O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 7

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1766 palavras
Data: 26/08/2025 12:39:14
Última revisão: 31/08/2025 17:23:28
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ O Milagre das Trutas ✧

(Lucas)

As palavras de Zephyr ecoavam em minha mente, mas a frustração era uma maré que não podia conter. Enfiando o mapa inútil na mochila, ignorei o olhar ferido que ele me lançou. Não havia tempo para platitudes ou lições de moral sobre união e abraços. Malakor não se deteria para esperar que aprendêssemos a dar as mãos e cantar em harmonia.

Empurrei a porta da cabana e saí sem me despedir, mergulhando de volta na trilha com uma fúria que aquecia meu interior, uma brasa que se alastrava em minhas veias. Tiago me seguia como uma sombra culpada, seu silêncio quase mais irritante que suas habituais gagueiras. O Vínculo transmitia ondas de sua miséria, e eu as rebatia com meu próprio desprezo congelado.

Caminhamos por mais de uma hora, o terreno gradualmente se tornando mais rochoso e acidentado. A floresta parecia prender a respiração ao nosso redor, um silêncio pressagioso que me causava arrepios na nuca. Foi então que um instinto primitivo, afiado por anos de patrulha na fronteira selvagem, se acendeu em mim. Parei abruptamente, a mão pairando instintivamente sobre o cabo da minha espada. O único som que quebrava a quietude era o farfalhar das folhas secas sob nossos pés. Era um silêncio diferente, inquietante. Silencioso demais.

(Tiago)

Cada passo dado atrás de Lucas era uma tortura silenciosa. A rejeição fria dele, amplificada pelo papel em branco que representava nossas esperanças desfeitas, era um peso físico em meus ombros. Sentia-me inútil, um fardo, a personificação da decepção que Lucas parecia ver estampado em meu rosto. Quando ele parou de repente, quase fui de encontro às suas costas largas, o coração martelando em meu peito. Uma tensão diferente da nossa preencheu o ar, algo selvagem e faminto, um prenúncio de perigo iminente. Pude sentir a mudança em Lucas através do Vínculo; sua raiva se solidificou em uma concentração letal, como água se endurecendo em gelo vivo.

Meus olhos percorreram as sombras densas entre as árvores retorcidas e as rochas escarpadas, e foi então que eu os vi. Um par de olhos amarelos e maliciosos, brilhando na penumbra. Depois outro, e mais outro. Eram como vaga-lumes doentios piscando na escuridão, e meu sangue gelou instantaneamente nas veias. O silêncio foi brutalmente quebrado por um rosnado gutural que ecoou por toda a ravina, um som que prometia dor e morte.

(Lucas)

Eles saíram das sombras como uma praga, dezenas deles, uma onda crescente de horrores rastejantes. Goblins. Criaturas pequenas, de pele verde-acinzentada e repulsiva, armados com facas rudimentares feitas de osso e porretes toscos adornados com cravos enferrujados. Sozinhos, eram covardes patéticos, mas em bando, a fome obscura que os impulsionava os tornava mortais.

“Fique atrás de mim”, ordenei a Tiago, minha voz um rosnado baixo e gutural, enquanto desembainhava minha espada com um movimento fluido e familiar.

A lâmina de aço polido pareceu cantar ao rasgar o ar denso da floresta. O primeiro goblin saltou em minha direção, um grito agudo e desumano escapando de sua garganta, e eu o encontrei com um arco letal da minha lâmina que o partiu em dois com um som úmido e repugnante. Era um balé mortal e cruel, uma dança que eu conhecia intimamente. Aparar, estocar, girar, desviar. O metal encontrava a carne podre com um brilho sinistro, e o sangue escuro manchava as folhas caídas no chão, criando um tapete macabro sob meus pés. Eles eram muitos, no entanto. Para cada um que eu derrubava, parecia que dois mais surgiam das sombras, me cercando, tentando flanquear e alcançar o alvo mais fácil: o garoto assustado atrás de mim.

(Tiago)

Eu estava totalmente paralisado pelo terror, um pilar de medo no meio do caos. Lucas se movia como uma força da natureza descontrolada, uma tempestade de aço, fúria e habilidade letal. Ele era incrível, letal, um guerreiro inigualável, e estava completamente cercado.

Puxei a pequena adaga que o Guardião havia me dado, minha mão tremendo tanto que mal conseguia segurá-la nos dedos frios. Era um palito de dente contra uma matilha de lobos famintos. Um goblin, menor que os outros, mas com uma expressão particularmente cruel em seu rosto grotesco, se esgueirou pela lateral e correu na minha direção, suas facas de osso erguidas ameaçadoramente. Levantei a adaga instintivamente, fechando os olhos com força, esperando o impacto brutal. Mas o golpe nunca veio. Em vez disso, ouvi um silvo agudo e um baque surdo e pesado.

Abri os olhos e vi Lucas com o braço estendido, sua expressão impassível enquanto uma faca de arremesso estava cravada profundamente no crânio do goblin que agora jazia inerte aos meus pés. Lucas não olhou para mim; ele já estava engajado com outros dois goblins, sua espada cortando o ar com precisão mortal. Mas a mensagem foi clara, mesmo sem palavras: eu era uma distração que ele não podia se permitir.

(Lucas)

Um corte lacerante abriu meu antebraço esquerdo, a dor aguda e ardente percorrendo meu membro. Simultaneamente, um porrete improvisado atingiu minhas costas com um baque surdo, o impacto amortecido pela fina camada de minha armadura arcana, mas ainda assim me desequilibrou por um segundo crucial. Eles estavam me desgastando, uma estratégia brutal de sobrecarga através de números brutos. A fadiga começava a pesar em meus ombros como um manto de chumbo. Eu podia ver a movimentação deles, a coordenação caótica, a fome desesperada em seus olhos. Um goblin maior, provavelmente o líder inescrupuloso do bando, brandia um machado de pedra enferrujado com uma força ameaçadora, esperando por uma abertura, um momento de fraqueza.

Eu sabia, com uma certeza gelada, que não conseguiria manter aquele ritmo frenético por muito mais tempo. Uma onda de desespero misturada com uma raiva crua percorreu meu corpo. Seria aqui que eu morreria? Ao lado de um garoto inútil, por causa de um mapa idiota que exigia “harmonia”? A ironia era tão amarga quanto fel, uma tragédia tão absurda que quase me fez rir.

(Tiago)

Eu vi o momento exato em que a maré da batalha começou a virar contra nós. Lucas estava visivelmente mais lento, sua respiração mais pesada e ofegante. O líder goblin, com um sorriso sádico em seu rosto deformado, se preparava para um golpe fatal. O pânico, puro e absoluto, subiu pela minha garganta como bile. Eu tinha que fazer alguma coisa. Qualquer coisa! Fechei os olhos com força, não pensando em um feitiço específico, mas no desejo avassalador de ajudar, de criar uma distração, de absolutamente parar aquela carnificina. Eu imaginei água, uma torrente poderosa para empurrá-los, para tornar o chão escorregadio e dar a Lucas a chance que ele precisava desesperadamente. Senti a magia se acumulando dentro de mim, uma energia fria e caótica que parecia querer se libertar, e então, com um estrondo ensurdecedor, ela explodiu para o céu. Uma sombra repentina e assustadora cobriu a clareira, e o ar ficou pesado, carregado com um cheiro inexplicável de ozônio e maresia.

Então, começou. Não era chuva. A primeira coisa que caiu do céu, me atingindo com um impacto gelado no ombro, era fria, escamosa e se contorceu violentamente antes de cair no chão com um baque molhado e desagradável. Um peixe. Uma truta esverdeada, para ser mais exato. E então vieram mais. Dezenas, centenas, talvez milhares de peixes de todos os tipos e tamanhos começaram a despencar do céu como uma chuva bíblica, criando um pandemônio de ruídos úmidos, nojentos e chocantes. Eles caíam sobre os goblins, que guinchavam de surpresa e nojo, suas armas parando no ar. Caíam sobre a terra, transformando o chão em uma massa escorregadia e grotesca de escamas, vísceras e lodo. Minha torrente de água havia se manifestado da forma mais literal, absurda e ridícula possível.

(Lucas)

Eu estava prestes a aparar o golpe do machado do líder goblin quando um peixe-gato gordo e bigodudo me atingiu com força na parte de trás da cabeça. Cambaleei para frente, mais por pura incredulidade do que pelo impacto em si. Olhei para cima e vi um dilúvio surreal de vida marinha caindo do céu como uma maldição divina. O chão, já manchado de sangue e terra, agora estava coberto por uma camada espessa de peixes que se debatiam freneticamente. O líder goblin foi atingido por um salmão particularmente grande e pesado, caindo de bunda com um baque surdo, o machado de pedra voando desajeitadamente de sua mão. Um de seus comparsas escorregou em uma enguia escorregadia e deslizou de cara na lama, soltando um grito abafado.

A fúria primal da batalha foi substituída por um caos tão inexplicável e absurdo que, por um instante, ninguém soube o que fazer. O ar cheirava a rio, a peixe morto e a uma estranha resignação. E então eu entendi. Não era uma vitória limpa, mas era uma oportunidade de ouro.

(Tiago)

Em meio ao pandemônio de nadadeiras, escamas e guinchos desesperados, senti uma mão de ferro agarrar meu braço com uma força surpreendente.

“Agora!”, Lucas gritou, a voz rouca e tensa por cima da cacofonia aquática e grotesca.

Ele deu um puxão que quase deslocou meu ombro, e nós corremos. Nossos pés escorregavam perigosamente na bagunça de peixes, e eu caí de joelhos uma vez, minhas mãos afundando na imundície fria e viscosa. Lucas me ergueu sem diminuir o passo, sua determinação inabalável. Corremos desesperadamente, deixando para trás um campo de batalha bizarro e surreal, onde goblins atordoados e confusos tentavam lutar contra um ataque vindo dos céus enquanto escorregavam desajeitadamente em seus próprios alvos. O som de seus gritos frustrados e confusos foi se tornando cada vez mais distante, abafado pela densidade da floresta que nos engolia novamente, nos protegendo de volta em sua escuridão.

(Lucas)

Só paramos quando meus pulmões queimavam como brasa e o som distante dos goblins havia desaparecido completamente. Apoiei-me em uma árvore grossa, tentando desesperadamente recuperar o fôlego, meu corpo dolorido e completamente coberto por uma mistura desagradável de sangue, suor e vísceras de peixe. Tiago estava esparramado no chão a alguns metros de distância, parecendo um náufrago em terra firme. Olhei para ele, para o mago patético cuja primeira grande demonstração de poder conhecido foi conjurar uma pescaria do apocalipse. A raiva que eu sentia antes havia se dissipado, substituída por uma exaustão tão profunda que beirava o cômico. Um filete de sangue escorria do meu antebraço ferido, misturando-se com o lodo de uma sardinha que ainda estava presa no meu ombro.

“Chuva de peixes”, falei, a voz desprovida de qualquer emoção, um tom monocromático que falava de um cansaço extremo. “Dos infinitos milagres que o Escolhido poderia manifestar, foi uma chuva de peixes. Esplêndido. Absolutamente esplêndido.”

Continua…

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Comentários

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Saga incrível, o poder dele me lembra muito um mago do caos D&D

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Obrigado pelo comentário! Fico feliz que gostou ☺️

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