*Continuação do conto “Ela fez minha cabeça”, publicado há um ano em*
Samuel Torquato passou a semana seguinte como quem atravessa um delírio febril. Tentou estudar, tentou beber, até tentou a velha punheta sob efeito de incensos, mas nada… absolutamente nada se comparava à descarga holística que recebera de Lediane.
Era como se o pau dele tivesse se acostumado com outro tipo de condução energética — e agora recusava qualquer estímulo que não viesse daquela boca divinamente treinada nos mistérios do além. O pau, outrora safado e obediente, agora era exigente, místico, quase filosófico. Só endurecia ao lembrar das mãos daquela mulher. Era como se Lediane tivesse feito uma reprogramação vibracional pelo cu da alma.
Ele voltou à clínica na semana seguinte, já com a desculpa pronta de “investigar os efeitos da hipnose em campos bioenergéticos”. O chefe, Perez Debona, o recebeu com a mesma cara de “guru urbano” — calvo à frente, sorriso de quem já leu todos os seus traumas só pela sua postura ao sentar.
— Pronto pra outra sessão, Samuel? — perguntou com voz monocórdica de quem tinha meditado por vinte minutos em cima de um tapete térmico.
— Só se for com ela. — respondeu Samu, encarando a porta do consultório onde a deusa de cabelos cinzentos entrara minutos antes.
Perez sorriu.
— Ela disse que sua energia respondeu bem ao toque. Vamos ampliar o campo vibracional hoje.
Samuel fingiu que entendeu. Só queria a boca dela no seu chakra básico.
Foi levado para a sala, e desta vez encontrou um ambiente mais escuro. A música era mais grave, e havia velas. Velas de verdade. Coisa que, num ambiente com tanto incenso, poderia ser considerada tentativa de combustão espontânea.
Lediane entrou descalça, sem jaleco, com um vestido longo de malha fina, colado no corpo e aparentemente sem nada por baixo. O decote parecia uma armadilha de fé para quem ainda acreditava em salvação. Samuel já sentiu que teria que se concentrar bastante pra não cair em êxtase antes da hora.
— Hoje vamos trabalhar a abertura do canal — disse ela, colocando as mãos no peito dele como se fosse parte de um ritual.
Samu só conseguia pensar em abrir o canal dela — todos eles.
Foi deitar na maca e já sentiu os dedos dela na nuca, nos ombros, deslizando devagar, como quem sonda, como quem marca território. Ela pediu pra ele respirar fundo, mas bastava ela sussurrar que já vinha o arrepio. A mão dela passou pela barriga dele, baixou a bermuda, e a cueca seguiu junto — com a delicadeza de um lenço puxado do bolso de um mágico.
— Vamos tirar os bloqueios — disse.
Samuel achava que tinha algum tipo de bloqueio até o pau dele ficar de pé sozinho, apontando pro teto como uma antena espiritual. Ela envolveu com a mão e começou a massagear, mas não era punheta. Era um tipo de transe — o toque era circular, com ritmo que lembrava uma espiral tibetana.
Ele fechou os olhos, mas os sentidos todos estavam voltados pra um só ponto: o pau dele. Que agora não era só carne. Era canal, era energia. Era uma porra filosófica transcendental.
E então ela subiu no corpo dele, sentando sobre o peito, sem tirar o vestido, mas deixando as coxas nuas roçarem na pele dele. A boca dela se abriu e desceu até o membro já latejando. Quando começou a chupar, não foi rápido — era quase um mantra. A língua desenhava símbolos antigos. Cada sugada parecia puxar trauma, tensão, tudo que ele tinha acumulado desde o útero da mãe.
A boca dela fazia mágica.
Samuel agarrou o lençol, arqueou o corpo, tentou segurar. Mas não dava. Ela sugava como quem extrai um demônio antigo. E quando veio o gozo, foi catártico — não só físico, mas existencial. Teve a impressão de que voltou no tempo, viu cenas da infância, sentiu cheiro de casa de vó, e depois explodiu.
Literalmente, gozou a alma.
Ficou ali, gemendo baixo, tremendo, sem conseguir abrir os olhos. Quando finalmente teve força, ela já estava ao lado dele, limpando com calma, como quem encerra uma sessão espiritual.
— Pode abrir. Já passou.
Mas não tinha passado. O corpo estava ali, mas o espírito tinha virado fumaça. O pau dele, em repouso, parecia sorrir de olhos fechados.
Na saída, Perez Debona o recebeu com a cara de quem já sabia tudo.
— Percebeu a importância de liberar os canais energéticos?
Samu só balançou a cabeça. O olhar era de um homem que já sabia que voltaria muitas vezes. E mesmo sabendo que era furada — que tudo ali era só um templo de luxúria disfarçado de clínica holística —, não importava.
Ele queria voltar. Porque agora, seu campo vibracional dependia daquela boca de deusa…
…e talvez, no fundo, sempre tivesse sido esse o sentido da “cura”.
Perez Debona esticou a maquininha para a inserção do cartão. E era justo, mais do que justo! Samuel Torquato, estudante de medicina, estava ali de novo, batendo continência para a luxúria, quer dizer, dedilhando senha para um charlatão. E tinha que dedilhar, pois afinal, o céu existe mesmo!