Kike passou a tarde inteira juntando galhos para montar uma fogueira. De noite, os quatro sentaram ao redor dela, bebendo e conversando. Eles riam, despreocupados, enquanto eu lutava contra o impulso de empurrar Ana e Bruno diretamente para as chamas.
Considerando que eu ainda precisava sobreviver ao resto daquela viagem infernal, fiz a única coisa que me parecia possível naquele momento: enchi a cara.
Para facilitar a missão, Leandro puxou um daqueles jogos de bebida, cada carta virada significava alguma coisa diferente: mandar um shot para alguém, começar uma brincadeira estúpida ou revelar algum segredo num "eu nunca". Para ser sincero, eu não entendi as regras, e estava desconfiado de que o próprio Leandro as inventava conforme o jogo avançava.
As coisas esquentaram rapidamente em volta da fogueira. Basicamente, todos os shots estavam indo para a minha namorada. Qualquer desculpa servia: "ah, é porque ela perdeu a rodada", "ah, caiu a carta vermelha", "ah, só porque ela é a mais bonita da mesa". No começo, ela reclamava de leve, fazia uma careta ou protestava, mas logo foi se soltando.
A certa altura, Leandro virou uma carta que permitia inventar uma regra. Com o sorriso mais cretino do mundo, ele bateu a carta na perna e decretou:
— A partir de agora, toda vez que a Ana tiver que beber um shot... ela vai se ajoelhar e receber na boquinha. Eu viro a garrafa.
A roda caiu na gargalhada. Ana arregalou os olhos e deu um tapa no ombro dele, mas não protestou de verdade. Da rodada seguinte em diante, lá estava ela: de joelhos, rindo, deixando Leandro virar a garrafa diretamente na boca dela, ficando cada vez mais bêbada.
Em algum momento, caiu a carta do “eu nunca”. Kike que escolheu o tema:
— Eu nunca traí minha namorada ou namorado.
Leandro pegou a garrafa e bebeu, enquanto eu encarava Ana desesperado, rezando para que ela não revelasse a verdade para os meus amigos.
Achei que fosse morrer quando ela caiu no chão e foi de joelhos até Leandro, esperando para receber sua dose na boca. Silêncio completo na roda, os meninos se entreolhavam chocados com aquela confissão. Percebendo o clima tenso, ela falou:
— Gente, eu não traí o Cleiton. Eu tô falando de ex. Vocês são muito dramáticos.
Eles riram, e eu respirei aliviado. Três pessoas naquela roda já sabiam que aquilo era mentira, mas pelo menos, aquilo preservava minha imagem para os outros dois.
Na rodada seguinte, caiu uma carta de desafio. Leandro olhou direto para a Ana, com aquele brilho malicioso nos olhos que já era sinal de problema.
— Princesinha, seu desafio é dançar um funk pra gente só de biquíni. Quero ver se você é tão desengonçada quanto o Cleitinho vive falando.
Aquilo era obviamente uma mentira, eu nunca falei nada parecido. Era só mais uma provocação do Leandro, feita para cutucar Ana e me colocar numa situação desconfortável.
— Ah, é, Cleiton? — Ana virou para mim com uma expressão furiosa. — Então você vai ver agora.
Mas antes que eu pudesse me defender, ela já se voltava para o Leandro com um sorrisinho debochado.
— Mas, Lê... só de biquíni já é demais, né? Vou de roupa mesmo, tá ótimo.
— O desafio é esse. Se não tiver coragem, é só tomar três shots — ele respondeu, direto, sem deixar margem para negociação.
Ana avaliou suas opções por alguns segundos, depois fez uma cara de contrariada, mas tirou a blusa e a saia. Após beber tanto, nem ela mesma se lembrava, que ela já não estava mais de biquíni porque tinha tomado banho. Na frente dos meus amigos, minha namorada ficou apenas com seu sutiã preto e uma calcinha fio-dental combinando.
Fiquei paralisado. Levei as mãos à cabeça, em desespero. Kike já estava colocando um funk na caixinha de som, enquanto Leandro a incentivava aos gritos.
Ana foi até o chão, rebolando com ritmo e confiança. Em certo momento, chegou com o bumbum perigosamente perto da cara do Leandro, que, claro, tentou esticar a mão para tocar. Ela deu um tapa, daqueles brincalhões, no fundo, mais provocando do que repreendendo.
O único que parecia menos envolvido no espetáculo era o Bruno. Sentado, calado, ele assistia à cena com uma expressão indecifrável. Não sei se era só do jeito dele, ou se, naquele momento, ele compartilhava comigo o desejo de não dividir Ana com mais ninguém. Por mais louco que pareça, talvez ele também estivesse com ciúmes.
Quando a música chegou perto do fim, vi Kike discretamente tentando trocar a faixa, para esticar o show. Eu, que já tinha visto o bastante, coloquei um limite dizendo:
— Chega, né? Já bebemos bastante. Podemos parar o jogo aqui.
O climão foi imediato. De repente, todos lembraram que eu existia. Ana pegou as roupas no chão e se vestiu em silêncio. Bruno terminou de virar o restinho da garrafa e ninguém mais disse nada. Nem eu sabia que ainda tinha essa capacidade de impor algum tipo de controle sobre aquele circo.
A fogueira continuou acesa e a gente ficou ali, fumando e bebendo cerveja em silêncio. Aos poucos, as conversas foram voltando de forma tímida, até estarem todos brincando de novo, rindo, como se minha namorada não tivesse acabado de fazer um strip e dançado funk de fio-dental para meus amigos.
Sem que ninguém percebesse, me afastei. Voltei sozinho para o acampamento, peguei uma garrafa de Smirnoff e bebi inteira direto no gargalo. Meu plano era tomar outra, mas a vontade de mijar venceu.
Fui até o mar, arrastei os pés pela areia úmida e, enquanto me aliviava, capotei ali mesmo. Corpo largado, mente embaralhada. Desliguei. Não sei quanto tempo fiquei apagado na areia. Só sei que, quando acordei, a fogueira já tinha virado carvão e o camping estava deserto. Me levantei cambaleando, pronto para me jogar dentro da barraca e apagar de vez, mas antes de abrir o zíper, ouvi de novo.
As risadas da Ana.
Me aproximei devagar, e bastaram dois passos para entender o que estava acontecendo. Não dava para acreditar que flagrar minha namorada transando tinha virado um hábito na minha vida.
<Continua>
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