O casarão mudou de som quando o ônibus partiu levando os jovens e junto com eles minha esposa e uma das irmãs da igreja. Saída decidida na última hora, uma carona mais prática até a cidade, malas jogadas no bagageiro, beijo apressado, “a gente se fala”, e pronto, as duas já tinham ido, levando com elas o barulho fácil de conversa e riso que enchia a casa; ficou o eco do portão fechando, o pó levantando na estrada de terra e aquele silêncio que não é ausência de ruído, é presença de vazio, presença de consciência demais, de lembrança demais, como se o lugar inteiro respirasse mais alto só pra me lembrar do que ficou, porque ficamos nós três, meu filho, ele e eu, e a promessa de que mais tarde iríamos embora no mesmo carro em que ele e eu chegamos, a caminhonete velha da igreja que ainda cheirava a lona, gasolina e suor de fim de semana.
Passei pelo salão recolhendo copos, arrumando bancos, conferindo as tomadas, tarefa de quem quer ocupar a mão pra ver se a cabeça desacelera, mas a cabeça não desacelerava, porque toda superfície parecia devolver um fragmento do que tinha acontecido no trailer, não uma imagem limpa, mas pedaços sensoriais: o cheiro espesso de pele e porra misturado à madeira quente, a lembrança da barba raspando na nuca, aquela pressão funda que o corpo reconhece mesmo contra a vontade; e era ridículo admitir até pra mim, mas a cada vez que me sentava e erguia de novo, um incômodo discreto me lembrava que eu tinha sido aberto, que por dentro havia memória de calor, como se o corpo guardasse território mesmo quando a mente tentava negar posse.
O tempo começou a virar devagar, primeiro o vento mudando de direção, trazendo o cheiro doce e metálico da chuva antes dela chegar, depois os galhos do eucalipto rangeram de um jeito mais grave, folhas rodando no pátio como se alguém tivesse varrido ao contrário, janelas batendo nas dobradiças, e eu pensei em me recolher ao trailer só pra afastar a sensação de corredor comprido e teto alto do casarão vazio, aquele eco que multiplica pensamento.
Empurrei a porta de metal, senti o bafo quente conhecido, aquele pouco de lona aquecida com pó e madeira, sentei-me na beira da cama estreita e fiquei alguns segundos só respirando, tentando colocar nome pro que queimava por baixo do peito, um misto de medo, vergonha, excitação tardia e o resto do gozo dele transformado em fantasma, e eu sabia que se ficasse ali tempo demais, o corpo ia puxar lembrança em segundos, então levantei antes que me sentasse de vez. Fechei tudo, conferi as janelas, guardei as coisas, trabalhei. Segui esta ordem prática por mim mesmo, porque a disciplina ainda é o único verniz que conheço.
Chamei pelo meu filho da porta do casarão, essa voz que a gente projeta sem parecer chamado: nada; chamei pelo nome dele — o rapaz — e o vento devolveu meu próprio som, como se tivesse sido eu quem respondesse; passei pela cozinha já varrida, atravessei o terreiro, subi no mezanino do salão e desci de novo, fui até o galpão das ferramentas, empurrei a porta... vazio; e a cada lugar percorrido a mesma constatação, os dois não estavam em nenhum lugar onde “deveriam” estar e me peguei formulando hipóteses corretas e inofensivas, ao mesmo tempo em que outra imagem, suja e insistente, escorria por baixo da justificativa: os dois juntos, próximos demais, rindo como riram nos últimos dias, a mão dele no ombro do meu filho com a naturalidade que me irrita, o jeito dos dois de se entenderem sem esforço, e a pergunta cortante que eu não queria admitir inteira — “seria possível?”, e o corpo respondeu antes da mente, uma fisgada funda no estômago, aquele frio que é medo e o calor embaixo que é vontade de prova.
O vento engrossou, trouxe poeira junto com ar frio, as bandeirolas que sobraram do retiro bateram tortas na corda, a porta lateral do galpão estalou contra o batente, e eu fechei todas as janelas que encontrei abertas, catei duas lonas que iriam voar, arrastei pro abrigo, tudo pra ter função, mas a função acabou rápido e o silêncio insistiu; voltei à varanda, varri com o olho o gramado até o início do mato, nada; gritei o nome do meu filho, mais alto, o vento engoliu, e nesse engolir eu entendi que, se eles estavam juntos, não estavam em lugar visível; olhei pro fundo do terreno, pra linha de capim que caía na encosta, pro ponto cego da propriedade onde o casarão já não vigiava, e vi na cabeça o mapa inteiro que sei de cor, o lado oposto do trailer, depois da dobra da colina, onde fica o celeiro antigo, aquele barracão de madeira úmida e cheiro de feno que ninguém usa quando a casa está cheia e senti o estômago afundar do jeito que afunda quando a gente sabe que vai encontrar o que teme, mas prefere a faca da certeza ao mofo da dúvida.
“Confere se está tudo fechado por causa da chuva”, falei de novo pra fingir protocolo, desci os três degraus da varanda, senti a camisa colar nas costas pelo vento úmido, ajeitei a cinta por reflexo, como quem prepara o corpo pra uma conversa que não quer ter, e fui; não corri porque não adiantava correr. A ventania barulhenta esconderia meus passos de qualquer jeito. Caminhei com o ritmo de quem mede a própria pulsação, cada passo um argumento, cada argumento um contra-argumento, e por baixo de tudo um compasso mais baixo e indecente, aquele pulso interno que diz “vai”, não porque seja certo, mas porque não dá pra continuar respirando nesse limbo.
Atrás do casarão a luz já era outra, o céu escurecido de chuva transformava a tarde em quase fim de dia, as árvores batiam copa contra copa, e dali, por um instante, vi: uma tábua encostada torta na lateral, uma garrafa de água caída de boca, o portãozinho de madeira do curral antigo entreaberto batendo de leve, esses sinais que não gritam, mas apontam; segui por eles como quem segue migalhas e, cada vez que o vento empurrava minhas costas, eu tinha a impressão de que era ele me conduzindo e a lembrança do colarinho apertado no trailer bateu tão nítida que precisei fechar a mão pra não levar a outra ao pescoço.
Quando a boca do celeiro surgiu, porta grande meio aberta, madeira rangendo por dentro, poeira erguida em feixes na luz cinza, eu parei um segundo, não para voltar, mas para aceitar que, dali em diante, qualquer narrativa que eu tivesse inventado pra me salvar não serviria; puxei ar, senti o gosto úmido de chuva chegando e, com esse gosto na língua, atravessei a sombra.
O vento empurrou a porta do celeiro antes que eu encostasse a mão, fazendo a madeira gemer como cama velha. Entrei um passo e o mundo lá fora ficou para trás. Ali dentro o ar era mais pesado, cheirava a feno úmido, madeira saturada e… outra coisa, mais ácida e quente, que a garganta reconheceu antes do pensamento nomear. Luz quase nenhuma, só algumas fendas entre as tábuas deixando entrar feixes cinza que cortavam a penumbra.
A primeira coisa que vi foi uma bota caída, virada de lado, com a meia enrolada dentro. Depois, uma corda solta pelo chão, como se tivesse sido derrubada às pressas. Caminhei mais, os passos afundando no feno e cada fibra esmagada parecia fazer barulho demais, mas a ventania lá fora engolia qualquer som.
Foi no terceiro passo que ouvi. Baixo, abafado. Um estalo úmido seguido de respiração acelerada. Parei. O coração batia tão alto que tive medo de que eles ouvissem antes que eu visse. Inclinei o corpo para a esquerda, tentando contornar um monte de sacos empilhados e foi por entre dois feixes de luz que vi. Primeiro um pedaço de pele, liso e negro, se contraindo; depois, o ombro largo, o trapézio que eu já conhecia por dentro do meu toque.
O som ficou claro: um roçar de pele contra pele, lento, ritmado, e o feno rangendo sob peso. Avancei mais dois passos, o ar queimando no pulmão e a cena se abriu.
Meu filho, de quatro no feno, calça e cueca empurradas até o joelho, corpo curvado para frente. Atrás dele, o mesmo homem que dois dias antes tinha me virado de costas no trailer. As mãos grandes dele seguravam firme na cintura do meu filho e o quadril avançava devagar, como quem sabe exatamente onde está, como quem saboreia cada centímetro.
A camisa dele estava aberta, colada de suor, o peito brilhando na luz rarefeita. Ele não olhava para baixo, olhava para a nuca do meu filho, como se marcasse território com os olhos.
E eu fiquei ali, parado, com a respiração presa, incapaz de decidir se o que me corroía mais era o choque, a raiva ou a onda quente que começou a subir pela minha espinha ao ver a cena continuar, ritmada, inevitável.
Ele se mexia como se o corpo tivesse nascido para aquilo, sem pudor, sem hesitar, respondendo a cada investida com um arquejo mais alto, um gemido que não pedia silêncio, pelo contrário, parecia querer que o mundo ouvisse. O mesmo garoto que, em casa, respondia baixo, cabisbaixo, agora arfava e soltava sons longos, molhados, como quem se alimenta do que está recebendo.
— Aí… assim… — a voz dele saía falhada, mas não de dor; era fome, aquela fome que eu conhecia na carne, mas nunca imaginei ouvir da boca dele. Cada palavra vinha embebida de prazer, misturada à respiração acelerada, como se ele precisasse falar para não explodir.
O homem atrás dele não apressava o ritmo. Entrava e saía com a calma cruel de quem gosta de ver a presa se oferecer. A cada empurrada, meu filho jogava o quadril para trás, querendo mais e soltava um som que não era grito nem gemido, mas algo entre os dois, carregado de uma devoção que me revirava o estômago e deixava meu sangue ferver.
As mãos dele agarravam o feno, os dedos se enterrando, os ombros tremendo e seu pescoço era quase um estandarte erguido, nu e oferecido, a pele esticada até o limite, os tendões saltando sob a luz filtrada pelas frestas, denunciando a força com que ele mantinha a cabeça para trás. Não era um gesto acidental, era convite, era bandeira branca hasteada para o macho que o montava, uma maneira muda de dizer vai fundo, de abrir caminho não só pelo corpo, mas pela alma. O queixo elevado deixava a garganta exposta, pulsando rápido, cada batida ecoando no ponto exato em que o outro poderia morder, lamber, marcar.
Aquela postura abria mais que o pescoço. O arqueamento projetava as costas, aprofundava a curva da lombar e, por consequência, deixava o cu ainda mais relaxado, receptivo, preparado para engolir cada centímetro de carne que vinha de trás. Era o tipo de entrega que não se ensina; ou nasce com o corpo, ou nunca se aprende. E ali, na minha frente, meu filho executava esse gesto com a maestria de quem já sabia há muito tempo como oferecer o rabo para ser socado com vontade.
Ver aquilo, mais do que qualquer gemido ou palavra, era a prova de que ele não estava apenas participando, estava se entregando por completo, sem recuo, sem sombra de resistência.
O que me incendiava por dentro não era o fato de ser meu filho ali, não era sangue, não era moral. Era a certeza amarga de que eu queria aquele lugar para mim. Queria ser eu com o corpo arqueado, com a lombar exposta, com o pescoço erguido em entrega total, sentindo cada investida encher e roubar meu fôlego. Queria aquelas mãos cravadas na minha cintura, puxando, ditando o ritmo como se eu não tivesse vontade própria. E isso não era suposição. Já tinha sentido e ver de fora agora só aumentava a fome.
O pau endureceu tão rápido que mal percebi quando comecei a respirar pela boca, o tecido da calça apertando como se tentasse me lembrar onde eu estava. Cada estocada que ele dava atravessava o ar e batia direto no meu corpo, como se eu fosse o alvo. O som do feno comprimido, os gemidos dele, o roçar das peles. Tudo me atingia ao mesmo tempo, quente, pesado, impossível de ignorar.
Fiquei imóvel, preso na sombra, as mãos coladas ao corpo como se me segurassem para eu não avançar. O vento lá fora uivava alto, mas não alto o suficiente para abafar o som molhado, ritmado, que vinha de dentro. Meus olhos estavam cravados naquela cena e, no fundo, sabia: se ele me chamasse, se me estendesse a mão, não haveria força no mundo capaz de me impedir de atravessar aquele espaço e me oferecer do mesmo jeito.
Não sei dizer o momento exato em que ele percebeu minha presença. Pode ter sido o som da minha respiração presa ou simplesmente o instinto de macho que sabe quando está sendo observado. Mas vi quando a cadência das estocadas mudou, quando ele desacelerou sem perder a firmeza, quando levantou o rosto e cravou os olhos na sombra onde eu estava.
E aí foi rápido demais: um segundo ele estava metendo com força no corpo arqueado à frente, no outro simplesmente puxou a vara para fora como se não fosse nada, arrancando um gemido alto seguido de um “puta que pariu!” que ecoou no celeiro, carregado de frustração e tesão.
Eu vi. Vi a rola dele sair reluzindo na luz filtrada pelas frestas, preta, grossa, babada, brilhando de lubrificação, como se fosse feita para entrar e não sair nunca. Era a mesma vara que dias antes tinha me deixado marcado por dentro e agora estava ali, viva, latejando, ainda quente do outro corpo.
Ele me olhou com aquele sorriso de quem sabe o que vai fazer e não tem pressa. Chegou perto, me mediu de cima a baixo e, antes que eu tivesse tempo de pensar em recuar, agarrou a minha camisa pelo colarinho e rasgou num puxão seco, o som do tecido se desfazendo se misturando ao barulho do vento. No instante em que senti o ar frio bater no meu peito, ouvi um som abafado atrás dele, como se alguém tivesse prendido a respiração. Foi ali que meu filho percebeu que eles não estavam sozinhos.
O som da minha roupa sendo rasgada tinha denunciado minha entrega e agora ele sabia que eu estava assistindo. O coração bateu mais rápido, o pau endureceu ainda mais e a vergonha veio misturada ao tesão, me prendendo no lugar.
A calça veio em seguida. Não teve botão, não teve zíper, só a força das mãos abrindo caminho até minha pele, me deixando exposto, vulnerável, de joelhos no feno com as fibras ásperas arranhando minha coxa. Senti o olhar dele me despindo ainda mais do que as mãos, senti a humilhação que vinha não de vergonha, mas de saber que estava exatamente onde ele queria que eu estivesse. E foi assim, rasgado, exposto e rendido, que ele me colocou na mesma posição que invejara minutos antes: de quatro, lombar arqueada, pronto para sentir a rola preta entrando em mim como se o resto do mundo não existisse.
Me empurrou para frente, o feno rangendo sob meus joelhos, a poeira subindo e colando no suor que já escorria pelas minhas costas. Senti o toque quente das mãos dele descendo pelas laterais do meu tronco até encontrar a curva do quadril, onde fechou a pegada como quem segura algo que não pretende soltar. Lá atrás, o ar parecia mais pesado, não só pelo cheiro espesso de corpo e feno úmido, mas pela consciência de que tinha alguém assistindo. Não precisava me virar para saber. Sentia o olhar atravessando minha pele, queimando mais do que o calor do ambiente.
Encostou a glande na minha entrada e ficou ali, parado, como se me deixasse sentir o tamanho do que vinha. A pele da minha nuca arrepiou quando ele abaixou o corpo até encostar o peito quente nas minhas costas, a barba roçando na minha orelha, e sussurrou, só para mim:
— Abre pra mim.
Não era um pedido. Era sentença. E meu corpo, traidor, obedeceu.
A pressão veio lenta, mas firme. O calor da rola dele foi me afastando por dentro, abrindo cada milímetro até que a cabeça entrou e o resto começou a seguir, pesado, maciço, sem espaço para fuga. O gemido que saiu de mim não era de dor nem de prazer puro, mas daquela mistura bruta que só vem quando o corpo sabe que está sendo tomado. O som do vento lá fora misturava-se ao som dele avançando em mim, e lá atrás, ainda imóvel, sabia que meu filho não perdia um detalhe.
Ele não perdeu tempo: assim que cravou até o fundo, ficou alguns segundos parado, como se quisesse que eu sentisse cada centímetro da rola pesada pulsando lá dentro, espalhando um calor que queimava por dentro e deixava o ar rarefeito. A mão dele estava firme na minha cintura, mas a outra subiu pelas minhas costas, lenta, até segurar minha nuca e me forçar a levantar a cabeça para o teto.
— Assim… — ele murmurou, a voz grave, carregada de autoridade. — Do jeito certo.
Ele começou a se mover devagar, a cada estocada aprofundando a sensação de ser invadido e marcado, mas não deixou que o meu corpo se acomodasse. A mão enorme que prendia minha cintura subiu pelas minhas costas, até se fechar em volta do meu pescoço com uma firmeza que não era violenta, mas incontornável e, quando os dedos se cravaram ali, senti a respiração travar, o ar rarear e a consciência de que eu estava entregue por completo.
O aperto aumentou e a cada investida o mundo estreitava. O som do vento sumia, a visão borrava e só restava a certeza de que ele me possuía de dentro para fora. Não era carinho, era poder. Não era para me dar prazer, era para me ensinar a posição que eu tinha diante dele.
O urro escapou da minha garganta como um gemido rasgado, metade sufoco, metade êxtase. O corpo inteiro se arqueou, implorando por mais sem que eu tivesse dito uma palavra. Mas a boca traiu o que eu ainda lutava para esconder:
— Mais… — saiu entrecortado, desesperado. — Me fode mais.
Ele riu baixo, aquele som grave e seguro de macho que sabe que venceu, e apertou ainda mais o pescoço enquanto afundava de novo, mais forte, mais fundo, arrancando de mim um gemido que beirava o choro. E foi nesse ponto que eu deixei de lembrar que havia alguém nos assistindo. Ali, naquele instante, só existia a mão dele me sufocando e a rola dele me abrindo e eu urrava de prazer como se fosse um animal domado.
A mão que apertava meu pescoço subiu devagar, abrindo caminho pelo meu queixo, até alcançar minha boca. Os dedos grossos forçaram passagem entre meus lábios, empurrando até que dois deles entrassem fundo, me calando, me reduzindo a um boneco na palma dele. O gosto da pele dele — salgado, amargo, suado — se misturou à saliva que escorria e a humilhação me incendiava por dentro mais do que a dor da rola me abrindo.
Com a outra mão ainda firme no meu quadril, ele me ergueu o rosto para frente, expondo minha cara babada, meu olhar turvo, para o celeiro que nos assistia. Eu não precisava de palavras: o gesto dele já dizia tudo. “Olha o que é meu, olha como eu faço com ele”.
— Vem aqui na frente, quero que veja de perto — ele ordenou, a voz baixa, ríspida, sem nunca parar de me comer.
Sabia que era uma cena grotesca. Minha boca aberta em volta dos dedos dele, meu queixo escorrendo saliva, minha cara puxada como se fosse exibida para outro, mas, ao invés de vergonha, o que explodiu em mim foi um prazer bruto, animalesco, que fez minhas pernas tremerem. Senti-me acarinhado na brutalidade, amado na humilhação, porque cada gesto dele dizia que eu pertencia.
O gemido que escapou foi abafado pelos dedos enfiados na minha boca, mas ele entendeu. Apertou ainda mais, socando com cadência firme e eu cedia, cada vez mais fundo, sentindo o mundo sumir até restar só ele me usando daquele jeito.
Meus joelhos afundavam no feno e quando senti que ia tombar com a força dele me socando por trás, apoiei as duas mãos firmes nos joelhos, buscando equilíbrio para suportar o peso dos corpos, a pressão da rola, o domínio absoluto que me atravessava. Ergui os olhos e lá estava ele: meu filho parado à minha frente, testemunhando sem desviar o olhar. Não tinha mais como esconder, não tinha mais como fingir.
O que brilhou nos meus olhos não foi vergonha, foi orgulho. Não do pai, não de pastor, não do homem respeitável que eu tinha que aparentar ser, mas do macho rendido que finalmente se reconhecia. Orgulho de estar ali, com a rola dele me abrindo, sendo exposto e usado, e ainda assim inteiro pela primeira vez.
Foi então que senti as lágrimas arderem e escorrerem sem pedir licença, molhando os dedos grossos que ainda me calavam, os mesmos que me exibiam como propriedade. Não eram lágrimas de dor, eram de entrega. Porque ali, sufocado, fodido, com o rosto escorrendo e o corpo vencido, eu entendi: eu tinha um deus.
E esse deus era o macho atrás de mim, que me invadia com força e calma ao mesmo tempo, que me fazia urrar, que me reduzia à carne exposta, que me mostrava que ser sujeito à vontade dele era a plenitude que eu nunca tinha ousado confessar.
Cada estocada vinha cada vez mais forte, mais pesada, o ar estourando nos meus pulmões enquanto os dedos grossos ainda mantinham minha boca aberta, babada, exposta. A cada estocada, a lombar arqueava mais, o cu latejava e o pau duro entre minhas pernas esfregava na palha áspera, pulsando como se fosse explodir.
Foi ali, nesse atrito brutal entre dor, prazer e rendição, que percebi que estava vindo. O orgasmo começou como um formigamento que subiu da base da espinha até o peito, um calor que se espalhou pelas coxas, pelo ventre e me deixou sem ar. O feno arranhava minha palma, meus dedos cravados como garras para não perder o chão, mas o corpo já tremia sozinho, sem comando.
O gozo veio sem que eu me tocasse, arrancado à força pelo movimento da rola dentro de mim. O pau latejou uma, duas vezes, e então jorrou, esguichando por baixo de mim, molhando o feno com o cheiro forte, espesso, sujo da porra quente que escapava em jatos longos, intercalados por gemidos roucos, chorados. Eu gemia alto, urrava como bicho, a voz abafada pelos dedos dele na minha boca, as lágrimas descendo e se misturando à saliva, tudo escorrendo junto.
Cada contração do meu corpo era sugada pelo pau enterrado em mim, cada tremor do orgasmo parecia puxar ele ainda mais fundo, até que eu perdi completamente a noção de tempo. Era só gozar, gozar e me sentir cheio, arrombado, amado na brutalidade.
E quando os últimos espasmos vieram, a sensação não foi de alívio, mas de desespero: eu queria mais, queria nunca parar de ser fodido daquele jeito. O vazio me apavorava, o preenchimento me completava. E foi gemendo, arfando, com a cara babada e os olhos ardendo, que entendi que o gozo não tinha sido só do corpo, mas da alma inteira que eu tinha entregado ali.
Eu ainda tremia, o corpo arqueado no feno, quando senti o ritmo dele mudar atrás de mim. A rola latejava mais fundo, cada estocada mais curta e mais cravada, como se quisesse fincar o território até a raiz. O peito dele grudava nas minhas costas, quente, a respiração áspera, os dentes roçando no meu ombro. E então, num rosnado grave, ele empurrou até o fim e estourou.
O primeiro jato veio como fogo líquido, um choque quente se espalhando fundo demais. Depois outro, e mais outro, cada descarga empurrada com o peso do quadril, me enchendo até eu sentir que não havia espaço para nada além dele. A porra escorria por dentro, grossa, densa, me forçando a abrir mais, a tremer mais, a gemer mais. Eu sabia que estava sendo marcado de novo, não só pelo corpo, mas pelo cheiro, pelo calor, pela sujeira que não sai nunca.
À minha frente, meu filho não desviava o olhar. As pernas ainda erguidas, abertas, o pau duro na mão, latejando. E foi enquanto eu sentia o cu ser inundado que ele também se arqueou, gemendo alto, um som sem vergonha, descarado, como quem se orgulha de ser visto. O jorro branco espirrou no próprio peito, no pescoço, no feno, cada respingo iluminado pela luz cinza que entrava pelas frestas. Ele gozava se exibindo, arreganhado, mostrando o quanto já era propriedade do mesmo macho que me arrombava.
Eu estava preso entre os dois: o calor negro me preenchendo por trás e a devassidão branca se espalhando diante de mim. Gozo escorrendo dentro, gozo pingando fora. O ar carregado de sexo, de suor, de porra, de pecado. E em mim, a única certeza de que eu tinha atravessado a fronteira da qual não se volta.
Quando ele saiu de dentro, devagar, o vazio foi imediato, cruel. A porra começou a escorrer em fio grosso, quente, descendo pelas minhas pernas até o feno. Meu corpo gemeu sozinho, um som baixo, chorado, como se implorasse por mais. Mas não havia mais. Só o silêncio.
O vento continuava zunindo do lado de fora, mas ali dentro só se ouvia a respiração de três corpos que sabiam que o que tinha acontecido não seria esquecido, não seria apagado, não seria negado.
E eu, de joelhos no feno, melado, fodido, babado, entendia finalmente que não era pastor, pai ou homem respeitável. Era só carne. Carne marcada. Carne de propriedade.