Reparos necessários

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 5306 palavras
Data: 11/07/2025 13:05:50
Última revisão: 11/07/2025 18:59:13

O cheiro de poeira e tinta velha impregnava o ar do apartamento, um aroma de abandono que Tony, ironicamente, apreciava. Era o cheiro de potencial, de uma tela em branco. Como arquiteto, ele via a estrutura, os ossos do lugar, e sua mente já desenhava as linhas limpas e os espaços abertos que substituiriam o caos atual. Mas o caos prático, a necessidade de mão de obra, era um território que ele detestava.

A campainha soou, um zumbido agudo que cortou o silêncio e o fez saltar. Era ele. Carlos. O nome, indicado por um colega, era comum, quase anônimo. "O melhor empreiteiro da cidade", disseram. "Confiável, sem frescura e resolve qualquer problema."

Tony alisou a camisa de linho, um tique nervoso. Abriu a porta e o ar do corredor pareceu mudar de densidade.

Carlos era maior do que Tony imaginara. Não apenas alto, mas largo. Ombros que pareciam esculpidos para carregar o peso do mundo, ou pelo menos de uma parede de concreto. Ele usava uma camiseta cinza simples, manchada de suor sob os braços e no centro do peito, o tecido colado a um relevo de músculos definidos. A calça de brim grossa, desbotada e suja de gesso nos joelhos, assentava baixa em seus quadris. E abaixo do umbigo, onde a camiseta terminava e o cós da calça começava, uma linha de pelos escuros desaparecia, uma seta apontando para o que era, sem sombra de dúvida, a presença mais dominante no recinto.

Um volume pesado, denso, que esticava o tecido grosso da calça. Não era uma sugestão. Era uma afirmação. Uma protuberância que tinha seu próprio campo gravitacional, e os olhos de Tony foram puxados para lá, uma traição instantânea e vergonhosa de seus pensamentos. Ele desviou o olhar rápido demais, o calor subindo por seu pescoço.

"Carlos?", Tony disse, a voz um pouco mais alta que o necessário.

"Isso. E você deve ser o Tony", a voz dele era um barítono rouco, prático. Um aperto de mão firme, a palma áspera e calejada envolvendo a de Tony, que era lisa e cuidada. O contato foi um choque elétrico, a textura de lixa contra seda. "Vamos ver o estrago."

Carlos entrou e o som de seus coturnos pesados no assoalho de madeira foi uma invasão, uma presença física que preencheu o espaço vazio. Ele não andava, ele marchava. Deixou uma maleta de ferramentas perto da porta com um baque surdo e se virou, as mãos nos quadris, analisando o apartamento com um olhar clínico que parecia ignorar completamente a existência de Tony.

E isso, de alguma forma, era pior. Pior e melhor. Tony sentia-se um voyeur em sua própria casa.

"A fiação é o principal problema", Tony começou, tentando recuperar o controle, firmando-se em seu papel de cliente. "É antiga, preciso de um quadro de luz novo, e quero passar conduítes por toda a casa para dados e som."

Carlos assentiu, o olhar percorrendo o teto. Seus braços se cruzaram sobre o peito e os bíceps incharam, tensionando as mangas da camiseta. Ele cheirava a trabalho. A suor limpo, sabonete barato e algo vagamente metálico. Era um cheiro cru, honesto, que fez algo se revirar no baixo ventre de Tony.

"Ok. E a parte hidráulica? Cozinha, banheiro?" Carlos perguntou, já se movendo em direção à cozinha.

Tony o seguiu, a uma distância segura, dolorosamente ciente de cada movimento do corpo à sua frente. As costas largas, o jeito como os glúteos redondos e firmes preenchiam a calça de brim. Cada passo era um espetáculo de força contida.

Na cozinha, Carlos se agachou para olhar sob a pia. A cena foi um golpe direto no plexo solar de Tony. A calça esticou de uma forma quase pornográfica, definindo as coxas grossas e musculosas, a curva perfeita de sua bunda e, na frente, pressionando ainda mais o volume entre suas pernas. A costura central do brim parecia tensionada ao limite, desenhando o contorno da cabeça do pau por baixo do tecido. Era grosso. Pesado. E estava ali, a menos de dois metros, indiferente à crise silenciosa que provocava em Tony.

Foco, Tony, porra. Foco na merda do encanamento.

"Tem um vazamento aqui", a voz de Carlos veio abafada de debaixo da pia. "Dá pra ver a mancha no gabinete. Provavelmente o sifão está podre e talvez a vedação da torneira."

Ele se arrastou para fora, o movimento fluido e poderoso. Ao se levantar, seus olhos, de um castanho surpreendentemente claro, encontraram os de Tony. E por uma fração de segundo, Tony teve certeza de que foi pego. Pego olhando, pego desejando. O olhar de Carlos não vacilou. Não havia julgamento, nem surpresa. Havia... nada. Apenas uma avaliação profissional. Ou talvez fosse isso que Tony queria acreditar.

"Vou precisar quebrar um pouco aqui pra ver a condição dos canos na parede", Carlos disse, batendo com os nós dos dedos na alvenaria. O som foi seco, definitivo.

Eles se moveram pelo apartamento. No banheiro, Carlos apontou para o mofo no rejunte. "Isso é infiltração. Vem da parede. Provavelmente do vizinho ou da sua própria tubulação." Para verificar, ele subiu na beirada da banheira, esticando-se para alcançar o teto. A camiseta subiu, revelando uma faixa de pele bronzeada e a curva de seus oblíquos mergulhando na calça. O suor brilhava em sua nuca, logo abaixo da linha do cabelo curto e escuro. Tony engoliu em seco, a boca repentinamente seca. Ele podia sentir o cheiro dele mais forte agora, o cheiro de um corpo quente e em esforço. Um cheiro animal.

Cada gesto de Carlos era uma tortura. Cada vez que ele se inclinava, agachava ou se esticava, era um novo ângulo, uma nova visão daquele corpo esculpido pela função. O volume em sua calça era uma presença constante, um pêndulo pesado que balançava suavemente quando ele andava, um relevo inegável quando ele parava. Tony começou a se perguntar se ele usava cueca. A forma como o tecido se moldava sugeria que não. A ideia fez seu próprio pau dar um pulo doloroso dentro da calça social.

Eles voltaram para a sala. O sol da tarde entrava pela janela, iluminando as partículas de poeira que dançavam no ar. Carlos pegou um bloco de notas e uma caneta da sua maleta.

Ele se encostou no batente da porta da varanda, uma perna cruzada sobre a outra, o coturno sujo de terra apoiado na parede. A pose era casual, mas projetava uma autoridade relaxada.

E foi aí que aconteceu.

Enquanto Carlos anotava, concentrado, Tony permitiu-se um olhar mais longo. Sem disfarces. Um olhar que desceu do rosto focado, pelo pescoço grosso, sobre o peito amplo, parando, inevitavelmente, na junção de suas coxas. Ele mapeou o contorno, a promessa de peso e comprimento, a forma como o zíper de metal parecia um guardião impotente para a força contida ali.

Carlos parou de escrever. Lentamente, ele levantou a cabeça. Seus olhos castanhos encontraram os de Tony diretamente. Desta vez, não havia como negar. O olhar de Tony estava fixo, faminto, em sua virilha.

O silêncio se estendeu. Não foi um silêncio constrangedor. Foi um silêncio carregado, denso, vibrando com o não dito. O ar ficou espesso, quente. Tony sentiu o sangue pulsar em suas orelhas. Ele deveria desviar o olhar, pedir desculpas, fazer uma piada. Mas não conseguiu. Estava paralisado, exposto.

Carlos não se moveu. Um canto de sua boca se curvou para cima, um sorriso mínimo, quase imperceptível. Foi um flash de reconhecimento. Um brilho de... vaidade? Curiosidade? Poder? Ele sabia que estava sendo observado. E mais: ele sabia o efeito que estava causando.

Seu olhar desceu, deliberadamente, para a virilha de Tony, onde uma ereção evidente agora tensionava o tecido fino da calça de linho. O sorriso mínimo de Carlos se alargou uma fração de milímetro. Ele havia confirmado.

Ele voltou a olhar nos olhos de Tony, o brilho divertido e calculista agora inegável.

"Bom", disse Carlos, a voz ainda mais rouca. "Acho que já vi o suficiente pra ter uma ideia do trabalho." A palavra "trabalho" pairou no ar, carregada de um duplo sentido que fez Tony estremecer. "A estrutura é boa, mas vai precisar de um reforço significativo. Em alguns... pontos-chave."

Ele empurrou o corpo para longe do batente da porta, o movimento lento, consciente. Ele caminhou em direção a Tony, parando a um passo de distância, perto demais para ser profissional. O cheiro dele era avassalador agora.

"Vou preparar o orçamento detalhado. Cada item. Cada serviço", disse ele, os olhos fixos nos de Tony. "Te mando por e-mail amanhã. Se aprovar, a gente pode começar na segunda."

Tony apenas assentiu, incapaz de formular uma palavra. Seu corpo inteiro era um nervo exposto.

Carlos deu um último olhar para baixo, para o volume na calça de Tony, e depois se virou. "Até mais, Tony."

Ele pegou sua maleta e saiu, o som de suas botas no corredor ecoando até desaparecer. A porta do elevador se fechou com um som distante.

Tony ficou parado no meio da sala vazia, o coração martelando contra as costelas. O apartamento parecia maior agora, e mais silencioso. Mas o ar ainda estava impregnado com o cheiro de Carlos. Um cheiro de suor, de força e de uma promessa suja. Ele olhou para sua própria ereção, latejante e dolorida. O orçamento era a menor de suas preocupações. O trabalho, ele sabia, estava apenas começando. E não teria nada a ver com fiação ou encanamento.

A segunda-feira chegou com a brutalidade de uma marreta. Tony mal dormiu. A noite foi um ciclo vicioso de se virar na cama, o fantasma do cheiro de Carlos ainda pairando no ar, a imagem daquele volume na calça de brim gravada em sua retina. Ele se masturbou duas vezes, atos febris e silenciosos na escuridão de seu quarto, a fantasia do empreiteiro dominando cada pensamento. A culpa e a excitação o deixaram exausto.

Às oito em ponto, a campainha soou. Desta vez, não houve hesitação. Tony abriu a porta para encontrar Carlos, que já parecia ter vivido meio dia. A mesma camiseta cinza, talvez uma outra igual, já com uma mancha de suor se formando no peito. Ele segurava uma garrafa térmica numa mão e uma marreta na outra. Seus olhos castanhos encontraram os de Tony com um brilho de reconhecimento divertido.

"Bom dia, Tony. Pronto pra um pouco de barulho?"

Atrás dele, dois homens mais jovens esperavam, carregando caixas de ferramentas e lonas plásticas. Tony sentiu uma pontada de decepção. Ele não estaria sozinho com Carlos. Mas a sensação foi rapidamente substituída por uma nova forma de tensão: a de ter que manter a compostura na frente de outros.

"Bom dia. Entrem", disse ele, a voz firme, profissional. Uma máscara que ele sentia que já estava rachando.

Em minutos, seu apartamento se transformou. Lonas cobriram os móveis que restavam. O som de ferramentas sendo organizadas no chão era metálico e dissonante. Carlos comandava a operação com uma economia de palavras, apontando para as paredes, dando ordens curtas. Ele era o general em seu campo de batalha, e Tony era apenas o civil observando das trincheiras de sua própria casa.

Tony se refugiou em seu escritório, fechando a porta na tentativa de criar uma bolha de normalidade. Mas a normalidade foi pulverizada um instante depois, quando o som ensurdecedor de uma furadeira de impacto começou a rasgar a parede do corredor. A vibração subia pelo chão, pela sua cadeira, entrava em seus ossos. Cada impacto da broca no concreto parecia ecoar em seu peito. Era inútil. Não haveria trabalho, não haveria paz. Haveria apenas Carlos.

Ele abriu a porta e observou. Carlos, de óculos de proteção e luvas, manejava a ferramenta pesada com uma facilidade que era quase obscena. Os músculos de seus braços e ombros se contraíam a cada investida contra a parede, as veias saltando em seus antebraços. O pó de gesso flutuava ao seu redor como uma névoa sagrada, grudando em sua pele já úmida de suor. A camiseta estava encharcada, completamente colada ao seu torso, revelando cada contorno do peitoral e do abdômen sólido por baixo.

Um dos ajudantes disse algo para Carlos, que desligou a furadeira. O silêncio repentino foi quase tão chocante quanto o barulho.

"Calor do caralho aqui dentro", disse Carlos, a voz alta para superar o zumbido em seus próprios ouvidos. E então, num gesto que fez o coração de Tony parar e recomeçar numa batida mais pesada, ele agarrou a barra da camiseta e a puxou por cima da cabeça.

O ar pareceu ficar rarefeito.

O torso de Carlos era uma obra de arte funcional. Um peitoral largo e definido, coberto por uma camada esparsa de pelos escuros que se adensavam em uma linha feliz, descendo pelo abdômen, passando pelo umbigo e mergulhando, mais uma vez, na escuridão convidativa de sua calça de trabalho. O suor brilhava em sua pele, escorrendo lentamente pelas depressões entre os músculos. Suas costas, quando ele se virou para pegar a marreta, eram um mapa de poder, a coluna um vale profundo entre duas cordilheiras de músculo.

Tony ficou ali, parado no vão da porta de seu escritório, um espectador cativo. Era um voyeur descarado, mas não conseguia se mover, não conseguia desviar o olhar. Era a visão mais erótica que ele já tivera. Um homem em seu elemento, um corpo perfeito, inconsciente de sua própria beleza animalesca.

Ou talvez não tão inconsciente.

Carlos pegou a marreta, sentindo seu peso nas mãos. Antes de se virar para a parede, seu olhar cruzou a sala e encontrou o de Tony. Foi um relance, rápido como um raio. Mas foi o suficiente. O mesmo sorriso mínimo, quase invisível, tocou seus lábios. Ele sabia. Ele sabia que Tony estava olhando, e estava lhe dando um espetáculo.

Ele se virou para a parede e ergueu a marreta. O movimento foi uma sinfonia de força. As costas se curvaram, os oblíquos se torceram, os glúteos se contraíram sob o brim surrado. O primeiro golpe foi um trovão. PÁ! Um pedaço de reboco voou. O segundo. PÁ! A parede gemeu. Tony sentia cada impacto em seu próprio corpo, uma vibração que começava em seus pés e subia até seu pau, que pulsava em resposta.

Ele recuou para dentro do escritório, fechando a porta suavemente. Encostou-se nela, de olhos fechados, a respiração ofegante. O som da marreta continuava, um ritmo primitivo, a trilha sonora para a imagem de Carlos, suado e seminu, gravada a fogo em sua mente.

Uma hora depois, a sede venceu a vergonha. Tony foi até a cozinha, que estava coberta por uma fina camada de poeira branca, apesar das lonas. Ele pegou uma jarra de água da geladeira e encheu um copo. Sua mão tremia levemente.

"Opa. Uma folga?"

A voz de Carlos veio de trás dele, próxima demais. Tony se virou de supetão, o copo d'água em sua mão. Carlos estava ali, a menos de um braço de distância, o peito nu salpicado de poeira e suor. O cheiro dele era avassalador. Não era mais apenas suor e sabonete. Agora era suor, poeira, cimento e um odor almiscarado, puramente masculino, que falava de esforço físico e testosterona. O cheiro impregnava o ar, as paredes, a própria alma da casa.

"Ah... sim. Quer um pouco?", Tony ofereceu, a voz um fiapo.

"Aceito. O pó acaba com a garganta", disse Carlos.

Tony se virou para pegar outro copo no armário. Quando se virou de volta, Carlos tinha se aproximado ainda mais para pegar a jarra da bancada. Seus corpos estavam a centímetros de distância. E quando Tony estendeu o copo, o inevitável aconteceu.

Os dedos de Carlos, grossos e calejados, roçaram a mão de Tony ao pegar o objeto de vidro. Não foi um toque. Foi uma descarga de alta voltagem. A pele áspera, quente e úmida contra a sua, que era fria e lisa. Um arrepio percorreu o braço de Tony, explodindo em sua nuca. Ele ergueu os olhos e encontrou os de Carlos.

O sorriso divertido havia sumido. Em seu lugar, havia uma intensidade sombria, um calor que não tinha nada a ver com o trabalho. O olhar de Carlos desceu para a boca de Tony, permaneceu ali por um segundo que durou uma eternidade, e depois voltou a encontrar seus olhos. Naquele silêncio, tudo foi dito. A pergunta. A resposta. A promessa.

Carlos pegou o copo, seus dedos demorando um instante a mais do que o necessário em contato com os de Tony. Ele bebeu a água em dois goles longos, a garganta subindo e descendo, o pomo-de-adão um detalhe hipnótico. Ele pousou o copo na pia com um clique.

"Valeu", disse ele, a voz rouca. "O encanamento dessa parede aqui tá mais fodido do que eu pensava. Vou ter que ir mais fundo."

Ele piscou, lentamente. Uma única vez. E então se virou e voltou para o corredor, deixando Tony sozinho na cozinha, o corpo inteiro tremendo, o cheiro dele em toda parte.

Naquela noite, o ritual se repetiu, mas com uma nova intensidade. O barulho da obra havia cessado, mas os sons fantasmagóricos permaneciam na cabeça de Tony. O som da marreta. O som da respiração ofegante de Carlos.

Ele se despiu no banheiro, a pele ainda formigando onde os dedos de Carlos o tocaram. Ele se olhou no espelho, o rosto afogueado, os olhos dilatados. A imagem que sua mente conjurava era vívida, torturante. Carlos sem camisa, o suor escorrendo por seu peito. Aquele olhar na cozinha.

Sua mão desceu para o pau duro e latejante. Ele fechou os olhos e se entregou. Não era mais uma fantasia vaga. Era uma memória. O cheiro, o toque, a promessa no olhar. Ele se moveu com uma urgência desesperada, os gemidos abafados na toalha. A imagem do sorriso de Carlos, sabendo que ele estava sendo observado, foi o que o levou ao limite. Ele gozou com uma força que o deixou sem fôlego, o sêmen quente sujando sua barriga e suas mãos.

Caído contra a parede fria do banheiro, ofegante, ele entendeu. A obra em seu apartamento era um caos de poeira e barulho, mas a verdadeira demolição estava acontecendo dentro dele. E ele sabia, com uma certeza aterrorizante e excitante, que observar não seria suficiente por muito mais tempo.

Era o final da sexta-feira, e o apartamento de Tony parecia uma zona de guerra. Paredes abertas exibiam um emaranhado de canos e fios como entranhas expostas. O chão estava coberto por uma camada espessa de poeira que subia a cada passo. O cheiro de cimento, poeira e do suor de Carlos havia se tornado o novo perfume do lugar, um aroma que Tony agora associava a uma excitação contínua e latejante.

Os dois ajudantes já tinham ido embora, deixando para trás o silêncio pesado da exaustão. Carlos estava de joelhos na cozinha, terminando de ajustar uma conexão de água sob a pia. A camiseta, que ele havia recolocado mais cedo, estava novamente encharcada e grudada em suas costas largas. Ele se movia com uma lentidão cansada, cada gesto um testemunho do esforço brutal da semana.

Tony observava da porta, segurando duas garrafas de cerveja long neck, o vidro gelado suando em sua mão. Ele passou o dia inteiro ensaiando aquele convite em sua cabeça. Era uma jogada arriscada, uma linha que, uma vez cruzada, não teria volta. Mas a tortura da proximidade, os olhares trocados, o toque "acidental" que ainda queimava em sua pele... ele não aguentava mais. A observação já não era suficiente.

"Terminando por hoje?", Tony perguntou, a voz soando mais casual do que se sentia.

Carlos apertou uma última porca com um grunhido de esforço e se arrastou para fora do gabinete. Ele se sentou no chão, encostando as costas suadas na parede e esticando as pernas. Ele passou uma mão pelo cabelo úmido, deixando um rastro de poeira.

"Por hoje, pela semana... pela vida", ele resmungou, um sorriso cansado no rosto. Seus olhos encontraram os de Tony e, em seguida, desceram para as duas garrafas de cerveja. Uma sobrancelha se ergueu em questionamento.

"Pensei que você merecia", disse Tony, dando um passo à frente. "Nós merecemos. Sobrevivemos à primeira semana."

Carlos riu, um som baixo e rouco. "Acho que uma cerveja não vai matar. Pode me passar uma. Minhas costas estão me matando pra levantar agora."

O coração de Tony deu um salto. Ele se aproximou e entregou uma das garrafas a Carlos. Seus dedos se tocaram novamente, desta vez deliberadamente. Um contato prolongado. Quente. Áspero. Elétrico. Nenhum dos dois desviou o olhar.

Tony abriu sua própria garrafa na quina da bancada e sentou-se no chão em frente a Carlos, a uma distância respeitosa, mas inegavelmente íntima. O sol poente entrava pela janela da sala, lançando uma luz dourada e alaranjada sobre a poeira suspensa no ar, criando uma atmosfera quase onírica.

Beberam em silêncio por um momento, o único som sendo o de suas respirações e o tilintar ocasional das garrafas no chão de cimento.

"Você parece se dar bem com o caos", disse Carlos, quebrando o silêncio.

"Sou arquiteto. O caos é só o começo de um projeto", respondeu Tony. "E você? Gosta de destruir as coisas?"

Carlos deu um gole profundo na cerveja. "Gosto de construir. A destruição é só a parte necessária pra começar do jeito certo. Precisa de uma base sólida." Ele olhou diretamente para Tony, e a conversa sobre trabalho pareceu, mais uma vez, se transformar em outra coisa. "Não adianta nada fazer um acabamento bonito se a estrutura por baixo é podre."

O ar ficou pesado. Tony sentia o olhar de Carlos como um toque físico.

"E por que um cara como você mora sozinho num lugar desses?", Carlos perguntou, a voz mais baixa, mais pessoal. "Um arquiteto, todo certinho. Não tem ninguém pra reclamar da poeira?"

A pergunta era direta, invasiva. E excitante.

"Não. Ninguém", Tony respondeu, a garganta seca. "E você? Alguém te esperando em casa pra massagear essas costas?"

Carlos sorriu, um sorriso genuíno desta vez, que iluminou seu rosto cansado. "Não. Ninguém."

Eles se encararam sobre as garrafas, a confissão mútua de solidão pairando entre eles. A luz lá fora diminuía, mergulhando a sala em sombras. O cheiro de Carlos, uma mistura de suor, cerveja e poeira, era a única coisa real no mundo.

Tony não conseguia mais desviar o olhar. Ele percorreu o rosto de Carlos, a barba por fazer, os lábios cheios, os olhos castanhos que pareciam conter um fogo lento. Ele desceu pelo pescoço grosso, pelo peitoral amplo visível sob a camiseta molhada, e parou, como sempre, no volume pesado e inegável em sua virilha.

Quando voltou a encarar Carlos, a diversão havia sumido do rosto do empreiteiro. Havia sido substituída por uma intensidade crua, uma fome que espelhava a sua.

Carlos pousou a garrafa no chão com um clique definitivo.

"Sabe, Tony", ele começou, a voz um sussurro rouco que fez cada pelo do corpo de Tony se arrepiar. "A gente pode ficar aqui a noite toda fingindo que tá falando de obra." Ele se inclinou um pouco para a frente, diminuindo a distância entre eles. "Ou você pode parar de me comer com os olhos e fazer alguma coisa a respeito."

O desafio foi lançado. O mundo de Tony parou. O barulho da rua, a poeira, o cansaço... tudo desapareceu. Havia apenas o ultimato de Carlos e o som do seu próprio sangue pulsando em seus ouvidos.

Ele não respondeu. Ação era a única resposta possível.

Tony largou sua cerveja, que tombou e derramou no chão, mas ele não se importou. Ele se moveu para a frente, de joelhos, cobrindo a distância entre eles em um instante. Ele colocou as mãos no peito de Carlos, sentindo o músculo duro e quente sob a camiseta úmida, o coração dele batendo forte e rápido contra sua palma.

E então ele o beijou.

Foi uma colisão. Uma explosão de toda a tensão acumulada. A boca de Tony se chocou contra a de Carlos com uma fome desesperada. Não havia gentileza, nem hesitação. Era um beijo sujo, com gosto de cerveja, suor e desejo. A barba por fazer de Carlos arranhou sua pele, um atrito delicioso que o incendiou. Carlos respondeu com a mesma força, sua boca se abrindo, a língua invadindo a de Tony, dominante, possessiva.

As mãos de Tony subiram, agarrando os ombros largos de Carlos, os braços grossos como troncos de árvore. Ele precisava sentir a força que ele tanto observara. Seus dedos cravaram nos bíceps, sentindo o músculo contrair sob seu toque.

Carlos grunhiu dentro do beijo, um som de pura satisfação animal. Suas mãos grandes, que antes estavam inertes ao lado do corpo, moveram-se com uma velocidade surpreendente. Uma delas subiu pela nuca de Tony, os dedos se embrenhando em seu cabelo e puxando sua cabeça para trás, aprofundando o beijo, controlando-o. A outra mão desceu pelas costas de Tony, poderosa e segura, até encontrar o que ele obviamente queria desde o começo.

A mão de Carlos agarrou a nádega de Tony com uma força brutal, possessiva. Os dedos calejados apertaram a carne por cima da calça de linho, puxando-o com força contra a virilha de Carlos. Tony gemeu, um som estrangulado de dor e prazer, ao sentir o volume duro e pesado pressionando contra sua coxa. Era real. Era tudo que ele tinha imaginado e mais.

Eles se beijavam como se estivessem se afogando e a boca um do outro fosse o único ar disponível. Mãos explorando, apertando, corpos se pressionando no chão sujo. O controle de Tony se foi, substituído por uma necessidade pura e avassaladora.

TRIIIM! TRIIIM!

O som estridente de um celular cortou o ar, violento e profano.

Eles se separaram de supetão, ofegantes, os lábios inchados, os olhos vidrados de desejo. O som vinha do bolso de Carlos.

Eles se encararam no crepúsculo, o peito de ambos subindo e descendo rapidamente. O cheiro de cerveja derramada se misturava ao cheiro de sexo iminente.

TRIIIM! TRIIIM!

O telefone insistia, um intruso do mundo exterior que não podia mais ser ignorado.

Carlos fechou os olhos por um instante, uma maldição silenciosa em seus lábios. Ele enfiou a mão no bolso, o olhar ainda preso no de Tony, uma promessa e um pedido de desculpas em seus olhos.

O som do telefone era uma lâmina fria cortando a bolha febril que os envolvia.

Eles se separaram de supetão, como dois conspiradores pegos em flagrante. O ar gelado da realidade invadiu o espaço entre seus corpos quentes e ofegantes. Carlos, com uma expressão de pura fúria direcionada ao aparelho em seu bolso, o puxou e atendeu com um "Fala" seco e irritado.

Tony recuou, de joelhos no chão empoeirado, sentindo o frio do cimento através da calça. Seu coração martelava descontroladamente, o gosto de Carlos — cerveja, suor e desejo — ainda em sua boca. Ele observou Carlos, que se levantou e virou de costas, falando ao telefone em monossílabos profissionais. "Segunda-feira. Manda o material. Não, o endereço é esse mesmo. Te ligo depois."

Cada palavra era uma pá de cal na intimidade crua que haviam compartilhado segundos antes.

Carlos desligou e ficou de costas por um longo momento, a mão na nuca, os ombros largos subindo e descendo com uma respiração profunda. O silêncio que se instalou era mais pesado e mais carregado do que qualquer grito. Estava cheio de constrangimento, de possibilidades perdidas e, pior de tudo, de incerteza.

Finalmente, Carlos se virou. Seu rosto não era mais o do amante faminto, mas o do empreiteiro no controle, embora seus olhos ainda queimassem com o fogo de antes.

"Merda", ele disse, a voz rouca. Não era um pedido de desculpas. Era uma constatação.

Ele olhou ao redor, para a poeira, para as ferramentas espalhadas, para a poça de cerveja no chão.

"Isso", ele gesticulou para o espaço entre eles, para o caos. "Foi um erro fazer isso agora. Aqui."

O coração de Tony afundou. Foi um erro. A frase ecoou em sua mente.

Mas então Carlos deu um passo à frente, seu olhar se fixando em Tony com uma intensidade que o paralisou.

"Escuta", disse ele, a voz baixando para um tom íntimo e conspiratório. "Nós vamos terminar essa obra. Segunda-feira, voltamos ao trabalho. Vamos deixar tudo perfeito, cada detalhe, como combinado."

Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras assentar.

"Mas quando tudo estiver pronto... quando não houver mais poeira, nem ferramenta, nem desculpa...", ele se aproximou, até que Tony teve que erguer a cabeça para encará-lo. "Quando eu voltar para receber o pagamento final, aí sim a gente acerta o serviço que falta."

O duplo sentido foi uma carícia e uma ordem. Uma promessa. Não era um "se", era um "quando".

A incerteza de Tony evaporou, substituída por uma onda de calor, uma certeza que se instalou em seu baixo ventre. Ele apenas assentiu, incapaz de falar.

Carlos o observou por mais um segundo, um brilho de posse em seus olhos. Ele deu um passo para trás, pegou suas chaves da bancada e caminhou até a porta sem dizer mais nada.

Tony ficou ali, de joelhos no chão, ouvindo os passos de Carlos se afastando pelo corredor. Ele estava sozinho novamente, o corpo doendo com uma necessidade não resolvida, mas agora havia uma diferença fundamental. A tensão da dúvida havia sido substituída pela tortura da antecipação.

A semana seguinte seria um inferno. Um inferno que ele mal podia esperar para começar.

Uma semana depois, o apartamento era outro. O cheiro de poeira e tinta fresca havia substituído o de mofo e abandono. Onde havia paredes quebradas, agora havia superfícies lisas e brancas. A luz entrava limpa pelas janelas, revelando um espaço silencioso, ordenado. Um santuário. Mas para Tony, era um palco vazio, assombrado pela ausência da presença caótica e avassaladora de Carlos.

A obra terminara na quarta-feira. Hoje era sábado. Carlos viria para receber o pagamento final e entregar as chaves. Era o fim oficial do contrato. E o começo de outra coisa.

Quando a campainha tocou às dez da manhã, o som ecoou no apartamento silencioso. O coração de Tony batia um ritmo pesado e constante. Ele abriu a porta.

Carlos estava ali, mas era um Carlos diferente. Não usava as roupas de trabalho sujas de gesso e suor. Vestia uma calça jeans escura, que assentava perfeitamente em suas coxas grossas e bunda redonda, e uma camiseta preta lisa que abraçava seus ombros e peito. Estava recém-barbeado, e seu cabelo úmido. Ele cheirava a sabonete e a homem, um cheiro limpo que era quase mais devastador que o cheiro de trabalho.

Seus olhos se encontraram, e não havia mais o jogo, a provocação velada. Havia apenas um reconhecimento mútuo, uma fome compartilhada.

"Entra", disse Tony, a voz um pouco rouca.

Carlos entrou, seu olhar percorrendo o trabalho concluído. "Ficou bom."

"Ficou perfeito", corrigiu Tony. Ele pegou um envelope grosso da mesa de centro. "O pagamento."

Carlos pegou o envelope, mas não olhou para ele. Seus olhos não deixaram os de Tony. Ele jogou o envelope de volta na mesa.

"Acho que ainda falta um ajuste final", disse Carlos, a voz baixa e grave.

"Acho que sim", respondeu Tony, o corpo inteiro vibrando em antecipação.

E foi tudo que precisaram dizer.

Carlos avançou, e o beijo que se seguiu não tinha a urgência desesperada do primeiro. Era deliberado, faminto e profundo. Um beijo de quem sabia exatamente o que queria. A língua de Carlos mapeou a boca de Tony, enquanto suas mãos grandes subiram pela sua camisa, não para tirá-la, mas para agarrar os músculos de suas costas, puxando-o com força contra seu corpo. Tony podia sentir a ereção dura de Carlos pressionando sua barriga através do jeans.

Eles se separaram apenas para respirar, testas coladas.

"Eu esperei a semana toda por isso", sussurrou Tony ...

A história não para aqui. O clímax é apenas para os seus olhos. Veja como eles terminam em: https://privacy.com.br/@Inimigointimo

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