SERÁ QUE TUDO ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS? Capítulo 62

Um conto erótico de obetão
Categoria: Heterossexual
Contém 3720 palavras
Data: 15/07/2025 09:18:29

Passei pela porta de casa com o coração a mil. Eu estava tão apavorado que temia ter um treco ali mesmo. Porém, eu sabia que precisava me controlar. O meu impulso era partir para o aeroporto, pegar o primeiro voo para o Canadá e matar o Anderson no soco. Não! Isso seria muito rápido. Eu queria ver aquele filho da puta sofrer muito. A morte seria muita misericórdia para ele.

Entretanto, eu tinha que manter o foco e o controle, pois agora a Manú era a minha principal prioridade. Depois eu lidaria com a chantagem que aquele verme estava fazendo.

Esse era um momento em que eu não poderia fraquejar. Quando você estuda bastante, quando lê e quer aprender, alguns conhecimentos passam a ficar quase que no automático. Um deles é que você não pode deixar de resolver um problema atual e imediato por pensar em um possível problema futuro ou algo que você não pode resolver de imediato.

Apesar de ter a plena consciência que nossas vidas mudariam muito em decorrência daquele “incidente”, naquele momento não havia nada mais importante para mim do que o bem estar da minha esposa.

Abri a porta e vi que na sala, bem próximas da porta de entrada, haviam duas malas grandes. E assim que entrei, logo a Manú apareceu, arrastando outra mala apressadamente. Quando viu que eu estava lá ela me olhou com a cara mais assustada e sofrida do mundo. Desespero total! O silêncio enquanto nos olhávamos foi extremamente torturante. Então juntei todas as minhas forças e perguntei para ela:

— O que é isso Manú?

Nessa hora as lágrimas já estavam descendo pela sua face, como se fossem duas cachoeiras. Era claro que ela estava destruída, vulnerável, frágil e ferida.

E, após alguns segundos, ela me respondeu aos pratos:

— Eu vou embora de casa... eu fiz uma coisa... eu tô envergonhada... Beto me desculpa... eu só vou embora...

Aproximei-me e segurei nos dois ombros dela. Parece que ela levou um choque, pois na mesma hora ela deu dois passos para trás, se afastou, abaixou a cabeça e falou:

— Não me toque!

Era claro que ela também estava apavorada! Continuei perto dela e falei da forma mais calma e compreensiva que eu consegui, em meio à onda de emoções que estava sentindo naquele momento:

— Manú, olha pra, mim.

— Não... não me olha! Nem eu consigo me encarar no espelho... só me deixa sumir daqui... não faz perguntas! Eu queria ter ido antes de você chegar...

Meu coração doía, pois ela estava muito machucada e quem deveria protegê-la era eu. Ou seja, a culpa era minha! Eu é que falhei! Então, após respirar fundo, falei para ela, enquanto recitava, sem parar, em minha mente um mantra: “calma, compreensão e empatia... calma, compreensão e empatia...”.

— Manú, olha nos meus olhos! Tudo vai ficar bem! Você está muito confusa. Eu não sei tudo o que aconteceu. Uma parte está aqui nesse pendrive, que eu recebi hoje de manhã. Eu só peço que você assista isso antes de tomar qualquer outra decisão.

Seus olhos estavam muito abatidos. Ela olhou para o envelope com um olhar confuso e eu consegui conduzi-la para ela se sentar no sofá. Fui ao escritório, peguei meu laptop e o coloquei encima da mesinha de centro da sala e, antes de começar a rodar o vídeo, ainda falei para ela, que continuava chorando:

— Você precisa se acalmar! Vamos, respire fundo...

E, olhando bem nos olhos dela completei:

— Eu vou lutar pelo que importa. E você é a coisa mais importante nessa vida para mim. Nós somos fortes o bastante para passar por isso...

Peguei em suas mãos e apertei. E, antes que ela as puxasse, olhei novamente em seus olhos e falei: “— Eu estou do seu lado e vamos resolver isso juntos!”

Ela puxou as mãos, desviou o olhar e falou entre prantos e soluços:

— Então me deixa um pouco sozinha...

Era muita coisa para processar! Eu também precisava ficar sozinho, pensar um pouco e clarear a mente. Só não queria deixá-la só, pois ela poderia tentar fazer alguma besteira, então eu respondi para ela:

— É um vídeo e é pesado! O filho da puta do Anderson gravou tudo. Você quer mesmo ficar sozinha?

A cara dela ficou mais assustada, era quase como um pânico.

E ela falou:

— O Anderson... Pena Cardoso... gravou ooo....

— Ele te estuprando! Sim ele gravou! Como você se envolveu com o mesmo filho da puta que seduziu a Fernanda?

— Ma... ma... mais Beto, eu não imaginava que era a mesma pessoa!

Ela começou a chorar mais ainda. Tentei me aproximar para consolá-la e ela me repeliu e falou:

— Eu quero ver isso sozinha... Eu tenho certeza, só me deixa sozinha... Vá para algum lugar... só não fica em casa!

Ela estava chorando copiosamente e, quando mais uma vez me aproximei para consolá-la ela mais uma vez se afastou gritando:

— Porra Beto! Me deixa sozinha e não me toque mais!

Aquela reação dela me magoou, então falei antes de sair:

— Tá bom! São umas quatro horas de vídeo. Vou te deixar sozinha e vou dar uma volta. Só prometa que não vai embora antes de conversarmos. Depois que eu voltar temos muita coisa para esclarecer.

Deixei-a sozinha, e saí pela porta da cozinha, que dava direto na garagem e peguei meu carro. Antes de sair de casa peguei as chaves do carro dela e a sua carteira, com os seus cartões, documentos e dinheiro, só por garantia. Eu não tinha condições psicológicas para ir para longe e acabei parando no barzinho temático, que já havíamos ido várias vezes com nossos amigos, para ver jogos de futebol americano e basquete, mas que também o pessoal ia quando tinham jogos de futebol ou vôlei.

Sentei-me num dos cantos do balcão e pedi uma cerveja. A garçonete riu para mim e perguntou: “— Você está bebendo agora?” — Antes de também perguntar pela Manú.

Fiquei pensando em como a minha gata tinha o dom natural de conquistar a todos.

Tomei umas duas cervejas e uns sucos, enquanto tentava entender e digerir tudo aquilo que havia acontecido e descobrir o que fiz pra merecer isso. A minha ideia, de matar de imediato aquele babaca arrogante não daria certo, não que eu já não tivesse até olhado os horários de voo para o Canadá. O certo é que não sabia nada daquele ser dissoluto e escroto. Ele deveria andar com seguranças e, se algo acontecesse com ele, quem me garantia que outra pessoa não enviaria os arquivos, acabando totalmente com a vida e a reputação da minha amada.

Eu não estava nada bem. Estava cheio de culpa por ter falhado em proteger a minha esposa e queria vingança. Estava claro que aquele crápula não fez nada de impulso. O Anderson era doente! Ele pesquisou e se planejou muito bem antes de fazer tudo aquilo. Ele era um manipulador e eu só o venceria entrando no jogo dele. Eu lutei duro a minha vida toda e não iria aceitar as chantagens dele. E não voltaria para a Fernanda nem que ela fosse a última mulher do mundo!

Se tem uma coisa que eu odeio é me sentir impotente. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu estava decido que iria lutar, mas tinha que montar a minha estratégia e, para isso, precisava de informações. Só que o tempo para reagir era muito curto. E tinha a Manú! Como ela reagiria a tudo aquilo? Eu ainda estava impressionado com as reações dela e o quanto ela estava abalada. Nunca ela precisou tanto da minha ajuda e eu não iria decepcioná-la.

O Anderson era rico e poderoso. Ele deveria ter antecipado as minhas reações mais obvias. Eu sabia que não iria ganhar dele batendo de frente. Ele estava com uma vantagem enorme... Para vencê-lo eu precisaria de milhares de golpes.

Quando olhei para o relógio já eram mais de nove horas da noite. Paguei a conta e voltei para a casa. Encontrei a Manú dormindo no sofá da sala. Ela estava com a cara de quem havia chorado muito. Hesitei em tocar em seu ombro para acordá-la. Ao invés disso a chamei por três vezes antes dela acordar. Ela me encarou com os olhos arregalados, antes de me dizer choramingando:

— Beto, ele me estuprou!

Aquilo cortou o meu coração! Apenas palavras não seriam suficientes para acalmar a culpa que ela carregava, então a envolvi em um abraço protetor e falei:

— Manú, você está cansada. Vou te levar para a cama e amanhã conversamos...

— Não me toca! Eu vou sozinha... eu ainda consigo andar.

Fomos para o quarto em silêncio e a mandei se trocar, enquanto arrumava a cama. Ela foi para o closet e logo voltou, vestindo um baby-doll preto.

Foi então que eu vi as marcas que o Anderson havia deixado nela, quando do estupro. Com aquela roupa consegui ver que ela estava com um chupão no pescoço e outro do lado externo do seio esquerdo, além de algumas manchas roxas de mordidas e chupadas nas pernas e no pescoço. Além dos lábios inchados, fruto dos tapas que ele deu no rosto dela.

Na mesma hora que ela percebeu que eu estava olhando para as marcas do estupro, ela levou uma mão ao pescoço e, se despedindo, me pediu:

— Você se importa de dormir no outro quarto hoje...

Respondi que não tinha problema. Eu sabia que não conseguiria dormir naquela noite. E não dormi. Passei a noite toda pesquisando a vida daquele crápula. Busquei informações sobre sua família, empresas, com quem ele andava, empreendimentos e tudo mais.

Ele deve ter acreditado que, por causa do meu amor pela Manú, eu não iria lutar. Achou que eu não era uma ameaça. Foi o erro dele. Levantei todos os dados vazados dele na internet. As suas pegadas mostravam onde ele esteve, o que comprou e onde foi entregue. Com tudo isso, mapeei os seus padrões para fazer uma pesquisa reversa. E também eu já tinha muito material para fazer a minha engenharia social.

E de 10 em 10 minutos eu entrava no quarto e verificava se a Manú estava bem. Nas primeiras vezes nem entrei no quarto, pois a ouvia chorando e soluçando copiosamente e ela dormiu somente após a meia noite.

Eu estava muito preocupado de ela não cometer alguma loucura. Pesquisei bastante sobre os traumas gerados pelo estupro, em que a lesão não é só no corpo, mas principalmente na mente da vítima. E que pode comprometer seriamente a sua vida, gerando psicopatologias graves que afetam a vida afetiva e social. Não tive dúvidas que a Manú precisaria de ajuda especializada. Vi como denunciar o estupro, como seriam as provas, como era o processo, as penas e tudo mais. Me preparei bem e devo ter cochilado um pouco só depois das cinco horas da madrugada.

Fui para o quarto de hospedes dos fundos, que é a menor das quatro suítes da nossa casa e que ficava lado da suíte master, que era onde a Manú estava. Me deitei e coloquei o despertador para tocar após uma hora. Acordei bem cedo! Acordei e achei estranho ter ficado em um dos quartos de visitas e, principalmente de a Manú não estar do meu lado. Sempre adorei acordar ao lado da Manú e odiava as poucas vezes em que eu ou ela tínhamos que viajar. Acordar sozinho e no quarto de hóspedes da minha própria casa era pior ainda.

Me levantei, fiz um café reforçado e levei para ela em seu quarto.

— Vamos amor, acorda que o nosso dia será longo. Eu quero que você me explique tudo o que aconteceu lá, depois vamos na policia. Temos as imagens... temos a confissão dele... aquele filho da puta é um predador sexual e praticamente confessou que estuprou outras meninas, além de você... você vai precisar fazer exames de corpo de delito. E acho que existe uma medicação que se toma em caso de agressão sexual, para prevenir doenças...

— Para com isso Beto! Não vamos a lugar nenhum!

— Amor, eu pesquisei. Você é a vítima nessa história... sofreu estupro de vulnerável...

— Eu sei isso tudo Beto. Esqueceu que eu sou advogada!

— Manú, ninguém deveria passar pelo que você está passando, mas temos que denunciar!

— Beto, esqueceu que estamos no Brasil! Eu fui promotora de justiça e sei como isso funciona. O cara é rico e já está até fora do Brasil. Ele te mandou o vídeo porque sabe que tem tanta influência que é intocável pela justiça. Fora que seria um processo longo, cansativo e não vai dar em nada... Você esqueceu que ele tem as imagens? Ele tem razão no que disse... ele pode fazer vários cortes, colocar tudo na internet... mandar para a minha família... para meus amigos e destruir a minha vida e a minha carreira.

Ela, que estava falando e com um olhar perdido, então começou a chorar. E para consolá-la eu falei:

— Não chora, que vamos resolver isso JUNTOS.

— EU FUI ESTUPRADA! Você tem alguma ideia de como estou me sentindo?

— Não, eu não tenho, mas você não pode sentir a minha culpa! Manú, eu estou aqui para te ajudar...

Apesar de sua crise de culpa, ao final de uma longa discussão sobre fazer ou não a denúncia, que obviamente eu não ganhei, pois nunca vi alguém tão convincente e com tantos argumentos como a minha esposa, ainda mais em um assunto que ela conhecia profundamente. Ela terminou o assunto falando:

— Beto, me desculpa, eu estraguei tudo... você tem o direito de me odiar!

— Tá tudo bem. A culpa não foi sua.

— Eu nunca me senti tão suja. Eu queria esquecer tudo, mas não consigo.

— Não se culpe, porque você é a vítima dessa história. O culpado é aquele estuprador filho da puta e ele vai pagar por isso... Saiba que eu te amo!

Eu tentava me controlar para não tocá-la, pois a forma que ela me rejeitou no dia anterior foi algo dolorido. E eu não entendia como não suspeitei de nada daquela armação toda. Eu estava muito confuso e certamente ela também estava. Só que eu queria ouvir a versão dela, então resolvi perguntar:

— Eu sei que falhei com você, pois era meu dever te proteger. Eu ainda acho que deveríamos denunciar aquele filho da puta, falar com os seus pais e com o seu padrinho, final ele trabalha na Superintendência da Policia Federal... ou colocar o seu avô na jogada... ele é rico e pode acabar com aquele vagabundo. Mas vou confiar na sua experiência.

Ela estava distante e fiz questão de olhá-la nos olhos antes de continuar:

— Não fica aí se culpando. Esse cara vai pagar pelo que fez. Acredite em mim! Eu sei que é difícil para você, mas eu estou do seu lado para o que der e vier. E eu queria que você me contasse toda a história desde o começo.

— É difícil, Beto. Não é uma coisa que eu queria discutir.

— Olha pra mim. Eu acredito em você! Vou estar do seu lado e vamos vencer isso juntos.

Apesar da grande preocupação com a minha esposa, havia muita coisa ali que eu não havia entendido no meio daquela confusão toda e, com muito tato, convenci para que ela me contasse o que aconteceu.

Foi então que, com a voz embargada pelo choro, ela me contou a história. Começou com a parte que eu sabia. Que há pouco mais de dois meses ela foi colocada nessa força tarefa, para investigar as denúncias que o ex-deputado Pena Cardoso (que eu conhecia como Anderson) havia feito. Ela disse que só soube que ele era a mesma pessoa que teve um caso com a Fernanda quanto eu contei para ela, no dia anterior. Então falou que o denunciante era escorregadio, que vivia se esquivando das perguntas e enrolando a todos. Logo ele se desentendeu com todo mundo que participava da investigação e disse que só conversaria com as três que eu vi logo no inicio das imagens: que era a Manú; a Michele, que era a delegada loira; e a Pâmela, a magrinha que era auditora. Ela falou que o Anderson era carismático, charmoso, sedutor e elas perceberam que ele sempre liberava mais informações quando se distraia cantando a delegada e então elas começaram a dar corda para ele se enforcar. Disse que, a partir da terceira vez que ela foi para as investigações em Brasília, que ele exigiu que as conversas fossem em um hotel e exigiu também que elas ficassem hospedadas não só no mesmo hotel que ele, mas também no mesmo andar que ele estivesse.

Depois ela fez uma afirmação que me chocou, dizendo que ele era um cafajeste e sabia como entrar na mente de uma mulher, e que ela inclusive alertou a Michele sobre isso. Ela disse que o Anderson vivia contando vantagens, dizendo que as mulheres ficavam loucas por ele e que contou de diversas de suas conquistas. Entre elas, diversas conquistas que eram mulheres comprometidas, casadas com seus sócios e amigos e que eram seduzidas pelos seus atributos.

Enquanto ela falava, examinei-a com atenção e meu cérebro estava trabalhando eu um ritmo absurdo. Era uma conversa complicada, pois a toda hora as lágrimas escorriam de seus olhos, molhando até a sua camisola e, às vezes, ela chegava até a soluçar. Procurei ser bem compreensivo e a interrompi o mínimo possível.

Ela contou do dia do seu aniversário. Ela só aceitou o convite para a festa na embaixada japonesa por muita insistência da delegada, que não poderia ir ao evento com ele. Falou que a Michele lhe disse que, as informações que o informante levaria poderiam encerrar a sua participação no caso, e que, então, ela poderia voltar aos seus afazeres normais. E que não só a Michele como também a Pâmela não poderiam ir nessa comemoração, pois já tinham outros compromissos inadiáveis. Ela falou que a Michele também lhe disse que sabia que era o aniversário dela e por isso ela deveria aproveitar a festa e que sua companhia seria agradável, pois o Anderson era rico, poderoso, bem relacionado, culto e sexy.

Falou também da forma que ficou alterada na festa, mas não imaginou que havia sido drogada, porém ela acreditava que perdeu os sentidos, pois não se lembrava de ter saído da festa, e nem ter entrado no hotel. Disse que depois de estar conversando na festa da embaixada, a próxima coisa que ela se lembrava vagamente era que sentiu ele lhe agarrando e tirando suas roupas, mas parecia que via tudo aquilo acontecendo com outra pessoa, como se ela estivesse anestesiada. E que só reagiu por instinto, pois quando ele foi lhe tirar a calcinha, os ensinamentos da sua mãe lhe vieram à tona, pois ela sempre dizia que “se forem tocar na sua periquita você empurra o cara, bate nele com qualquer coisa que estiver próximo da sua mão e sai correndo”. E que ela fez isso no automático. Deu a joelhada nele e saiu do quarto do Anderson. Falou saiu correndo e tinha quase certeza que o seu quarto era a quarta porta a direita. E que, por sorte, ela estava certa. Pois colocou o dedo no sensor e a porta se abriu, ela entrou e se trancou lá dentro. E confirmou que só acordou na noite do dia seguinte e que botou toda a culpa por aquilo na bebida. Disse que já daquela vez ficou muito abalada pelo que havia acontecido e que não sabia como, mas tinha que me contar sobre tudo aquilo.

Ela respirou fundo, limpou o rosto e continuou falando. Disse que ela iria voltar para a casa naquela mesma noite, só que, por insistência da Pâmela e, principalmente da Michele, ela acabou ficando para a reunião que ocorreria no barco. Ela contou que, após o almoço, não conseguiu mais falar com as duas e foi mesmo assim ao local marcado, achando que se encontraria com elas lá, como haviam combinado. Então foi recebida pelo Pena Cardoso e depois só se recordava de ter ficado zonza após beber um copo de água. E depois disso só tinha alguns flashes dele a estuprando. E que acordou, no dia seguinte, por volta das 14 horas, já em sua cama no hotel. Falou que ficou desesperada, pois achou que fez sexo com o Anderson por causa da bebida e decidiu que iria embora de casa pois eu nunca mais confiaria nela.

Disse ainda que, agora estava claro do porque das provas e depoimentos que o Anderson deu para elas levavam para transações ou empresas que aparentemente ele não fazia parte. Certamente essas pistas direcionavam as investigações para os seus concorrentes.

Por fim, ela negou que existiu a conversa com o Anderson, em que ele perguntou se ela tinha vontade de sair com ele, após ela saber do seu envolvimento com a Delegada Michele e que ela sequer sabia que houve esse tipo de envolvimento entre eles

Ouvi aquilo tudo fazendo um grande esforço para me acalmar. Minhas emoções se misturavam e estavam à flor da pele. Fiquei extremamente desconfortável quando ela me disse que, apesar dos avanços do Anderson, que ele tinha a habilidade de fazer com que as pessoas se sentissem confiantes, descontraídos, desinibidos e confortáveis com a companhia dele.

Porém só a Manú me importava. Eu nunca havia tido sequer uma desconfiança de suas atitudes. E falei para ela:

— Não chore amor. Aquele escroto ardiloso planejou tudo muito bem e com muita antecedência. Ele gastou muito tempo e dinheiro pesquisando, subornando e manipulando, para conseguir o que queria. Agora é a hora de revidar.

Ela me olhou desesperada e eu sabia o motivo, então a tranquilizei:

— Não existe a menor chance de eu te deixar e muito menos de voltar para a Fernanda! Uma hora isso pode explodir, só que antes eu vou garantir que a vida dessa pessoa se torne um inferno.

— Dessa pessoa não! Desse monstro... você não vai trabalhar?

— Não, eu vou ficar aqui contigo.

— Beto, só te peço uma coisa. Me prometa que não vai contar para ninguém, nem para meus pais. Deixa que eu conto, na hora certa. E, por favor. Beto, me deixa sozinha um pouco... eu preciso... é que me dói muito ver você triste assim... Pode ficar tranquilo que eu não vou fazer nenhuma besteira...

Fiz menção de abraçá-la e ela me rechaçou dizendo:

— Não me toque! Por favor, não me toque!

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Comentários

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Que a Manu foi estuprada é um fato. O que eu não concordo é como 7ma pessoa esclarecida, que vive no meio desses crimes, pode dar tanta chance pro azar dessa forma, e não querer fazer nada a respeito. Ela está abalada, sim concordo, mas ela é uma promotora de justiça, esclarecida, vivida, não é uma pessoa qualquer. Acredito que o senso de justiça deve ou deveria pulsar nas veias da Manu.

Também achei a explicação dela sobre o ocorrido entre a primeira e a segunda noite meio fraca.

Reafirmando: a Manu foi estuprada, FATO. Mas deu muito mole, coisas que uma pessoa na posição dela não poderia fazer. E nada que ela fez justifica o estupro.

O que talvez justifique suas ações seja o fato dela ser muito assediada e saber se defender, isso o Beto fala sempre. Também não entendi porque o Beto se sente tão culpado, ao ponto de falar isso duas vezes, comi ele poderia protegê-la se ele nem estava n mesma cidade que ela e não sabia de nada sobre sua missão. Chateado , triste, amargurado, impotente sim, mas culpado não.

Ótima história nobre autor!

Obrigado!

Lendo os comentários abaixo, talvez eu seja machista ou talvez eu só tenha uma opinião de que qto menos arriscamos mais seguro estaremos.

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Excelente! Só precisa ter sangue frio e botar a engenharia da computação para funcionar. Chega de ser certinho, bora hackear esse ricaço. Já tinha feito isso, rastreia, bagunça e limpa a conta dele. 3 estrelas!

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A musiquinha do "missão Impossível" já está tocando nos meus ouvidos.

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Vejo uma luz no final do túnel. Mas o Beto tem menos de 1 mês pra aniquilar o verme. E tem que ser definitivo. Só um adendo: eu tenho lido os comentários e fico abismado com as críticas a Manú (a vítima)!!! Por essas e outras, que a decisão dela, de não denunciar, faz todo o sentido. O machismo campeia solto neste mundo. Depois daquele caso, com provas, e que o termo "estupro sem intenção" foi usado, eu perdi toda a esperança no ser humano. Hoje em dia me alegro com o que vejo de bom no mundo. Mas pelos comentários que vejo no seu conto, vejo que estou certo. Não estarei vivo, para ver uma humanidade verdadeiramente empática e positiva. Talvez, nem meus netos...

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Olá Cachimbo. Pensei muito nisso quando estava esquematizando os capítulos. Uma opção era a Manú denunciar. Como eu não tenho um grande conhecimento jurídico eu iria focar na repercussão, com o pessoal culpando ela, problemas no trabalho, as pessoas falando pelas costa e a julgando. E também focaria na podridão da nossa política e da justiça. Onde quem tem dinheiro é intocável, nos esquemas de proteção, na perseguição desenfreada contra algumas pessoas, enquanto muitos bandidos estão soltos. Resolvi focar em ela não denunciar e o Beto tentar fazer a justiça com seus recursos.

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Fez bem. Você iria levantar questões pertinentes, porém difíceis de digerir e de dissertar. Sua novela não é palco pra assunto tão espinhoso. Que venha a continuação dessa aventura singular e excitante! Essa batalha promete! Mais uma vez, parabéns! Concordo plenamente com sua opinião sobre a justiça. Só que não é só a nossa. Infelizmente, o dinheiro manda em todo lugar.

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A Manú foi usada, drogada e estuprada. Mas também escondeu muita coisa do Beto. As coisas que aconteceram antes do estupro. Se ela tivesse se aberto com o marido, fucaria sabendo quem era o deputado e as coisas que ele fez. Aí não teria dado a chance dele fazer o que fez...

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Mas existe a questão da confidencialidade. Beto é o marido e parceiro de vida, ok. Mas vamos supor que alguém realmente perigoso queira informações dos processos em andamento, qual seria a primeira pessoa que iriam atrás? Do marido.

Cargo de procurador da república não é brinquedo não, é mais perigoso do que as pessoas imaginam

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No dia do aniversário. Difícil uma procuradora não perceber que havia sido drogada. Ela deveria ter contado ao Beto.

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Podemos olhar por esse ângulo. O meu foco é um pouco diferente, porém não contrário.

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É uma barra muito grande. Já tive contato com mulheres estupradas e esse receio de serem tocadas pelo seu parceiro vem do sentimento de estarem sujas, maculadas para os seus companheiros a tocarem. Esse fato foi pior com a Manu porque ela já foi vítima de estupro.

Obetão, és um grande escritor, passar esses detalhes pesados não é para qualquer um.

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Valeu, muito obrigado. O foco que vou dar é mais ou mesmo o que você disse nesses seus dois posts.

Grande abraço!

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