Dantas manteve Elijah em seu colo por alguns segundos, firme, mas sem violência. Cada respiração do jovem era irregular, pesada, carregada de medo, e o investigador aproveitava cada instante para avaliar sua reação.
— Calma… — murmurou Dantas, a voz baixa, quase um sussurro que atravessava o silêncio da sala. — Estou apenas interessado em conversar. Mas entenda… qualquer barulho errado pode complicar tudo.
Elijah permaneceu imóvel, os olhos arregalados, a garganta seca, incapaz de pronunciar uma palavra. O toque firme de Dantas sobre o seu braço e o aperto contido de seu corpo transmitiam uma autoridade absoluta, lembrando-lhe que ele não tinha para onde fugir.
O homem respirava devagar, calculando cada movimento do jovem. Cada gesto de Elijah era analisado: o tremor das mãos, o leve recuo do corpo, a tensão nos ombros. Para qualquer observador externo, Dantas parecia um comprador interessado; para Elijah, era alguém que controlava seu corpo e seu destino com uma calma aterradora.
— Escute com atenção, Elijah — disse Dantas finalmente, os olhos fixos nos do jovem. — Preciso que você seja sincero. Não há motivo para mentiras agora. Cada detalhe que você me disser pode ajudar… ou te colocar em perigo.
O jovem engoliu em seco, sentindo o peso das palavras e a intensidade do olhar que o prendia como se fosse uma armadilha invisível. A vulnerabilidade era total, e o medo pulsava em cada fibra de seu corpo.
— Não… não sei se consigo… — balbuciou, quase inaudível, a voz trêmula.
Dantas apertou levemente o braço de Elijah, um gesto firme, mas controlado.
— Consegue sim — murmurou com voz baixa, mas autoritária. — Preciso que confie… apenas um pouco. O resto… depende de você.
O silêncio voltou a tomar conta da sala, pesado e opressivo. Elijah sentiu o coração bater descompassado, cada músculo tenso, enquanto Dantas permanecia imóvel, observando, esperando o momento certo para extrair a primeira palavra que pudesse revelar algo.
Os olhos azuis profundos de Elijah permaneciam fixos nos de Dantas, absorvendo cada nuance de firmeza e controle que o homem exercia. Ele podia sentir, mesmo sem palavras, a autoridade silenciosa que pressionava cada parte de seu corpo e mente.
Mas o momento de tensão foi abruptamente interrompido pelo som estridente da porta se abrindo. Jonas entrou, acompanhado por dois capangas robustos, o olhar carregado de irritação contida e desconfiança.
— Sinto muito, senhor Dantas — disse Jonas, a voz forçada, tentando manter a compostura. — Acredito que lhes demos o garoto errado… peço-lhe perdão
Os olhos de Jonas percorriam Dantas de cima a baixo, e mesmo tentando manter o semblante de formalidade, sua expressão denunciava algo mais: a certeza de que havia mais acontecendo do que lhe fora informado. A postura rígida, o leve arqueamento das sobrancelhas, a tensão nos ombros — tudo indicava que ele desconfiava, ou pelo menos pressentia, que Dantas não era apenas um comprador comum.
Dantas, ainda mantendo Elijah em seu colo, desviou o olhar apenas por um instante para Jonas, o semblante impassível. Cada movimento era calculado. Ele se levantou lentamente, a postura firme, sem soltar o jovem, mas deixando claro que agora tinha toda a atenção sobre o intruso.
— Jonas — disse Dantas, a voz fria e controlada, mas carregada de autoridade — o garoto está exatamente onde deveria estar. Não há engano aqui.
Os capangas de Jonas trocaram olhares desconfiados, percebendo a tensão entre os dois homens. O clima na sala tornou-se eletricamente carregado, cada respiração pesada, cada gesto observado com atenção máxima.
Elijah, ainda tenso, sentiu o corpo tremer levemente no colo de Dantas, consciente de que cada palavra trocada poderia decidir seu destino. A sensação de vulnerabilidade misturava-se com o medo de Jonas, e a percepção de que estava no meio de um jogo muito maior do que ele podia compreender.
— Interessante… — murmurou Jonas, a voz baixa, como se ponderasse se estava sendo enganado ou se apenas havia subestimado a situação. — Parece que o negócio pode ser mais complicado.
Dantas não desviou o olhar, mantendo o controle absoluto da situação, enquanto Elijah permanecia imóvel, cada músculo tenso, consciente de que agora estava cercado por homens que poderiam decidir seu destino em segundos.
— Quanto? — perguntou Dantas, a voz firme, olhando diretamente para Jonas. — Me diga o valor para que eu leve o garoto comigo.
Jonas arqueou uma sobrancelha, surpreso com a franqueza do homem à sua frente, mas logo recompôs o semblante, tentando não demonstrar que estava diante de alguém claramente fora do comum.
— O garoto? — respondeu Jonas, a voz firme, calculada. — Ele não é barato. Estou falando de cem mil.
Dantas manteve a postura firme, sem soltar Elijah, os olhos fixos em Jonas, avaliando cada reação.
— Cem mil? — repetiu, com calma controlada que contrastava com a tensão na sala. — Muito dinheiro por um jovem tão frágil. Mas se for necessário… posso pagar. — Sua voz era baixa, autoritária, transmitindo que não estava ali apenas para negociar, mas para impor sua vontade.
Elijah sentiu o corpo tremer levemente sob o braço de Dantas, incapaz de compreender tudo que estava acontecendo, mas consciente de que aquela conversa não era uma negociação comum. Ele era o centro, ainda que silencioso e vulnerável.
Dantas afastou levemente Elijah e, ainda mantendo o olhar fixo em Jonas, colocou sobre a mesinha de centro um cheque no valor de cem mil.
Não fazia parte de seus planos realmente comprar o garoto, mas o disfarce não podia cair. Cada movimento precisava parecer calculado, convincente — e agora ele precisava sair dali sem levantar suspeitas, mas mantendo-se à vista dos capangas de Jonas. A ilusão precisava ser perfeita: Jonas devia acreditar que estava lidando com um comprador pervertido, movido por desejos obscuros.
— Está aqui — disse Dantas, a voz baixa, carregada de uma calma ameaçadora. — O valor combinado.
Jonas olhou para o cheque, depois para os olhos de Dantas, tentando decifrar o que havia por trás daquela postura imperturbável. Um desconforto sutil começou a surgir: não era comum ver alguém negociar com tanta frieza e autoridade, ainda mais com um rapaz vulnerável no centro da situação.
Elijah, por sua vez, sentiu-se estranho ao ser colocado de lado, mas a proximidade de Dantas ainda transmitia segurança. Ele não entendia tudo, mas sabia que estava protegido.
O jogo de poder estava lançado. Dantas mantinha o controle, e Jonas, apesar de todo o dinheiro e da arrogância, começava a perceber que talvez não fosse ele quem ditava as regras.