O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 3

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1701 palavras
Data: 24/08/2025 18:34:48
Última revisão: 31/08/2025 17:03:24
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ Transmutação Instável ✧

(Tiago)

O caminho do Salão dos Ecos Celestiais até meus aposentos, que deveria ser um trajeto familiar e breve, estendeu-se até parecer uma eternidade. Cada passo de Lucas à minha frente era uma definição de propósito e determinação, um andar firme e decidido que ecoava a confiança em seu ser. Em contraste, os meus eram uma sucessão desajeitada de tropeços contidos, a tentativa constante de não desmoronar diante de sua presença imponente. Ele não proferiu uma única palavra, o silêncio dele gritava mais alto que qualquer acusação. Através do Vínculo, sua impaciência era uma broca incansável, perfurando a frágil camada de minha sanidade, enquanto sua raiva, mesmo reprimida, irradiava como um calor febril sob minha pele, ameaçando me consumir.

Meus aposentos, que outrora serviam como meu santuário pessoal — um refúgio de pergaminhos cuidadosamente empilhados, livros de conhecimento ancestral e o cheiro reconfortante e familiar de poeira e papel antigo — agora se pareciam com uma jaula elaborada para minhas falhas. Lucas parou no centro do quarto, seus braços fortes cruzados sobre o peito de aço polido, seus olhos azuis, frios como lascas de gelo, varreram a desordem organizada de meu espaço com um desprezo palpável.

“Arrume uma mochila”, ele disse, a voz cortante como obsidiana recém-talhada, cada sílaba proferida com uma precisão que denunciava sua intenção de não tolerar hesitação. “Leve apenas o essencial. Partiremos em vinte minutos.”

(Lucas)

Eu o observei se mover pelo quarto, sua figura desajeitada se contorcendo em meio aos seus pertences. Era como assistir a um urso colossal tentando executar um bordado intrincado, sua mera presença parecendo deslocada e inadequada. Cada movimento que ele fazia era uma demonstração de desengonço, uma ineficiência gritante em sua forma. Ele ofegava minimamente com o esforço de se curvar para pegar uma mochila de couro surrada de debaixo da cama, a poeira que subiu com o movimento me fazendo querer espirrar.

O Vínculo, essa conexão maldita e intrusiva, transmitia sua ansiedade em ondas nauseantes, um pânico de baixa frequência que se misturava ao meu próprio pulso, irritando-me profundamente como um mosquito zumbindo incessantemente perto do meu ouvido. Ele olhava para suas pilhas de livros como se estivesse escolhendo qual dos seus filhos seria abandonado em um incêndio. Patético. Nosso inimigo era Malakor, uma entidade de pura destruição, uma ameaça iminente à própria existência, e este garoto, em sua total irresponsabilidade, achava que um tomo sobre a genealogia dos reis-elfos seria a nossa salvação.

(Tiago)

“Essencial”. A palavra ressoou em minha mente, um eco vazio, pois minha capacidade de raciocínio parecia ter evaporado. O que era essencial? Minha mente estava em branco, um vazio assustador.

Eu olhei para minhas roupas de aprendiz, finas, inadequadas para qualquer tipo de jornada, especialmente uma que parecia ser de fuga ou perseguição. Peguei algumas túnicas mais resistentes, o tecido grosso e áspero em minhas mãos suadas, sentindo a aspereza como uma pequena ancoragem em meio ao caos. Meu corpo, naturalmente grande e pouco acostumado a esforços físicos extenuantes, já reclamava com uma dor incipiente, e o olhar constante de Lucas era um peso físico em minhas costas, uma pressão que me sufocava. Eu queria desesperadamente provar que não era completamente inútil, que havia algum valor em minha existência.

Lembrei-me das pequenas poções que eu mesmo havia preparado, com esmero e dedicação, seguindo receitas antigas e esquecidas. Poções de purificação de água, um unguento de cura simples, um catalisador de fogo… Sim, isso seria útil. Uma centelha de esperança surgiu em meio ao desespero. Fui até minha pequena bancada de alquimia, meus dedos trêmulos passando pelos frascos de vidro, cada um contendo um potencial para algo. Peguei três, tentando equilibrá-los precariamente em uma mão enquanto com a outra abria um dos bolsos da mochila, a tarefa parecendo monumental.

(Lucas)

Eu o vi se aproximar de uma prateleira abarrotada de frascos coloridos, a maioria mal rotulada, um caos visual que refletia a mente de seu dono. Um alarme silencioso soou em minha mente, um pressentimento sombrio. A magia de um estudioso é teórica, uma construção abstrata de conhecimento; a minha é prática, forjada em aço e sangue. É a diferença gritante entre saber como uma espada é forjada e saber como empunhá-la em um combate brutal.

Senti, através da nossa conexão maldita, um pico agudo de sua determinação nervosa, uma tentativa tola e desesperada de se mostrar competente, de provar seu valor. Ele pegou três frascos, e eu vi o desastre se desenrolar em câmera lenta, uma tragédia anunciada. Suas mãos eram muito grandes e desajeitadas para segurar os recipientes delicados e finos. Sua palma estava úmida de suor, a falta de controle evidente. Um dos frascos, contendo um líquido amarelo leitoso e alarmantemente instável, escorregou de seus dedos com uma facilidade perturbadora.

(Tiago)

O vidro pareceu escapar dos meus dedos como se estivesse coberto de uma camada oleosa, escorregadio e traiçoeiro. Meu grito de susto ficou preso na garganta, um som abafado pela própria surpresa, quando o frasco caiu no chão e se espatifou com um som úmido sobre a pilha de roupas que eu havia acabado de separar com tanto esforço. Não houve uma explosão estrondosa de fogo ou uma onda de força avassaladora, mas sim um clarão suave e amarelado, seguido por uma nuvem de fumaça que carregava um cheiro estranhamente familiar. O odor era acre, forte, como o da despensa da cozinha do castelo em um dia de sol forte, um cheiro de algo em decomposição.

Quando a fumaça se dissipou lentamente, permitindo minha visão, eu olhei para baixo, incrédulo. Minhas túnicas de viagem, minha única calça resistente e até mesmo minhas meias de lã desapareceram. Em seu lugar, havia uma massa amarelada, porosa, com um aspecto gorduroso e repulsivo. Elas haviam se transformado em… queijo.

(Lucas)

O cheiro de queijo rançoso, pungente e avassalador, encheu a sala, um fedor tão absurdamente desagradável que, por um instante efêmero, quebrou minha concentração inquebrantável. Eu olhei para a pilha de laticínios onde, momentos antes, haviam estado suas roupas de reserva, e em seguida para o rosto horrorizado e pálido de Tiago.

O Vínculo me atingiu com toda a força da onda de sua humilhação, uma maré de pura vergonha e pavor tão intensa que quase me fez dar um passo para trás, uma reação instintiva à sua desgraça. Era uma Poção de Transmutação Orgânica Instável, uma invenção de aprendiz de pouca valia, utilizada para transformar matéria vegetal em rações de longa duração. Ele era tão terrivelmente incompetente que não conseguiu nem estabilizar um feitiço básico de preservação de alimentos, e o resultado de sua tentativa patética de se mostrar útil foi transformar suas próprias roupas em um banquete para ratos famintos.

(Tiago)

“E-eu… eu não sei como…”, gaguejei, as palavras morrendo em minha boca antes mesmo de serem completamente formuladas.

O calor subiu pelo meu pescoço, espalhando-se descontroladamente até minhas orelhas, tingindo-as de um vermelho vivo. Eu me sentia um idiota monumental, uma criança que havia acabado de quebrar o vaso mais precioso da família, uma falha irreparável.

Olhei para Lucas, esperando o grito, a punição severa, qualquer tipo de reação visível. Mas o que eu vi em seu rosto era pior do que qualquer demonstração de fúria. Era um vazio glacial, um desprezo tão profundo e calmo que parecia ter apagado qualquer outra emoção de sua face. Ele não estava com raiva. Ele estava simplesmente… confirmando suas piores e mais sombrias expectativas sobre mim.

(Lucas)

Eu me aproximei lentamente, meu olhar fixo na catástrofe fedorenta, na prova viva de sua incompetência. Eu não levantei minha voz. A raiva era uma emoção quente e útil, uma ferramenta para motivar ou intimidar; o que eu sentia era um gelo puro, uma indiferença cortante.

“Você não apenas falhou em uma tarefa simples”, comecei, minha voz um sussurro baixo e perigoso que cortava o ar como uma navalha. “Você conseguiu transformar nosso único recurso — o tempo — em desperdício. Você transformou equipamento essencial em lixo fedorento. Cada segundo que passamos aqui é um segundo a mais para Malakor se fortalecer em sua escuridão.”

Parei bem na sua frente, forçando-o a desviar o olhar do chão e encontrar o meu. “Você não é um mago, Tiago. Você é uma criança brincando com fogo, e agora todos nós corremos o risco de nos queimarmos por sua causa.”

(Tiago)

Cada uma de suas palavras era um golpe direto, certeiro, atingindo-me em cheio. Através do Vínculo, eu não apenas ouvia o seu desprezo, eu o sentia em cada fibra do meu ser. Sentia a verdade implacável em sua avaliação, a certeza absoluta que ele tinha da minha total inutilidade. Era uma sensação sufocante, como ser esmagado por dentro pela opinião do homem que eu um dia admirei com fervor.

As lágrimas arderam em meus olhos, uma promessa dolorosa a ser cumprida, mas eu as engoli com força, uma luta feroz contra a humilhação. Chorar na frente dele seria como sangrar na presença de um tubarão faminto, um convite para ser devorado. Tudo o que pude fazer foi assentir, um movimento minúsculo e patético da minha cabeça, enquanto o cheiro nauseante do meu fracasso pairava ao meu redor como um sudário.

(Lucas)

Virei-me para trás com uma decisão implacável e fui até minha própria mochila, que eu havia teletransportado para perto da porta momentos antes. Abri-a com um movimento rápido e tirei uma túnica simples de linho e um par de calças rústicas, as mesmas que eu usava para treinar, resistentes e funcionais. Joguei-as com força no peito dele. O tecido áspero e familiar contrastava comicamente com a suavidade de suas mãos de estudioso, agora manchadas pela sua própria experiência fracassada.

“Vista isso”, ordenei, minha voz desprovida de qualquer emoção. “Não temos mais tempo para suas experiências desastrosas. De agora em diante, você não toca em nada, não fala com ninguém e não tenta ‘ajudar’. Você vai apenas andar, comer o que eu lhe der e seguir minhas ordens sem questionar. Entendeu?”

Ele assentiu novamente, um movimento quase imperceptível, e pela nossa conexão, senti o nó de desespero se formar em sua garganta. Ótimo. Talvez o medo o mantivesse na linha, sob controle. Era a única ferramenta que eu tinha para trabalhar com ele, e eu a usaria até o seu limite.

Continua…

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