Gabriel finalizou a última garfada de carne, mastigando devagar, saboreando cada pedaço. O barulho da praça de alimentação parecia se dissipar à medida que sua satisfação aumentava. Ele limpou a boca com a parte de trás da mão, ignorando a mancha de molho no cabelo de Júnior, que ainda permanecia ali, como uma condecoração de sua subserviência.
— Hora de ir ao banheiro. Levante-se, cadela. E venha comigo.
Júnior, que estava ajoelhado, sentiu um calafrio. Ir ao banheiro com o Mestre? Em um ambiente público? Ele imaginou a estranheza dos outros homens entrando e saindo. Mas não hesitou. Seu lugar era ao lado de Gabriel, fosse onde fosse. Ele se levantou, pronto para seguir.
O banheiro era um espaço estéril, com o eco de passos e o som constante de água correndo. Havia um ou dois homens usando as pias, mas logo saíram, deixando-os a sós por um breve momento. Gabriel se dirigiu a um mictório, virando as costas para Júnior, e começou a urinar.
— Venha aqui, cadela. Mais perto. Eu não gosto de me sentir sozinho.
Júnior obedeceu, parando a uma distância respeitosa, mas ainda assim desconfortavelmente próximo ao mictório que Gabriel utilizava. Ele manteve o olhar fixo para frente, para a parede de azulejos frios, sentindo o constrangimento subir. O som do jato de urina de Gabriel era audível, e o cheiro característico do banheiro preenchia o ar.
Enquanto Gabriel urinava, Júnior, de pé ao lado do Mestre, percebeu uma pequena sujeira no tênis branco de Gabriel, perto da ponta. Uma mancha quase imperceptível de algo que parecia ter esbarrado. Sem pensar duas vezes, num impulso de agradar e manter a perfeição do tênis do Mestre, Júnior se abaixou, ajoelhando-se rapidamente ao lado do mictório e, com a ponta da língua, começou a limpar a sujeira do tênis. O atrito leve de sua língua contra o tecido, o cheiro de tênis novo misturado ao do ambiente do banheiro.
Gabriel soltou um riso baixo e gutural, interrompendo o ato.
— Hahahaha! Muito bom, cadela! Ainda bem que você está aprendendo que sua função é deixar meu tênis sempre limpo.
Gabriel terminou de usar o mictório. Ele se virou para Júnior, que ainda estava ajoelhado, com a expressão submissa, e balançou seu pau na cara do escravo. A última gota escorreu, deixando um rastro úmido na pele de Júnior. Gabriel observou a sujeira em seu rosto com um sorriso de satisfação, seus olhos brilhando com um prazer sádico. Uma ideia acendeu em sua mente.
— Então, Cadela. Você tem nojo de mim?
Júnior levantou o olhar, surpreso com a pergunta inesperada, especialmente depois de ter limpado o tênis de Gabriel com a língua.
— Claro que não, Mestre! Eu acabei de limpar seu tênis.
— Eu percebi sua cara de nojo. Não minta para mim. — Gabriel retrucou, com um tom acusatório, inventando uma reação que Júnior não tivera.
Júnior sentiu um sobressalto. Ele não havia feito cara de nojo, mas não podia contradizer Gabriel. Chamar o Mestre de mentiroso estava fora de questão. Ele ficou em silêncio, a mente em branco, preso na armadilha.
— O que foi? Não tem resposta? A voz de Gabriel endureceu. Se não tem nojo, por que está calado? Se não tem nojo, por que não me olha nos olhos e me diz?
Júnior continuou em silêncio, o medo de escolher a palavra errada o paralisava. Ele não tinha nojo, mas como provar isso sem desafiar a palavra do Mestre? O nervosismo de Gabriel crescia.
— Responda, sua cadela inútil! Não me faça perguntar de novo!
Júnior engoliu em seco, finalmente encontrando sua voz, fraca, mas firme.
— Não, Mestre! Não tenho nojo do senhor!
Gabriel sorriu, um sorriso sádico. Ele apontou para o mictório, ainda com os resquícios de sua urina.
— Então prove. Use sua língua para limpar esse mictório.
Júnior sentiu o sangue gelar. Seus olhos se arregalaram, fixos no objeto úmido e com cheiro forte à sua frente. O pedido era ultrajante, uma barreira que ele não havia sequer imaginado. Seu corpo travou, imóvel.
— M-Mestre... ele balbuciou, incapaz de formular uma frase.
— O que foi, cadela? Gaguejando? Achei que não tinha nojo. Ou você me chamou de mentiroso, ou é uma covarde. Qual dos dois? Gabriel deu um passo à frente, sua voz baixa e perigosa. Ou vai me fazer perder a paciência aqui no meio do banheiro público?
Júnior sentiu o pânico. Sua mente gritava. O fedor do mictório, a umidade, a ideia de sua língua tocando aquela superfície. Mas o olhar de Gabriel, o tom de sua voz, eram um comando que ele não podia desobedecer. A vergonha era avassaladora, mas o medo de desagradar o Mestre, de ser considerado inútil, era ainda maior. Ele fechou os olhos por um instante, respirou fundo, tentando sufocar a ânsia de vômito que subia pela garganta.
Lentamente, milimetricamente, Júnior inclinou-se. Seus joelhos ainda estavam no chão úmido. Ele aproximou o rosto do mictório, o cheiro de urina e desinfetante intensificando-se. A ponta de sua língua, trêmula, tocou a superfície fria e úmida da cerâmica. O gosto amargo e salgado, misturado com o cheiro químico do banheiro, invadiu sua boca. Ele moveu a língua, esfregando-a sobre o resíduo seco e úmido, sentindo a textura áspera. Seus olhos se apertaram, mas ele continuou, obedecendo ao comando, cada segundo uma eternidade de humilhação. Ele sentia-se a criatura mais desprezível do mundo.
Gabriel observou, imóvel, uma expressão de satisfação gélida em seu rosto. Não havia pressa. Ele queria saborear cada momento da quebra de Júnior.
— Bom. Assim que se prova. Assim que se mostra lealdade. Mas ainda falta. Não quero que sobre um único resquício. Limpe direito, cadela.
Júnior continuou, lambendo com mais afinco, a língua trabalhando para não deixar uma única gota ou mancha. Ele não pensava, apenas obedecia, seu corpo operando em piloto automático, a mente entorpecida pela repulsa e pela necessidade de cumprir a ordem. Quando finalmente parou, seu rosto estava pálido e ele tentava controlar a respiração ofegante.
— P-pronto, Mestre...
Gabriel se aproximou, inspecionando o mictório com um olhar perscrutador, buscando a menor imperfeição. Um sorriso cruel se formou em seus lábios.
— Quase. Um bom trabalho para uma cadela como você.
Júnior, ainda ajoelhado, estendeu a mão e, com reverência, fechou o botão e o zíper da calça de Gabriel, que o observava com um ar de superioridade. Em seguida, Júnior se levantou e seguiu o Mestre até a pia. Ali, antes mesmo que Gabriel fizesse menção, Júnior estendeu a mão e acionou a torneira, regulando a água para uma temperatura agradável. Em seguida, pressionou o dispensador de sabonete líquido, liberando uma porção generosa nas mãos de Gabriel. O Mestre lavou as mãos, sem se preocupar em esfregar ou secar. Júnior já estava pronto, retirando algumas folhas de papel toalha do dispensador e as entregando a Gabriel. Após o Mestre secar suas mãos, Júnior pegou os papéis molhados e os levou rapidamente até a lixeira, descartando-os.
— Muito bom. Já está na hora de irmos para casa.
Júnior acenou com a cabeça. Juntos, saíram do banheiro e se dirigiram ao estacionamento. A luz da tarde começava a dourar o asfalto. Ao chegarem ao carro de Júnior, o escravo prontamente abriu a porta traseira. Com movimentos ágéis e organizados, ele colocou as sacolas com as compras de Gabriel no banco de trás, ao lado da mochila do Mestre. Em seguida, moveu-se para a porta do motorista, abrindo-a com um gesto formal. Gabriel entrou no carro com a naturalidade de um rei em sua carruagem. Júnior fechou a porta com cuidado e, então, contornou o veículo, sentando-se no banco do passageiro. O motor ligou, e a praça de alimentação ficava para trás, levando consigo as memórias das últimas humilhações e os sabores amargos do dever cumprido.
Gabriel dirigiu o carro até a porta da casa de Júnior. Ao parar o carro, Gabriel virou-se para ele.
— As meias fedidas estão com você, cadela?
Júnior, num sobressalto, apalpou o bolso da calça, onde havia guardado a meia suada que Gabriel havia lhe prometido anteriormente.
— Sim, Mestre. Estão comigo.
— Bom. Pegue-as. Coloque-as na minha mochila, ali no banco de trás, junto com o resto das minhas coisas. E amanhã vamos ver se você vai merecê-las. Se merecer no próximo encontro, você ganha elas.
Júnior sentiu uma pontada de confusão. Ganhar? Mas Gabriel já havia dado as meias a ele, no provador, como um presente pela sua dedicação. Aquele presente já havia sido "ganho". Ele fez menção de retrucar, um murmúrio já se formando em seus lábios.
— Mas, Mestre... o senhor já me deu el...
Um tapa. Seco, forte e rápido. A mão de Gabriel estalou contra a bochecha de Júnior, que virou o rosto com o impacto. O som ecoou no interior silencioso do carro. A dor era aguda, queimando.
— Eu não perguntei nada, por que está falando? — A voz de Gabriel era baixa, mas carregada de uma frieza cortante. Ele aproximou o rosto do de Júnior, o olhar fixo. — Ah, sim, você quer falar "sim senhor". É isso, cadela?
Júnior sentiu os lábios dormentes. A humilhação era profunda. Ele reuniu as forças que lhe restavam, a intenção de dizer "sim senhor" como um mantra.
— Sim...
Outro tapa. Ainda mais forte. A bochecha de Júnior ardeu. Uma lágrima teimosa brotou no canto de seu olho, mas ele se recusou a deixá-la cair.
— Hahahaha! — Gabriel riu, um riso sem humor, que reverberou pelo carro. — Eu mandei guardar a meia e não me responder.
Júnior travou. A mensagem era clara. Não havia espaço para hesitação, para pensamentos próprios, para a mínima fagulha de contradição. Apenas obediência cega. Com a mão trêmula, ele pegou a meia de seu bolso e, com a reverência que a situação exigia, colocou-a cuidadosamente dentro da mochila de Gabriel no banco de trás.
Gabriel observou cada movimento com satisfação. O silêncio pesou no carro por um momento.
— Até que eu gostei do dia. Parabéns, você realmente é devoto a mim.
Júnior sentiu um fraco tremor de alívio e orgulho. O elogio de Gabriel era um bálsamo para as dores e humilhações. Ele era um bom escravo.
— Quer uma última chance de me servir?
Júnior abriu a boca para responder, para reafirmar sua devoção e aceitar a oferta. Mas, antes que qualquer som pudesse escapar, outro tapa. Este foi o mais forte de todos, fazendo sua cabeça balançar e sua visão turvar por um instante. Gabriel gargalhou, um som alto e descontrolado que encheu o carro.
— Hahahaha! Eu não quero te ouvir, otário!
Júnior sentiu o gosto de sangue na boca. Sua cabeça zumbia. O corpo todo doía. Gabriel se inclinou novamente, os olhos brilhando com uma satisfação insana.
— Quer uma última chance de me servir?
Júnior, sem uma palavra, apenas balançou a cabeça afirmativamente. Ele havia aprendido a lição. Nenhuma palavra. Apenas ações.
Gabriel sorriu amplamente, um sorriso perverso e vitorioso.
— Perfeito. Estou querendo passar o tempo. Quero bater na sua cara. De que lado prefere apanhar?
Com um esforço, e os olhos fixos nos de Gabriel, Júnior inclinou a cabeça ligeiramente para um lado, depois, com uma lentidão quase dolorosa, virou-a para o outro, apresentando ambas as bochechas, uma após a outra, como se oferecesse o rosto inteiro para o impacto. Era a resposta que o mestre esperava, uma entrega completa, sem preferência, como quem exibe um produto sob todos os ângulos no provador de uma loja.
— Ah, entendi. Quer que eu bata em todos os lados, não é, cadela? Como no provador de roupa. Gosto de ver essa prontidão. Uma cadela que sabe se oferecer por completo. Excelente.
A mão de Gabriel levantou-se. Não era um tapa rápido e estalado como os anteriores. Era um golpe mais lento, carregado de intenção, um som surdo e pesado que ecoou no espaço confinado do carro. O impacto foi brutal na bochecha direita. A cabeça de Júnior foi arremessada contra o encosto do banco, e uma dor latejante explodiu em seu crânio. Seus ouvidos zumbiram e um fio de sangue escorreu do canto de sua boca. Ele sentiu o sabor metálico.
— E agora o outro lado, cadela. Para não ficar desequilibrado, sabe? O tapa perfeito, como você quer. — A voz de Gabriel era quase carinhosa, mas seus olhos brilhavam com uma satisfação cruel.
Júnior mal conseguiu se mover, mas seu corpo obedeceu, oferecendo a bochecha esquerda, que já carregava as marcas dos tapas anteriores. O segundo golpe veio com a mesma força devastadora. Desta vez, a visão de Júnior ficou turva por alguns segundos, e ele sentiu um estalo dentro de sua cabeça. Mais sangue.
— Isso, minha cadela. Agora você está perfeita. Marcada, suja, obediente. Gabriel sorriu, parecendo exultante. Eu realmente gostei do nosso dia. Você é a minha putinha perfeita. E esses tapas... uhm... um lembrete do seu lugar. E um lembrete de quem manda em você.
Ele se recostou no banco, relaxado, a respiração calma. Júnior permaneceu imóvel, o rosto inchado, os lábios cortados, o corpo tremendo levemente. Ele não podia mover-se. A dor era imensa, mas havia algo mais, uma estranha mistura de alívio e... sim, satisfação. Ele havia suportado. Ele havia obedecido. Ele era realmente a cadela de Gabriel.
Gabriel destravou as portas, mas não fez menção de sair do carro. Em vez disso, ele sorriu, um brilho perverso nos olhos.
— E mais uma coisa, cadela. Você não vai precisar desse carro por enquanto. Eu gostei dele. Ele ficará comigo até o nosso próximo encontro. Como um lembrete do que você é para mim. Minha propriedade. Agora, saia. E não se esqueça: a meia. Eu vou estar esperando o próximo encontro para saber se você a merece de verdade.
Júnior, com dificuldade, conseguiu mover os braços e abrir a porta do motorista. Sua saída foi lenta e desajeitada, cada movimento um tormento. Ele cambaleou um pouco ao tocar a calçada. A porta do carro se fechou com um suave "clack". Gabriel, ria baixinho. Júnior ficou ali, sozinho na escuridão da rua, o rosto latejando e a alma dividida entre a dor e a estranha alegria de ter satisfeito seu Mestre. O carro de Júnior permanecia na garagem de Gabriel, agora mais um troféu da sua completa dominação.