Os Jogos Começaram

Um conto erótico de Lore <3
Categoria: Lésbicas
Contém 3629 palavras
Data: 10/07/2025 19:17:28
Assuntos: Lésbicas

~ Alguém lembra quantos quartos tinha na casa dos meus sogros e a quem eles pertenciam? 😏

Eu deitei para dormir e, logo, Kaique e Milena bateram na porta. Deixei que eles entrassem, já imaginando a solicitação dos meus senhores.

— Mãe, deixa a gente dormir aqui para a senhora não sentir falta da mamãe na cama — Mih falou.

— A mamãe não me chuta, não me empurra... Acho que consigo suportar a saudade que estou — ironizei.

— A gente também dá beijinho — Kaká falou.

— Tá bom, só pelo beijinho — falei, rindo, e eles se juntaram a mim.

Fizemos o combinado do dia seguinte. Os dois iriam seguir a rotina de aulas e estudo, brincar durante a tarde e, à noite, eu partiria para o trabalho, retornando durante a madrugada. Eles prometeram se comportar e não ultrapassar os horários combinados enquanto eu estivesse na filial.

Tudo correu bem. Assim que a aula terminou, Juh me ligou. Perguntei como estavam meus sogros e ela disse que ainda estavam bem ruinzinhos e, naquele momento, dormiam.

— Estou me sentindo super mal — ela disse.

— Eita, gatinha, gripou? — perguntei.

— Não... É porque aconteceram tantas coisas hoje — Juh me falou.

— Conta, amor — pedi em um tom carinhoso.

— A gente estava tomando café da manhã bem cedo e Iury não levantava. Minha mãe foi até o quarto dele e começou a chamar, mas ele não respondia e parecia lento... Aí Lana disse que devia ser uma hipoglicemia e foi uma correria... Fiquei morrendo de dó. Meu pai abriu uma latinha de refrigerante e virou na boca dele e, aos poucos, ele foi voltando... Aterrorizante — Juh falou.

— Putz, que horrível... Ele está bem agora? — perguntei.

— Sim... Mas acho que ele não se cuida direitinho, não — Juh observou.

— Poxa, acho que é isso que meu sogro quer conversar com a gente — disse-lhe.

— Não... É outra coisa... — a gatinha falou em tom mais baixo.

— Ele já conversou contigo? — perguntei.

— Foi porque, depois disso tudo, eu fiquei querendo entender como Iury descobriu, desde quando toma insulina e como era o acompanhamento médico... E do nada todos ficaram em silêncio. Parecia que eu tinha tocado em um assunto proibido. Meu pai perguntou se eles queriam prosseguir naquele assunto e, se sim, como. Eu comecei a perceber que era delicado e disse que não tinha problema se não quisessem, não precisava, eu só estava curiosa para compreender e tentar ajudar se fosse preciso. Porém, entendo perfeitamente que era algo íntimo e os dois tinham total direito se não fosse confortável — a gatinha iniciou.

— Continua, amor — pedi, um pouco impaciente, e ela riu discretamente.

— Iury disse que, por ele, estava ok, e Lana assentiu. Então ele começou a contar. Os dois têm apenas onze meses de diferença e, assim que meu irmão nasceu, a genitora os entregou em uma unidade de atendimento e deixou avisado que eles já viviam com HIV... — Juh falou.

O silêncio reinou entre nós. Confesso que nem sequer imaginei. Por si só, ser deixado em um abrigo e passar parte da vida pulando de instituição em instituição já não é fácil; enfrentar uma infecção viral crônica e, no caso de Iury, lidar também com uma doença autoimune crônica... A vida não havia sido gentil com os meus jovens cunhados.

— Putz, amor... Que difícil... — falei após algum tempo.

— Eles parecem entender muito bem sobre isso. Me explicaram que estão de um jeito que não transmite, mas como não existe uma cura, fazem uso de uma medicação... Senti que eles têm vergonha — Júlia continuou.

— Já devem ter sofrido bastante com isso... Mas que bom que a carga viral está indetectável... — pontuei, sentindo grande tristeza no coração.

— Dei um abraço neles, acho que o primeiro de verdade... E senti que, de alguma maneira, nós nos conectamos hoje — a gatinha disse, com uma felicidade aparente na voz.

— Fico feliz por vocês, amor... Sabia que esse convívio ia fazer bem — falei.

— Ahhh, esqueci de falar sobre a diabetes... Quando Iury tinha uns cinco anos, aconteceu alguma coisa que eles não quiseram contar. Só sei que Iury foi parar no hospital e os exames mostraram... Mas acho que ele não segue à risca os cuidados que tem que tomar, acho que vou ficar de olho nisso — Juh disse de forma lenta.

— Nossa, como ela está tooooda irmã mais velha, responsável — brinquei.

— Não é nada disso, quero somente que ele se cuide, ué — Juh se explicou.

— Seeeeeei, tá rendida já — continuei zoando.

— Ai, amor, você eu não sei, não — ela disse, e eu aposto que sorria.

— É brincadeira, porém é bom perceber uma aproximação entre vocês. Torço para que dê certo e que seja só um começo — falei.

— Eu também. Daqui a pouco, nós três vamos na cachoeira — Juh disse, animada.

— Vida boa retada — brinquei novamente.

— Quer saber uma coisa fofa? — ela perguntou, toda manhosa.

— Diga, meu amor — falei.

— Aqui era a minha casa, morei quase a minha vida inteira e agora não faz o mínimo sentido vir sem você e as crianças. Fico falando algo... — a gatinha disse de forma meiga.

— Ahhhhhh, eu vou ter que ir te buscar agora, fodam-se os meus cunhados — falei, completamente apaixonada.

— Parece que eu vim e deixei meu coração — Juh continuou.

— Eu te amo muito, sabia? Estou morrendo de saudade do meu grudinho oficial... Os genéricos dormiram comigo, Mih lutou comigo a noite inteira — disse-lhe, e ela riu.

— Também te amo muito... Amor, eu tinha certeza que eles iam parar na nossa cama — Júlia comentou.

Desligamos a ligação e, enquanto Juh conversava com nossos filhos, comecei a refletir sobre a situação de Lana e Iury. Sabia que, em breve, meus sogros provavelmente me pediriam indicações de bons profissionais para garantir que eles recebessem o acompanhamento necessário. Resolvi me adiantar: comecei a pesquisar referências em Salvador, selecionando e avaliando com cuidado, com o desejo sincero de proporcionar aos meus cunhados uma experiência acolhedora e tranquila.

A gatinha não retornou mais, e as mensagens estavam sendo entregues, mas não cheguei a me alarmar. De vez em quando, o sinal some na pousada, então considerei algo normal.

Coloquei meus anjinhos na cama, reforçando os combinados que já havíamos feito. Avisei que, se precisassem de qualquer coisa, podiam ligar para o Lorenzo ou para a Sarah, que estavam de sobreaviso. Pedi apenas que evitassem acionar meus pais, a menos que não conseguissem falar com os tios. Nesse caso, tudo bem recorrer a eles também.

Os dois estavam radiantes, sentindo-se super adultos, e eu, com o coração apertado, via meus bebês crescendo diante dos meus olhos. Ainda assim, me sentia tranquila em saber que podia confiar neles.

Fui direto para a filial e, como de costume, mergulhei nas demandas que me aguardavam. A madrugada foi intensa, entre prontuários, reuniões com a equipe de plantão e decisões administrativas que não podiam ser adiadas. Mal percebi o tempo passar. Estava tão imersa na dinâmica, lidando com casos específicos extremamente delicados e garantindo que tudo funcionasse bem, apesar das circunstâncias, que só me dei conta das horas quando o céu começou a clarear.

Depois de uma reunião matinal, voltei para casa. Kaique e Milena já estavam em aula, mas consegui acenar discretamente para eles me verem antes de ir tomar um banho. Depois, passei para dar um beijinho em cada um e me preparava para descansar um pouco, mas fui surpreendida por uma bandeja com suco e sanduíches, preparada com todo carinho pelos meus filhos, que estavam eufóricos porque havia dado tudo certo.

— Só me acorda se a mamãe ligar. Preciso falar com ela — disse-lhes.

— Ela nem apareceu pra gente hoje. Ontem ligou a câmera — Mih comentou.

Juh passava de turma em turma, conferindo se as aulas estavam acontecendo conforme o planejado e, como de costume, fazia isso de forma ágil, quase sempre com a câmera desligada. Por isso, achei uma graça saber que ela ligou a câmera só para que nossos filhos pudessem vê-la. Um gesto simples, mas cheio de carinho, que só poderia vir da gatinha.

— A internet deveria estar ruim — pontuei.

— É... Na verdade eu nem vi o nome da mamãe entrando hoje — Kaká observou.

— Putz, será que ferrei com o trabalho da mamãe? — perguntei, e eles apenas riram.

Acabei pegando no sono quando eles retornaram para a aula e só acordei pouco antes do almoço. Os chamei para que me ajudassem e ficamos conversando sobre a noite passada e o comportamento deles. Se eu tivesse tempo, teria conferido nas câmeras, mas foi até bom não ter feito isso, porque ouvir da boca dos meus guris que só conversaram um pouquinho, dormiram, acordaram, tomaram banho, se alimentaram e foram assistir à aula foi bem mais interessante.

Após o nosso almoço, tentei ligar para Júlia, mas caiu direto na caixa postal. Acabei dormindo mais um pouco enquanto as crianças faziam suas atividades. Despertei com eles reclamando que estavam entediados e fomos para a varanda brincar com Brad.

— A mamãe não ligou hoje — Milena reclamou.

— Acho que lá está sem sinal — falei.

— O dia todo? — ela questionou.

— É o que parece, amor — tentei.

— Tô com saudade — Kaká disse melancolicamente, se jogando no meu colo.

— Eu também. Mas ela tá cuidando da saúde dos seus avós e conhecendo melhor os irmãos... Não foi importante o seu tempo com a Mih quando você chegou? É a mesma coisa... — expliquei, e ele assentiu.

— Queria que tivesse sinal — Mih voltou a lamentar, chateada, e se juntou ao irmão.

— Calma, vai passar rapidinho — tentei consolá-los enquanto me consolava também, rindo sem graça.

O outro dia chegou, e seguimos da mesma maneira: nem sinal da minha gatinha. Então, tomei a decisão de que, se ela não me respondesse, eu iria até lá à tarde. Na pousada até fica sem sinal, mas não por tanto tempo... Meu inconsciente começou a acusar que havia algo de errado acontecendo.

Foi o que ocorreu. Deixei Milena e Kaique com Lorenzo, peguei o carro dele e fui para a casa dos meus sogros. Chegando lá, os encontrei sentados na varanda, bem agasalhados e com uma notável diferença visual. Pareciam melhores.

— Vim buscar minha muié. Tá demorando demais — brinquei e os abracei.

— Foi dar um passeio a cavalo, cansou da maresia — minha sogra disse.

Imediatamente pensei: “Ufa, pelo menos ela está bem.”

— E Iury e Lana, foram juntos? — questionei.

— Não, estão aí dentro — meu sogro respondeu.

Os dois pareciam satisfeitos.

— Pelo que eu estou vendo, vocês estão bem melhores — comentei.

— Júlia montou um verdadeiro cronograma com remédios e não deixou a gente fazer nada... Não estava gostando, mas deu certo. Ela tinha razão e não era exagero — minha sogra concluiu, rindo.

— E como foi... Eles três? — perguntei, curiosa.

— Lore... São altos e baixos... Assim que chegamos, eu achei que ia ser a maior confusão... A casa vai ser ampliada, nós já sabemos até como ficará, mas claro que ainda nem começamos... Lana está dormindo no quarto de Kaique e Milena, e Iury está no de vocês... Juh ficou toda triste, falou que ia dormir na pousada porque lá era o quarto dela, mas nós conversamos e deu tudo certo. Está cada uma em uma cama — dona Jacira disse.

— Depois tivemos uma conversa bem... esclarecedora... Sobre a saúde dos meninos. Ela disse que até comentou contigo, e eu queria mesmo falar com você, porque com certeza entende e poderá nos ajudar — seu Zé pontuou.

— Eu me adiantei e já trouxe o nome de uns centros especializados, alguns médicos... Vamos dar o melhor tratamento para eles. Com certeza já sofreram muito nessa vida e, no que eu puder ajudar a suavizar daqui para frente, podem contar comigo — falei, e os dois abriram o maior sorrisão e me agradeceram.

— Eles deram um passeio ontem, foram até a cachoeira. Houve uma confusão, porém se resolveram logo... Ahh, estou gostando de ver como as coisas estão indo... Por mais que não seja fácil, sinto que o nó que existia está se desfazendo — minha sogra falou, com um ar aliviado.

Juh não tinha voltado, então entrei para falar com os pestinhas. Eles estavam distraídos, e eu os assustei com um grito.

— Não sabia que você vinha — Lana disse, animada.

— Trouxe os crias? — Iury perguntou, tentando olhar atrás de mim.

— Não, eles ficaram... Vocês alugaram minha muié e eu fiquei com saudade de cheirar o cangote dela. Tive que vir atrás — brinquei.

— Quanto grude — Iury ironizou.

— Que passeio demorado esse, hein? — falei, olhando no relógio.

E eles se entreolharam. Foi então que eu notei algo… Estávamos no quarto onde Juh deveria estar dormindo e não havia nem sinal das mochilas dela.

— Tá acontecendo algo que eu deveria saber? — perguntei, de maneira séria.

— Então… — Iury começou a dizer, me puxando para dentro e fechando a porta.

Aparentemente, meus sogros não poderiam ouvir.

— Cadê Júlia? — perguntei, sentindo o coração acelerar.

— Ela disse aos nossos pais que ia andar a cavalo, mas nós vimos ela entrar na pousada — Iury continuou, quase em um sussurro.

— Nós não somos X9, né? Então não falamos nada — Lana finalizou.

— Mas por que isso? — questionei.

— Lore, a gente até tentou, mas não vamos nos dar bem nunca. Somos completamente diferentes. Ela não sabe brincar, não sabe se divertir… E ontem ela dormiu lá depois que voltamos da cachoeira — Iury falou, tranquilo.

— Poxa, ela estava tão feliz por estar se conectando com vocês… — comentei.

— Até achei que ia dar certo, porém… Não deu — Iury disse.

— Nunca achei que isso fosse funcionar — Lana falou, com sinceridade.

— Vou até ela — disse-lhes.

Eu nem pedi, não estava a fim de brincar de esconde-esconde, mas, para que meus sogros não soubessem que a gatinha estava na pousada, Lana os chamou.

Entrei já me direcionando até o quarto, abri a porta devagar para não assustá-la, e lá estava meu amor. Deitadinha, abraçada ao travesseiro, acompanhada de lenços de papel e uma garrafa de água.

— Toc, toc — falei, dando duas batidinhas na porta.

E só então fui notada. Juh parecia estar longe.

— Amor? — ela disse com uma voz rouca, visivelmente confusa, como se não acreditasse que eu estivesse ali.

— Você não responde seu amô, aí eu tive que vir atrás do meu neném — falei, indo ao seu encontro.

— Sem sinal… Desculpa — Juh disse, e eu a abracei bem forte, me juntando a ela na cama.

— Saudade… — falei, sentindo o cheiro da pele dela e começando uma sequência de beijinhos.

Júlia começou a apertar o abraço mais e mais. Senti suas lágrimas molhando meu colo e não tive coragem de dizer nada.

— Eles são malvados, amor… — foi a única coisa que ela me disse, após algum tempo.

— Te machucaram? — perguntei, preocupada, cessando o carinho para prestar atenção em seu corpo, e notei seu pé machucado.

— Eles são malvados… — Juh repetiu, me agarrando ainda mais.

— Vamos embora, gatinha — falei, decidida.

Seja lá o que eles tivessem feito, visivelmente machucou minha mulher. Júlia estava em prantos nos meus braços, e eu me sentia extremamente culpada por ter sugerido a ida dela à pousada.

— Espera um pouco — Juh disse, insistindo no abraço.

Recomecei o carinho, agora percorrendo suas costas com as mãos, torcendo para que ela se acalmasse, e ficamos mais ou menos uma hora naquela mesma posição.

— A gente foi pra cachoeira de quadriciclo e estava tudo bem. Fomos brincando, jogando mamonas uns nos outros pela trilha. Como não dá pra chegar na cachoeira, estacionamos lá naquela parte estreita e o clima entre nós estava bem gostoso. Eu achei de verdade que ia dar certo e que todo aquele caos tinha sido apenas uma primeira má impressão — nesse momento, a gatinha voltou a chorar.

— Você não precisa contar nada agora. Se quiser, a gente só vai embora, amor. E desculpa… Não era pra eu ter sugerido nada disso e sim esperar acontecer naturalmente… — falei, depositando alguns selinhos em seus lábios.

— Quero contar. E não pede desculpas por isso, suas intenções foram boas e quase deu certo… O problema foram eles… — Juh disse de forma manhosa.

— Tá bom, amor… — não quis contrariá-la, mesmo ainda me sentindo culpada.

— Nós chegamos lá, eles ficaram bem no raso e eu um pouco mais para o meio, mas a gente ainda conversava. Não sei quem puxou o assunto, porém voltamos a falar sobre o passado deles. Aí Iury foi contando que eles chegaram a conhecer a genitora porque ela os visitou uma vez e, depois, eles começaram a fugir do abrigo para tentar encontrá-la novamente. A única vez que deu certo, quando ela os avistou, se atirou na frente de um carro para não falar com eles… Foi fatal, bateu a cabeça e eles presenciaram a morte da mãe biológica — Júlia relatou, enxugando o rosto.

— Puta que pariu… — foi como consegui reagir.

— O namorado dela avançou em cima deles, os culpando e dizendo que ia matá-los. O pessoal que passava na rua os protegeu, mas Iury começou a passar muito mal e chamaram o SAMU… Lá, contataram o abrigo, veio o diagnóstico de diabetes e, pela primeira vez, os remanejaram para outro lugar — Juh continuou.

— Cada novo fato que sei sobre a vida deles me assusta ainda mais — falei, em um lamento.

— Teve outras coisas pesadas também, mas eles não detalharam. Não é a primeira vez que eles são adotados, já aconteceu antes, porém foram devolvidos. Os dois já foram agredidos de todas as formas e abusados sexualmente. Pelo que eu entendi, foi pela mesma pessoa. Fora as milhares de confusões que eles arranjaram, o que fez com que fossem transferidos inúmeras vezes, nunca tendo estabilidade — a gatinha finalizou.

Respirei fundo, tentando processar cada palavra.

— É surreal pensar que eles sobreviveram a isso tudo e ainda assim conseguem sorrir, brincar… Eles são fortes demais… Dá uma vontade absurda de proteger… — comentei, extremamente triste.

Meu peito doía só de imaginar a vida que eles levaram.

— Eu estava exatamente assim, querendo pegar os dois e enfiar em um potinho, para que nenhum mal chegasse até eles novamente… — Juh começou a dizer. — Sentei no meio deles e falei que eu senti muito ciúme porque, pela primeira vez, estava dividindo meus pais com outras pessoas. Fiz questão de deixar claro que passei uma borracha nisso e que, a partir de agora, seria um prazer dividir esse amor e que, se dependesse de mim, nada de ruim ia mais afligir os corações deles e que meu coração estava aberto para que eles pudessem morar… — Júlia disse-me, emocionada.

— Ninguém pode dizer que você não está tentando, amor… Ninguém… — pontuei, intensificando o carinho.

— Estava tudo indo bem, tudo mesmo. Consegui convencê-los a avançar um pouco na água e eles perguntaram como te conheci. Riram bastante com a história e confessaram que, logo quando meus pais falaram que éramos um casal homoafetivo, eles não acharam legal, mas que, desde o início, você foi muito legal e os dois perceberam que era bobagem se importar com isso. Nós tiramos muitas fotos bem bonitas — nesse momento, a gatinha pegou o celular e foi me mostrando.

Realmente, fizeram belos registros. Dava para perceber que algum sentimento bom havia brotado ali. Fotos dos três abraçados, fazendo careta, rindo um do outro… Estavam espontâneas, e isso foi o que mais deixou lindo para mim.

— O que aconteceu para mudar o clima drasticamente? — perguntei, tirando alguns fios de cabelo da sua face.

— Então… A gente ainda estava tirando foto quando um bicho muito grande e feio apareceu nas pedras, e Lana o pegou. Eu falei para ela jogar longe porque eu tinha medo, e nisso ela começou a me olhar estranho… À medida que ela se aproximava, mesmo morrendo de medo e sem conseguir pensar direito, eu ia me afastando. Fiquei com mais medo ainda de imaginar a Lana se afogando por minha causa, aí saí correndo e eles dois me perseguiram. Achei que eu teria vantagem porque eles ainda ficaram recolhendo nossos pertences, mas, cada vez que eu olhava, eles estavam mais próximos… Já próximo de casa, tropecei em uma pedra e caí. Eu comecei a gritar de dor, contudo, quando me alcançaram, comecei a gritar de horror. Entrei em pânico com Iury me segurando e Lana enfiando aquele bicho nojento no meu rosto — Júlia relatou, completamente arrepiada e começando a soluçar.

— Eles passaram de todos os limites… Não foi só uma brincadeira de mau gosto. Eles te viram chorando e decidiram continuar… O nome disso é crueldade… — pontuei, decepcionada.

— Eu implorei para pararem, eu gritava por socorro, me debatendo, e em nenhum momento eles deram sequer um passo para trás… Meu pai ouviu e acabou vindo. Eu nem consegui explicar, só me agarrei nele chorando muito enquanto ele brigava com os dois… Fui desesperada tomar um banho, totalmente suja, e quando me perguntaram o que houve… Eu disse que a gente se resolvia depois… Arrumei minhas coisas, esperei meus pais dormirem e vim para cá… Não queria interagir com eles e também estava com medo de aprontarem outra coisa enquanto eu dormia — ela enfim finalizou.

— Por que não contou tudo que ocorreu? Meus sogros precisam saber ou isso pode se repetir, amor… — perguntei.

— Não sei, eu queria esquecer, fugir, pôr um fim naquele dia… Se eu pudesse, ia embora logo, mas ainda estava estabelecendo os horários dos remédios, essas coisas… — Júlia disse.

Eu não quis mais questionar. Ela já tinha revivido tudo aquilo ao me contar, e eu podia ver o quanto estava exausta. Então, apenas fiquei ali, oferecendo o que meu coração mandou: colo, carinho e presença.

Acomodei Juh melhor, trazendo-a para cima de mim, afaguei seus cabelos com calma e beijei de leve sua boca algumas vezes.

— Descansa um pouquinho antes de irmos — falei, e ela concordou, acenando positivamente com a cabeça, encaixando-se contra o meu pescoço.

Aos poucos, senti o seu corpo relaxando ainda mais sobre o meu. Seus ombros perderam a rigidez, a respiração dela agora era profunda e constante, e seu coraçãozinho batia tranquilo. Em contraste, meus pensamentos tamborilavam mais do que as mãos de um percussionista em tempo de carnaval… Pelo menos, dentro dos meus braços, Júlia estava segura.

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Foto de perfil de Lore Lore Contos: 124Seguidores: 43Seguindo: 4Mensagem Bem-vindos(as) ao meu cantinho especial, onde compartilho minha história de amor real e intensa! ❤️‍🔥 (sou casada e completamente apaixonada por uma mulher ciumenta, mantenha distância ✋🏽💍)

Comentários

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Eu geralmente leio um conto e logo após faço meu comentário, mas pela primeira vez eu não fiz isso. Li o texto ontem mas foi uma mistura de sentimentos tão intensa que eu preferi esfriar a cabeça, colocar as ideias no lugar para depois comentar.

Eu realmente fiquei muito triste e chocada com a história de vida dos irmãos. Enquanto eu lia eu relembrava algumas situações que passei no orfatado e principalmente no meu início de vida após ser adotada. Eu vivi muitas coisas ruins, quando estava no orfatado e também logo após ser adotada. As piores foram no colégio, sofri bastante, mas nem se compara com o que esses dois passaram.

Eu sou acostumada com histórias tristes por causa da minha profissão, mas poucas vezes ouvi uma história tão triste como a dos dois. Achei que era impossível não empatia por eles.

Porém quando comecei a ler o fim do texto toda minha tristeza é empatia foi se transformando em raiva. O que eles fizeram com a Juh foi de uma covardia tão grande que eu simplesmente esqueci de toda história triste deles. Talvez por eu ter uma fobia e saber o desespero que isso causa, a minha vontade era dar uns tapas nos dois. Posso parecer até insensível com essa afirmação, talvez eu até seja, seila. Mas foi o que eu senti.

Sinceramente eu não sei o que sinto pelo dois no momento. Sei que a história deles é triste e eram apenas dois adolescentes, mas sinceramente, nada justifica o que fizeram. Acho que mesmo sabendo que as coisas melhoraram com o passar do tempo, vai ser muito difícil eu ter empatia com eles de novo.

Eu até podia fazer um comentário politicamente correto, mas prefiro ser sincera sempre nos comentários aqui. Sinto bem mais raiva do que empatia no momento, mesmo de cabeça fria.

Muito bom como sempre!

Parabéns minha amiga querida! 🤗😘

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Quando eu respondi um comentário do Beto, eu disse que era um verdadeiro experimento social estar ao lado deles sabendo de toda história porque realmente, sentia sempre essa dualidade dentro de mim.

Hoje em dia eu acostumei. Iury e Lana melhoraram bastante, as implicâncias soam até engraçadas e por isso minha muié me acusa de passar pano. Virou algo saudável, na minha visão!

Nesse dia em específico, eu estava completamente mexida com tudo que eles, tão jovens, já haviam vivenciado. Nenhum dos dois demonstrava sinais de tristeza, mas, de fato, foi uma vida sofrida. Tinham tudo para serem vistos como figuras positivas pela força e superação, mas quebram totalmente a expectativa com suas próprias atitudes. Por mais que a gente se esforce para tentar entender que aquelas ações são consequências de diversos fatores, não dá para defender ou justificar porque alguém que não tem nada a ver com os traumas, sofreu tentando acolher e curar dores que não eram suas.

São como algozes hostilizados pela vida!

Se te conforta, eu também meteria a porrada 😂😂😂😂

Eles tem MUITA sorte de ter Juh como irmã, eu não teria tanta paciência 🤷🏽‍♀️😎👊🏽

Te agradeço pela sinceridade, minha amiga! Era exatamente o que eu queria, observar reações reais!!!

PS: Nós, que estamos de fora, sentimos mais indignação que Juh (ou pelo menos por mais tempo) Acredite 🤡

Muito obrigada por me apoiar sempre aqui, Jú! Beijão!!!! 😘❤️

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Juh é do tipo de pessoa que vai para o céu direto, ela tem uma bondade e um coração enorme.

Sempre procuro ser sincera nos comentários de qualquer história, na sua então nem se fala, vou ser sempre verdadeira.

Obs: Com certeza sentimos, te juro que minha vontade enquanto lia era enxer eles de porrada. Kkkkkkk

Por falar em porrada, quase foi presa porque quebrei o nariz de um bombeiro com um soco terça feira. Kkkkkk

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JÚ 🗣️ KKKKKKKKKKKKKkKKKKKKKKKKK

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Conte mais 😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂

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Não vou entrar em detalhes porque foi algo terrível.

Mas resumindo, uma mãe viciada em drogas e com problemas de depressão se enforcou na frente da filha de 7 anos.

A criança entrou em desespero e começou a chorar a e gritar. Um dos vizinhos viu a cena e chamou os bombeiros e a polícia.

Logo após foi até a casa mas infelizmente a mulher já estava sem vida.

Esse vizinho tentou tirar a criança de perto da mãe, porém não conseguiu por ele já ser de idade avançada e não ter forças o suficiente.

Os bombeiros foram os primeiros a chegar. Levaram o corpo da mãe até a clínica que eu trabalho e a criança foi levada para a casa do pai pela polícia.

Quando eu saí na recepção eu vi um dos bombeiros mostrando algo no celular para uma colega minha de trabalho. Minha amiga parecia um pouco assustada e o bombeiro sorria, por curiosidade eu fui lá ver.

Lore o idiota gravou a criança desesperada tentando levantar o corpo da mãe pelas pernas, em vez dele ir ajudar a criança, ele achou legal filmar a cena primeiro.

Bom eu perdi a cabeça e dei um muro nele, quebrei o nariz e o celular dele, quase fui presa e perdi o serviço. Mas no fim deu tudo certo. 🙏🏻

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Q coisa horrorosa, mdsss 😧

Desumano!

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Juh me deu tanta raiva que fiquei sega na hora, sei errei por ter essa reação, mas eu te juro que eu nem vi direito o que eu estava fazendo de tanta raiva que me deu quando vi o vídeo e o sorriso no rosto dele.

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Existem pessoas cruéis nesse mundo, viu? Deus é mais

Nariz quebrado foi pouco para o q ele merecia 😡

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Ah mas ele vai se ferrar, faz 8 meses que ele entrou na corporação, já foi registrado um denúncia contra ele, já o afastaram e duvido que ele volte a vestir a farda que foi lhe dado para ele ajudar as pessoas. No que depender de mim, dá minha amiga e dos advogados do hospital, ele vai se ferrar bonito.

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Se ele for preso, me avisa? 😁

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Isso eu acho muito difícil, mas pelo expulso eu espero que ele seja. No mínimo!

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Isso é um completo absurdo! Um bombeiro, alguém treinado pra salvar vidas, vê uma criança em total desespero e ao invés de correr pra ajudar ele pega o celular para gravar? Isso é uma violência dupla. Não bastava a menina ver a mãe naquela situação horrível, ela ainda foi exposta ao olhar de um adulto que a tratou como se fosse um espetáculo.

Eu não consigo nem chamar isso de erro profissional. Isso é falta de humanidade. Ele não tinha o direito de estar naquele uniforme se não entende o peso do que carrega ao vesti-lo. Ninguém grava uma cena dessas por acidente, ninguém sorri mostrando para colegas se estivesse arrependido.

O que ele fez não é só antiético, é cruel, desumano. E você, a única pessoa ali com um pingo de decência, é quem paga o preço? Você agiu por impulso, claro, mas foi um impulso de humanidade, de indignação diante de algo que nenhum profissional deveria ter feito. E o sistema ao invés de punir o erro real, pune quem denuncia com atitude.

Se o mundo fosse minimamente justo, esse cara nunca mais vestiria uma farda, e você seria promovida, não demitida...

Sinto muito, Jú... 😐

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Eu tive que ir até a delegacia, os policiais fizeram o dever deles, mas todos ficaram do meu lado, até os colegas dele de trabalho. Eu só dei meu depoimento e me levaram de volta só clinica. Na verdade o certo era eu ficar detida, mas o delegado me liberou.

No que depender de mim ele vai ser espulso, a dona da clinica colocou os dois advogados no caso. Tomara que esse ser seja expulso.

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Muito doentio existir a possibilidade de você ficar detida, sendo q o infrator foi tal bombeiro 🥴

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Mas o que eu fiz é um crime, é a mesma coisa de agredir um policial, pela lei, eu estava muito errada. Ainda bem que não cumpriram ao pé da letra. rsrs

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Mais criminoso é ele, você defendeu a criancinha 😌

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Até te entendo, é que as vezes na ponta da caneta as coisas são diferentes. Não é a toa que dizem que a justiça é cega. rsrs

Mas o importante é que deu tudo certo, graças a Deus. 🙏🏻

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Já pensou o Beto arrumando seu Jumbo e postando vídeo no tiktok com a #HomemDePresa🔓🕊👫🏽💍?

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🗣️Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Só você mesmo Lore. Kkkkk

Tadinho do Beto, ele com certeza iria ficar muito triste, mas com certeza iria levar meu Jumbo todo dia de visita. Kkkkkk

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Tava puta com a história, só consegui pensar numa bobeirinha dessa agora 😂😂😂😂

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Eu fiquei bem mal com isso, não pelo que houve comigo, isso é o de menos, mas pelo que houve com essa criança. 🥺

Mas que bom que você pensou nessa bobeirinha, me arrancou uma gargalhada sincera e eu amo pessoas que me fazem sorrir. 🤗❤️

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❤️😘❤️😘❤️😘❤️😘

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🤗❤️❤️❤️❤️❤️❤️😘😘😘😘😘😘

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Pois que se lasque bem lascado. Todo castigo é pouco pra uma desgraça dessa.

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Concordo plenamente Lore, esse merece o pior.

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A atitude deste bombeiro foi uma das coisas mais nojentas e repugnantes q já vi

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É O QUEEEEEEEE????? 🙀

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Acho que quebrei o encanto de boa moça que você achou que eu era. Kkkkkkk

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Você é minha rainha justiceira 😌❤️

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Fofa. 🤗❤️

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Essa muié te ama tanto que se você matar alguém, ela enterra 😂😂😂😂

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E enterro um cavalo acima do corpo 😂

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Melhor colocar o corpo dentro da barriga do cavalo. Kkkkkkkkk

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Mentira dela, Jú, as implicâncias n são engraçadas 😌

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Jú, do q você tem fobia?

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Lore e Juh,

Que capítulo difícil. Estou aqui ainda tentando digerir tudo.

Fiquei especialmente mexido com a parte sobre a mãe biológica. Não entendi completamente o que aconteceu:

"A única vez que deu certo, quando ela os avistou, se atirou na frente de um carro para não falar com eles… Foi fatal, bateu a cabeça e eles presenciaram a morte da mãe biológica."

Isso foi um suicídio? Ou uma reação desesperada? De qualquer forma, que dor imensa para duas crianças presenciarem algo assim.

Casos como o deles, de crianças que crescem em abrigos mesmo sabendo quem é a mãe biológica, costumam ter histórias muito duras por trás. Perda da guarda normalmente envolve abandono formal, negligência, abuso, violência, ou falta de condições mínimas — muitas vezes agravadas pelo uso de drogas. É pesado demais.

Eles claramente enfrentaram muita coisa.

(Eu nunca comentei aqui, mas minha mãe faleceu de forma repentina, num acidente estúpido — um veículo avançou o sinal e a atingiu. Não quero comparar situações, mas esse trecho me fez lembrar dela. A única coisa boa que resultou daquilo foi que eu e meus irmãos nos aproximamos de forma automática. Imagino que, de alguma maneira, tenha acontecido algo semelhante com os seus cunhados — durante muito tempo, provavelmente, um foi tudo o que o outro tinha.)

Essa história me deixou com o coração apertado. É difícil até imaginar o peso que essas crianças carregam. Fico pensando que, muitas vezes, quem passa por abusos, rejeição e crueldade tão cedo na vida pode acabar replicando isso com os outros, quase como uma forma distorcida de defesa ou sobrevivência.

(Depois te conto uma história que aconteceu com minha sobrinha... também me apertou o coração.)

Não estou dizendo que isso justifica o que fizeram com a Júlia — de forma alguma. Mas talvez ajude a compreender. E é admirável como ela tentou se aproximar, acolher, mesmo depois do trauma. Que força… Que história.

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Essa questão da mãe é realmente muito complicada… Ela tinha outros filhos, mais novos e mais velhos e quando visitou Lana e Iury, deixou claro que não tinha interesse em viver com eles novamente. Por isso, ninguém entende muito bem por que, justamente não criá-los.

Ela era uma pessoa com transtorno por uso de substâncias e, no momento do acidente, estava em estado de intoxicação aguda por álcool e outras drogas. Iury era muito pequeno, mas lembra de tudo detalhadamente. Tanto ele quanto Lana acreditam que a mãe biológica os reconheceu e, por isso, se atirou na frente do carro. Eles carregam essa culpa até hoje… 😢

Eu não conheci a mãe deles e não sei toda a história a fundo, então é difícil afirmar qualquer coisa sobre as motivações dela. Mas, honestamente, não acredito que tenha sido uma tentativa de autoextermínio deliberativo. Me parece mais uma reação impulsiva, muito provavelmente orientada pelo desejo de evitar a responsabilidade a frente dela. O quadro de intoxicação com certeza contribuiu para a desorganização cognitiva e emocional, favorecendo a adoção de condutas de alto risco sem ponderação racional.

A história deles é extremamente pesada. Ninguém merece viver metade desses sofrimentos. Só o fato de estarem vivos já demonstra uma força imensa. Você acertou, Iury e Lana são muito unidos, se protegem e se preocupam profundamente um com o outro. Essa relação com certeza ajudou a manterem-se em pé.

É inegável que essa trajetória deixou marcas profundas. Além disso, é importante lembrar que, quando vieram para cá, eles já não eram crianças, eram adolescentes entrando na juventude, com uma vida inteira de hábitos, padrões de comportamento enraizados, relações e uma cultura completamente diferente, já que vieram de outro estado.

Como você bem colocou, entender o contexto ajuda a compreender, mas nunca a justificar. Juh não foi culpada por nada do que aconteceu com eles, ela só estava tentando ser uma boa irmã, acolher e oferecer afeto. De forma alguma merecia tamanha perversidade.

Sinto muito pela sua mãe. É devastador perder alguém assim, contudo, também muito significativo que o amor entre você e seus irmãos se fortaleceu nesse momento tão difícil... Tenho certeza que ela se orgulha dos filhos que tem! ❤️

Muito obrigada por seguir acompanhando, Ryu, quando puder você conta a história da princesa da sua sobrinha! 😘

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Lembrei de um relato de um soldado que esteve na Guerra do Vietnã, onde ele contava como atos bárbaros, inicialmente chocantes, passaram a ser vistos como normais com o tempo — simplesmente porque o ambiente os banalizava. Ele foi perdendo a civilidade e a barbárie se tornava normal.

É claro que os cunhados da Juh não estiveram em uma guerra formal. Mas acho que viver assim pode afetar profundamente a capacidade de empatia, de reconhecer a dor alheia e até mesmo de perceber quando se está sendo cruel.

Não estou defendendo o que eles fizeram, nem minimizando o sofrimento da Juh — aquilo foi uma perversidade real,. Mas fico me perguntando se eles têm consciência do quão fundo feriram alguém que só queria amá-los e protegê-los.

Traumas as vezes transbordam para relações futuras, com consequencias para pessoas que não tiveram culpa nenhuma.

Da vontade de reagir com violência, no caso deles, também fiquei com raiva.

Mas tem um ponto, briga, violência com alguém da família é diferente, não é como atacar ou ser atcado por um estranho.

Penso no meu próprio irmão. Ele é quase 10 anos mais velho, cresceu com um temperamento forte, do tipo que não levava desaforo pra casa. Quando éramos pequenos, eu geralmente levava a pior.

Se eu levasse a ferro e fogo tudo que passei com ele, hoje eu não falaria com ele.

E eu passei por maus momentos com ele.

Hoje não sinto raiva dele. Não quero dar uma de santo, mas não tenho nenhum sentimento ruim pelo meu irmão hoje.

Quando é da família, ou em algum momento alguém cede, esfria os ânimos, ou há um rompimento. Pelo menos vejo assim a partir da vivencia com minha família.

Até hoje temos visões distintas do mundo. Até hoje ele anda armado e é meio jogo duro. Mas já melhorou muito. E ate que nos damos bem.

É mais confortável opinar quando não esta tão envolvido emocionalmente e não se esta no calor dos acontecimentos.

Mas em relação a seus cunhados, a situação pede uma atitude sim.

Fico feliz, porque atualmente vc relata que esta tudo bem.

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Parece que você já leu o próximo capítulo, foi certeiro 🎯

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Em relação a minha sobrinha.

Essa história me foi contada pelo meu irmão e minha cunhada. Eu não estava presente no momento em que tudo aconteceu.

Eles haviam acabado de se mudar para outra cidade e comprado uma casa nova. Minha sobrinha, na época, tinha cerca de 6 ou 7 anos. A casa ainda estava uma bagunça, então contrataram uma diarista para ajudar na limpeza antes da mudança definitiva. Estavam todos lá, organizando, limpando, cuidando dos últimos detalhes.

Em determinado momento, minha sobrinha começou a reclamar de fome. O lanche que haviam levado já tinha acabado, e, naquela hora, eles estavam ocupados com um prestador de serviço que instalava algo na casa. Como o McDonald's ficava bem perto dali — dava até para ir a pé —, pediram que a diarista levasse minha sobrinha até lá. Deram dinheiro suficiente para que ambas pudessem lanchar (na época, ainda se usava dinheiro em espécie).

Pouco tempo depois, a diarista e minha sobrinha voltaram sem ter conseguido comprar nada. A diarista, uma pessoa muito simples, não soube explicar exatamente o que havia acontecido, apenas disse que não conseguiram ser atendidas no Mc. Isso gerou desconfiança. Ambas estavam vestidas de forma simples — roupas modestas, chinelo de dedo — e foi aí que surgiu, pela primeira vez (que me lembre), a possibilidade de minha sobrinha ter sofrido racismo. Ela é negra.

O que mais me preocupou foi o que aconteceu nos dias seguintes. Minha sobrinha começou a apresentar um comportamento diferente: estava agitada, nervosa, mais agressiva do que o habitual. Alguns dias depois, durante a visita de algumas pessoas à nova casa, ela teve um rompante. Apontou para a porta e mandou as visitas irem embora, usando expressões que nunca costumava usar (algo como: "Vaza!", "Cai fora!").

Fiquei muito tenso com isso. Tenho quase certeza de que ela foi mal tratada naquele lugar. Expulsa, talvez humilhada. E, sendo uma criança, ainda tão indefesa.

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O que mais dói é imaginar como ela deve ter se sentido: confusa, sem entender direito o porquê de estarem negando algo tão simples, e como a diarista provavelmente também se sentiu constrangida e impotente diante da situação.

A mudança no comportamento dela nos dias seguintes também diz muito. Crianças quando não sabem, não querem ou não conseguem colocar em palavras o que sentiram, o corpo, comportamento e as emoções gritam. Essa agitação, a agressividade, o rompante com as visitas… Tudo parece ser um reflexo de alguém que teve sua dignidade ferida e não consegue processar.

O mais triste é saber que, para muitas crianças negras, essa pode ser a primeira de várias experiências assim ao longo da vida. E que, para elas, isso chega tão cedo.

É muito bom que você tenha essa sensibilidade e perceba que aquilo não foi “nada demais”, Ryu. Porque muita gente ignora esses sinais e acha normal...

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Olha o que aconteceu com o Kaique e que acabou forçando a gente a se mudar…

Era sexta-feira santa, estávamos indo para a casa dos meus sogros, Milena e ele já arrumados para a celebração. Por causa do calor insuportável, Kaique tirou a calça e resolveu ir de short, um modelo básico, preto, pouco acima do joelho. Era até de marca, mas não havia estampas ou logos.

(não que isso justifique algo, mas foi a régua usada)

Já estávamos fora quando ele percebeu que havia esquecido a túnica da apresentação da Paixão e voltou correndo para buscar.

Com a demora, pedi para a Mih dar uma olhada no que tinha acontecido. Pouco depois ela me liga, desesperada, dizendo que a chave e a camisa dele estavam largadas no gramado… mas nem sinal de Kaká.

Meu coração quase saltou pela boca. Tentei me controlar e subi com Juh.

Encontrei meu filho, encurralado numa guarita, rodeado por 5 homens fardados. Eles o cercavam como se fosse um criminoso. Ele chorava, soluçando, tentando explicar que era morador há anos, mas ninguém o escutava.

Ele ouviu coisas como:

"Morador? Com esse cabelo de mendigo?"

"Sem camisa, de short, com essa cara de maloqueiro... Mora aqui nada. Deve estar rondando pra roubar alguma coisa"

"Com essa cara de vagabundo?"

"Vamos chamar a viatura para você"

Fora as agressões... Kaique se defendeu de 1 e aí os outros 4 apareceram.

Nem preciso dizer o barulho que fiz, né?

Arranquei meu filho das mãos daqueles covardes enquanto eles tentavam se justificar com um cinismo nojento.

O condomínio: "Eles não sabiam, são novos. Não foi racismo, poderia ter acontecido com qualquer um."

Ele poderia estar vestido em trapos, com o cabelo batendo no chão, e ainda assim, nem ele, nem ninguém deveria ser julgado, humilhado e tratado como um invasor por causa da aparência.

Kaique era só um rapaz negro, com o cabelo um pouco maior do que o aceitável para eles, por conta de uma apresentação da igreja, sentindo calor e tentando entrar na própria casa.

E olha que, dentro do recorte racial brasileiro, ele ainda carrega alguns privilégios: tom de pele cor de paçoquinha, cabelo cacheado no esteriótipo de anjinho, e uma situação financeira confortável. Mesmo assim, foi tratado como um suspeito, um corpo estranho no espaço onde viveu desde sempre conosco.

Agora imagine... Sabemos bem o que acontece com pessoas de pele retinta, cabelo crespo, vindas da periferia. É muito, muito pior...

Não sou a favor do mimimi e do esvaziamento de pauta que fazem com um assunto tão sério, mas é repugnante saber que essa ainda é a nossa realidade e que todos os dias, há exemplos se repetindo como um looping infinito.

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Lore

Assisti recentemente um filme que fala sobre o ciclo da violencia ( e a quebra dele). o filme chama "Incendios". Não sei se ja assisitiu.

Se não, assista. Achei uma pbra prima. um dos meçlhores que ja vi.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Incendies

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Violento, mas real.

Ele é famoso na área, Ryu, principalmente porque foi indicado e injustiçado no Oscar.

Conheço e se você curtiu esse, talvez goste também de "Antes da Chuva". É mais antigo, talvez você até já tenha assistido.

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Sinto muito pela sua perca RYU. 🥺

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Muito obrigado🙏

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Quando Lore apareceu (EXTREMAMENTE LINDA) na porta eu me senti taaaaao aliviada... JURO! ❤️

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Missão sobrevivência ativada 😭

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O dia que seu sossego acabou, mô 😂😂😂

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Te amo! 🤗❤️😘

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