Eu os vi antes deles se verem.
Tudo começou no dia que um homem de um lugar distante passou a trabalhar na empresa como motorista de campo.
Sua presença, foi sentida por ela que era motorista do coletivo que levava os trabalhadores pra cidade.
A energia dele era tão forte e seus passos firmes e o olhar constante.
A notou no meio de muitas ali presentes
Ela, disfarçando fingia sentir quando era olhada.
Por um tempo, foram dois desconhecidos que se percebiam sem se olhar diretamente.
Mas eu percebia os dois.
Eles sempre entravam no refeitório no mesmo horário passavam Sempre um de costas pro outro.
Mas eu via, quando ele respirava fundo ao passar por ela mesmo de costas.
Também via ela desconcertada, procurando por ele por todo o refeitório.
Parece que ele percebendo sempre se levantava pra pegar algo que supostamente sempre esquecia.
No refeitório da empresa, entre ruídos de bandejas e conversas vazias, havia algo que só eu via:
O ar mudava quando ele entrava.
E ela... ela sabia.
O corpo dela sabia antes do olhar alcançar.
Um dia, alguém cochichou pra ela que ele não tirava os olhos da direção dela.
Foi ali que tudo começou.
Ou melhor — foi ali que ela permitiu sentir o que já sentia.
E ele, talvez sem saber, passou a olhar com mais intenção.
Sentavam longe.
Mas nunca estavam distantes.
Um gesto bastava.
O levantar da bandeja.
O ajeitar de cabelo.
Um segundo a mais no olhar.
E o refeitório inteiro parecia congelar — menos eles.
Eu assisti quando ela soltou a piada desajeitada:
— Você é novo aqui, é? Como se nunca tivesse sentindo a presença dele.
Como se nunca tivesse procurado por ele no meio da multidão
Ele engoliu um seco para não desrespeitar ela .
Se retirou com elegância e silêncio.
Mas mesmo de longe, continuava a mirar.
E ela, mesmo tremendo por dentro, pelo deslize que cometeu, retribuía.
Eu estava lá também no dia em que ela vendia perfumes e ele se aproximou mais do que tinha feito antes.
Sentou à frente dela. Com a desculpa que iria comprar um perfume.
Conversaram como se estivessem num lugar onde o tempo não corria, uma conversa baixa falavam mais com o olhar que com os lábios o olhar de um para o outro era penetrante
Então ele fala suavemente em um tom quase inaudível:
Engraçado essa vida, Tem pessoas que tocam tão fundo que me desconcertam !
No mesmo tom quase inaudível ela respondeu:
Verdade, mas isso só acontece comigo quando você chega, pois antes mesmo de ver você sinto sua presença.
Ele perguntou: por quê.?
Então ela respondeu: não sei dizer, só sinto.
Mas eu sabia.
Era porque havia algo neles que se reconhecia.
Algo antigo que eles sentiam um pelo outro mas nunca tinham vivido, talvez de outras vidas, que também não teve tempo de acontecer nesta.
Ele se despediu e foi almoçar em outra mesa, aproveitando que estava entre amigas ela pergunta:
E o perfume vai levar?
Ele nada respondeu,.
Após seu almoço, sem que ela visse veio por trás dela.
Apoiou a cabeça perto do ombro dela.
Respirou fundo, como quem grava na memória o cheiro de um corpo.
Então escolheu um perfume. Mesmo sem ver o nome e nem experimentar pois sabia o perfume tinha o cheiro dela.
Vi quando ele foi embora.
Vi quando ela ficou olhando até ele sair do refeitório.
E vi, depois, as amigas dizendo:como ele adivinhou que aquele perfume é o que tu usa e continuaram falando, faltou um fio de cabelo pra ele te abraçar na frente de todos!
Elas sabiam, todos pressentiam, pois .quando os dois se olhavam, o ambiente mudava, risos e sussurros iniciavam.
As conversas e olhares, eram direcionados aos dois
Como se todos entendessem que ali algo raro estava acontecendo.
Eu também estava lá nos dias em que ela passava por perto só pra senti-lo.
E nos momentos em que ele se aproximava, sempre que ela estava só.
E então… ele saiu da empresa, voltou pra sua cidade
Ela ouviu que ele a procurou pelo refeitório pra deixar um contato, antes dele partir mas algo naquele dia os afastou.
Não se viram mais e tudo que quase aconteceu ficou assim sem acontecer!