O rabo do novato

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 4093 palavras
Data: 07/08/2025 08:27:13
Última revisão: 07/08/2025 08:36:54

O ar. É sempre a primeira coisa que se nota. Um caldo denso, pesado, com o cheiro acre de suor masculino e o odor característico da borracha do tatame. Um perfume que, para qualquer outro, seria repulsivo. Para mim, é o cheiro de casa. De disciplina. De controle.

Meus joelhos protestam em silêncio enquanto me levanto. O último treino do dia sempre drena o que resta de energia. Vinte homens, corpos exaustos espalhados pelo tatame azul, respirando em uníssono, um ritmo que eu mesmo ditei por uma hora e meia. Estou no centro, o kimono branco, já pesado e úmido, grudando nos meus ombros e costas. A faixa preta, gasta nas bordas, é um cinto de segurança, um lembrete constante de quem eu sou neste lugar. O professor. O dono. O controle em pessoa.

"A pegada na gola, pessoal," minha voz sai mais grave, cansada. "Não é força bruta. É jeito. O polegar para dentro, os quatro dedos como um gancho. A faca da mão pressionando a clavícula. Desse jeito, você não estrangula, você corta a circulação. É mais rápido. Mais limpo."

Demonstro no meu aluno mais antigo, o Marcos, que se oferece como um cordeiro para o abate. Sinto o snap sutil do tecido, o jeito como a trama do algodão se firma sob a pressão dos meus dedos calejados. É memória muscular. Uma segunda natureza.

É nesse exato momento, no ápice da minha concentração, que o sino eletrônico da porta soa. Um som agudo, quase ofensivo na atmosfera abafada da academia.

Instintivamente, meus olhos se desviam para a entrada.

A luz do fim de tarde entra com ele, recortando uma silhueta que não pertence a este lugar. Não é o corpo denso e compacto de um lutador de jiu-jitsu, moldado por anos de pressão e torção. É outra coisa. Uma escultura. O tipo de corpo que se constrói com ferro, repetição e uma dieta calculada, não com o caos controlado de um combate.

Ele está parado perto do balcão, vestindo uma regata preta que parece duas vezes menor que o necessário e uma bermuda de tactel. A luz lateral ilumina os vales e picos dos seus músculos. Os ombros são largos, mas a cintura é fina. As fibras do peitoral se esticam sob o algodão. Os braços são um mapa de veias e tendões. Ele não está aqui para lutar. Ele está aqui para ser visto.

Meu foco se quebra. Sinto os olhares dos meus alunos se dividirem entre mim e o novato. Uma irritação fria sobe pela minha espinha. Odeio interrupções. Odeio quebras de ritual.

Nossos olhos se cruzam. É um instante, nada mais. Mas é o suficiente. Ele não desvia o olhar com timidez, como a maioria dos iniciantes faz ao encarar o professor no meio de uma demonstração. Ele sustenta. E então, o canto da sua boca se ergue. Um sorriso mínimo, quase imperceptível. Um sorriso que diz: Eu sei que você está me olhando. E eu estou olhando de volta.

Engulo em seco. A saliva parece grossa. Forço um aceno de cabeça, curto e seco. Uma demarcação de território. Eu sou o professor. Você é o visitante. Volto minha atenção para o Marcos, para a gola do seu kimono, mas a imagem do garoto na porta está gravada na minha retina.

"Entendido? Pratiquem a pegada. Sem finalização, só a posição."

A aula se encerra minutos depois. A saudação em fila, o "Oss" gutural ecoando pelo salão. Um por um, os alunos se levantam, me cumprimentam com um toque de punhos e seguem para o vestiário. O som das conversas, das mochilas sendo fechadas, da água correndo nos chuveiros. O barulho familiar do dever cumprido.

Mas minha mente não está ali. Está no silêncio que se instalou perto do balcão.

Ele não se moveu. Continuou lá, observando tudo, os braços cruzados sobre o peito, o que só servia para acentuar ainda mais seu físico. Ele me assistiu dispensar os alunos, me assistiu enrolar minha faixa preta e colocá-la sobre o ombro. Cada movimento meu parecia estar sob um microscópio. Sinto um calor na nuca, uma consciência do meu próprio corpo que normalmente ignoro. O suor escorrendo pela minha testa, o kimono pesado, a respiração ainda se normalizando.

Deixo o tatame, meus pés descalços fazendo um som macio na borracha. Cada passo em sua direção parece deliberado, pesado. Eu deveria ignorá-lo, ir para o meu escritório, deixar que ele esperasse. Seria a atitude de um profissional. Mas a curiosidade, essa maldita e traiçoeira curiosidade, me puxa como um imã.

Paro do outro lado do balcão de madeira. Ele é mais alto do que eu imaginava. Talvez a minha idade, vinte e nove anos, já tenha começado a me encolher. Ou talvez seja a juventude dele, essa energia que irradia e parece ocupar todo o espaço.

"Boa noite. Posso ajudar?" A minha voz soa controlada. Profissional. É a voz que uso para vender planos e acalmar pais preocupados.

Seus olhos, de um castanho surpreendentemente claro, não encontram os meus. Não de imediato. Eles começam uma viagem descarada, lenta e deliberada pelo meu corpo. Dos meus ombros, largos pela genética e pelos anos de treino, descem para o V aberto do meu kimono, onde meu peito suado e meus pelos escuros estão expostos. Param no meu peitoral, demoram ali, e então descem pela faixa amarrada na minha cintura, que não consegue esconder o volume do meu tronco. A viagem termina nas minhas mãos, apoiadas sobre o balcão. Mãos de lutador, com os nós dos dedos engrossados e a pele marcada por calos. Só então, depois dessa inspeção que pareceu durar uma eternidade, seus olhos sobem para encontrar os meus.

"Boa noite," a voz dele é suave, mas com uma ressonância grave que eu não esperava. "Queria informações sobre as aulas. Me chamo Ulisses."

Um nome clássico. Forte. Combina com ele.

"Josué. Bem-vindo." Meu nome soa rústico, pesado, em comparação. "Você já treinou alguma arte marcial antes?"

Eu preciso manter o roteiro. O roteiro é seguro.

"Não, só academia," ele confirma o que meu primeiro olhar já havia diagnosticado. "Puxar ferro." Ele faz um gesto com a mão, como se estivesse descartando a atividade. "Queria algo pra complementar, sabe? Defesa pessoal, mais agilidade..."

Ele para. A pausa é intencional. Seus olhos brilham com uma fagulha de malícia.

"...E ouvi dizer que o professor daqui era bom."

A palavra "bom" paira no ar entre nós. Ele não a disse de forma casual. Houve uma ênfase, uma inflexão quase íntima, que a carregou de um segundo sentido. Meu coração dá um solavanco. Um único e pesado baque contra minhas costelas. O calor na minha nuca se intensifica, se espalhando pelo pescoço. Ele está flertando comigo? Aqui? Na minha academia? A ideia é tão absurda, tão fora do meu universo de disciplina e suor, que minha primeira reação é a negação. É coisa da minha cabeça. Eu estou cansado, vendo coisas.

"O jiu-jitsu é excelente pra isso," respondo, a voz um pouco mais rígida do que eu gostaria. Ignoro a isca. "Trabalha o corpo todo e, principalmente, a mente. Temos um plano experimental de duas aulas. Pode começar amanhã mesmo, se quiser."

Foco no profissional. Foco no negócio.

"Perfeito," ele sorri, e o sorriso transforma seu rosto. Deixa de ser um garoto bonito para ser algo... perigoso. "Amanhã estarei aqui. Preciso de um kimono especial ou...?"

Ele se inclina sobre o balcão. O movimento é fluido, casual, mas quebra a distância segura que a madeira nos proporcionava. Agora ele está perto. Perto o suficiente para que seu cheiro chegue até mim, cortando o odor familiar da academia. É um perfume amadeirado, sim, mas com algo cítrico, afiado. Cheiro de juventude, de pele limpa, de intenção.

Meu corpo reage antes que minha mente possa processar. Dou um passo instintivo para trás, um recuo mínimo, mas que ele certamente nota. Droga. Perdi o controle por um segundo.

"Para a aula experimental, pode vir com uma roupa de ginástica confortável. Sem zíperes ou botões," digo, rápido demais. "Se decidir ficar, te oriento sobre o kimono."

Ele parece se divertir com a minha reação. Aquele sorriso de canto volta a aparecer. "Entendido, professor Josué."

A forma como ele diz "professor" é outra facada. Não soa como respeito. Soa como um desafio. Como se ele estivesse testando o peso do título.

Então, ele estende a mão sobre o balcão.

Hesito por uma fração de segundo. Tocar nele parece uma péssima ideia. Uma ideia catastrófica. Mas não apertar sua mão seria uma quebra de protocolo, uma grosseria inexplicável. Seria uma confissão de que ele me afeta.

Minha mão encontra a dele. O contraste é imediato e chocante. A minha é áspera, calejada, uma ferramenta de trabalho. A dele é firme, a pele lisa, mas o aperto é forte, cheio de uma força contida que vem da musculação. É a mão de alguém que sabe o que quer.

E então, o detalhe que incendeia tudo. Quando o aperto de mão deveria terminar, seus dedos demoram. Um segundo. Talvez dois. Um tempo ínfimo, mas longo o suficiente para ser inquestionavelmente deliberado. Seu polegar roça levemente o meu. É um toque sutil, quase um acidente, mas no silêncio da academia vazia, ele grita.

Eu puxo minha mão de volta. O calor do seu toque parece ter me marcado a pele.

O sorriso dele agora é aberto, vitorioso. Predatório. "Até amanhã."

Ele se vira com a mesma fluidez com que entrou e sai pela porta de vidro. O sino soa novamente, anunciando sua partida.

Fico parado. Completamente imóvel. O silêncio que ele deixa para trás é diferente. É mais pesado, carregado com a energia dele, com o cheiro do seu perfume que ainda flutua no ar. Olho para a minha mão direita, semiaberta sobre o balcão. Quase consigo sentir o calor da sua pele, a pressão dos seus dedos.

Minha vida é regrada. Acordar, treinar, dar aula, comer, dormir. As emoções são um luxo que deixei para trás há muito tempo, junto com relacionamentos complicados e expectativas furadas. Meu corpo é uma máquina de lutar, minha mente é um manual de estratégias. Simples. Funcional. Controlado.

Este garoto... Ulisses... ele entrou aqui e, em menos de cinco minutos, bagunçou tudo. Ele não olhou para o lutador. Ele olhou para o homem. E o homem, esse estranho que vive dentro de mim, respondeu. Meu coração ainda bate um pouco mais rápido. Um arrepio tardio percorre meus braços.

"Problema", a palavra se forma na minha mente, um sussurro sombrio. Não é uma constatação, é uma profecia. "Esse garoto vai ser um problema."

Um problema que eu, por algum motivo doentio e autodestrutivo, já estou ansioso para encontrar amanhã.

Uma semana. Sete dias. Sete treinos.

A palavra "problema" se tornou a nota de fundo da minha existência. Ela está lá quando eu abro a academia de manhã, um eco no salão vazio. Está lá quando eu vejo o carro dele estacionar na vaga da frente, sempre dez minutos adiantado. E está definitivamente aqui, agora, pulsando em minhas veias enquanto o peso do seu corpo se move sob o meu.

Ulisses.

Ele é um aluno exemplar. O tipo que todo professor sonha em ter. Focado, aprende rápido, não reclama da repetição. Mas sua dedicação é uma faca de dois gumes. Ele não está apenas aprendendo jiu-jitsu. Ele está me aprendendo. Me estudando. E, a cada dia, usando o próprio esporte — o meu esporte, a minha arte — como uma arma contra mim.

O ar está mais pesado hoje. Ou talvez seja apenas a minha percepção. O cheiro de suor e borracha agora tem o acréscimo do perfume dele, que mesmo o esforço físico não consegue apagar completamente. Estamos praticando passagem de guarda. Eu estou por cima, dentro da guarda fechada dele, demonstrando a técnica para a turma. A posição mais íntima e, ao mesmo tempo, mais fundamental do jiu-jitsu.

E, claro, ele se ofereceu como meu uke, meu parceiro de demonstração. Com um sorriso ansioso demais.

"A guarda fechada é uma posição de controle para quem está por baixo," explico para a turma, mas minha consciência está focada em outra coisa. No calor que irradia do corpo dele e atravessa meu kimono, aquecendo meu peito e meu abdômen. Na maneira como suas pernas, fortes e definidas, estão cruzadas nas minhas costas, um abraço de aço que é ao mesmo tempo técnico e possessivo.

O rash guard preto que ele usa está colado em seu torso pelo suor. A lycra brilha sob a luz fria da academia, um mapa preciso de cada músculo do seu peitoral e abdômen. É um corpo diferente do meu, que é mais denso, um bloco de força construído para suportar pressão. O dele é elástico, felino. Cada músculo parece um fio de aço tensionado, pronto para explodir em movimento.

Minha mão direita segura a lapela dele, perto do ombro. Meu antebraço esquerdo pressiona seu bíceps. Posição padrão. Livro de regras. Seguro. Mas nada parece seguro quando se trata dele.

"O objetivo de quem está por cima é quebrar a postura e abrir a guarda. O de quem está por baixo é desequilibrar e atacar." Minha voz soa distante, como se pertencesse a outra pessoa. O verdadeiro Josué está gritando aqui dentro, ciente de cada milímetro de contato entre nós.

"Presta atenção aqui, Ulisses." Eu o chamo pelo nome, e sinto uma vibração percorrer seu corpo. "Você precisa controlar meu quadril com suas pernas para me impedir de avançar. Sinta o peso."

Para demonstrar, eu projeto meu corpo para frente, pressionando meu quadril contra o dele. É um movimento técnico. Necessário. Mas no momento em que nossos corpos se alinham dessa forma, uma corrente elétrica percorre minha espinha. Sinto a dureza dos seus músculos abdominais contra a minha barriga. Sinto a força de suas coxas apertando minha cintura. É pura física, mas minha mente traiçoeira a traduz para outra linguagem. Uma linguagem de domínio e entrega.

Ele arfa. Um som baixo, quase inaudível para a turma, mas alto como um trovão para mim. Seus olhos, que deveriam estar focados na técnica, estão cravados nos meus. A respiração dele está acelerada, o peito subindo e descendo rapidamente sob o meu.

"Estou sentindo, professor." Sua voz é um sussurro rouco. "É muita pressão."

As palavras são inocentes. O olhar, não. Seu olhar é uma confissão. Ele está sentindo exatamente o que eu estou sentindo. E, ao contrário de mim, ele não está lutando contra isso. Ele está se deleitando.

Engulo em seco, o coração martelando contra as costelas. Preciso sair daqui. Preciso quebrar o contato.

"Agora, a pegada," forço a próxima instrução, a voz um pouco trêmula. "Domine minha gola e minha manga. Não me deixe estabilizar a posição."

Ele obedece. Sua mão esquerda busca minha manga direita, o aperto firme. Sua mão direita sobe em direção à minha gola. Mas o caminho que ela faz não é o mais curto. É um desvio deliberado. Seus dedos, quentes e úmidos, roçam a pele exposta do meu pescoço antes de se fecharem no tecido do kimono. Foi um toque rápido, mas carregado de intenção. Um arrepio violento percorre meu corpo, eriçando os pelos da minha nuca.

É o suficiente.

Eu me afasto bruscamente, quebrando a posição. Me levanto, dando as costas para ele por um instante, tentando recompor a máscara de professor.

"Foco na técnica, Ulisses." Minha voz sai ríspida, mais dura do que eu pretendia. É uma ordem para ele, mas também um grito de guerra para mim mesmo.

Quando me viro, ele está me olhando do chão, a cabeça ligeiramente inclinada. No seu rosto, uma máscara de perfeita inocência. Mas seus olhos... seus olhos dançam com malícia.

"Desculpe, professor," ele diz, o tom falsamente arrependido. "É que às vezes eu me perco na movimentação." Ele faz uma pausa, e o sorriso retorna, sutil e devastador. "Você poderia mostrar de novo? Mais devagar? Quero ter certeza de que estou pegando o jeito certo."

É um xeque-mate. Ele sabe que não posso recusar. Ele está usando as regras do meu mundo contra mim. A turma observa, esperando. Recusar seria admitir que há algo errado. Seria admitir que ele me afeta.

Volto para a guarda dele, o corpo rígido de tensão. Repito o movimento, mas desta vez estou hiperconsciente de tudo. Do jeito como ele ajusta o quadril para aumentar o contato. Do jeito como sua respiração bate contra meu rosto. Do jeito como seus dedos "acidentalmente" encontram minha pele.

O inferno continua depois que a aula termina.

"Professor, pode me dar uma ajuda?"

A frase se tornou seu ritual diário. Enquanto os outros alunos vão para o vestiário, ele permanece. Sempre com uma dúvida "técnica". E, curiosamente, suas dúvidas são sempre sobre as posições de maior contato físico.

Na segunda-feira, foi o mata-leão. "Não estou sentindo a pressão certa", ele disse, enquanto eu estava atrás dele, meu peito colado em suas costas, meu braço em volta do seu pescoço. Eu podia sentir o calor de sua pele, o cheiro do seu cabelo. Tive que explicar, com a voz falhando, que o estrangulamento era sanguíneo, não aéreo, enquanto meu corpo inteiro gritava outra coisa.

Na quarta, foi a montada. Ele alegou que não conseguia manter o equilíbrio. "Acho que meu quadril está muito alto", disse ele, deitado sob mim, enquanto minhas pernas prendiam seu torso e minhas mãos estavam espalmadas no tatame, ao lado de sua cabeça. Nossos corpos estavam alinhados da cabeça aos pés. Eu podia sentir cada contorno do seu físico, cada respiração que ele dava. Ele olhava para mim de baixo, os lábios entreabertos, e eu senti um impulso primitivo de baixar meu rosto e acabar com aquilo de uma vez por todas.

Hoje, depois da aula de passagem de guarda, ele quer treinar a chave de braço da montada.

"Eu sempre perco a pegada quando a pessoa se defende", ele diz, já se deitando no tatame e me esperando.

Respiro fundo. É uma péssima ideia. É a pior das ideias. Mas os últimos resquícios do meu profissionalismo me obrigam a concordar.

Monto sobre ele. O movimento já é familiar, quase um hábito profano. Prendo seu braço, passo a perna sobre sua cabeça. Nossos corpos estão entrelaçados, um nó de membros e suor. Meu rosto está a centímetros do dele. Sua outra mão, a que está livre, em vez de defender a técnica, repousa perigosamente perto da minha coxa.

"Veja," eu começo, a voz tensa. "Você precisa isolar o ombro e..."

"Professor," ele me interrompe. Sua voz é baixa, íntima. A academia está vazia, o único som é o da nossa respiração. "Você é muito forte."

Não é um elogio à minha técnica. É algo pessoal. Sua mão livre se move, e seus dedos tocam a parte interna da minha coxa, sobre o tecido do kimono. Um toque leve, exploratório.

Meu corpo inteiro congela. O ar fica preso nos meus pulmões. O tempo para.

O toque dura um, dois, três segundos. Três segundos em que todo o meu autocontrole, toda a minha disciplina, toda a fachada de "Professor Josué" se desfaz em pó. Eu não sou mais um professor. Eu sou um homem. Um homem sendo provocado até o limite por um garoto que sabe exatamente o poder que tem.

Eu deveria gritar. Deveria empurrá-lo. Deveria expulsá-lo da minha academia.

Mas não faço nada.

Apenas fico ali, paralisado, sentindo o calor de seu toque queimar através do tecido, incendiando cada nervo do meu corpo.

Ele sabe que venceu a batalha de hoje. Seu sorriso, lento e satisfeito, me diz tudo. Ele retira a mão lentamente, como se nunca a tivesse colocado ali.

"Acho que entendi agora," ele sussurra, os olhos brilhando em triunfo. "Obrigado pela ajuda, professor."

Ele se desenrola de mim e se levanta com uma agilidade que me falta no momento. Eu continuo no chão, na posição da chave de braço, mas a única coisa que sinto imobilizada é a minha própria vontade.

Ele caminha para o vestiário, e eu fico para trás, no meio do tatame vazio, o silêncio zumbindo em meus ouvidos. O lugar onde eu sempre tive o controle absoluto se tornou o palco da minha rendição. E a parte mais aterrorizante é que uma parte de mim, uma parte sombria e faminta, não quer que isso pare.

Quer ver até onde ele vai. Até onde nós vamos.

A chuva não pede permissão. Ela simplesmente vem. E a de hoje veio com fúria, chicoteando o telhado de zinco da academia com uma violência que abafa o mundo lá fora. Cada gota que bate na cobertura metálica é como um prego no caixão do meu autocontrole. Aqui dentro, não existe a cidade, não existem as regras, não existe nada além do ar pesado e elétrico que vibra entre nós dois.

O último aluno, um novato assustado com a tempestade, foi embora há vinte minutos. Eu deveria ter fechado as portas. Deveria ter dito a Ulisses que a "ajuda extra" de hoje estava cancelada. Mas não o fiz. A verdade, a verdade crua que me recuso a admitir em voz alta, é que eu não queria que ele fosse embora. Eu queria isso. Queria este isolamento. Queria este confronto.

Estou de costas para ele, guardando os últimos equipamentos de treino no armário. Meus movimentos são lentos, deliberados, uma tentativa patética de fingir normalidade. Empilho os escudos de chute com uma precisão cirúrgica. Cada ação é um pretexto para não ter que me virar e encará-lo. Eu o sinto ali, parado no meio do tatame, me observando. O silêncio dele é mais pesado que qualquer palavra, mais alto que a tempestade lá fora.

O ar se move atrás de mim.

Não preciso me virar para saber. Sinto a mudança na pressão, o calor sutil da sua presença se aproximando. Ele caminha sobre o tatame com a leveza de um predador, os pés descalços não fazendo som algum. Mas eu sinto cada passo dele na minha espinha. Ele para. Tão perto que posso sentir o calor que emana de seu corpo nas minhas costas. Tão perto que, se eu respirar fundo, sei que sentirei seu cheiro.

Meu coração, que já batia em um ritmo ansioso, dispara. É um tambor de guerra anunciando a batalha final.

"Já está tarde, Ulisses." Minha voz sai baixa, rouca. Tento manter o tom de professor, mas a mentira é fraca, transparente. "A chuva vai ficar mais forte. Melhor você ir."

O silêncio se estica por um segundo. E então, sua voz. Um sussurro perto da minha orelha direita, tão próximo que sinto a umidade da sua respiração na minha pele.

"Eu não quero ir embora. Não ainda."

Cada palavra é uma carícia, uma provocação. Um arrepio violento me percorre, e meus músculos se enrijecem. Minhas mãos, que seguravam um par de luvas, se fecham com força. O couro estala sob a pressão.

Sinto sua mão no meu ombro.

O toque é leve. Seus dedos apenas repousam sobre o tecido grosso do meu kimono. Mas o contato queima como brasa. Atravessa o algodão, a camiseta, a pele, e incendeia meu sangue. É um toque de posse. Um toque que diz: eu sei que você está perdido.

A luta acaba aqui. Não há mais para onde correr.

Viro-me lentamente. Meu corpo parece se mover em câmera lenta, cada grau da rotação uma agonia e uma antecipação. E então eu o encaro. Seus olhos estão escuros, as pupilas dilatadas, refletindo a luz fraca da academia. Não há mais sorrisos maliciosos, não há mais a máscara de inocência. O que vejo em seu rosto é desejo puro, bruto. O mesmo desejo que deve estar estampado no meu.

"O que você quer, Ulisses?"

A pergunta sai da minha boca como um rosnado. Não é uma pergunta de verdade. É um convite. Uma permissão. Eu sei a resposta. Mas a parte de mim que se agarra aos últimos destroços de controle precisa ouvir as palavras. Precisa que ele assuma a responsabilidade por destruir meu mundo.

Ele não hesita. Seus olhos não desviam dos meus enquanto sua outra mão se move, subindo pelo meu peito. Ele a espalma sobre meu coração. Seus dedos se abrem, sentindo a batida frenética sob as camadas de tecido. Ele sente meu corpo me traindo.

"Eu quero o que você tem me negado desde o primeiro dia que entrei aqui." Sua voz é um veludo áspero, cheia de uma certeza que me desequilibra. "Eu quero o professor. Eu quero Josué."

O ultimato foi dado, o que Josué faria agora? Leia o restante em: https://privacy.com.br/@Regard

Olá pessoal, nesse conto eu decidi explorar a dinâmica na visão de primeira pessoa, espero que gostem.

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