Estava eu ali, revelando toda a verdade para o Pedro, quando ele me interrompeu pela primeira vez desde que comecei a contar tudo. A voz dele era baixa, mas carregada de dor e incerteza.
— Mônica... Isso é verdade?
— O que? — perguntei.
— Você me traiu mesmo? Você deu pra outro cara?
O meu coração apertou. Dava pra ver a dor nos olhos dele, eu entendia bem. Passei pela mesma dor. Eu respondo, sincera.
— Sim, Pedro. Eu me deixei levar.
— Se... Deixou levar? Puta que pariu, Mônica. — Pedro pegou a almofada que agarrava com as mãos e arremessou no chão, com mágoa e raiva. Eu o entendia. Me aproximei.
— Nós dois nos deixamos levar, cada um por um motivo. Mas antes de me julgar, que tal me ouvir até o fim?
— Você tem provas disso tudo que você ta me dizendo? — Ele perguntou.
De certo modo, me senti ofendida. Nunca menti pra ele, até esse momento. Ocultei, isso é uma forma de mentir. Mas só de lembrar "daquele dia"... Meu coração aperta. Ele voltou a perguntar:
— Você… você me traiu naquela festa?
Respirei fundo. Aquela pergunta, apesar de esperada, ainda assim doía.
— Não, Pedro. — respondi, olhando nos olhos dele, mesmo que meus olhos ainda estivessem molhados. — E respondendo a anterior, eu tenho sim como te provar algumas coisas que estou te dizendo. Mas cabe você ou não decidir se acredita, assim como acreditei em você depois.
— Depois? O que está acontecendo, Mônica? O que aconteceu nessa festa?
— Olha, aconteceu uma coisa... e eu preciso que você me escute até o fim.
Ele assentiu em silêncio, e então voltei para aquele dia, para aquele maldito dia.
Era o aniversário da Elisa. A boate estava cheia, luzes coloridas giravam e piscavam, abafando qualquer pensamento que não fosse curtir ou esquecer. Eu estava me sentindo deslocada, como sempre. As meninas estavam animadas, bebendo, dançando… eu segurava um copo de suco, tentando parecer integrada.
Logo percebi que a festa tinha se tornado algo maior do que só o aniversário dela. Havia homens mais velhos no local — alguns veteranos da faculdade e outros que eu não reconhecia, claramente não faziam parte da comemoração. Alguns olhares me incomodaram desde o momento em que entrei, mas tentei não dar atenção.
Foi então que vi Elisa se aproximar de Vanessa, cochichando algo ao ouvido dela, e ambas começaram a rir. Vanessa olhou pra mim rapidamente e depois desviou, como se quisesse evitar o meu olhar.
— Ué, o que foi? — perguntei.
— Ahhhh. Ela me contou um babado aqui. — Comentou Vanessa.
— O que? — perguntei, curiosa.
Elisa e Vanessa me olharam, então Elisa disse, me encarando.
— Então, bebê, é que eu tava comentando com a Vanessa que ontem eu... Dei o cu! Minha primeira vez.
— Deu o cu? — perguntei, espantada com a forma como ela falava assim tão abertamente, rindo.
— Ta vendo Mônica, por isso que a gente falou cochichando, você fica toda escandalosa com esses assuntos. Que brega demais continuar sendo virgem.
— Lisa, mas é a escolha dela, né? Deixa a coitada. — disse Vanessa.
— Se fosse eu, já tava era dando. Você tem namorado. Não sei por que se priva dessas coisas.
— É... Coisa minha, sei lá. — disse, pensativa.
— Pois você podia pelo menos liberar o cuzinho pra ele também. — Dizia Elisa. — Você me falou que ele já é adulto, até trabalha. Se ele não se aliviar com você, vai se aliviar com outra.
— Nah. O Pedro não faria isso. — Depois disso, resolvi parar de falar nesse assunto, já tava ficando meio desconfortável. Além do mais, eu confiava no meu namorado. Mas Elisa insistiu.
— Se você quiser, eu e a Van te damos umas dicas, sei lá. Mas você precisa liberar esse cuzinho pelo menos pra ele logo, sua boba. Senão, outro come.
— E ai, quem é a cocotinha ai? — De repente, eu vi o par da Vanessa vindo, Rafael, que me encarava.
— Ah, ela é a Mônica. — disse Vanessa. — Uma amiga nossa da faculdade. VIRGEM.
— As virgens são as mais delicinhas, hein. — ele comentou. — Se tiver com falta de macho pra tirar esse cabacinho, estou a seu dispor, princesa.
— RAFAEL. — Disparou Vanessa, cutucando ele. — Ela é minha amiga. Respeito né?
— Eu.. Eu acho que vou pra fora tomar um ar, ta? — Disse.
E logo eu saí dali, fui tomar um ar do lado de fora. Nunca tive problemas com relação a meus tabus, mas naquele dia estava demais. Logo, retornei pra festa.
Elisa estava dançando com um cara que eu nunca tinha visto antes. Vanessa já estava aos beijos com Rafael, o mesmo que ela dizia não se importar em dividir, desde que ele fosse divertido.
Isa tinha ido ao banheiro. E eu… eu estava sozinha. Sozinha naquele mar de gente estranha e luzes piscando.
Foi então que ele apareceu.
Marcos.
Senti uma mão tocar de leve meu braço, e antes que eu pudesse reagir, ele já me havia virado para encará-lo. O som da música ainda batia forte, mas mesmo assim ouvi claramente sua voz, baixa e rouca, quase sedutora:
— Você está linda hoje, Mônica…
Meu corpo ficou tenso. Eu tentei sorrir, mas só consegui balbuciar um:
— Obrigada…
Não sabia o que fazer. Meus olhos correram ao redor, procurando uma desculpa, alguém pra me resgatar daquele momento, mas ninguém parecia notar o que estava acontecendo. Estávamos quase isolados em meio à multidão.
Ele não parou ali. Deu um passo mais próximo. Seus olhos fixos em mim, e então perguntou, quase como se tivesse guardado aquela pergunta há tempos:
— Por que você sempre me evita?
Fiquei sem resposta.
— Desde o primeiro dia eu fui gentil com você. Sempre. E você só me trata com frieza, como se eu fosse um incômodo. Eu não entendo… só queria uma chance de te mostrar o quanto eu te admiro… o quanto eu te amo…
A palavra "amo" era forte demais pra mim. Ele não tinha amor por mim, ele poderia ter qualquer coisa, menos amor. Ele estava falando sério? Eu não estava gostando disso. Senti um calafrio. Antes que eu pudesse responder, ele se aproximou de repente e me agarrou pelos ombros, me puxando para mais perto.
— Cara, você me deixa louco com esse seu cheiro...
— Marcos, para…
Ele não parou. Inclinou o rosto em minha direção, os lábios já perigosamente próximos dos meus.
— Marcos! — gritei mais firme, empurrando-o com força. — Eu tenho namorado!
Ele ficou parado por um segundo, surpreso com minha reação, e depois desviou o olhar, frustrado.
— Você sabe que isso não é problema pra mim. Eu não sou ciumento.
— Marcos, escuta somente uma vez. Eu tenho namorado, e mesmo que eu não tivesse namorado eu não tenho nenhum tipo de atração por você! Será que dá pra você entender pelo menos uma única vez?
— Você me quer Mônica. Você sabe muito bem que no fundo você é uma puta.
Foi então que meu sangue ferveu e acabei dando um tapa na cara dele. Marcos então sorriu e olhou diretamente pra mim, ele avançou mais um pouco e colocou a sua mão na minha coxa e puxou me contra ele. Ele então começou a beijar meu pescoço enquanto eu tentei afastá-lo com o máximo da minha força, mas dessa vez ele parecia ser mais incisivo. Foi quando ele apareceu.
— Será que da pra você deixar essa linda mulher em paz, seu babaca?
— Mas que diabos? — Marcos disse, e quando ele se virou, viu um homem ali, maior que ele. Cabelos grisalhos, porte alto, cheio de presença. Era o Vítor.
Marcos acabou se afastando,e consequentemente eu fiz o mesmo. Me afastei dele sem dizer mais nada. O coração batia acelerado, a respiração pesada. Marcos deixou o local, enquanto Vítor segurava minha mão, me olhava ali, preocupado.
— Você está bem?
Eu respirei fundo e olhei para o Vítor com um sorriso agradecido, ainda um pouco abalada pelo que tinha acabado de acontecer.
— Obrigada por ter intervido naquela hora... o Marcos estava completamente sem noção. — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, como se parte de mim ainda estivesse tentando entender por que ele achava que podia falar comigo daquele jeito.
Vítor balançou a cabeça, tranquilo, e deu um meio sorriso.
— Imagina. Só fui um cavalheiro. Mas sinceramente, o cara tava sendo um babaca. Não sei como você conseguiu manter a calma por tanto tempo.
Suspirei.
— Ele tem sido assim desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Às vezes ele é legal, sabe? Atencioso, faz umas piadas boas… aí, do nada, vira esse cara inconveniente, que não sabe a hora de parar. Eu sempre dei uma segunda chance achando que era só o momento... mas acho que já passou dos limites faz tempo.
— Acontece. Às vezes a gente quer acreditar que a pessoa pode melhorar. — Vítor disse, com um olhar compreensivo. — Mas tem gente que só mostra quem é de verdade quando percebe que não tem mais nada a perder.
— Pois é... — murmurei, meio triste com a constatação.
— Vem, vamos sentar um pouco? — ele convidou, fazendo um gesto em direção a uma mesa mais afastada do barulho. — Pelo menos pra esfriar a cabeça.
Assenti. Era o mínimo que eu podia fazer por alguém que me defendeu. E, no fundo, acho que queria mesmo mudar de ambiente por alguns minutos.
Nos sentamos e ele foi puxando assunto, de forma bem leve. Começou a falar mais dele.
— Bom, você estuda veterinária? Que legal. Eu sou veterinário. E também dou aulas, que puta coincidência em?
— Nossa, Sério?— perguntei, espantada pela coincidência. — Que maneiro! Sabe, meu sonho é se formar e ter a minha própria clínica veterinária. — Naquele momento, passei a pensar alto... E continuei. — E me casar com o namorado que eu estou hoje, Eu Acredito que eu estou encaminhando para que meu sonho se torne realidade!
— Você vai conseguir sim.— atencioso, Vítor motivava, fazia acreditar que era possível. Encontrei ali um bom amigo casual. — Você parece ser uma mulher muito inteligente.
— Obrigada... — agradeci. — Mas me conte, você é daqui?
— Na real, nem sou daqui do Rio. Moro em São Paulo agora, mas nasci aqui.
— Sério? — perguntei, surpresa. — E está aqui a passeio? Ou a negócio?
— Saudades. — ele sorriu. — Tem lugares aqui que têm uma vibe que São Paulo nunca vai ter. Quando o Rafael falou de vir nessa boate, pensei “por que não?”
— Então você... Conhece o ficante da minha amiga?
— Ah, se eu conheço. É meu irmão caçula. Porque? Ele te faltou com o respeito?
— Magina! Só achei ele descolado demais mesmo. — mudei de assunto. — E como é lá? São Paulo, quero dizer.
— Intenso. Tudo acontece ao mesmo tempo. É mais frio, mais acelerado... mas tem seu charme também. Cultura, comida, oportunidades. Mas tem dias que eu sinto falta do mar, do calor daqui — ele me olhou com um ar meio nostálgico. — Da calma que parece que só existe no Rio.
Sorri com a sinceridade dele.
— Eu nunca fui pra lá. Mas todo mundo diz que é um lugar onde você precisa estar sempre alerta.
Ele riu.
— Verdade. Mas acho que me acostumei.
— E por que você foi pra lá?
— Bom, eu sou casado. Como você pode ver. — Ele então me mostra a sua aliança. — E bem, minha esposa é da idade do meu irmão praticamente . Na verdade é o meu segundo casamento . Eu acabei tendo uma boa oportunidade em São Paulo , e também estávamos enfrentando uma crise no relacionamento . Achei que novos ares poderiam melhorar.
Eu fiquei ali, atenta, ouvindo mais da vida dele. De repente, ele sinalizou pro garçom e pediu duas bebidas.
— Ah, não precisava! — protestei.
— Relaxa. Um brinde pela coragem de aguentar babacas em festas universitárias — ele disse, brincando. — E também um brinde por relacionamentos que não melhoram e só tendem a piorar.
Ri sem graça.
— Só... não sou muito boa com bebida, viu?
— Tudo bem. Só um gole. Prometo que não te deixo tonta — ele piscou de leve, e eu, por educação — e talvez por curiosidade — aceitei.
O copo veio gelado. Eu dei um pequeno gole, sentindo o gosto doce, meio ácido... até que era bom. Nada demais.
— Por que comentou sobre relacionamentos que não melhoram? Diz o seu casamento? — perguntei.
— Isso mesmo, o meu casamento. — Ele disse, tomando um gole.
Ficamos ali conversando mais um pouco, até que Rafael e Vanessa apareceram, rindo entre si e um pouco alterados.
— Olha aí, hein, irmão! Já tá xavecando a virgenzinha? — Rafael falou alto, se jogando numa cadeira ao nosso lado.
Senti o rosto esquentar na hora. Me encolhi na cadeira, desconfortável. Vanessa riu sem graça, como se percebesse que o comentário tinha passado dos limites.
Antes que eu pudesse reagir, Vítor virou para o irmão com a expressão séria.
— Rafael, menos, vai? Não enche. Só tô conversando com ela.
— Pô irmão, relaxa. Eu falei na brincadeira, fica na paz. — Ele comentou.
— É, mas brincadeira tem limite — ele rebateu, depois voltou a me encarar. — Desculpa por isso. Ele é o mais novo e ainda não aprendeu a pensar antes de falar.
Balancei a cabeça, ainda com o gosto amargo do comentário dele na boca.
— Tudo bem...
Vítor então olhou para o relógio no pulso e suspirou.
— Bom, acho que já vou nessa. A noite foi longa e amanhã é dia de pé na estrada de novo.
Ele então me olhou, e me cumprimentou pela última vez.
— Foi um prazer te conhecer, Mônica.
— O prazer foi meu. — falei com um sorriso sincero, mesmo ainda tentando entender tudo que tinha acontecido. — Eu te acompanho até a porta. É o mínimo depois do que você fez por mim.
Caminhamos juntos pelo salão meio escuro da boate. A música estava mais alta, o clima mais agitado que antes, mas eu já estava em outra sintonia. Estavamos quase chegando na porta.
Peguei o celular do bolso pra ver as horas, e aproveitar para ver se o Pedro havia mandado algo. Assim que acendi a tela, senti — mais do que vi — os olhos de Vítor deslizando por cima do visor.
— Esse ai então é o seu namorado? — Ele comentou.
— Sim, é ele. Pedro, o amor da minha vida.
Não sabia por quê, mas naquele momento ele pareceu mais calado do que o normal. Logo em seguida deu de ombros e resolveu se virar e se despedir antes de ir embora da boate.
— Bom... — ele disse, já na porta. — Espero que você fique melhor sem mim no restante da noite. Foi um prazer. E tomara que você tenha um feliz casamento.
— Eu também espero e quero muito isso. — respondi, com um sorriso leve, mas a cabeça a mil. — E obrigada, de verdade.
Ele acenou com um olhar sereno, e foi embora. Eu voltei pra mesa. E ali, mil perguntas começaram a fazer sobre ele. Rafael comentou ao restante das meninas que o cara era irmão dele. Mais velho.
De repente, vejo que Rafael recebeu uma mensagem no celular. Ele pede para se afastar, enquanto fico com o restante das meninas. Eu estava pensando na situação anterior. Marcos quase me violentou naquela festa. Por um lado eu estava aliviada, tinha encontrado um "herói" naquela noite, mas por outro lado, eu estava com medo. Pois ainda tinha que encarar o Marcos no outro dia.
As meninas me puxaram de volta pra realidade.
— E aí, hein, Mônica? — Vanessa cutucou meu ombro com um sorriso malicioso. — Que olhar foi aquele na hora que ele foi embora?
— Nada a ver — respondi, rindo sem graça. — A gente só tava conversando.
— Conversando, sei — Isa provocou, revirando os olhos. — Você tava com aquele sorrisinho de quem já tá no segundo round.
— Ai, gente — suspirei, jogando os cabelos pro lado. — Ele só foi educado. E é irmão do Rafael, vocês ouviram. Além do mais, eu nem to com cabeça pra isso, vocês viram o Marcos?
— Claro que vimos. — Elisa falou alto, empurrando o copo dela pra frente. — Mônica, eu acho que você devia amanhã procurar a delegacia pra dar parte dele. Isso ai não se faz, amiga.
— Eu acho isso um exagero. — Comentei. — Além do mais, acho que agora ele para.
— Se você diz... — ela comentou. — Mudando de assunto... Me diz, quando você vai dar esse cuzinho pro seu namorado, hein? Já que a bucetinha, nada. Vai querer morrer virgenzinha.
— Elisa! — reclamei, rindo nervosamente. — Que exagero…
— Não é exagero, Mônica — ela retrucou, séria. — Tu tá namorando esse cara faz mais de anos. E o cara nem é mais virgem. E ainda tá nessa de "esperar o momento certo". Acorda. Se tu não fizer alguma coisa logo, ele vai buscar em outra.
Aquilo me cortou como um tapa seco. Olhei pra ela meio sem acreditar.
— Pedro não é assim… Já falei.
— Não é? — ela cruzou os braços. — Todos são. Meu namorado mesmo, é um filho da puta. Por isso não me importo de sair com outros. E você, deveria pelo menos satisfazer seu namorado. Ele precisa gozar.
— Nós já fazemos sei lá, algumas coisas...
— Você acha que homem sobrevive de gargalo pra sempre? — Ela respondeu. — Homem precisa gozar, amiga. E mais. Mesmo que ele não traia AGORA, vai começar a se frustrar. Vai se sentir rejeitado. E aí sabe o que acontece?
— O que? — perguntei.
— Começam as brigas, os distanciamentos, e de repente… fim de namoro. Aí tu vai chorar dizendo que ele não te entendeu, mas na real tu que não quis entender.
— Elisa, que horror — Vanessa comentou, tentando suavizar. — Também não é assim tão simples. Mas, Mônica, pensa... vocês dois se amam, não é?
— A gente se ama — confirmei baixinho.
— Então, qual o problema? — Isa se aproximou, pegando minha mão. — Não precisa ser algo enorme. Você não vai deixar de ser você. Só vai estar vivendo com quem você ama.
— Mas… eu sempre quis me casar de branco. Eu queria que fosse especial, num momento certo…
— Casar de branco — Elisa debochou. — Mônica, isso é só pano! Roupa! Tu pode casar de branco tendo feito o que quiser antes. Isso é só detalhe. O que importa é tu não ser feita de besta por esse conto de fadas que já nem existe mais.
— Mas eu não tô pronta — sussurrei, olhando pra mesa. Meu coração apertava. Eu queria sim viver isso com o Pedro, mas uma parte de mim ainda segurava firme essa ideia de “esperar”.
— Então vamos resolver isso — disse Vanessa, já chamando o garçom. — Hoje a gente vai te ajudar a criar coragem.
— Como assim?
— Libera o cuzinho pra ele. Eu tenho até tecnicas pra não doer, meu namorado fez assim. — Comentou Elisa. — Pra se acostumar, precisa ser de ladinho no inicio. Manda ele lamber, bastante. Depois ele vai comendo, você vai gostar.
— Uma bebidinha, outra ali… e quando você perceber, vai estar só com a coragem na mão e a vergonha no chão — Isa riu, empolgada.
— Não sei, meninas… — murmurei.
Mas o garçom já estava ali, e antes que eu pudesse negar, uma dose foi colocada na minha frente. Elisa me empurrou o copo.
— Vai, só um golinho. A gente vai ficar aqui, do seu lado. Se não for hoje, vai ser outro dia. Mas pelo menos para de fugir de quem você é, Mônica.
Peguei o copo. Olhei pro líquido âmbar por um segundo longo demais.
— Bom, talvez se eu estiver bêbada, eu consigo. — Foi então que eu resolvi tomar coragem. Minha virgindade da buceta era sem negociação naquele dia. Mas acho que Pedro merecia sim ter meu cuzinho.
Talvez só um gole mesmo…
Uma dose. Depois outra. E mais uma.
No começo eu estava tímida, meio insegura, mas elas insistiram tanto… diziam que era só pra relaxar, que ia me ajudar a parar de pensar tanto. Eu achei que podia ser verdade. Um golinho não faz mal, né?
A segunda desceu mais fácil. Na terceira, tudo já parecia mais leve. Meu corpo começou a se mover sozinho, embalado pela música, e eu já não me importava tanto com o que os outros estavam pensando. Dancei com a Isa, depois com a Vanessa, e em algum momento, eu nem sabia mais onde a Elisa estava. Mas estava tudo tão... divertido.
Lembro de rir muito. De jogar o cabelo pro lado, de falar besteira. Elas gritavam “Isso, garota!”, “Aproveita!” e me puxavam pra mais uma rodada.
Tudo parecia um sonho etílico e colorido. Só que também veio a tontura. Aquele enjoo estranho, a cabeça girando. O som da boate se misturava com as luzes piscando, as vozes ficando mais distantes… E então… preto.
Quando abri os olhos, senti primeiro o cheiro. Um cheiro familiar. E ali estava Pedro. Pisquei algumas vezes. A claridade me incomodava. Eu estava deitada. Em sua cama.
Meu coração acelerou.
Sentei devagar, a cabeça pesando, latejando. Ainda com a roupa da festa. Olhei ao redor, meio desnorteada. Meu salto estava jogado no chão.
Voltando a realidade, estava eu ali, tendo coragem, e contando a Pedro tudo que eu me lembro do ocorrido. Ele escutou tudo, mas nessa parte, em especial, ele me interrompeu.
— Pera... A sua amiga me contou uma outra história. — comentou.
— Qual amiga? — perguntei.
— A Vanessa. Ela disse que vocês estavam na festa, que você acabou bebendo demais pra poder curtir a festa, que alguns caras da faculdade se aproximaram de vocês e que esse Marcos ai, ficou dando em cima de você. E que você somente mandou ele parar e ele foi embora. E que depois ele e uma outra pessoa trouxeram você de volta.
— É sério que ela disse isso? — Perguntei, chocada, pois não foi nada disso que aconteceu. — Mas por que ela diria isso?
— Não sei. Mas não me falou nada, nem do Rafael, e nem desse Vítor ai. Por acaso foi com ele que você me traiu?
— Bom, eu vou continuar a contar então. — comentei.
— Mônica, só me diz se foi ou não com ele. — Ele perguntou.
— Pedro. — Olhei diretamente nos olhos dele. — Você quer saber de tudo, não quer? Então espere eu terminar de falar tudo, ai depois você tira suas conclusões.
— Antes, eu queria saber uma coisa. — Ele então ficou de cabeça baixa, meio que olhando pro chão. — Eu me lembro desse dia. Você, quando acordou, não tava muito com vontade de falar o que rolou na festa, só me confirmou quando perguntei se o tal do Marcos tinha te importunado e tal... Eu entendo não ter dado detalhes, talvez pensou que eu já sabia. Mas... Depois disso, no chuveiro, quando nos pegamos, você tava mais... Solta. Então era por isso?
— Sim. — respondi, baixando a cabeça. — Eu comecei a perceber que se eu não fizesse nada, você ia acabar me deixando pra ficar com alguma mulher que pudesse lhe satisfazer...
Foi então, depois desse breve dialogo, que continuei a contar a ele todo o ocorrido.
Durante os próximos dia, você sabe, nós acabamos não fazendo nada, por conta das provas, e também por conta da excursão e seu trabalho.
Foi mais ou menos nessa época que eu e Elisa ficamos mais amigas. Passamos a conversar mais, passamos a ir no shopping almoçar durante os intervalos, e ela passou a me dar mais dicas com relação ao sexo. Principalmente com relação ao sexo anal.
Passamos em um estúdio de tatuagem, e ela resolveu fazer a tatuagem que ela tanto havia prometido pra si mesma, e como eu já estava com vontade de fazer também para lhe surpreender, acabei fazendo junto.
Até o tempo de cicatrizar já teria dado os dias certinho para a excursão, então não me incomodaria muito. Apesar que como a tatuagem era pequena ela cicatrizou muito rápido. Eu pensei em te mostrar antes da excursão, mas eu queria que fosse uma surpresa. A cada dia que passava mais eu me preparava e ficava de certa forma empolgada mas também com medo do dia em que você finalmente botaria no meu anel.
Ficava pensando em como seria, se eu iria gostar. As meninas ficavam falando que era bom, que seria gostoso. Elisa me recomendou treinar, com brinquedos sexuais. Ela acabou me arrumando um dos pênis de borracha dela, e pediu pra eu comprar um gel para ajudar a lubrificação.
— Você precisa assistir mais pornô, sabe? Pra saber como faz. — comentou Elisa.
— Bom, eu acho que tenho ai alguma noção. — Respondi.
Um dia, sozinha em casa, eu assisti um filme pornô. O cara colocou um pau enorme, — E era muito grande mesmo, acho que era do mesmo tamanho desse pinto de borracha, no cu da mina. E eu fiquei esfregando a cabecinha na entrada do meu. Logo, passei o gelzinho e meti, e confesso que não aguentei, doeu muito! Mas eu tentei de novo, estimulada com o cara no filme.
Ele tava metendo até as bolas na mulher, e aquilo me deu tanto tesão, que eu fiquei esfregando o pinto de borracha até na bucetinha, mas consegui me controlar, e não meti. Imagina, acabar perdendo o cabaço por um pau de borracha...
Eu cheguei a tentar uma segunda vez. Dessa vez, o pau de borracha conseguiu entrar, mas confesso que com bastante dor. Mas eu persisti, e consegui fazer ele meter um pouco mais, até que eu não aguentei e tirei. Vi ele sujo de sangue, e então me assustei. Liguei imediatamente para Vanessa, mas ela não atendeu. Elisa foi a próxima, e assim que comentei sobre ela me disse que era normal afinal de contas eu era virgem do cu.
Disse que eu precisava treinar mais, fazer mais algumas vezes. Talvez com um pau um pouco menor, que seja mais realista do tamanho do meu namorado. Apesar de que aquele pinto era um pouco maior sim, mas já tava pra servir de parâmetro.
Quanto ao Marcos, depois do ocorrido na boate ele não se atreveu mais a falar comigo durante todos os próximos dias. Talvez por medo que eu relatasse o ocorrido para alguém, ou estava envergonhado. Porém um dia ele se aproximou, e veio me pedir desculpas era praticamente um dia antes da nossa viagem.
Ele comentou que era sim apaixonado por mim, desde o primeiro dia que me viu, mas que entendeu que eu amava meu namorado. E que ele não tentaria mais nada. — E até aquele momento, ele estava cumprindo isso.
Uma coisa que notei, é que Rafael passou a me olhar mais do que antes, e isso me gerava um certo incômodo, em todas as vezes que eu tive a oportunidade de ve-lo com a Vanessa. Mas não era um olhar de interesse, é como se ele estivesse... Me vigiando.
— Bom, acho que agora a melhor coisa que eu poderia contar é sobre a excursão. Não é?— Perguntei a Pedro enquanto este manteve o olhar fixo pra mim.
— Sim. Por sim favor. eu quero que você me conte tudo, sem me esconder nada.
A viagem durou 6 horas de ônibus. Eu fui sentada junto com Elisa, enquanto Vanessa e Isa estavam nas poltronas do lado. Estávamos às 4 praticamente ali juntas, conversando sobre todo tipo de assunto possível — Ou quase todo. Marcos estava no fundo, ele parecia deslocado, e eu havia percebido que ele havia visto o Pedro.
Pelo menos acreditava que ele me deixaria em paz. Eu não estava afim de tempestades nessa viagem, queria curtir o máximo possível.
Quando a gente chegou em São Paulo, confesso que meu coração estava aos pulos. Não só pela cidade enorme, pelos carros, pelos prédios, pelas pessoas correndo como se o dia tivesse sempre atrasado… mas pela sensação de estar finalmente dando um passo na vida adulta. Desembarcamos no Terminal Tietê, pra ser sincera eu não conhecia nada, mas vi que o lugar era enorme. Tinha até medo de se perder ali. Fomos direto para um hotel perto do campus da USP.
Fiquei no quarto com a Elisa — que já jogou a mochila na cama e ligou a TV. Ela parecia tão ansiosa quanto eu. Isa e Vanessa ficaram no quarto ao lado. Depois de um banho rápido e um pouco de ansiedade batendo no estômago, nos reunimos com o grupo da excursão e seguimos para o campus de veterinária.
Era tudo tão... grande. Tudo tão diferente da minha faculdade. As salas, os corredores, o jardim interno. Eu fiquei um pouco encantada. Quando entramos no auditório para assistir a palestra, sentei com as meninas mais ao fundo, pra não chamar atenção. E para minha surpresa e até espanto, justamente ele começou a palestra. Vítor, o cara da boate. Que mundo pequeno!
Ele estava lá, de jaleco branco, óculos retangulares e aquela fala segura, palestrando sobre os temas da faculdade. Ele não me viu. Mas eu vi ele. Na hora, acabei meio que me escondendo, não queria que ele me notasse. Sentei em silêncio e ouvi tudo. A palestra era sobre atuação do veterinário em áreas públicas, zoonoses e campanhas de vacinação. Foi uma palestra de quase duas horas, e prestei atenção nos detalhes, anotando tudo, mas também percebi o quanto ele era inteligente.
Quando terminou, me levantei com as outras, tentando sair antes que ele me visse. Mas ouvi meu nome:
— Mônica?
Parei. Virei devagar. E ele estava ali, me chamando. Não tive muitas alternativas, e fui até ele:
— Eu não acredito que é você — ele riu, abrindo os braços. — Que bom ver você aqui em São Paulo. Está gostando?
— Sim… estou. Muito — respondi, meio sem saber onde colocar as mãos.
— Se precisar de qualquer coisa… qualquer coisa mesmo, pode me chamar. Estou sempre por aqui — disse ele, com um olhar sincero.
— Obrigada, Vitor — murmurei, enquanto tento desviar o olhar. — Foi bom te ver.
Me despedi e saí rápido. Eu não queria que as meninas começassem a me cutucar quando descobrissem que ele falou comigo.
Mas antes mesmo de alcançar a saída do prédio, aconteceu algo que gelou meu sangue.
Do nada, senti dois braços me envolvendo por trás. O cheiro do perfume masculino veio antes mesmo da voz.
— Até que enfim te encontrei sozinha — ele sussurrou perto do meu ouvido.
Me virei rápido, empurrando os braços dele. Era o Marcos.
— Sai de perto de mim! — falei, tentando não chamar atenção, mas firme.
Ele riu, cínico, como se minha rejeição fosse um jogo.
— Eu só queria te ver. Te sentir um pouco. Mônica, para de fugir. Hoje… eu vou te mostrar o quanto te amo.
O olhar dele me deu calafrios. Eu tentei sair, mas ele bloqueou o caminho com o corpo. Meu coração disparou.
— Marcos, me deixa passar. Eu não quero isso.
— Não quero te machucar. Só quero… você.
Eu estava sozinha naquele corredor, perto dos banheiros. O grupo tinha ido em direção à cantina. Meus olhos procuraram ajuda, e meu corpo se preparou para empurrá-lo com força se fosse preciso. Ele então me puxou para o banheiro, e tudo que eu queria, era alguma ajuda.
E essa ajuda acabou vindo, para minha sorte, antes que algo pior acontecesse.