Na segunda -feira, acordei com o barulho da chaleira apitando na cozinha. O cheiro de café recém-passado invadiu o apartamento, e eu sabia que minha mãe já estava de pé.
— Bom dia — falei, ainda sonolento, encostando na porta.
Quando saí do quarto, ela estava na cozinha, de costas para mim, servindo café. A luz suave da manhã entrava pela janela e desenhava a bundadela na calça jeans justa e na blusa simples, mas que, de algum jeito, parecia feita para chamar atenção sem ser vulgar.
— Bom dia — falei, tentando soar normal, mesmo sentindo aquele nó no estômago.
Ela se virou e sorriu com calma.
— Bom dia. Dormiu bem?
— Dormi… mais ou menos — respondi, pegando uma xícara. — E você, nervosa pro primeiro dia?
Minha mãe deu de ombros, como quem esconde a ansiedade por trás de uma postura confiante.
— Sempre dá aquele friozinho na barriga, né? Mas acho que vai ser tranquilo.
Saímos juntos pouco depois, mais cedo do que o costume, o ônibus estava surpreendentemente vazio para aquela hora. Eu e minha mãe entramos juntos, e logo de cara notei Caio sentado lá no fundo. Ele olhou na nossa direção por um instante, expressão neutra, quase indecifrável. Mas não disse nada, nem levantou a mão para cumprimentar.
O ônibus seguia quase vazio, o balanço leve e o sol entrando pelas janelas. Eu estava ao lado de minha mãe, que revisava umas anotações na pasta dela.
— Então… você vai dar aula pra minha turma hoje? — perguntei, tentando soar casual.
Ela fechou a pasta e sorriu de lado.
— Ainda não, filho. Hoje vou dar aula só pro segundo ano. A sua turma é só amanhã.
— Ah… entendi — respondi, tentando esconder a pontada de decepção.
— Não fique assim — disse ela, dando um tapinha leve no meu joelho. — Amanhã é que vai ser a estreia oficial com a sua turma. Hoje é só pra pegar o jeito.
Assenti, mas, enquanto ela falava, meu olhar vagueou para o fundo do ônibus. Lá atrás, sozinho, estava Caio , calado, encostado no vidro, como se o mundo lá fora não fizesse diferença. Ele não olhou pra gente, mas eu sentia sua presença, aquele jeito dele de parecer sempre desligado e, ao mesmo tempo, prestando atenção em tudo.
Voltei os olhos pra frente, engolindo a estranha sensação que aquilo me dava.
Quando o ônibus freou a duas quadras do colégio, Minha mãe ajeitou a bolsa no ombro e se levantou. Eu a segui, e, antes de descer, olhei de relance para o fundo.
Caio continuava lá, encostado na janela, com o capuz meio caído e aquele jeito de quem não liga pra nada. Os olhos, semicerrados, me deram a impressão de que ele tinha visto tudo, mas ele não fez menção de cumprimentar ou falar com ninguém.
— Vamos, filho? — Minha mãe me chamou, já pisando na calçada.
— Tô indo — respondi, descendo logo atrás dela.
O sol estava mais forte do que eu imaginava, e o movimento na frente da escola era intenso: alunos chegando, vozes misturadas, risadas. Enquanto caminhávamos até o portão, ela comentava sobre o primeiro dia:
— Quero ver como vai ser hoje. Primeiro dia sempre dá um friozinho na barriga.
— Vai dar tudo certo — falei, tentando soar confiante.
O corredor estava movimentado, alunos indo e vindo antes da primeira aula. Eu vinha ao lado da minha mãe, Paula, que carregava alguns materiais e mantinha aquele ar tranquilo, como se já conhecesse bem o ambiente — mesmo sendo o primeiro dia de verdade dela ali.
Perto da porta da sala, Diego e Allan estavam encostados na parede. Assim que nos viram, se entreolharam, como quem reconhece alguém mas ainda não teve chance de falar.
— Ei — eu disse, parando em frente a eles. — Vocês lembram da minha mãe, né? Viram ela no Dia dos Pais.
— Lembrar a gente lembra — disse Allan, sorrindo de canto. — Mas conhecer pessoalmente é outra história.
Paula sorriu, estendendo a mão para cumprimentar.
— Prazer, meninos. Agora oficialmente professora de Química de vocês.
Diego apertou a mão dela meio sem jeito.
— Caramba... é, a gente já tinha visto, mas... não sabia que era professora também.
Allan riu, daquele jeito debochado dele:
— Eu já tô vendo que essa vai ser a aula mais disputada do colégio.
— Disputada por quê? — Paula perguntou, divertida.
— Porque todo mundo vai querer assistir — completou Diego, e os dois caíram na risada.
Eu só observei, meio sem graça, meio orgulhoso, enquanto eles finalmente conheciam minha mãe de verdade, e ela levava tudo na esportiva, sem perder o sorriso.
Minha mãe deu um sorriso largo, daqueles que deixavam tudo mais leve. Primeiro, ela abriu os braços para Diego, que ficou até meio travado, mas acabou retribuindo o abraço com um sorriso tímido.
— Bem-vindo oficialmente, professora — disse ele, ainda meio sem acreditar que estava abraçando minha mãe.
Depois foi a vez de Allan, que, claro, não perdeu a chance de fazer graça:
— Ah, então agora é de verdade mesmo? — perguntou, enquanto abraçava ela e ria.
— Agora é — Paula respondeu, dando dois tapinhas amigáveis nas costas dele antes de se afastar.
Mas, em vez de entrar na nossa sala, ela olhou para o corredor ao lado.
— Bom, meninos, hoje vou para a turma do segundo ano. Amanhã é que começo aqui com vocês.
A expressão dos dois mudou na hora. Diego fez um “ah, não” bem alto, e Allan fingiu um desmaio encostado na parede.
— Mas já? — Diego reclamou. — A gente achando que ia ter a aula mais legal do dia...
Paula só riu e foi seguindo pelo corredor, acenando para nós antes de virar na esquina.
— Amanhã, meninos! — ela disse, com aquela calma de professora que sabe o efeito que está causando.
Nós ficamos ali, e eu vi Diego e Allan se entreolhando, claramente desapontados.
— Cara — disse Allan, balançando a cabeça — a aula de amanhã vai estar lotada.
A porta da sala do segundo ano se abriu devagar. A conversa alta da turma foi diminuindo aos poucos quando Paula entrou. Era o primeiro dia dela como professora ali, e aquele silêncio repentino parecia vir mais de curiosidade do que de respeito.
Paula carregava uma pasta na mão e sorria com tranquilidade. A postura dela era serena, mas havia uma confiança natural no jeito de andar até a mesa.
— Bom dia, pessoal. Eu sou a professora Paula, vou dar aulas de Química para vocês a partir de hoje — disse, a voz clara preenchendo a sala.
Os olhares se cruzaram. Alguns alunos trocaram cotoveladas discretas, outros murmuraram “é ela, é ela”.
Caio, que até então parecia distraído na última fileira, ergueu o olhar. Tinha visto Paula antes, mas agora, ali na frente como professora, era diferente. Ele se recostou na cadeira, os braços cruzados, tentando manter a pose descolada, mas não escondia o interesse nos olhos.
— A gente pode começar se apresentando — continuou Paula, sorrindo para a turma. — Quero conhecer um pouco de vocês antes de entrarmos no conteúdo.
As apresentações começaram, um a um. Quando chegou a vez de Caio, ele falou com aquele jeito meio preguiçoso de sempre:
— Eu sou o Caio... jogo no time de futebol da escola... e, é, acho que é isso.
Paula assentiu, com o mesmo sorriso profissional, mas amigável:
— Ótimo, Caio. Espero que goste das aulas.
Por dentro, Caio pensava: “Gostar? Já tô achando que vai ser bem interessante.”
A aula seguiu. Alguns ainda cochichavam de vez em quando, mas a presença de minha mãe parecia ter prendido a atenção de todos, inclusive a dele.
O sol já estava mais baixo quando a gente saiu do prédio e foi pra frente da escola. A calçada estava cheia de gente esperando carona, ônibus, ou só batendo papo antes de ir pra casa.
Eu, Allan e Diego paramos perto do portão, cada um largado no corrimão ou sentado na mochila, só esperando o tempo passar.
Allan foi o primeiro a quebrar o silêncio, com aquele sorriso de quem estava segurando o assunto há um tempo:
— Cara… tua mãe tem uma presença diferente, sabe? Quando ela passa, parece que todo mundo presta atenção.
Diego riu, apoiado na mochila:
— Ele tá tentando falar “presença” pra não dizer outra coisa, né? — provocou.
Allan levantou as mãos, rindo também:
— Não, tô falando sério! Além do perfume, ela tem aquele jeito seguro, parece professora que sabe o que tá fazendo.
Eu só balancei a cabeça, tentando não rir.
— Vocês dois não perdem uma, né?
— A gente só tá comentando, pô — disse Allan, dando de ombros. — Se amanhã ela der aula pra nossa turma, tu vai ver… a galera vai curtir.
Diego concordou, ainda sorrindo:
— Aposto que vai ser a professora mais comentada do semestre.
A gente ainda estava na frente da escola, esperando, quando vi minha mãe atravessando o portão. Ela vinha tranquila, com aquele sorriso que sempre chamava atenção.
— Filho, vamos? — ela disse, parando na nossa frente.
— Bora — respondi, pegando a mochila.
Antes de irmos, ela olhou para Allan e Diego e abriu os braços, rindo:
— Ah, vocês de novo! Vem cá.
Allan foi o primeiro a receber o abraço, meio sem graça mas sorrindo de orelha a orelha.
— Oi, professora. — disse ele, quase rindo. — A senhora é muito gente boa.
Depois foi a vez do Diego, que não perdeu a piada:
— Se todo professor recebesse a gente assim, ninguém faltava aula.
Minha mãe riu, balançando a cabeça.
— Vocês são demais. Até amanhã, meninos.
— Até amanhã! — responderam os dois juntos, ainda meio impressionados com a simpatia dela.
Eu e ela fomos saindo pelo portão, enquanto Allan e Diego ficaram pra trás, trocando aquelas olhadas que diziam tudo sem precisar falar nada
Na terça-feira, a manhã começou igual a de ontem, mas dava pra sentir um clima diferente. Era o dia em que minha mãe ia dar aula pra minha turma pela primeira vez, e eu não sabia se estava mais curioso ou nervoso.
Saímos juntos de casa e fomos andando até o ponto de ônibus. O sol ainda estava fraco, mas a rua já estava cheia de gente apressada indo pra escola ou pro trabalho.
No ponto, minha mãe ajeitou os livros que levava na bolsa e comentou:
— Então, hoje é com a sua turma, né?
— É… o pessoal tá meio empolgado pra te conhecer melhor — respondi, tentando disfarçar o quanto Diego e Allan tinham falado dela ontem.
Ela deu um sorriso de canto.
— Espero que não criem expectativas demais.
Saimos de casa mais , mas o ponto já estava cheio. Quando o ônibus chegou, parecia que todo mundo da cidade tinha decidido pegar aquele mesmo horário.
— Hoje não vai ter moleza — comentei, vendo a lotação.
— Faz parte — minha mãe respondeu, ajeitando a bolsa com um sorriso tranquilo.
O ônibus estava cheio, abafado, e mal dava pra andar direito pelo corredor. Eu e minha mãe fomos avançando devagar, empurrados pelo movimento da lotação.
No meio do ônibus, no assento do corredor, estava Caio. Ele usava o agasalho do colégio aberto, capuz jogado pra trás, aquele olhar meio distante, como se tivesse acabado de acordar ou estivesse em outro planeta. As mãos estavam largadas nos joelhos, postura relaxada demais pra tanta confusão ao redor.
Quando viu minha mãe se aproximando, pareceu levar um segundo pra processar, piscando devagar antes de levantar com aquele jeito preguiçoso, mas sem perder a confiança.
— Professora… pode sentar aqui — disse, a voz calma, o sorriso surgindo quase atrasado.
Minha mãe se acomodou no assento, ajeitando a bolsa no colo, e Caio saiu do assento e permaneceu de pé bem ao lado dela. Com o ônibus lotado.
Eu fiquei ao lado dele, também de pé, segurando na barra de ferro. Caio tinha aquele ar calmo, quase preguiçoso, o olhar meio distante, mas a postura dele denunciava que estava atento a tudo.
O balanço do veículo fazia com que, de vez em quando, Caio, encoxasse o pau em Paula de leve , parecia nada proposital, apenas o movimento inevitável do ônibus lotado. Mas havia algo naquele jeito despreocupado dele, e na forma como ela mantinha a conversa leve e tranquila, que deixava claro um certo clima no ar.
— Então… gostei muito da sua aula ontem — Caio começou, com o tom tranquilo de sempre. — Sério mesmo, professora. Faz tempo que não via a turma tão quieta prestando atenção.
Paula ajeitou o cabelo e riu baixinho:
— Será que estavam mesmo prestando atenção… ou só estavam cansados depois do almoço?
— Não, não — ele disse, balançando a cabeça. — É porque a senhora explica bem. E também… a senhora tem uma presença diferente, sabe?
Ela ergueu a sobrancelha, divertida:
— Presença diferente? Esse é o seu jeito de dizer que a aula foi boa?
— É o meu jeito de dizer que a professora deixou todo mundo impressionado — respondeu Caio, meio sorrindo, meio sério.
Ela riu outra vez, olhando pela janela por um instante, e depois voltou os olhos para ele:
— Espero manter essa impressão até o final do semestre, então.
— Ah, isso não vai ser difícil — disse Caio, encoxando de leve nos ombros da minha mãe ainda com aquele jeito relaxado. — A senhora parece ser muito boa no que faz.
O ônibus sacolejava nas ruas cheias, e eu ali do lado, quase esquecido, enquanto eles dois conversavam com aquela naturalidade, como se já se conhecessem há mais tempo.
Quando o ônibus começou a desacelerar próximo ao ponto, minha mãe ajeitou a alça da bolsa no ombro e se levantou. O vestido, leve e macio, desceu acompanhando o movimento, moldando-se ao quadril de forma natural, sem exageros, mas impossível de não notar.
Caio, que estava de pé ao lado, reagiu quase no mesmo instante. Deu um passo para trás, o suficiente para que, quando Paula avançou pelo corredor, ele pudesse se posicionar logo atrás dela. Não disse nada, apenas se moveu com aquela calma calculada.
E ela não se afastou. Continuou andando, ombros eretos, expressão tranquila, mas o sorriso discreto no canto da boca denunciava: ela estava consciente de cada centímetro entre eles, e não parecia querer mudar nada.
Eu estava logo atrás do Caio , encostado na mochila nas costas dele. De onde eu estava, tudo parecia normal para qualquer um que olhasse de fora. Mas eu vi. Vi como ele se inclinou ligeiramente para frente, pressionado por completo o pau contra a bunda dela.
Descemos nos três a duas quadras da escola.Ele tentou manter a postura casual, mas era impossível não perceber o jeito um pouco tenso com que mexia na mochila, talvez tentando disfarçar alguma coisa. A expressão no rosto dele era leve, como se nada demais estivesse acontecendo, mas os olhos entregavam um certo nervosismo.
— A sua aula ontem foi top, viu? — disse ele, num tom descontraído, quase para quebrar o silêncio. — O pessoal comentou bastante.
Paula virou o rosto, sorrindo de forma gentil.
— Que bom que gostaram. Espero manter esse padrão, né?
Caio deu uma risada curta, voltando a ajeitar a mochila na frente do corpo, com um volume que parecia esconder um latão de cerveja entre as pernas.
Por um instante, caminhamos os três juntos, e havia um silêncio que não era desconfortável, mas carregava algo diferente. Então Caio, sem perder o jeito relaxado, comentou:
— Professora, posso perguntar uma coisa?
— Claro — ela disse, sem parar de andar.
— Você é solteira? — Ele perguntou como se fosse nada demais, quase sorrindo, sem encarar de frente, como quem solta no ar só para ver no que dá.
Eu senti meu estômago revirar. Não sabia se ficava irritado, com ciúmes… ou só curioso com a resposta.
Paula olhou para ele com um sorrisinho misterioso, do tipo que não entrega nada de bandeja:
— Por que a pergunta, Caio?
Ele deu de ombros, fingindo naturalidade:
— Curiosidade.
E seguimos andando, mas a pergunta ficou no ar, me incomodando mais do que eu queria admitir.
Chegando na escola, Caio saiu de perto de nós às passos largos, sem despedidas , o corredor estava cheio de vozes e passos apressados, mas, mesmo assim, dava para ver Allan e Diego na porta da sala, como se estivessem esperando a gente. Eles eram fáceis de reconhecer — Allan gesticulando demais, Diego com aquele jeito mais irônico, mas sorrindo do mesmo jeito.
Assim que nos viram, os dois abriram os braços, como se já fizesse parte da rotina.
— Aê, Professora Paula! — Allan falou primeiro, com aquele entusiasmo de sempre. — Tava na torcida pra você chegar logo, hoje a aula promete!
Minha mãe sorriu, o mesmo sorriso calmo que ela sempre dava, e abraçou primeiro Allan, depois Diego. Um abraço rápido, nada demais, mas eu percebi como os dois ficavam com aquela cara de bobo por uns segundos.
— Bom dia, meninos — ela disse, com a voz leve. — Espero que estejam prontos pra trabalhar, hein?
— Prontos a gente tá — Diego respondeu, ainda sorrindo — só não sei se a gente vai sobreviver à prova mês que vem.
Eu fiquei ao lado dela, vendo os dois animados, quase como fãs esperando por atenção. Era engraçado… e, ao mesmo tempo, me dava aquela pontada estranha de ciúmes, mesmo sem motivo.
Enfim entramos eu o Allan e o Diego, enquanto minha mãe foi pegar água. Depois de 5 minutos a porta da sala se abriu e Paula entrou com um sorriso confiante, os passos firmes ecoando no piso liso. Ela de vestido que moldava bem as curvas, mas elegante. O cabelo solto caía sobre os ombros, e havia algo no jeito dela — postura ereta, olhar seguro — que fez a sala ficar alguns segundos em silêncio.
Allan se inclinou levemente na carteira ao meu lado, sussurrando sem tirar os olhos dela:
— Cara… tua mãe é muito gata. — Ele balançou a cabeça, impressionado, mas com um sorriso contido.
Diego, sempre o mais brincalhão, completou:
— Se toda professora fosse assim, eu nunca ia faltar uma aula na vida.
Eles riram baixo, mas era fácil perceber que não estavam sozinhos naquela reação. Alguns colegas disfarçavam mal o interesse, enquanto Paula caminhava até o quadro, pegava o giz e escrevia o nome dela em letras grandes e firmes: Profª. Paula.
Enquanto escrevia, Allan comentou de novo, baixo, como se falasse sozinho:
— Mano… olha esse rabo… balança até quando escreve no quadro.
Diego concordou, olhando a curva do quadril dela quando ela se virou para a sala:
— Eita… essa aula promete.
Quando Paula finalmente se apresentou, a voz dela era clara e envolvente:
— Bom dia, pessoal. É um prazer estar com vocês hoje. Espero que possamos aprender bastante juntos.
Havia um leve brilho nos olhos de alguns ali.
Paula largou o giz sobre a mesa e cruzou os braços, olhando a turma com um sorriso que parecia combinar simpatia e firmeza.
— Então, antes de começarmos, quero conhecer vocês. Podem se apresentar rapidinho? Nome, o que esperam do curso… essas coisas.
A turma foi se apresentando um a um, meio tímidos no início. Enquanto isso, Allan e Diego iam cochichando baixinho, só para mim:
— Cara… até a voz dela é diferente, tá vendo? — Diego comentou, fingindo escrever no caderno, mas com os olhos claramente grudados na professora. — Tem uma raba… parece atriz de filme porno,
Allan riu pelo nariz, completando:
— Se eu soubesse que ia ter aula assim, tinha comprado até caderno novo.
Eu tentava prestar atenção, mas era impossível não ouvir os dois. Eles não eram desrespeitosos — era mais aquele jeito besta de amigos que não conseguiam disfarçar o impacto que minha mãe causava.
Quando ela fez uma pergunta pra turma e virou de costas para escrever no quadro, Allan cutucou meu braço e sussurrou:
— Olha isso… até o jeito que ela anda… — Ele balançou a cabeça, rindo sozinho.
Diego, tentando disfarçar, anotou algo qualquer no caderno só pra parecer ocupado.
— A sala vai aprender? Vai nada. A gente só vai ficar olhando. — E soltou um risinho abafado.
Paula então se virou para a turma e começou a explicar o conteúdo. O clima na sala ficou mais sério, mas a presença dela ainda tinha um peso diferente, que prendia a atenção de todo mundo.
Na hora da saída minha mãe apareceu na porta, chamando por mim para irmos embora. Allan e Diego, que já tinham passado o dia comentando sobre ela, se entreolharam e sorriram quando ela se aproximou.
— Mais um abraço antes de ir? — Allan brincou, com aquele tom leve que só ele tinha.
Minha mãe abriu os braços para Allan, e ele não perdeu tempo. Abraçou-a com aquele jeito expansivo de sempre, sem pensar muito. No movimento, a mão dele acabou descendo um pouco pelos quadris dela, mais por causa da empolgação do momento do que por qualquer outra intenção.
— Até amanhã, professora! — disse ele, sorrindo, sem notar nada de especial no gesto.
Paula apenas riu, se acostumando com o jeito caloroso de Allan, e deu dois tapinhas amigáveis no ombro dele antes de ir abraçar Diego também.