10 – Configuração de Lar
"Por que você tem um pacote de camisinha no consultório?" perguntei, tentando manter a voz casual.
O olhar dela mudou instantaneamente; vi a surpresa em seu rosto, e ela gaguejou ao responder.
- Eu sou médica, Anderson. Trabalho no hospital e aqui sempre tem camisinhas - Disse ela.
Mas sua voz estava hesitante e um pouco trêmula. O jeito como ela falou não soou convincente. Era como se eu tivesse apertado um botão que a deixou desconfortável.
Percebendo como fiquei, Simone resolveu me contar:
- Na verdade, eu tinha um namorado, o Alex. Nós costumávamos ter relações aqui.
Não vou mentir: aquilo me acertou em cheio. Olhei para o pacote de camisinhas — a embalagem dizia que vinham oito. Ao pegar, senti que restavam apenas três ou quatro. Como eu já tinha usado uma, isso significava que antes havia quatro ou cinco ali. Ou seja, Simone tinha usado três ou quatro antes de mim. Até aí, tudo bem.
Mas então meus olhos passaram rápido pela data de fabricação: seis meses atrás.
Simone terminou com Alex há mais de nove. Não sou nenhum Sherlock Holmes, mas a conta era simples — simples e incômoda. As camisinhas tinham sido usadas depois do fim com Alex. Depois dele. Mas antes de mim.
- Anderson, eu não queria citar o Alex, já que estou com você agora. Mas já que perguntou, não tive outra escolha. É melhor responder a verdade, e deixar tudo claro
- Claro – disse eu – Você está certa! Eu é que fui indiscreto! Tá tudo certo.
Fiquei me perguntando: será que ela ainda se encontrava com o Alex, mesmo depois do término? Teria engatado um namoro relâmpago? Talvez apenas um ficante, ou quem sabe sexo casual ali mesmo, no anexo? As possibilidades giravam na minha cabeça, todas desconfortáveis. Mas preferi guardar o silêncio. Aquele definitivamente não era o momento.
Para quebrar esse clima chato, Simone me pegou pelas mãos e me levou ao banheiro, para tomarmos banho juntos.
Entramos debaixo do chuveiro, e a água quente começou a correr. O vapor se espalhou pelo ambiente, criando uma atmosfera íntima e acolhedora. Assim que a água atingiu nossa pele, senti um alívio imediato. Era como se o climão do momento anterior estivesse sendo lavado pelas gotas quentes que escorriam.
Simone se posicionou ao meu lado sob o chuveiro, e eu não pude deixar de admirar sua beleza. A água escorria por seu corpo, destacando cada curva e contorno, enquanto ela sorria para mim com um olhar divertido. Voltamos para aquele pequeno mundo só nosso.
Comecei a passar as mãos pela sua pele molhada, deixando que a água escorresse entre nossos dedos. O toque era suave e carinhoso; eu queria aproveitar cada segundo daquela proximidade. Ela riu quando eu brinquei com o sabonete, fazendo espuma e espalhando-a pelo corpo dela.
Nossos olhares se encontraram várias vezes, e cada troca de sorrisos era cheia de cumplicidade. Enquanto lavávamos os cabelos e as peles um do outro, o clima era leve e divertido. Era uma mistura de carinho e diversão; nós dois estávamos relaxando após a intensidade do que havíamos compartilhado.
A água quente continuava a nos envolver, criando uma sensação de conforto e segurança. Eu puxei Simone para mais perto, sentindo seu corpo contra o meu novamente.
Ao sair, envolvi Simone em uma toalha macia enquanto ela ria da nossa aventura no banho. Agora havia um sentimento de calma e satisfação.
Depois de nos vestirmos, o clima entre nós ainda estava leve e divertido. Simone ajustou seu cabelo e deu um último sorriso para mim antes de seguirmos em direção à saída do consultório.
- Anderson, eu pedi que você tivesse todo o dia disponível para mim, porque agora quero ir num lugar especial com você.
- Ótimo, vai ser maravilhoso passar o dia na sua companhia. Para onde vamos?
- É surpresa! Só quando chegarmos te conto!
Ao abrir a porta do consultório e sair, a atmosfera mudou. As secretárias estavam ali, organizando algumas coisas em suas mesas, mas assim que me viram, percebi que seus olhares eram diferentes.
Senti meu rosto esquentar levemente enquanto caminhava para fora do consultório. As secretárias trocavam olhares significativos entre si. O que será que elas estavam pensando?
Saí do hospital com satisfação pelo nosso momento junto e uma boa dose de humor pela situação inusitada. O olhar curioso das secretárias seria apenas mais uma camada dessa história nova entre mim e Simone.
- Vamos no seu carro – disse ela – depois você me devolve aqui!
Entramos no meu carro, ela no banco do carona, sorrindo do jeito que eu lembrava, foi me passando as direções, até que viramos uma esquina e eu vi os portões de um condomínio que mais pareciam a entrada de um resort, meu queixo caiu. Duas torres enormes, imponentes, com aquele ar de exclusividade que eu só via em revista.
- É aqui - ela disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Ela só riu e saiu do carro. Um corretor elegante já esperava por nós. Foi tudo muito rápido — um aperto de mãos, alguns papéis, e de repente ele estava entregando uma chave e um documento enrolado com um laço.
- A matrícula do imóvel, está no seu nome, Simone. Parabéns.
Eu fiquei parado tentando entender. Ela me olhou com um largo sorriso:
- Meus pais me deram de presente. Um apartamento. Aqui.
Eu só consegui balançar a cabeça, sem acreditar.
Subimos até o 11º andar, onde ficava o dela. Um por andar — eu nem sabia que isso existia fora dos filmes. Quando a porta se abriu e ela me puxou pela mão pra dentro, vi um lugar que parecia ter saído de um sonho. Tudo ainda vazio, claro, mas cheio de janelas enormes, luz natural, uma vista que pegava o bosque inteiro entre as torres.
Dava pra ver a pista de caminhada contornando o lago, algumas pessoas correndo, outras fazendo alongamento nas áreas de exercício espalhadas entre as árvores. Era paz. Um tipo de silêncio que eu não conhecia.
Ela rodava pelo espaço como se estivesse dançando, abrindo portas, mostrando onde ia ficar a cozinha, o sofá, a estante com os livros. E eu só seguia, meio hipnotizado.
Quando finalmente ela parou na sacada e me chamou, olhou pra mim com os olhos brilhando.
- Você gostou?
- Sim. Não tem como não gostar daqui.
- Que bom! Pois é aqui que vamos morar!
Naquele momento, quando ela disse “vamos morar” eu entendi que era ela e os pais dela.
Eu já estava impressionado. Achava que não tinha mais nada que pudesse me surpreender naquele lugar — mas aí ela me levou até o final do corredor do apartamento e abriu uma porta de vidro fosco. Lá dentro, no que parecia uma área de lazer privativa, tinha uma piscina. Dentro do próprio apartamento. Uma piscina particular.
Eu fiquei ali, sem palavras. A luz do sol entrava pelo teto retrátil, refletia na água cristalina e criava desenhos nas paredes. Aquilo era outro nível.
- Cada apartamento tem a sua. - Ela disse, casual, como se fosse uma varanda com rede.
Falando nisso, a sacada era algo que eu não consigo nem chamar de sacada — aquilo era maior que o meu apartamento inteiro. Devia ter, fácil, uns 90 metros quadrados só de área aberta. E dava vista total para o bosque entre as torres. Era o tipo de lugar onde dava pra fazer uma festa, montar uma horta, colocar uma banheira, ou simplesmente sentar e não fazer nada.
Ela viu minha expressão e riu de leve, como quem já esperava minha reação.
- Vem, quero te mostrar o bosque - disse, pegando minha mão de novo.
Descemos e fomos para a área comum. A pista de caminhada cortava o bosque como se fosse parte natural da paisagem. Havia um lago no centro, o som dos pássaros misturado ao barulho da água batendo nas pedras pequenas era relaxante.
Caminhávamos devagar pela trilha, cercados por árvores altas que deixavam a luz do sol filtrar em manchas no chão. O lugar parecia um refúgio escondido no meio da cidade — e por alguns instantes, eu até esqueci do mundo lá fora. Estávamos só nós dois, eu e Simone, trocando algumas palavras soltas.
Mas então, lá na frente, vi um casal vindo na direção oposta.
Era... diferente. Um contraste gritante. O homem, de uns 65 anos, tinha o rosto marcado pelo tempo, a pele bronzeada e os traços levemente orientais — talvez fosse descendente de japoneses também, mas somente por parte de um dos pais, exatamente como eu. Mas além de bem mais velho, tinha um jeito de doente.
Ao lado dele, de mãos dadas, vinha uma mulher jovem, muito jovem. Loira, com os cabelos brilhando ao sol como fios de ouro, grandes olhos azuis que pareciam quase irreais. Tinha um sorriso largo, mostrando grandes dentes brancos.
Estava com roupas de academia bem justas, que moldavam um corpo perfeito — parecia uma daquelas modelos de capa de revista, mas ao vivo, real, e a poucos metros de mim.
Meu olhar se fixou nela. E, por mais que eu lutasse internamente, não consegui desviar. Aquela beleza que não pede licença.
O jeito que a loira me olhou foi estranho. Ela me mediu da cabeça aos pés. Mas não que ela tivesse demonstrado desejo por mim. Parecia o olhar de um caçador para a sua caça! Me olhou pensativa, como se ao me ver tivesse começado a tramar algo. Foi uma sensação estranha.
Simone também os observou — mas com um olhar diferente. Intenso. Quase intrigado.
- Boa tarde! – falaram nos cumprimentando.
Simone e eu sorrimos timidamente e respondemos:
- Boa tarde!
Quando o casal passou por nós, Simone chegou a virar levemente a cabeça, acompanhando com o olhar.
Neste momento, eu também aproveitei para virar a cabeça, mas disfarçadamente para olhar a bunda da loira.
Depois de alguns segundos, Simone comentou, pensativa:
— Eu conheço eles... mas não consigo lembrar de onde.
Havia algo na voz dela. Uma hesitação. Como se a lembrança estivesse ali, na ponta da mente, mas envolta em névoa.
Continuei andando ao lado dela, mas... a imagem da loira ficou. Presa. Gravada na minha cabeça como uma fotografia vívida.
Enquanto isso, pensamentos sexuais invadiram minha mente: Pois a loira, além de bonita e gostosa, tinha uma cara de safada, um jeito de puta!
Deve ser uma safada na cama! Daquelas que fazem de tudo!
Imaginei aquela boca chupando minha rola.
Quando olhei para a bunda só consegui ficar imaginando o quanto aquela cavala deve aguentar de piroca!
“Dá pra socar à vontade no cu dela, com força, que ela aguente” foi o que pensei.
E aí veio a culpa. Eu estava com Simone. Ela me levou pra conhecer um pedaço da vida dela, confiou em mim, abriu espaço pra que a gente recomeçasse. E mesmo assim, aquela mulher — uma desconhecida — tinha invadido minha mente com uma força que eu não sabia explicar.
Os olhos dela, o jeito que sorria, o contraste dela com aquele homem mais velho — tudo ficou rodando dentro de mim como uma melodia estranha, daquelas que você não quer ouvir, mas não consegue parar.
Tentei puxar conversa, me distrair, olhar de volta pro bosque, pro céu, pro lago... qualquer coisa. Mas nada apagava aquela imagem.
Os olhos azuis ainda estavam lá. Me olhando de dentro da memória.
Demos uma volta inteira no bosque e voltamos para o apartamento. Simone parecia continuar fazendo força para lembrar de onde os conhecia.
Já dentro do apartamento Simone perguntou:
- O que você achou do casal?
Dei uma disfarçada:
- Qual casal?
- Ah Anderson, você sabe muito bem ... – disse ela dando risada.
- É um casal ... “diferente” – respondi rindo – o homem deve ser muito, muito rico.
- Só pode ser casamento por interesse mesmo – concluiu Simone – E aquela loira tem uma cara de piranha!
Eu também a achei com uma cara de puta, mas tive que disfarçar mais uma vez:
- Você achou?
- Bem, nós vamos descobrir com o tempo, já que agora eles são nossos vizinhos e com certeza os veremos mais vezes!
- Peraí! NOSSOS vizinhos?
- Sabe... eu amei esse apartamento ... o único problema é que achei muito grande para mim sozinha. E de repente nos reencontramos e bem no dia da entrega da chave você me pede em namoro. Tudo se encaixou!
Eu não respondi de imediato. Fiquei só olhando pra ela, tentando entender aonde ela queria chegar. E aí ela completou, com aquela calma que ela tem quando fala de coisas importantes:
- A mudança é sábado. Tá tudo organizado. Mas você… pode vir quando quiser. Do seu jeito, no seu tempo. Se quiser, claro.
Foi aí que caiu a ficha. Ela estava me convidando, mas sem me empurrar. Estava me dando espaço pra escolher, mas deixando claro que o espaço estava ali — não só o físico, mas o dela.
Fiquei mexido. Não esperava. A gente tinha voltado hoje, e agora isso. Mas ao mesmo tempo, fazia sentido. Com tudo se encaixando de novo, ela só estava sendo honesta com o que sentia.
— Eu tô numa fase diferente agora… — continuou a falar, sem me encarar diretamente. — Passei dos trinta, tô bem no trabalho, fiz muita coisa, vivi bastante. Já tive minha cota de noites sem hora pra acabar e loucuras com as meninas. Mas hoje em dia… não é mais isso que me faz falta.
Fiquei em silêncio, ouvindo
- Agora eu penso em outras coisas. Estabilidade. Construir algo de verdade, sabe? Ter um espaço que seja mais do que meu. Que seja nosso. Um lar. Uma família, talvez.
Ela deu um leve sorriso, como se não quisesse que soasse pesado ou como cobrança. Mas também não fugia do que estava sentindo. Era direto, sem ser brusco.
— Como disse, a mudança é sábado. Tá tudo certo já. Mas você pode vir no seu tempo… se quiser. Eu só queria que você soubesse que esse espaço, essa fase… tem lugar pra você também.
Se ela estava falando aquilo, era porque tinha pensado, sentido, decidido. E ela estava me estendendo a mão, me abrindo uma porta com calma, com respeito.
Olhei pra ela e só consegui sorrir. Porque uma parte de mim já estava ali desde que ela abriu a porta.
O sábado chegou. A mudança foi cheia de imprevistos, mas no final deu tudo certo.
Eu estava animado para ajudar a Simone a se mudar para o novo apartamento, um lugar realmente luxuoso, e ela tinha muita coisa, mesmo morando sozinha. A manhã começou bem, com a gente preparando tudo para a mudança.
O caminhão da transportadora chegou bem atrasado, pois infelizmente, no caminho até a casa da Simone, furou um pneu. Isso atrasou bastante a chegada deles aqui na rua, e tivemos que esperar um tempo até que o reparo fosse feito. Não foi fácil, mas conseguimos manter o ânimo.
Depois, na hora de levar as caixas e os móveis do apartamento antigo para o novo, enfrentamos outro problema. No caminho, encontramos um acidente que bloqueou a rua principal, obrigando a gente a fazer um desvio enorme. Isso atrasou ainda mais a nossa rotina, e ficamos um bom tempo presos no trânsito.
Para completar, um dos funcionários da transportadora acabou ficando doente e não pôde vir trabalhar. Isso deixou a gente com menos mãos para ajudar na mudança, o que complicou um pouco as coisas. E, para piorar, enquanto carregava um móvel pesado, um dos ajudantes torceu o pé. Foi uma cena meio tensa, mas conseguimos cuidar dele e continuar.
Apesar de todos esses contratempos, a Simone foi super forte e ajudou bastante. Os pais dela só deram uma rápida passagem, pois estavam ocupados com a implantação da nova unidade dos hospitais.
Eu fiquei até o final ajudando-a a organizar tudo.
Foi um dia intenso. Então, depois de toda a correria e dos contratempos, a mudança só terminou por volta das 16h30min. A gente nem conseguiu almoçar direito, só deu tempo de comer um sanduíche rápido enquanto organizávamos as coisas. Foi uma maratona, mas no final, tudo estava no lugar, e a Simone estava super feliz com o novo lar.
Depois que a transportadora foi embora, comecei a ajudar ela a desempacotar algumas coisas e guardar tudo nos devidos lugares. Estávamos exaustos, e por volta das 18h, decidimos fazer uma pausa. A fome apertou, então resolvemos pedir comida pelo aplicativo de delivery.
Mas, justo nesse momento, alguém tocou a campainha do apartamento. Olhamos pelo olho eletrônico e era o mesmo casal de antes, que vimos no bosque do condomínio. Um senhor de idade, com aparência meio japonesa, e uma jovem loira. Fiquei curioso, pensando quem seriam eles e o que poderiam querer.
Continua ...