O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 1

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1686 palavras
Data: 24/08/2025 18:22:35
Última revisão: 31/08/2025 11:33:20
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ A Profecia do Coração Inesperado ✧

(Lucas)

O Salão dos Ecos Celestiais estava em um silêncio carregado, onde o aroma pungente de pergaminho mofado se misturava ao cheiro metálico do pânico que pairava no ar. Eu, Lucas de Valerium, me encontrava na primeira fila, a espinha ereta, o queixo tenso, um farol de treinamento e expectativa entre generais de armaduras reluzentes e conselheiros de semblantes preocupados. Lá fora, a marcha inexorável de Malakor desenhava uma cicatriz de escuridão no horizonte, um rastro de destruição onde a magia necromante corrompia a própria terra, sugava a vida dos vilarejos. Aqui dentro, no coração do poder de Eldoria, a esperança, tão frágil quanto uma asa de borboleta, aguardava sua revelação. Os três Sábios do lendário Pico Cinzento, suas vestes empoeiradas como a própria história, desdobravam o Rolo do Destino, e eu sentia o peso de todos os olhares cravados em mim.

Desde o momento em que meus dedos aprenderam a moldar a energia arcana, fui moldado para este instante. Minha magia crepitava sob a pele, um emaranhado de poder ansioso, ansioso para ser liberado. Eu era o mago mais promissor de Eldoria, um prodígio cujos dons eram sussurrados em cada corredor do castelo. A profecia, a esperança contra o amanhecer que se aproximava, só poderia ser sobre mim. Eu carregava o peso do potencial de um reino nas minhas jovens costas.

(Tiago)

Enquanto isso, encolhido nas sombras protetoras de uma coluna de mármore maciço, perto de uma das imponentes saídas, meu único desejo era desaparecer. O Salão dos Ecos Celestiais, com sua arquitetura grandiosa e seus vitrais que choravam lágrimas de luz colorida sobre os rostos pálidos e assustados da nobreza, parecia me esmagar com sua opulência. Cada raio de luz filtrado parecia zombar do meu medo, da minha insignificância. Meus dedos, úmidos de suor, brincavam nervosamente com a bainha puída da minha túnica de aprendiz, um lembrete constante da minha posição humilde.

O ar vibrava com uma energia palpável, uma expectativa concentrada em uma única figura: Lucas. Ele era o oposto de tudo que eu era. Confiante, com um poder bruto que transbordava, ele parecia um herói das antigas tapeçarias que adornavam as pareces, uma figura de lendas ganhando vida. Enquanto a sombra de Malakor nos envolvia, a única certeza que me confortava era que Lucas, com sua magia e coragem, nos salvaria. Ele tinha que nos salvar. Eu só esperava não ser um fardo no caminho.

(Lucas)

O Sábio mais velho, Elur, um homem cujas rugas contavam histórias de eras passadas, ergueu suas mãos trêmulas, e um silêncio sepulcral se aprofundou no salão. Sua voz, embora fragilizada pela idade, ressoou com uma autoridade ancestral, um poder que parecia emanar das próprias fundações da terra.

“A escuridão avança, mas a chama da esperança não se apagará”, proclamou ele, suas palavras ecoando nas abóbadas altíssimas. “Pois a antiga escritura fala da ‘Profecia do Coração Inesperado’. Quando a sombra de Malakor cobrir a terra, um mago surgirá, não forjado no fogo da ambição desenfreada, mas nascido da mais pura e abnegada compaixão. Seu poder, atualmente adormecido sob o véu do esquecimento, despertará para ser a muralha intransponível de Eldoria.”

Meu coração martelava no peito, um tambor frenético contra minhas costelas. “Coração Inesperado”. A frase ecoava em minha mente. Talvez inesperado por ser mais forte, mais resiliente, do que qualquer um jamais ousou sonhar. Sim, isso fazia sentido. Eu sentia a verdade dessas palavras resonando dentro de mim, e estava pronto para abraçar o fardo, para ser o escudo de Eldoria.

(Tiago)

Eu mal conseguia respirar, o ar parecendo rarefeito enquanto eu absorvia cada palavra do Sábio Elur. Um arrepio involuntário desceu pela minha espinha, um misto de pavor e uma étranha expectativa. “Coração Inesperado”. A descrição parecia tão… grandiosa, tão pura, tão fora do meu alcance.

Meus olhos, num movimento furtivo, encontraram os de Lucas por um breve instante. Ele estava impassível, uma estátua de bronze esculpida em determinação e coragem. Era ele, sem a menor sombra de dúvida. Uma onda avassaladora de alívio me inundou. Estávamos salvos. O Escolhido, o herói que nos guiaria através da escuridão, era Lucas. Eu só precisava ficar fora do caminho, tentar não tropeçar em nada importante enquanto a batalha final se desenrolava. Talvez, apenas talvez, eu pudesse ser útil preparando poções de cura, longe da linha de frente, onde meu medo não representasse um perigo. Sim, isso parecia um plano excepcionalmente bom.

No centro do salão, sobre um pedestal de obsidiana polida, o Rolo do Destino, desdobrado e solene, começou a emitir um brilho etéreo. Uma luz azul safira, intensa e vibrante, ergueu-se do pergaminho antigo, pairando no ar por um momento de tensão absoluta. A luz flutuou graciosamente sobre as cabeças coroadas dos Sábios, girou preguiçosamente sobre o trono vazio do Rei Theron, e então, para o choque assombroso de todos os presentes, ignorou solenemente a primeira fila, o bastião de heróis e nobres que se preparavam para a glória. A luz ziguezagueou pelo salão abarrotado, um cometa de esperança viva buscando seu destino.

O murmúrio que antes ecoava pelos corredores transformou-se em um suspiro coletivo de incredulidade quando a luz passou por cavaleiros condecorados em suas armaduras cintilantes e magos experientes com séculos de conhecimento, e veio direta e inconfundivelmente na minha direção, na direção do jovem aprendiz desajeitado e assustado escondido atrás da pilastra. O feixe de luz azul me envolveu completamente, um abraço quente e vibrante que fez cada pelo do meu corpo se eriçar. Por um segundo fugaz, pensei que fosse um feitiço de ataque perdido, um erro catastrófico, um acidente bizarro. Mas não havia dor, apenas um zumbido estranho e crescente nos meus ouvidos, e a sensação de mil olhares, cada um mais arregalado que o outro, me perfurando.

O silêncio que antes pairava no salão agora era um grito mudo, um suspense insuportável. Levantei a cabeça, piscando contra o brilho ofuscante, e vi cada rosto no salão. Confusão. Assombro. Incredulidade. E no rosto de Lucas, algo que parecia horror puro, a face de alguém que acabara de vislumbrar a própria ruína.

Elur, com um dedo enrugado e trêmulo, apontou diretamente para mim, e declarou, sua voz quase quebrada pela emoção, mas ainda assim clara como um sino: “Contemplem! A profecia se cumpriu! Tiago, filho de Markus, é o Escolhido!”.

(Lucas)

“Não.” A palavra escapou dos meus lábios, fria como o gelo da tundra, um sopro gélido que congelou o ar.

Tiago? O Escolhido era Tiago? O mesmo Tiago que, na semana passada, em um espetáculo de incompetência mágica, transformou uma poção destinada a acelerar o crescimento de plantas em um explosivo de gosma fétida e pegajosa? O mesmo Tiago cujo feitiço de levitação mais bem-sucedido, em toda a sua carreira desastrosa, resultou em erguer a própria túnica sobre a cabeça, deixando-o completamente cego por dez minutos agonizantes?

Uma raiva fria e cortante, como lâminas de gelo, subiu pela minha garganta, sufocando minha incredulidade inicial. Isso não era uma profecia, era uma piada cruel do destino. Uma sentença de morte para todos nós, entregue nas mãos de um aprendiz desajeitado que mal conseguia amarrar os próprios sapatos sem tropeçar em seus próprios pés.

A voz de um duque corpulento, sua face vermelha de indignação, ecoou pelo salão, articulando o pensamento que certamente fervilhava em cada mente presente. “Ele? Mas… ele mal consegue acender uma vela com magia! Isso é um erro grotesco!”

Outros gritos de protesto, um coro de dúvida e condenação, surgiram como uma onda de pânico e desdém. Mas o Sábio Elur, com um gesto de autoridade inabalável, bateu seu cajado ornamentado no chão de mármore, produzindo um som grave e ressonante que, de alguma forma, silenciou a todos.

“A profecia”, declarou ele, sua voz recuperando a firmeza, “não escolhe o mais habilidoso, Duque Borin, nem o mais forte ou o mais experiente. Ela escolhe o mais puro. O coração de Malakor é forjado no ódio e na ganância. Apenas um coração livre dessas máculas, um coração de verdadeira inocência, pode ser seu oposto. Apenas o ‘Coração Inesperado’.”

(Tiago)

“O mais puro”. As palavras do Sábio, por mais que tentassem me consolar, não trouxeram alívio, apenas um peso esmagador em meus ombros já curvados. Cada protesto, cada olhar de desprezo disfarçado, era uma adaga afiada cravada diretamente em meu peito. Eles estavam certos. Eu não era um herói. Eu era um acidente, uma falha na engrenagem do destino.

Meus olhos, desesperados, buscaram os de Lucas novamente, implorando por qualquer sinal de reconhecimento, qualquer faísca de esperança. Eu esperava encontrar raiva, confusão, até mesmo uma pitada de pena. Mas o que encontrei foi infinitamente pior. Encontrei um vazio gélido, a indiferença calculista de alguém que acabara de presenciar o fim de tudo que amava. Lucas não me via como um salvador improvável, ele me via como o prego final no caixão de Eldoria. E, no mais profundo e apavorado recanto da minha alma, eu sabia que ele estava certo.

(Lucas)

Enquanto o salão mergulhava em um turbilhão caótico de sussurros, olhares de desconfiança e murmúrios de conspiração, eu me sentia estranhamente calmo. A raiva inicial havia se dissipado, dando lugar a uma certeza sombria e inabalável. O destino havia se enganado, cometendo um erro colossal. Os Sábios, em sua sabedoria ancestral e venerável, haviam interpretado tudo errado. A profecia não estava quebrada; ela estava estilhaçada em mil pedaços, e cada caco afiado iria, sem dúvida, cortar a garganta do nosso reino.

Olhei para Tiago, ainda envolto na luz azul etérea, sua figura parecendo a de um filhote de passarinho que caiu do ninho, assustado e perdido. Não havia poder ali, apenas um medo paralisante. E eu sabia, com uma certeza fria e absoluta, que o medo não detereria Malakor. Se a profecia nos abandonou, se o destino nos traiu, então teríamos que forjar nosso próprio caminho, nosso próprio destino. E o destino que eu forjaria seria moldado não em um caldeirão de inépcia, mas no fogo da minha própria vontade. Eldoria estava perdida se a sua salvação dependesse de um aprendiz desastrado. Mas talvez… talvez ainda não estivesse perdida se a sua salvação dependesse de mim.

Continua…

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Comentários

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Gostei. Para falar a real entendi o problema, as pessoas em geral não comentam muito em contos fantásticos. Mas a história é fascinante e me intrigou. Vou continuar lendo para ver para onde ela vai depois.

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Sinceramente espero que mais pessoas comentem, por que parece bem legal a gostaria.

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