Memórias da pele

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 2214 palavras
Data: 12/07/2025 07:16:46

O cheiro de cimento e tinta fresca era o perfume banal de uma terça-feira qualquer. Alex percorria os corredores da loja de materiais de construção com a pressa de quem só queria resolver um vazamento e voltar para o silêncio do seu apartamento. Prateleiras de metal frio se erguiam como esqueletos de edifícios, exibindo pacotes de argamassa, latas de verniz e caixas de parafusos com uma monotonia sufocante. Era um universo de funcionalidade, cinza e sem alma, exatamente como ele se sentia na maior parte do tempo.

Até que uma voz o atingiu como um trovão baixo, uma ressonância grave que seu corpo reconheceu antes da sua mente.

"…não, tem que ser a calha de alumínio, a de PVC não aguenta a chuva daqui."

Alex congelou, a mão pairando sobre um pacote de veda-rosca. Aquela voz. Não era possível. Era mais grossa, mais arranhada pela vida, mas a cadência, o jeito de esticar o final das palavras… era ele. Virou-se devagar, o coração martelando contra as costelas com uma violência esquecida.

E lá estava Mailon.

O choque foi físico. A imagem do moleque magricela de canelas finas que existia em suas memórias foi pulverizada e substituída por um homem. Mailon estava de costas, gesticulando para um vendedor, e a visão era quase arquitetônica. Os ombros, largos e poderosos, preenchiam a camisa de uma empresa de calhas com seu nome bordado sobre o bolso. Os braços, expostos pelo tecido enrolado até os cotovelos, eram grossos, cobertos por uma fina camada de poeira de obra e veias que saltavam como rios em um mapa. O trabalho braçal o esculpira, transformando o garoto que ele conhecia em uma estrutura imponente de músculo e pele escura.

Quando Mailon se virou, o rosto também era outro, e o mesmo. O sorriso fácil ainda estava lá, mas agora emoldurado por uma mandíbula quadrada, firme, coberta por uma barba rala e bem aparada. Ele era um homem feito. Um homem que o tempo havia construído com uma atenção brutal aos detalhes.

Seus olhos se encontraram. Por um segundo, houve apenas o vácuo do reconhecimento. Depois, o sorriso de Mailon se alargou, um rasgo branco e genuíno que fez o estômago de Alex despencar.

"Caralho… Alex?"

"Mailon. Puta que pariu."

A formalidade de um aperto de mão pareceu ridícula. Eles se abraçaram, e o corpo de Alex foi engolido pela massa sólida que Mailon havia se tornado. O cheiro dele era uma mistura de suor, sol e algo metálico, o odor de um homem que trabalhava duro. Alex se sentiu pequeno, normal, quase apagado perto daquela força da natureza. Ao se afastarem, seus olhos foram magneticamente atraídos para a mão esquerda de Mailon, que repousava sobre um carrinho de compras.

Lá estava. Uma aliança de ouro, grossa e sem adornos. Brilhando sob a luz fria da loja.

Casado.

Uma pontada estranha atingiu Alex. Era uma mistura azeda de decepção e uma excitação doentia, perversa. A decepção era óbvia: o território estava demarcado, a caça estava fora de temporada. Mas a excitação… essa vinha do abismo. Vinha da constatação de que o fruto agora era proibido, o que o tornava infinitamente mais desejável. Mailon, o homem que ele via à sua frente, não era apenas um amigo de infância. Era propriedade de outra pessoa. E isso, de alguma forma fodida, só o tornava mais quente.

"Quanto tempo, porra," Mailon disse, a voz um cascalho quente. "Uns dez, doze anos?"

"Mais. Desde que sua família se mudou," Alex respondeu, a garganta seca.

Trocaram números de telefone em meio a promessas vagas de "marcar alguma coisa". Alex não botou fé. Pessoas diziam isso. Mas naquela mesma noite, seu celular vibrou.

E aí, sumido. A fim de uma cerveja amanhã? Pra botar o papo em dia.

O convite era simples, quase inocente. Mas para Alex, pareceu uma intimação.

O bar era um boteco de esquina, desses com cadeiras de plástico e o chão levemente pegajoso. O ar cheirava a cerveja e gordura de fritura. Era o cenário perfeito para a crueza daquele reencontro. Mailon já estava lá, uma garrafa de cerveja suada na sua frente, a camisa de trabalho trocada por uma camiseta preta que abraçava seus bíceps.

A conversa começou tropeçando, como sempre acontece. Falaram de empregos — a empresa de calhas de Mailon, o trabalho burocrático de Alex em um escritório de contabilidade. Falaram da cidade, que crescera e mudara. Falaram de tudo e de nada, construindo uma ponte frágil sobre o abismo de doze anos.

Mas o passado era um ímã.

"Minha mãe ainda fala de você, sabia?", Mailon disse, depois de um gole longo. "Pergunta se o 'Alexandre' virou doutor."

Alex riu. "Quase. Virei o cara que calcula os impostos dos doutores. E a sua, como tá?"

"Forte como sempre. Mandona como sempre." Ele sorriu, e o olhar dele ganhou um brilho diferente, uma malícia que Alex conhecia de cor e salteado. Era o mesmo olhar que ele tinha aos quinze anos, antes de propor alguma merda. "Ela outra dia tava queimando umas tranqueiras velhas e achou umas fotos nossas. Lá no sítio atrás de casa."

O ar mudou. O barulho do boteco pareceu recuar, abafado por uma película de tensão. O sítio. Aquele terreno baldio com mato alto e uma mangueira solitária que fora o palco de toda a sua descoberta.

"Lembro," Alex disse, a voz um pouco mais baixa.

"A gente aprontava, hein?", Mailon continuou, os olhos fixos nos de Alex, testando as águas. O sorriso dele era lento, predador. "Aquela nossa 'guerra de empurra'… sempre acabava no chão, um roçando no outro."

A memória invadiu Alex com a força de um soco. Não era uma lembrança, era uma sensação. A pele de Mailon, quente sob o sol. O cheiro de suor adolescente, azedo e excitante. A fricção dos seus corpos magros, a curiosidade disfarçada de competição. A forma como eles "se mediam", peito contra peito, coxa contra coxa, a desculpa da "brincadeira" permitindo que seus paus semi-duros se encontrassem através do tecido fino dos shorts. Eles nunca falaram sobre isso. Nunca precisaram. Era um pacto selado na pele, uma linguagem que dispensava palavras.

Alex sentiu um calor subir pelo pescoço. Ele deu um gole na cerveja, tentando disfarçar. O gelo da garrafa contra seus lábios era um contraponto fraco ao fogo que se acendia em seu baixo ventre. Ele olhou para Mailon, para a boca dele, para o queixo quadrado, para a solidez daquele homem que um dia fora seu parceiro de jogos proibidos.

"A gente era moleque," Alex conseguiu dizer, a frase soando oca, defensiva.

"Era," Mailon concordou, e então o inferno se materializou.

Ele esticou o braço sobre a pequena mesa de plástico. Sua mão — grande, com nós dos dedos grossos e palmas calejadas pelo trabalho pesado — pousou com uma firmeza deliberada sobre a coxa de Alex.

O mundo parou.

Não foi um toque casual. Não foi um gesto de camaradagem. Foi uma declaração. O peso da mão era uma âncora, prendendo-o à cadeira. O calor atravessou o jeans de Alex como se não houvesse tecido algum, uma brasa viva pressionada contra seu músculo. Foi um curto-circuito que começou na sua coxa, subiu pela sua espinha em um zumbido elétrico e desceu direto para a sua virilha.

Seu pau, adormecido e complacente segundos antes, deu uma fisgada violenta. Ele pulou dentro da cueca, uma contração involuntária de puro desejo, começando a inchar com uma urgência dolorosa. Alex prendeu a respiração, os olhos arregalados, fixos na mão de Mailon. Ele podia ver as linhas de vida na palma, a sujeira sutil sob as unhas curtas. Era uma mão de homem. Uma mão que sabia segurar, apertar, construir. E que agora estava reivindicando um território que não tocava há mais de uma década.

Seu olhar, em câmera lenta, subiu pelo braço de Mailon, passou pelo ombro, encontrou os olhos dele. O sorriso de Mailon havia sumido. Em seu lugar, havia uma intensidade sombria, uma pergunta silenciosa e faminta. Não havia mais nostalgia no ar. Havia apenas eletricidade. Tensão. Uma promessa suja.

Então, como se puxado por um fio invisível, o olhar de Alex desceu. Passou pelo peito de Mailon, pela barriga plana sob a camiseta, e parou no volume que se projetava de forma inequívoca no short cargo que ele usava. Era uma sombra densa, uma protuberância pesada que falava a mesma língua que o seu próprio corpo. A memória da pele não mentia: ele se lembrava daquele pau, magro e curioso na adolescência, e agora só podia imaginar o peso, a grossura, a potência que ele continha como um homem feito.

O barulho voltou, mas era um zumbido distante. O único som real era o do seu próprio sangue pulsando nos ouvidos. Nenhuma palavra foi dita. Nenhuma precisava ser. A mão de Mailon continuava lá, pesada, quente, um selo.

O jogo de moleques tinha acabado. E o que estava começando era algo muito mais perigoso. Algo para adultos. E Alex, com o pau latejando de dor e prazer dentro da calça, sabia que estava irremediavelmente fodido.

A mão de Mailon continuava lá, uma brasa sobre o jeans de Alex. O peso, o calor, a declaração de posse. O mundo do boteco era um borrão, um ruído de fundo para a sinfonia cacofônica que explodia dentro do corpo de Alex. O pau dele latejava, uma dor deliciosa contra o zíper, implorando por um alívio que parecia, ao mesmo tempo, impossível e inevitável.

Mailon finalmente removeu a mão. O local onde ela esteve formigava, frio em comparação com o calor que deixara para trás. Com um movimento lento e deliberado, ele tirou a carteira do bolso, jogou umas notas sobre a mesa e se levantou. Alex o observou, paralisado, como uma presa diante do predador. A decisão não era mais sua. Talvez nunca tivesse sido.

Inclinando-se sobre a mesa, a boca de Mailon ficou a centímetros do ouvido de Alex. A voz dele era um sussurro rouco, um comando que vibrou direto na alma.

"Minha mulher tá viajando. Vamos lá pra casa terminar essa conversa."

Não era uma pergunta. Era uma sentença. O fim de doze anos de espera e o início de uma noite que redefiniria tudo. Alex, com a garganta fechada e o corpo inteiro tremendo com uma antecipação que o deixava fraco, apenas assentiu. Uma única, lenta inclinação da cabeça. Rendição total.

O caminho até o carro foi um borrão. O silêncio dentro da caminhonete de Mailon — uma Ford Ranger robusta que cheirava a ele, a uma mistura de poeira de obra, suor e um perfume amadeirado barato — era mais pesado do que qualquer palavra. O único som era o da respiração de ambos, irregular e alta demais no espaço confinado. Alex mantinha os olhos fixos na janela, observando as luzes da cidade passarem, mas a sua consciência estava inteiramente focada no homem ao seu lado. Na presença maciça de Mailon, no calor que irradiava dele, no volume em seu short que Alex não conseguia parar de visualizar. Cada farol que passava iluminava por um instante as mãos de Mailon no volante, os nós dos dedos brancos pela força com que ele o segurava.

O apartamento de Mailon ficava em um prédio simples, de classe média trabalhadora. Mas quando a porta se fechou atrás deles, o som do trinco ecoando no silêncio, poderia ser um palácio ou uma masmorra. O mundo exterior desapareceu.

Antes que Alex pudesse processar o ambiente, Mailon o agarrou. Uma mão em sua nuca, os dedos se enroscando em seu cabelo com uma força possessiva, a outra esmagando a parte inferior de suas costas, puxando-o com violência contra seu corpo. E então a boca dele estava na sua.

Foi um beijo de fome. Um beijo de doze anos de saudade e de desejo fermentado. Não havia ternura, apenas a urgência de uma barragem se rompendo. A língua de Mailon invadiu a boca de Alex, dominante, mapeando cada centímetro com uma avidez selvagem. Alex gemeu, um som estrangulado de choque e entrega, os braços envolvendo o pescoço de Mailon, agarrando-se a ele como se fosse se afogar. O gosto dele era de cerveja, de tabaco, de homem. Era o gosto da transgressão, e Alex o bebeu como um sedento.

As roupas eram um insulto, uma barreira intolerável. As mãos deles eram ferozes, puxando camisas por cima das cabeças, desabotoando calças com dedos trôpegos e impacientes. Em menos de um minuto, eles estavam nus no pequeno corredor de entrada, a pele pálida de Alex um contraste gritante contra o tom escuro e profundo de Mailon sob a luz amarelada.

E lá estavam eles. Dois homens, não mais moleques. E os paus, duros como pedra, testemunhavam a verdade daquele reencontro.

Mailon o guiou até o tapete da sala, e eles se ajoelharam, um de frente para o outro. O olhar dele era fogo puro, queimando sobre o corpo de Alex. O desejo de provar, de saborear, era uma necessidade física, mútua e avassaladora. Sem uma palavra, Alex se inclinou para a frente.

Sua boca encontrou a cabeça do pau de Mailon. Um suspiro escapou dos lábios dele quando Alex o envolveu. A primeira coisa que seu cérebro registrou, em meio à névoa do desejo, foi uma constatação crua e visceral.

Caralho…

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