Na oca escura e esfumaçada pela fogueira que arde numa vala, um emissário traz aos indígenas uma mensagem urgente. A guerra com os brancos é iminente, a escalada dos conflitos entre sua tribo e os invasores que se instalaram na baía de Guaná chega a seu ápice - e parece que não terá outro desfecho que a violência.
E agora não há mais alternativas, tudo por causa do tal Sender - ou Ubiratan, como os locais o chamam. Aquele infeliz tracionou a todos, e isso os indígenas não podem perdoar.
Há três anos, Sender Harlan chegou no primeiro navio a aportar ali. Uma delegação de guerreiros recebeu os tripulantes com espanto, para eles era a primeira vez que os dois mundos se encontravam e a pele alva dos navegantes os fazia parecer deuses.
Sender era um jovem missionário que fazia parte da expedição, um catequizador com a missão de travar contato com os nativos que encontrasse. A primeira missa naquelas terras foi rezada por ele, com os índios curiosos em volta apreciando o ritual que carecia totalmente de sentido para os locais.
Umas noites depois apareceu outro navio, desta vez trazendo piratas. Fogos e trovões retumbaram na pequena enseada, até que os primeiros a chegar fossem vencidos, sua carga saqueada e a tripulação morta. Na manhã seguinte, os indígenas encontraram na praia o corpo desfalecido de Sender.
Impressionados com o deus que escapara da morte, os indígenas arrastaram seu corpo inconsciente até a aldeia ao pé da serra. Ali, numa clareira onde se distribuíam grandes ocas, Sender voltou à vida sem entender o que se passava.
Ele fora despojado de suas vestes, seu corpo se encontrava atado a um poste e um grupo de mulheres e crianças se acumulava ao redor, rindo e apontando para ele. Sender não compreendia o que diziam, mas entendia que seu porte físico magro e alto, o loiro de seus pelos e seus olhos azuis, bem como a brancura de sua nudez, eram inéditos.
A bem dizer, aquela gente também lhe causava estranheza. Estes selvagens eram diferentes dos que já conhecera, o lugar que habitavam se via mais primitivo, além do fato de não usarem roupa e não sentirem vergonha disso.
Era extremamente constrangedor, ficar nu e amarrado diante de todos. Sender era um seminarista vindo do velho mundo, sua mente estava repleta de condicionamentos sobre o pecado, plantadas desde que era menino num mosteiro e cercado por frades de batina.
O rapaz nunca vira o corpo de uma mulher nua, muito menos de várias delas. As índias em geral tinham olhos puxados e sorrisos redondos, a pele bronzeada e cabelos negros, longos e lisos, mas ele era capaz de notar pequenas diferenças em seus corpos.
Umas eram ligeiramente mais altas, algumas eram um pouco mais atarracadas e gordinhas, outras tinham o corpo esbelto e sinuoso, os seios variavam em volume e formato, pêras ou redondos, fartos ou pequeninos.
Mas o que chamava a atenção de Sender era que as mulheres traziam o sexo depilado, despudoradamente descoberto, o que tornava tudo mais evidente ainda. Naquela tarde, ele passou de nunca ter olhado uma mulher nua a apreciar a maior variedade de vulvas que um branco já vira.
Umas eram cheinhas e com a fenda bem demarcada, outras mais rasinhas com a brecha quase imperceptível, haviam as que possuíam lábios grandes pendurados entre as pernas e as que pareciam nem ter lábios, com as intimidades resguardadas ali dentro.
Com um menu inteiro de mulheres diante de si, Sender entendeu o porquê de apontarem para ele. Seu membro figurava ereto e elas se divertiam ao constatar que o branco não era só mais alto que os homens dali, mas que seu equipamento correspondia em tamanho àquela diferença. Em outras palavras, Sender tinha o maior instrumento que tais mulheres já tinham visto - e ele estava ali, de pé, para quem quisesse apreciar.
Ubiratan! Ubiratan! - as índias gritavam. “Lança dura”, foi o nome dado a Sender pela tribo. Por horas, ele seguiu amarrado ao poste com as índias se revezando para vê-lo, admiradas por sua ereção não ceder. Quase ao final da tarde, uma bela garota mais alta surgiu. As demais, num ato de reverência, se faziam a um lado para que ela passasse.
Seu corpo tinha seios médios e duros, com mamilos escuros ressaltados formando montinhos sobre os peitos. A cintura fina exibia uma barriga esbelta e, logo abaixo, mal se podia notar a fresta de seu sexo. O destaque, contudo, estava em sua face: o rosto trazia pinturas geométricas em linhas negras com uma faixa vermelha pintada sobre os olhos.
Sua voz soou e as mulheres se calaram. Em minutos, duas outras jovens se aproximaram a ele, uma trazendo uma cabaça com água e uma tigela de barro com comida. Sob o comando daquela índia, as outras duas deram de beber a Ubiratan e o alimentaram, dando-lhe pequenos troços de carne na boca.
Enquanto o nutriam, as duas aproveitaram para matar a curiosidade. No início, eram toques cuidadosos, aparentando receio, como quem cutuca um bicho desconhecido que não se sabe se morde. Vencido o medo da novidade, passaram a correr os dedos por sua pele branca, sentindo a textura e os músculos. Às vezes, davam-lhe pequenos beliscões, ainda custando a acreditar que ele era real.
Ubiratan devorava a carne que chegava à sua boca e nem percebeu, mas as duas iam progressivamente aproximando seus corpos e, enquanto seus seios lhe roçavam a pele num contato sutil, suas mãos já percorriam todo o corpo do rapaz, deslizando sobre ele como se fossem carícias.
Não demorou, as duas jovens passaram a se revezar pegando em seu apetrecho para estimular-lhe ainda mais. Foi mastigando a carne que Ubiratan as viu cuspirem ali para lubrificá-lo e dedicarem-se à masturbá-lo de maneira mais firme. Em poucos minutos, ele ejaculou e quase engasgou com a comida, enquanto elas riam surpresas. Desde que percebeu a nudez das índias, essa foi a primeira vez que a lança de Ubiratan cedeu.
Nas primeiras semanas, o homem seguiu amarrado ao poste. A cada tarde o ritual da alimentação se repetia, cada vez com uma dupla de mulheres diferente. As mesmas interjeições de admiração surgiam da platéia quando a peça do jovem se levantava imponente, e as risadas sempre vinham ao final, quando ele gozava.
A Índia que parecia ser a líder sempre vinha durante sua alimentação e orientava às encarregadas da vez, mas Ubiratan podia notar que sua seriedade já dava lugar à descontração, chegando até a rir com todas. Mas ela nunca participava daquilo, num claro sinal de superioridade.
Com o tempo, a novidade foi passando. As mulheres se convenceram de que ele não era um deus, mas somente um homem de carne e osso. Seus músculos eram iguais, as reações que tinha eram idênticas às dos outros homens ao sentir seus toques e o branco comia e defecava como todo ser humano.
Com isso, a presença de Ubiratan deixou de ser temível para cair no cotidiano. Não raro, uma índia passava por ali e se detinha para brincar, o que terminava com a mulher conferindo o tamanho daquilo, até fazê-lo gozar - e isso ocorria algumas vezes ao dia.
Os homens da tribo pareciam desprezá-lo, nunca se dirigindo a ele. Sua existência estava relegada às mulheres. Às vezes, uma delas lhe atirava uma pedrinha ou cutucava com um graveto, coisas que faziam com os animais domesticados dali. Era exatamente nisso que o branco se transformara para a tribo: um bichinho de estimação.
Em pouco mais de um mês, Ubiratan era um fiapo humano. A alimentação exígua e a falta de exercícios debilitaram seu corpo a ponto dos ossos começarem a aparecer sob a pele, agora já curtida pelo sol dos trópicos. Seu corpo estava coberto de picadas de mosquitos, e as infinitas punhetas que recebia agora se tornaram um suplício, dada a constância com que era exigido. Terminou adoecendo.
Em meio a calafrios febris, ele estava longe de casa, prisioneiro de um um povo pagão e sendo tratado como um animal de exibição. Essa era sua realidade agora. Ali, ele não era ninguém, era até menos que ninguém, era um nada. Terminou caindo inconsciente.
Vendo que o branco se enfermou, a índia com pintura na face preocupou-se. Ele fora-lhe encarregado e não podia falecer. Mandou que as outras o soltassem e que o carregassem até o rio para banhá-lo na água fria, de maneira a aliviar as picadas e baixar a febre. Abriu espaço na oca coletiva e pôs uma esteira ao lado de sua rede, onde deitaram o rapaz.
Por dias seguidos, foi esta mesma índia que lhe deu as ervas indicadas pelo pajé, aplicou unguentos em suas feridas e mastigou a comida para que engolisse. Inconsciente num delírio profundo, Ubiratan não tinha noção, mas a jovem se determinara a mantê-lo vivo.
Quando voltou a si, a primeira visão que teve foi da Índia ao seu lado. Entusiasmada por ele haver despertado, ela apontou para o próprio peito, dizendo seu nome: “Anahí!”
A partir desse dia, Ubiratan não ficou mais amarrado no poste e continuou dormindo na esteira ao lado de Anahí. Com ela aprendeu a fazer as coisas do cotidiano das índias e, principalmente, conheceu as primeiras palavras na língua deles.
Devia fazer um ano que andava por ali e a vida de Ubiratan melhorava a cada dia. Ainda era visto com desconfiança pelos homens e as mulheres o tratavam como o bichinho de Anahí, mas ninguém se metia com ele. Acabaram-se os toques indevidos, as pedradas e as risadas. O respeito que todos tinham por Anahí os impedia de tomarem essas liberdades.
Mesmo quando se detinha para apreciar as curvas de sua dona e sua ereção se apresentava, isso era considerado uma coisa normal, afinal, ele era visto como um ser que não dominava seus instintos animais. De parte de Ubiratan, a gratidão e a admiração que sentia por sua dona o faziam ignorar essa condição sub-humana.
O que o branco desconhecia, no entanto, é que Anahí não o via assim. O tempo que passara cuidando dele havia despertado certo afeto de parte da índia. Compartilhar as tarefas diárias estreitou os laços, e a capacidade dele em aprender as palavras em sua lingua o distanciava cada vez mais dos animais.
E também tinha a ferramenta que o rapaz exibia. Anahí vivia a flor da idade e os desejos da carne estavam presentes. Os hormônios trabalhando em seu corpo por vezes a levavam a apreciar o corpo de Ubiratan, com o apetrecho imenso pendurado diante de si. À noite, em sua rede, Anahí mais de uma vez se tocava, perdida que estava em meio aos anseios que sua feminilidade provocava.
Foi de forma quase natural que um dia, enquanto brincavam afundando um ao outro no rio, Anahí segurou o membro de Ubiratan. Apesar do frio da água, o rapaz sentiu a ereção crescer. Anahí o olhava nos olhos e, apesar de sentir o membro se avolumando em sua mão, não o soltou. Em vez disso, segurou mais forte ainda, indo e vindo naquela carícia.
Era um momento tenso. Nenhum deles sorria, apenas se olhavam imersos um no outro, numa compreensão silenciosa. As mãos de Ubiratan seguraram a jovem pelas cadeiras e a fizeram aproximar-se. Seus corpos se encostaram, ele sentiu o par de seios rijos dela em seu tórax e a mão suave em volta de seu instrumento, ainda resistindo em libertá-lo.
O branco trouxe o rosto para perto, até que seus lábios quase se tocaram. Contudo, Anahí de repente se recusou, afastou-se e largou a lança ereta, detendo-o com a mão espalmada em seu peito. Usando palavras fáceis, a Índia disse que era proibido, um Tabu. Ubiratan ficou estático, observando como a beleza nua de sua dona se retirava para a margem, com o corpo esguio molhado e gotas escorrendo por suas nádegas bem equilibradas.
A partir dali, uma barreira se ergueu entre os dois. Desde sua fé, ele entendia que errar por ignorância poderia ser perdoado, mas cometer o erro consciente disso era outra coisa: a definição exata de pecado. Em outras palavras, o tabu de Anahí era o pecado de Ubiratan.
Continuar realizando suas atividades juntos se tornou um suplício. Por mais que Anahí tivesse olhos compridos em sua peça, e que Ubiratan vivesse de olhos pregados em seu corpo sedutor, ambos sabiam que aquele encontro era impossível.
Em pleno mundo livre, numa tribo onde homens possuíam qualquer mulher que quisessem, Ubiratan sofria por dentro, ao apreciar o que não podia ter: o corpo de Anahí. Acuado pelo desejo, decidiu se afastar para não cometer um desatino. Vê-lo cabisbaixo e sem ânimo afetou Anahí, que se arrependia pelo ocorrido no rio. Se não houvesse provocado, nada disso aconteceria. Angustiada, a índia resolveu tomar medidas por sua parte.
Naquela noite, no escuro da oca, Ubiratan foi acordado do sono com uma mão tapando sua boca para evitar que acordasse aos demais. O susto do rapaz se multiplicou ao perceber que a rede de Anahí estava vazia e que ela buscava posicionar-se sobre ele.
"Py'ỹ", ela disse, pedindo que mantivesse silêncio.
Sorrateira como uma serpente, a índia foi escorregando sobre seu corpo, até posicionar-se na altura de sua cintura, onde voltou a tocar seu instrumento com aquelas mãozinhas suaves que tinha. Nem bem ele deu sinal de vida, sentiu que ela introduziu seu membro na boca, passando a sugá-lo para que terminasse de crescer.
A partir daí, dedicou-se por uns minutos a lamber e engolir a ferramenta, indo até o fundo. Era a primeira vez que Ubiratan experimentava uma mulher comendo-lhe o membro e, obviamente, não tardou a sentir os impulsos da ejaculação chegando, o que teve que fazer abafando com as mãos um urro de prazer e contentamento.
A índia se retirou logo em seguida, provavelmente para cuspir e lavar a boca. Uns minutos se passaram e Anahí regressou silenciosa à rede a seu lado, como se nada tivesse acontecido. Ninguém havia despertado e o pecado cometido entre eles ficaria em segredo.
No dia seguinte, sua mudança de ânimo era visível. Ele andava sorridente e se via prestativo com quem necessitasse ajuda, fazendo questão de que Anahí se poupasse das tarefas em retribuição à noite que tiveram juntos. A índia percebia com gosto a mudança do jovem, e sentiu-se segura de que havia feito a coisa certa.
Já ao cair da tarde, Ubiratan acostou-se cedo, mas não conseguiu dormir. Sua expectativa por ter Anahí outra vez em sua esteira era imensa e isso lhe tirava o sono. Os demais foram ingressando à medida que a escuridão da noite abraçava a oca, mas a rede ao seu lado permaneceu vazia até o último deles dormir.
Desta vez, quando a índia veio sobre Ubiratan, ele ainda estava desperto. Nem bem ela se acomodou, o branco já a reteve pela cintura com uma mão e começou a afagar-lhe o seio com a outra. As carícias no corpo um do outro se fizeram recíprocas até ele já não aguentar mais e ir posicionar a lança entre as pernas dela. Neste momento, ouviu sua companheira sussurrar um pouco assustada: “Brincar! A gente só pode brincar!”
Ubiratan não sabia exatamente ao que ela se referia, mas a índia girou sobre seu corpo e levou o tronco à frente, fazendo-o sentir suas nádegas firmes sobre sua cintura. “Brincar! Vamos brincar!”, ela pedia baixinho. Ao ver que ele não entendia, ela mesma tomou a ferramenta nas mãos e foi deslizando entre suas nádegas.
Ali, com um certo esforço, a índia insistiu até conseguir acomodar-se. Ubiratan nunca havia comido uma mulher, mas entendeu em seguida o que acontecia. A mulher mal conseguia conter seus gritos e, mais de uma vez, tiveram que parar para não acordarem os demais.
Ubiratan achou que Anahí não estava rompendo o tabu, pois não estava introduzindo a ferramenta em sua pequena flor intocada: ela estava se sacrificando para dar-lhe prazer, introduzindo aquilo em outro lugar!
Nessa noite, Anahí cavalgou Ubiratan com as mãos em seus joelhos, subindo e descendo as nádegas para que a lança a penetrasse cada vez um pouco mais fundo, até não restarem mais empecilhos que permitissem tê-lo por inteiro dentro de si. Extasiado com a experiência, Ubiratan a retinha pela cintura e acompanhava suas investidas, sendo ele quem passava a penetrá-la quando ela, gozando, interrompia seus movimentos.
Logo após terminarem, Anahí retirou-se para fazer a higiene e depois voltou à rede ao lado em completo silêncio, para não despertar ninguém. Foi um tanto constrangedor, depois do que haviam feito Ubiratan tinha vontade de seguir abraçando seu corpo, tê-la perto de si por toda a noite, e o aparente descaso com que a índia o tratava era desconcertante. Mas ele entendia que a situação demandava cuidado e se conformou.
Semanas passaram com Ubiratan brincando junto a Anahí por todas as noites no silêncio da oca. Era difícil controlar seus gemidos e sussurros durante o tempo em que seus corpos se encontravam, mas até ali ninguém havia percebido nada. Também era difícil não avançar mais longe no clamor dos momentos juntos, mas algo do tabu seguia existindo e os dois necessitavam controlar-se.
Então, veio a fatídica noite em que Ubiratan recebeu Anahí em sua esteira e a viu mais fogosa do que de costume. Ela vinha com fome, um apetite diferente. Nem bem sentou-se sobre seu quadril, fincou as unhas em seu peito e se agachou, mordendo-lhe o pescoço. O peso que descarregava sobre ele e a ânsia de possuí-lo dentro de si chegavam a ser selvagens, a ponto de fazê-lo parecer pequeno sob ela.
Brincando com o equipamento avantajado do rapaz, Anahí o esfregava entre os lábios de seu sexo, gemendo baixinho de desejo, até que sem mais aviso o colocou ali e o engoliu entre as pernas, começando a cavalgá-lo. Ubiratan não sabia como reagir, o tabu se rompia e o pecado estava sendo consumado - e ele não conseguia detê-lo, absorto no prazer que vinha de, por fim, possuir a Anahí.
Era pecado e prazer, tabu e desejo, culpa e delírio, um vai e vem de sentimentos passando velozmente que deixavam a Ubiratan perdido e a Anahí cada vez mais excitada e fogosa. A índia passou a subir e descer com força sobre Ubiratan, fazendo o instrumento do jovem golpear suas intimidades com ruídos denunciadores.
O barulho do encontro entre suas carnes se fazia alto e ela nem parecia dar-se conta, de tão satisfeita que estava em finalmente montá-lo. Ubiratan, a sua vez, atingia os céus quando estava inteiro dentro de Anahí, mas descia ao inferno quando ela subia, pois aí recobrava a consciência do risco a que se expunham.
Quando a luz de um galho em brasa se aproximou dos dois, parecia que era o fim. Haviam vários índios despertos e agora vinham ver o que estava acontecendo. Ubiratan deu-se conta e tentou desvencilhar-se de Anahí, mas ela parecia em transe galopando sua lança e não o deixava sair. Em segundos eles seriam descobertos e o pecado revelado.
E qual não foi sua surpresa, ao ver que os índios se aproximaram, deram risadas comentando que “o bichinho de Anahí está sendo usado” e depois se afastaram sem dar muita importância. Realmente, para eles aquilo não tinha a menor relevância porque, como Ubiratan pode constatar ao serem iluminados, aquela não era Anahí.
Não era Anahi! Nunca fora Anahí!
Isso gritava em sua mente logo na manhã seguinte, enquanto a índia tentava explicar à sua mente confusa o que ocorrera. Ubiratan não era um homem proibido, mas ela sim, era uma mulher proibida para qualquer um e entre eles nunca poderia haver nada. Ela não aguentou vê-lo tão triste por isso, então, havia permitido às demais índias que o usassem durante as noites, só pela compaixão que sentia por ele.
A cabeça de Ubiratan dava voltas. Ele se deitava há mais de um mês com várias índias, uma diferente a cada noite, achando que era Anahí, mas nunca fora ela. Nenhum tabu fora rompido, pois ele poderia fazer sexo com qualquer mulher da aldeia que não fosse sua dona. Por outro lado, ele havia pecado, e muito - e sequer havia sido com Anahí.
A essa altura, tal descoberta já pouco importava para Ubiratan. O jovem sentia-se traído por todos. Agora que a verdade se estabelecia, a alegria de estar com Anahí se esvaziava, vendo que tudo era um embuste. Ela nunca o quis, somente tinha pena dele.
Se há algo degradante é que a mulher amada lhe tenha pena. Pode-se superar tudo, ódio, raiva, paixão ou amor, mas pena, não. É humilhante para o orgulho, e com Ubiratan não era diferente. Não importava que ele pudesse fazer sexo com as outras, não fazia diferença que hovesse sido chupado e cavalgado, ou mesmo que tivesse enrrabado umas tantas delas. Anahí não sentia nada por ele além de pena. Isso era tudo, esse nada, esse vazio.
Com estes pensamentos consumindo a alma, quando o cacique o chamou para conversar, quem se apresentou diante dele não foi Ubiratan: foi um fantasma que um dia ostentou o nome de Lança Dura. Contudo, o chefe não queria falar sobre Anahí, nem sobre as índias que o haviam usado.
Já transcorridos dois anos, um outro navio aportara na baía e seus tripulantes buscavam estabelecer contato. Vendo que traziam muitas ferramentas, o chefe queria saber sobre suas intenções. A vantagem é que possuíam um tradutor: o próprio Ubiratan.
O branco despediu-se da aldeia, voltou a ser Sender Harlan e foi viver entre os brancos na baía. De tão frustrado pelo engano de Anahí, Ubiratan aceitou a proposta do chefe. Qualquer coisa seria melhor que seguir vivendo ali, junto à mulher que lhe enganara.
Se ele havia causado espanto entre os índios anos atrás, agora eram os brancos que assistiram boquiabertos sua chegada. Encontrar aquele homem loiro, bronzeado e nu, que falava o idioma local, era inusitado demais. Sender nem precisou de muito para entender o que queriam. Viu que os brancos construíam um trapiche na baía e um forte protegido, ou seja, eles vinham para ficar, por bem ou por mal.
Para Sender, não lhe importava que os brancos tomassem aquelas terras. Ele só queria esquecer a desilusão causada por Anahí, as mentiras das índias e o desprezo dos índios. Pediu para ir embora o quanto antes, mas os brancos não permitiram, visto que era útil como tradutor. As diferenças com os índios surgiam o tempo todo, era uma relação tensa e frágil, onde episódios de enfrentamento aconteciam com frequência.
Os meses passavam, o assentamento branco se consolidava, o conflito entre as duas etnias se acirrava, mas Sender quase sempre estava no trapiche, sentado, o olhar vazio, vendo navios com cargas chegarem e partirem, sem poder ir junto. Rodeado de homens rudes, vendo a paz tornar-se um sonho impossível, sabia que a vida de todos ali, brancos e índios, em breve os atiraria num confronto sangrento.
Enquanto isso, o sono do rapaz era povoado de pesadelos sobre as noites em que as índias o enganavam, onde seu corpo era usado pelas mulheres enquanto Anahí gargalhava e dava ordens para que lhe chupassem e cavalgassem, ditando se devia ser pela frente ou por trás, como se ele fosse um brinquedo. Noutros, a índia aparecia nua, de pernas abertas e sexo exposto, masturbando-se enquanto debochava, dizendo que ele era um miserável digno de pena - e que por isso ela preferia morrer virgem a ter com ele.
Numa de das reuniões com o emissário indígena para tratar sobre os conflitos entre a tribo e os brancos, como não lhe importava nenhum dos lados, terminou confessando que os brancos nunca iriam embora e que era melhor a tribo se preparar, pois seria conquistada, seus guerreiros feitos de escravos e suas mulheres transformadas em putas. Era inevitável.
O mensageiro, em vez de se preocupar, manteve o olhar tranquilo e apenas comentou: “Isso é o que eles pensam, temos como evitá-lo. Uma de nós permanece virgem e, caso seja necessário, a sacrificamos e comemos sua carne sagrada em honra ao deus que nos protege. Chegou a hora de Anahí ser útil.”
Em segundos, tudo mudou para Sender. Agora ele entendia porque Anahí era proibida. E se sofria por achar que a índia lhe tinha pena, agora era ele que sentia lástima dela. E a lástima evoluiu para angústia, a angústia passou a ser desespero, e o desespero era movido por um sentimento que o tomou de surpresa: amor.
Afoito, Sender tomou o caminho da aldeia, pensando como poderia reverter a situação e salvar Anahí. Foi somente quando a viu no Rio sozinha, já ao cair da tarde, que a ideia veio à sua mente. Nem bem Anahí pisou a areia branca das margens do rio, Sender atirou-se abruptamente sobre ela, retendo seu corpo e derrubando-a no chão com ele. A Índia assustou-se e se debateu, mas não conseguiu escapar.
No bate-rebate entre os dois, o rapaz conseguiu com esforço estar deitado sobre ela, encaixado entre suas pernas, já posicionando a ferramenta no ponto exato para penetrá-la à força, quando algo inusitado aconteceu: Ubiratan broxou. Sua lança, até então sempre dura quando estava junto a ela, o traiu e esmaeceu, sem poder concretizar o que veio fazer.
Sua intenção era possuir Anahí, ainda que contra sua vontade, para que ela não fosse mais virgem e assim escapasse da morte, mas nem isso ele conseguiu. O amor que tinha por ela o impedia de tê-la contra sua vontade.
E foi então que Anahí o surpreendeu. A índia girou o corpo derrubando-o, reteve suas mãos pelos lados e se posicionou montada sobre ele, tendo o instrumento flácido entre suas coxas. Daí começou a movimentar-se, gemendo baixinho ao sentir que aquilo crescia entre os lábios de seu sexo. Ubiratan não sabia o que pensar, mas ela o estava possuindo por vontade própria. Era amor? Era desejo? Ele não entendia.
Bem quando o sol ia baixando e pintava o rio de dourado, Anahí subiu em Ubiratan fazendo-o meter-se dentro dela, devagar, pouco a pouco, até que ele rompesse a membrana de sua inocência e a fizesse mulher de fato. Sem que nenhum deles dissesse palavra, com os olhos fixos um no outro e as mãos entrelaçadas, entregaram-se àquele momento como se fosse o único de suas atormentadas vidas que fizesse algum sentido.
Atingiram o gozo juntos, com ele ainda dentro dela. Anahí, pela primeira vez naquele encontro, deixou a tensão de seu corpo a um lado e deitou-se sobre ele, muda. Pequenos soluços brotaram da mulher, chorando calada. Ubiratan quis confortá-la, dizendo que aquilo fora tudo o que ele sempre quis, mas ela pareceu arrependida, argumentando que agora seu povo estava condenado. Por mais que ela quisesse, não deveria ter cedido ao desejo e se entregado. Devia isso à tribo, e os decepcionaria.
Decidiram então ir juntos ver o cacique e confessar o ocorrido, mas, quando chegaram na oca central, encontraram o mensageiro enviado por Sender proferindo a sentença de que a guerra era inevitável. A única esperança dos índios era sacrificar uma virgem e devorá-la para contentar ao seu deus e pedir proteção, contudo, nem bem o cacique os viu entrando de mãos dadas, entendeu logo o que havia acontecido.
Anahí estava perdida e não servia mais para o sacrifício. Tudo culpa de Ubiratan, aquele branco que receberam na tribo os traicionou, acabando com o derradeiro recurso que dispunham para evitar o próprio massacre. Mas o jovem não via as coisas assim, sabia que nenhum deus os protegeria e que o domínio dos invasores cairia sobre a aldeia, independentemente de quantas virgens sacrificassem tentando evitá-lo.
Enquanto argumentava, Ubiratan observou o desânimo de uns, a raiva de outros e, principalmente, não conseguia ignorar a desesperação de Anahí. Decidiu então ele mesmo resolver a questão, pois já não era indiferente ao que aconteça. Deitar-se com a índia foi como escolher um lado: ele agora pertencia à tribo, tendo a missão de lutar pela aldeia.
Tranquilizou os demais e desceu até a praia. Como de costume, entrou no forte e saudou os brancos, mas não se dirigiu ao trapiche onde costumava ficar. Em minutos, voltou a sair pelo portão, acelerou o passo e foi derrubado a cem metros pelo impacto de um estrondo: o paiol carregado de pólvora dos brancos explodiu, fazendo o forte voar pelos ares e matando quase todos. Os índios, esperando na mata, terminaram de dar cabo dos poucos invasores que restaram.
À noite, durante a comemoração na aldeia, Ubiratan e Anahí se distanciaram dos demais. Era hora deles terem sua própria celebração a dois. Ubiratan se sentia realizado e olhava o futuro com confiança, sabendo que seu amor estaria, por fim, sempre ao seu lado.
Anahí, por sua vez, sentia algo mais: orgulho. Desde que encontraram Sender na praia, foi ela quem convenceu os índios a levarem-no até a aldeia e se responsabilizou pelo branco e, imaginando que seria útil no futuro, ensinou-lhe a língua e os costumes de seu povo.
Quando o segundo barco aportou, ela soube que o momento chegara e tramou com as índias para que Ubiratan quisesse ir-se de ali com os brancos no forte. À medida que os conflitos aumentaram, foi Anahí quem orientou ao mensageiro para contar sobre sua virgindade e o sacrifício ao deus, de forma que o rapaz ficasse desesperado.
Quando o rapaz não conseguiu tirar-lhe a virgindade, ela tomou as rédeas e praticamente se desvirginou sobre ele. Isso era essencial, somente assim teriam a fidelidade do branco contra seus oponentes. Seu cálculo foi tão preciso que Ubiratan terminou matando a todos.
Então, além de celebrar por não haver sido sacrificada e morrer virgem, Anahí se asseguraria de que Ubiratan sempre estivesse do lado deles, afinal, se dois navios já aportaram na pequena baía de Guaná, certamente muitos outros viriam - e os índios precisavam do branco para eliminar as ameaças que trariam consigo.
Além disso, tinha aquela lança dura dele, uma grande vantagem a mais…