chega disso. Você sabe dois dos meus maiores segredos, mas eu não sei nada sobre você. Nada mais particular. Por que não igualamos as coisas?”
“Kkkkkk, ok,” Carla concordou, entrando no jogo. “Contanto que você não pergunte sobre meu marido ou sobre o Alberto, pode me perguntar qualquer coisa.”
“Kkkkkk, mas aí não sobra muita coisa, né?”
“Seja criativa, professora.”
Kyle pensou por um momento, um brilho de desafio nos olhos. “Ok... tudo bem. Você é uma mulher bonita e viúva. É como um pedaço de carne no meio de vários leões famintos. Por que nunca mais namorou? E... há quanto tempo você não trepa?”
Carla riu, uma risada genuína. “Humm, kkkkk. Vamos por partes. Eu não quero relacionamentos. Só amei um homem em toda a minha vida e quero morrer amando apenas a memória dele. E sobre trepar...” Ela fez uma pausa dramática, os olhos fixos em Kyle. “Kkkkk, não faz muito tempo.”
A postura de Kyle mudou sutilmente. “Sério? Com quem?”
*Vamos ver como você reage a isso, professora,* Carla pensou. *Vamos ver se você está tão decidida como diz.* “Com o Gabriel. Muitos homens aqui me respeitam demais, mas ele é novo, não tem essas amarras. Eu dei em cima e ele aceitou. Foi... muito bom.” *Olha esse rostinho mudando. Parece que você quer me matar.*
“Sério...” Kyle murmurou, desviando o olhar. “Ele não me falou nada.”
“E por que ele deveria falar algo tão pessoal com a esposa do melhor amigo dele?” Carla provocou, suavemente. *Vamos, Kyle. Seja sincera com você mesma.*
“É... você tem razão. Ele não tinha obrigação nenhuma. Foi... uma coisa única?”
“Ah, não,” Carla riu, se deliciando com o desconforto de Kyle. “Da minha parte, não. Eu quero mais. Foi tããão bom... kkkkk.”
“Entendi...” Kyle disse, a voz baixa. “Como... como que...”
*Vamos lá, seja curiosa.*
“Foi bom... como assim?” Kyle finalmente perguntou, a curiosidade vencendo o orgulho.
“Ah, acho que nós dois precisávamos daquilo. Kyle, eu não sou a mais experiente, sabe? Tive meu marido e... poucas outras experiências. Mas pensa num homem que sabe chupar uma buceta...”
Kyle se encolheu visivelmente. “Oh...”
“Ele me fez gozar na boca dele, e foi tão intenso! Nunca tinha gozado na boca de um homem...” Carla observou com satisfação a postura de Kyle mudar, as pernas se fechando instintivamente. *O que foi, professora? O assunto te deixou molhada?*
“Nossa...”
“E depois... eu fiquei encostada na mesa, com a bunda virada pra ele... E a rola dele? Kyle, a rola dele era tão...”
“Chega!” Kyle a cortou, o rosto corado de raiva e... outra coisa. “Chega, não deveríamos estar tendo essa conversa. Eu... eu tenho que cuidar do meu marido. Ver a higiene dele. Você pode me dar privacidade?”
*Pedindo privacidade para cuidar da higiene dele? Para uma médica? Alguém está correndo do assunto.* “Claro. Fique à vontade,” Carla disse, se levantando. “Quando quiser que eu termine de te contar, é só me falar.”
**Propriedade de Alberto – 23:15h**
Eu já estava perto da casa. A distração funcionou como um relógio. Uma janela da cozinha estava aberta. Entrar foi moleza. O problema agora era passar despercebido pelos empregados.
*Nossa, essa casa é enorme.* A cozinha era maior que a casa inteira da Kyle. Duas mulheres de mais idade trabalhavam ali, limpando o fogão. Não tinha como evitar. Resolvi arriscar.
“Boa noite, senhoras.”
Elas se viraram, surpresas. “Boa noite, rapaz. O que faz aqui? Sabe bem que a senhora não gosta que os seguranças entrem na casa.”
“Ah, eu tava precisando de um remédio, sabe? A noite vai ser longa e...”
“Você é novo? Nunca te vi por aqui,” a outra disse, me analisando.
“Sim, sou novo.”
“Por isso que está pedindo aqui,” ela riu. “Os remédios ficam no galpão dos fundos, o da direita. Eles deixam tudo lá. Geralmente, os seguranças roubam alguns. Kkkk.”
“Ah, eu não fazia ideia. Acho que por isso eles riram de mim quando eu vim perguntar.”
“Ah, sim, fizeram chacota com a sua cara. Mas olha, vai logo. A senhora não gosta de seguranças na casa.”
*Passar para esse galpão por fora não vai ser fácil.* “Ok, pode deixar.”
“Você pode ir por dentro da casa, em vez de dar essa volta toda,” a outra empregada disse, apontando. “Só seguir aquele corredor.”
“Obrigado, senhoras. Isso me poupa tempo. Tenho que voltar pra ronda.” *Nossa, isso salvou muito.*
Saí da cozinha e segui pelo corredor escuro“Esse rapaz não acha que todos nessa casa são idiotas, acha?”
“Huumm, deve ser outro necessitado da ilha. É uma pena, esse até que é bonitinho.”
“Vou falar com o patrão.”
“Não! Deixa que eu aviso a senhora. Ela precisa ser notificada primeiro. Só assim saberemos se o patrão vai ou não ser notificado.”
**Galpão – 23:32h**
O galpão era uma farmácia clandestina. Prateleiras e mais prateleiras de caixas de remédios.
“Droga... é muito remédio,” murmurei, procurando na lista de Carla. “Desgraçado. E pensar que pessoas morrem sem ter acesso a isso...”
De repente, ouvi um clique metálico atrás de mim. Um som que eu conhecia muito bem. O som de uma trava de segurança sendo liberada.
“Quem é você e o que faz aqui?” uma voz feminina, calma e fria, cortou o silêncio.
*Merda.* Minha mão foi instintivamente para a minha arma, na cintura. *Puxar a arma aqui seria arriscado. E pode ser uma inocente.*
“Se acalme. Não estou aqui para fazer mal a ninguém.”
“Vire-se para mim. Quero ver o seu rosto.”
Lentamente, me virei. Ela acendeu a luz do galpão. A mulher que me apontava uma pistola não era uma empregada. Era jovem, vestida com um simples vestido de linho branco, o cabelo preso num coque elegante. Pele clara, olhos de um verde surpreendente. Uma beleza delicada, quase frágil. Mas a mão que segurava a arma era firme, o olhar, gélido.
“Você não é um dos seguranças,” ela afirmou, não perguntou. “Me diga por que está roubando medicamentos que são para o povo da ilha.”
“Um amigo meu... um irmão... ele está ferido gravemente e precisa desses medicamentos. Eu só ia pegar o que preciso e ir embora. Não quero confusão.”
“Seu amigo é da ilha?”
“Sim.”
“Nome.”
“Andrews.”
“O gringo?” ela pareceu reconhecer. “Por que a Carla não o medicou? Ela é a responsável.”
“Ela tem pouco medicamento. Os que ela tem, foram comprados por ela mesma.”
“Não minta para mim. Eu sou responsável por mandar esses medicamentos para a illa. Estes aqui são o que sobra quando a Carla não precisa.”
“Me desculpe... mas acho que a senhora anda pouco informada sobre a situação real da ilha.”
Um pequeno sorriso surgiu nos lábios dela. “Ah, é? Então por que você não me atualiza?” Ela olhou para a minha cintura. “Está armado?”
“Sim.”
“Muito bem. Jogue para mim. Devagar.”
*Não tenho muita alternativa. Posso atirar nela, mas... e se ela realmente não souber da situação?* Com um suspiro, tirei a arma da cintura e a deslizei pelo chão na direção dela. Ela a chutou para o lado sem desviar o olhar de mim.
“Meu nome é Isabela,” ela disse, a voz ainda calma, mas agora com um tom de autoridade inquestionável. “Sou filha do governador e a responsável por cuidar das provisões desta ilha. Se o que você está falando for verdade... eu tenho muito interesse em saber.”
“Entendo...” eu disse, encarando a mulher que era claramente muito mais do que aparentava. “Bem... vou contar tudo que sei.”
Continua no próximo capítulo...