ATENÇÃO: Este capítulo não tem cenas de sexo, mas isso será compensado nos próximos.
Bom dia, leitores! Eu sou o Vinícius. 25 anos. 1,76. Nunca fui muito de falar de mim mesmo, mas se eu tivesse que me apresentar, diria que sou um cara normal. 25 anos, 1,76m, moreno claro, cabelo castanho-escuro meio ondulado (bagunçado quase sempre), olhos castanho. Me visto de maneira simples, às vezes até largada, sem grandes preocupações com marca ou moda. Nunca tive dinheiro sobrando pra luxo e, sinceramente, nunca liguei muito pra roupa de marca ou pra combinação entre camiseta e calça. Gosto de coisas tranquilas, observar mais do que falar, aprender no meu ritmo. Não sou o mais confiante, mas também não sou bobo. E tô sempre tentando. Sempre tentando ser melhor. Às vezes acho que tudo em mim é isso: tentativa.
Trabalho em um cargo júnior numa empresa de importação e exportação. Fui efetivado há pouco tempo, depois de dois anos de estágio puxado.
Meus chefes são o Rogério e a Lorena. Nepobabies, sócios e donos/co-fundadores da empresa. Jovens, bonitos, carismáticos e, meu Deus, absolutamente caóticos. Trabalhar com eles é como estar numa versão brasileira de “The Office”, onde os dois alternam aleatoriamente os papéis de Jim e Dwight. Às vezes um é o cara sensato que resolve tudo com calma; no dia seguinte, o mesmo está organizando uma competição de quem consegue equilibrar mais potinhos de café vazios na cabeça. E o pior: o outro embarca. Pra não falar nas peças que um prega no outro, com direito a dois placares: o primeiro dizendo quem tá “vencendo” no mês e o segundo contando quantos dias sem pegadinhas eles conseguiram manter. Já tive pesadelos em que eu era o Ryan. Sério. Nessa altura, até o Creed eu preferia ser do que o Ryan.
Teve uma vez que o Rogério mandou um e-mail corporativo inteiro usando memes de gatos como analogia de produtividade. E a Lorena respondeu com uma planilha em que os níveis de desempenho estavam divididos entre “gatinho assustado”, “gatinho focado” e “gatinho ninja”. E, sim, isso virou pauta de reunião com pizza no final. Não dá pra saber se estou num lugar genial ou só num surto coletivo muito bem coreografado. Mas é divertido e a empresa tem realmente ido muito bem na liderança deles.
Agora... a Lorena. A Lorena é outra coisa. Não dá nem pra fingir que sou imune à presença dela. Aquela mulher tem um corpo que parece saído de um sonho erótico bem dirigido. Magra, mas não demais. Seios pequenos e empinados, como se desafiassem a gravidade por conta própria. Quadril estreito, mas com uma leveza de movimento que hipnotiza. E a bunda dela tem aquela curvatura perfeita que se nota até sob as roupas mais sérias, como se qualquer calça social que ela vestisse fosse automaticamente redesenhada pra acompanhar as linhas do corpo dela. A pele bronzeada, lisinha, reluz sob a luz do escritório.
Não penso em me envolver com ela. Ela é minha chefe. E, além disso, tem um tipo de liberdade e autoconfiança que intimida. Mas não dá pra negar: cada vez que ela entra numa sala, o ar muda. E eu me pego encarando como um idiota qualquer. Tesão puro, sem nenhuma chance. Mas mesmo assim, inevitável.
Esse tesão todo pela Lorena começou uns meses atrás.
Eu tinha chegado no escritório bem cedo, perto de 7h05. O sol mal tinha se espreguiçado no céu. Achei que seria o primeiro, pra ter um momento de silêncio, café e contemplação. Mas assim que empurrei a porta, quase deixei o coração cair no carpete.
A Lorena já estava ali, de costas pra mim. De shortinho legging.
Suada. Respirando devagar, com fones no ouvido e uma garrafinha na mão. As costas do top colado revelavam um tronco enxuto, os ombros levemente brilhantes de suor. Mas foi a parte de baixo que me travou.
O short colado moldava com perfeição aquela bundinha que eu já tinha notado antes, por debaixo das roupas formais. Mas agora estava mais do que sensual. Era arte. Aqueles glúteos redondinhos, firmes, com volume compacto como se tivessem sido esculpidos. Ela se virou, e eu gelei.
— Vinícius? — Tirou um dos fones, me olhando surpresa. — Que susto! Achei que fosse o zelador Quincas de novo.
De novo? Ignorei.
— Eu também. — Sorri, sem saber onde colocar os olhos. — Resolvi chegar mais cedo hoje. Mas, pelo visto, perdi o troféu "primeiro do dia".
Ela riu, aquele riso leve, com gosto de liberdade.
— Pois é... Terças e quintas eu venho dar umas voltas na pracinha aqui do lado. Aproveito os aparelhos de ginástica e dou uma suada. Nesse horário, não tem sol, não tem muvuca. Só eu, uns velhinhos, dois outros fitness e as minhas músicas.
Assenti, ainda meio zonzo. O suor escorria entre seus seios, escondidos pelo top, mas a minha mente fazia questão de imaginar o que estava por trás do tecido.
— Devia vir um dia também — disse ela, bebendo da garrafinha. — Me fazer companhia. Malhar comigo.
Fiquei uns segundos pensando se aquilo era um convite de verdade ou só uma daquelas coisas que as pessoas dizem pra serem simpáticas. Com a Lorena, era difícil saber. Ela tinha esse jeito espontâneo que podia significar qualquer coisa e nada ao mesmo tempo.
— Bom... — falei, coçando a nuca — Eu até curto me mexer, mas sou mais do tipo que pensa demais antes de sair da cama.
Ela deu um meio sorriso.
— Aí é que você precisa de um empurrãozinho. Eu cobro, hein? Terça que vem, te espero sete e meia na porta. Sem desculpa.
Sorri de volta, meio sem jeito.
— Prometer, eu não prometo. Mas posso pensar no caso.
— Pensar já é um primeiro passo — respondeu, ainda sorrindo, enquanto se virava em direção ao corredor. — Vou tomar uma ducha antes que você me veja toda derretida.
Já tinha visto.
E continuei vendo, enquanto ela se afastava. O short colado acompanhava o rebolado sutil da bundinha dela. Cada passo era uma provocação. O tecido puxava levemente na divisão das nádegas, dando uma ideia mais clara da textura, da firmeza, da perfeição da curva. Meu pau deu sinal de vida e eu disfarcei, ajeitando o cinto.
Aquela confiança, aquele corpitcho de deusa e aquele jeito natural de falar com todo mundo... Eu queria comer a Lorena, mais do que queria admitir. Mas também sabia que ela estava em outro patamar. Eu era só um ex-estagiário esforçado com uma camiseta que comprei em promoção e sapato com a sola meio gasta.
As coisas continuaram assim, entre confusões corporativas comuns e sem sexo até a semana passada.
Era uma quarta-feira, dia de home office pra maior parte da equipe, então as baias estavam praticamente vazias. A ausência de vozes e ruído de digitação criava um clima meio fantasmagórico.
O relógio do computador marcava 12h07 quando decidi levantar da minha baia pra alongar as pernas. Já tava meio travado. Segui pelo corredor estreito entre os setores, em direção à copa. Passei em frente ao almoxarifado mas um som abafado me fez diminuir o passo.
Gemidos. Altos, ritmados, intensos. Aquele tipo de barulho que não dá margem pra dúvida. Parei por meio segundo. Alguém tava transando no almoxarifado. A constatação bateu tão rápido quanto a incredulidade. Quem é que decide meter em horário de expediente, dentro da empresa, e ainda por cima num lugar apertado, cheio de caixa de toner velho e papel A4?
Meus olhos foram direto pra maçaneta da porta, trancada por dentro. Os sons não davam trégua. Era barulho de corpo se chocando contra corpo, uma sequência insana de gemidos, como se tivessem esquecido completamente onde estavam. Um nível de intensidade que eu só tinha ouvido em vídeo.
Segui pra copa. Peguei minha quentinha na geladeira e sentei na mesinha do canto. Tinham umas três pessoas, no máximo, que vieram presencial. Ninguém parecia saber do que tava acontecendo no corredor. Fiquei ali, comendo em silêncio. Quando o relógio bateu 12h42, levantei e segui pelo mesmo corredor de antes. E foi aí que escutei de novo.
Gemidos. Batidas. Agora até o som abafado de alguém batendo contra a parede. Meu passo diminuiu por instinto. Eles ainda estavam lá. E, pelo jeito, num segundo round. Isso era sério. Quem é que trepa por quase uma hora seguida sem descanso? Ou tinham dado uma pausa e voltado? Tinha algo de doente e fascinante ao mesmo tempo.
Voltei pro setor, tentei me concentrar. Digitei planilhas, respondi e-mails, revisei relatório. Já eram 14h18 quando bateu a fome de novo. Aquela vontade de um cafezinho e um pão com margarina. Levantei e fui pra copa outra vez. Quando passei pelo almoxarifado, pela terceira vez...
Gemidos. Ainda. Inacreditável. A porra dos gemidos continuavam. E não era gemido tímido, contido. Era barulho mesmo. A foda seguia firme. Quem transava por quase três horas seguidas? Algum deles devia tá tomando algo. Não era possível. Devia ser o quarto round. Ou eles só transavam quando eu passava.
Fui pra copa, tomei um café morno, mastiguei um biscoito velho e fiquei lá, parado. O silêncio da copa contrastava demais com o que rolava a poucos metros dali. Quando dei por mim, já era 14h47. Hora de voltar.
Quando virei no corredor, vi a maçaneta do almoxarifado girando.
Meu corpo agiu antes da cabeça. Me escondi atrás de uma divisória do setor de TI, numa posição ridícula. Me senti meio idiota por isso, mas a curiosidade era mais forte. Quem eram os coelhos incansáveis?
A porta se abriu devagar. A primeira pessoa a sair foi o Rogério.
Sim. O Rogério, meu chefe. Com o cabelo bagunçado, camisa social toda amarrotada e cara de quem sabia que tava fazendo merda. Ele olhou pros lados com cautela, passos calculados. Parecia envergonhado, mas atento. Não queria ser pego no flagra. Congelei. Três horas trepando no almoxarifado do trabalho. Era a pessoa mais improvável, e ao mesmo tempo, talvez, a mais óbvia de fazer isso.
Estava esperando pra saber quem era a mulher que tinha aguentado essa maratona sexual. Ela ainda não tinha saído. Fiquei parado, coração acelerado. Era agora. Queria saber quem era.
E foi aí que escutei um barulho vindo da copa. Um copo caindo no chão, alguém xingando. Instintivamente, olhei pra lá. Reflexo. Demorei três segundos. Quando voltei os olhos pro corredor, a porta já estava fechada. Tanto o Rogério quanto a mulher já tinha desaparecido. Os dois sabiam que tavam fazendo coisa errada, então eram bem rápidos pra sumir.
Suspirei, frustrado. Meu momento de detetive, arruinado por um copo e um xingamento.
Uns quinze minutos depois, tive que descer até o prédio vizinho pra resolver uma pendência com o financeiro da empresa que prestava serviço de folha. O sistema tava fora do ar e eles precisavam que alguém assinasse um protocolo de recebimento presencialmente. Claro que sobrou pra mim. Ninguém mais do meu setor estava no escritório naquele dia.
No elevador, já aberto, tinha apenas uma mulher lá dentro.
Por instinto, me ajeitei num canto e evitei o impulso automático de encarar. Mas não teve como não reparar. Era o tipo de mulher que deixava o ambiente mais denso só com a presença. Além de linda pra caralho, ela tinha um tipo de sensualidade que parecia emanar da pele dela. Uma aura quente.
Pele amendoada, cabelos castanho-claros com mechas mais claras nas pontas, ondulados e caindo até a metade das costas. O partido lateral deixava algumas mechas soltas sobre o ombro direito. A boca bem desenhada, lábios carnudos marcados por um batom escuro, e um nariz elegante.
Mas foi o corpo dela que me pegou de jeito. A calça jeans skinny azul-escura marcava cada centímetro das pernas. As coxas cheias, torneadas, panturrilhas bem definidas. A cintura era bem delineada os quadris largos. A bundinha, cheia, redondinha, empinadinha, firme. A blusa que ela usava era básica, sem decote nem transparência, mas colada o bastante pra sugerir o formato natural dos seios médios o suficiente pra desenhar o contorno sob o tecido e despertar o pensamento de como seria sem ele.
Fiquei mudo. Intimidado mesmo. Aquela mulher parecia inalcançável. O tipo de beleza que te cala. A presença dela me fez lembrar que eu tava de tênis meio sujo e camiseta amassada, e por um instante, senti vergonha de existir ali.
A porta se fechou e o elevador começou a descer.
Logo no andar seguinte, ele parou. Entraram sete pessoas. No próximo, mais quatro. E o espaço ficando cada vez mais apertado. A mulher não tinha se mexido. Continuava de frente, postura ereta, com o olhar à frente. Eu fui sendo empurrado, espremido no espaço limitado, até me ver logo atrás dela.
Tentei manter distância, juro. Mas chegou um ponto em que era impossível. No 14º andar, quando entrou mais um grupo, fui empurrado de leve contra ela. Senti meu corpo encostar no dela. Mais especificamente, meu quadril contra a bunda dela.
Na mesma hora, meu corpo gelou. Meus músculos travaram. Merda. Eu tava encostando meu pau na bunda de uma desconhecida em pleno elevador. Era só por causa do aperto, mas o meu pau tava esfregando, mesmo que leve, no meio daquela bundinha redonda, com o jeans apertando tudo no lugar.
Esperei a reação. Uma virada de cabeça. Um olhar atravessado. Um “licença” indignado. Qualquer coisa. Mas nada aconteceu. Ela só deu uma olhada rápida de canto de olho e voltou pra frente, impassível.
Pensei em pedir desculpas, mas o aperto não me dava espaço pra nada. Estava claro que ela devia saber da situação. Era visível o quanto o elevador estava lotado. Talvez por isso não tenha dito nada. Talvez fosse só resignação.
Com a pressão dos corpos, nossos quadris se mantiveram esfregando, numa encoxada acidental. Senti meu pau começando a endurecer. Não era intencional. Era o maldito corpo reagindo por conta própria ao contato com aquela bundinha perfeita. Tentei recuar, afastar. Fiz um leve movimento pra trás, discreto. Mas na tentativa de aliviar, acabei criando mais fricção. Era como tentar sair de areia movediça.
Quanto mais eu tentava me mover, mais parecia que esfregava meu pau na bunda dela. Tentar mexer pros lados era me esfregar mais na bundinha. Tentar mexer pra trás, pareceria que estava estocando naquela bunda.
E foi aí que aconteceu algo que me confundiu de vez.
Ela moveu o corpo sutilmente. Um impulso pra trás, bem leve. O quadril dela pressionou contra o meu. Uma pequena reboladinha dela. Sem querer, acabou encaixando ainda mais o espaço entre as nádegas no volume da minha calça. Meu pau respondeu com um solavanco involuntário.
Meu coração batia no pescoço. A respiração presa. Cada pequeno movimento nosso parecia aumentar a encoxada. E cada solavanco do meu pau querendo aquela bunda tornava tudo mais desconfortável pros dois. Eu não queria estar excitado, mas estava. Não queria parecer um pervertido, mas me sentia exatamente assim.
E o pior é que não havia rota de fuga. Eu não podia sair. Ela não podia sair. Estávamos presos naquele empurra-empurra do elevador. Ela só podia olhar pra cima ou pra baixo. Como se tivesse vergonha de olhar pra trás e isso me denunciar como pervertido aos demais.
Tentei me afastar de novo, mas era tarde. Eu já não sabia mais se estava recuando ou roçando sem querer. E o mais enlouquecedor é que o corpo dela parecia continuar aceitando. Não tinha um gesto claro de recusa. Nenhuma tentativa visível de romper o contato. Talvez fosse só tolerância pela impossibilidade de ambos de sair daquela situação.
O elevador seguiu descendo, mas parecia conspirar contra mim. Parava em todos os andares só pra ninguém sair e ninguém conseguir entrar. As portas se abriam, olhares frustrados percebiam a lotação, e logo se fechavam de novo. E nós dois seguíamos ali, colados. Era como se estivéssemos presos num castigo silencioso, obrigados a suportar o contato involuntário até o fim da linha.
A cada solavanco do elevador, meu pau dava um impulso involuntário, pressionando ainda mais contra aquela bunda absurda. E o pior que a resposta dela era igualmente instintiva. Ela rebolava sutilmente, como se estivesse tentando sair, mas não tinha pra onde.
Eu já não sabia mais o que era real. Não tinha espaço pra interpretar nada. O que sabia é que a cada andar, o desespero crescia. Eu tentava pensar em qualquer coisa pra fazer aquilo passar. Em reuniões chatas, no bug da folha de pagamento, em planilhas de Excel. Mas nada fazia o pau amolecer.
Foram sete andares eternos. A resignação já era mútua. Os minutos se esticaram, implacáveis. Eu não sabia mais se suava de vergonha ou de calor. Só sabia que meu corpo inteiro estava tenso, como se tivesse sido lançado num limbo entre desejo e pânico.
Quando finalmente chegamos ao térreo, a multidão começou a sair. Eu hesitei. Ainda sem saber como me portar. Ela deu dois passos à frente, saindo junto com os outros. Pensei em pedir desculpa. Mas o constrangimento me travou. A vergonha de estar com o pau meio duro num elevador lotado era suficiente pra querer desaparecer.
Antes de sumir, ela deu uma olhada rápida pra trás. E por um segundo, os olhos dela foram direto pro volume da minha calça. Fiquei sem reação.
Ela então virou de costas e começou a se afastar. E eu fiquei ali, parado, vendo o rebolado da bunda dela se afastar. Passadas largas.
E justo quando pensei que podia respirar, ela virou o rosto por cima do ombro. Me pegou olhando pra sua bunda. Depois disso, ela se foi.
E eu fiquei com a respiração presa, a cabeça fervendo, e o pau latejando dentro da calça por mais que eu tentasse ordena-lo a murchar.
As coisas ficaram mais loucas ainda na terça seguinte. Eu tava digitando umas notas no sistema quando ouvi passos vindo na minha direção. A voz do Rogério logo apareceu atrás de mim.
— E aí, Vinícius, vai colar no arraial da firma sábado?
Levantei os olhos e encontrei o sorriso simpático de sempre. O Rogério era aquele tipo de chefe que não pesava o ambiente. Tinha um jeito meio improvisado de tocar as coisas, mas era justo, transparente, e nunca fez ninguém se sentir menos por estar começando. Ele tinha essa vibe meio irmão de todos. Às vezes brega, às vezes inconveniente, mas sempre de boa intenção.
— Vou sim. Vai ter comida de graça, né? Seria burrice não ir.
— Boa, boa! — disse ele, animado, e fez uma pausa breve, como se estivesse esperando algo. — Tá solteiro, né?
Fiquei levemente confuso com o tom.
— Tô, tô sim...
— Ótimo. Ótimo! — ele respondeu rápido demais, e com uma ênfase esquisita, como se estivesse empolgado demais com a ideia. Por um segundo, pareceu até que ele queria me levar num encontro.
Eu só fiquei encarando, sem saber se aquilo era sério ou uma pegadinha.
— Tava pensando... Queria te apresentar uma amiga. Acho que vocês têm tudo a ver. O nome dela é Lisandra.
Estranhei, mas tentei não demonstrar. Por dentro, já acendeu o alerta amarelo. Sempre que alguém vinha com esse papo de “tenho uma amiga que é a sua cara”, eu sabia que vinha bomba. Se a mulher é realmente gata, gente boa e quer compromisso, ela já tem alguém. Se ela precisa de ajuda de intermediário é porque tem alguma coisa errada.
— Ah, é? Que tipo de “tudo a ver”?
Rogério se sentou meio de lado na mesa da frente, cruzando os braços com aquele jeito relaxado dele, e começou a falar com entusiasmo.
— Cara, a Lisandra é sensacional. É muito doce, mas não é boba. É esforçada demais, faz faculdade à noite, batalha pra caramba. Ela é divertida, esperta, tem senso de humor. É o tipo de pessoa que escuta de verdade, sabe? Inteligente, mas sem ficar tentando se provar. E até um pouco bonitinha, viu?
Fiquei ouvindo com o ceticismo ligado no máximo. A descrição parecia boa demais. E sempre que é boa demais, tem pegadinha. Não que eu desconfiasse da boa vontade do Rogério. Mas ninguém elogia tanto alguém sem um motivo oculto. Ou está apaixonado, ou quer se livrar da pessoa, ou tá tentando compensar alguma falha grave.
— Hm. E como você conhece ela?
Ele respondeu com a maior naturalidade do mundo:
— Ela é a diarista lá de casa.
Parei. O olhar ficou meio suspenso no ar. Dei um sorrisinho curto, tentando disfarçar o impacto. Mas por dentro, algo já tinha mudado. Diarista. Era isso. Automaticamente, me veio à mente aquele típico papo de classe média alta. Aquele negócio de “a gente trata ela como se fosse da família”. Na prática, quase sempre é só uma forma de paternalismo disfarçado de empatia. Nunca imaginei o Rogério como esse tipo. Mas talvez eu tivesse me enganado sobre ele.
Antes que o Rogério pudesse continuar o papo, ouvi o salto de alguém se aproximando. Quando virei o rosto, vi a Lorena chegando. Ela usava uma calça de alfaiataria preta, justa o suficiente pra deixar claro que o mundo era injusto com mulheres daquele nível de corpo, e uma camisa branca de botões que se ajustava perfeitamente ao tronco dela. O colarinho estava desabotoado no ponto exato entre o profissional e o provocante. Cabelo preso num coque prático, óculos na ponta do nariz.
— Do que vocês estão falando aí? — perguntou, apoiando as mãos na mesa e olhando de um pra outro.
— Tava falando da Lisandra aqui pro Vinícius. Achei que eles podiam se dar bem.
A Lorena deu aquele sorriso que parecia saber mais do que falava.
— A Lisandra é maravilhosa. Uma das pessoas mais leves que eu conheço. Tem uma alegria meio difícil de explicar... É daquelas que, quando entra no ambiente, parece que a temperatura melhora, sabe? Ela tem uma honestidade muito bonita. E é engraçada sem forçar, tem uma inteligência emocional que falta em muito adulto por aí.
Meu modo “suspeita” já tava no volume máximo. Dois chefes diferentes elogiando a mesma mulher com esse entusiasmo quase poético? Parecia armadilha. E das bem montadas. Será que estavam tramando juntos? Estavam tentando empurrar uma amiga carente, neobalzaquiana e baranga pra qualquer alma viva disponível?
A Lorena riu de leve e virou pro Rogério:
— Você e a Jéssica andam muito interessados em virar cupidos ultimamente. Tentando arrumar par pra mim e pra Lisandra ao mesmo tempo — disse, meio brincando, meio deixando no ar.
Enquanto ela falava, eu só pensava: tá, mas por que vocês não tentaram juntar a Lorena comigo? Quer dizer, a mulher era uma gata absurda. Charme de sobra, devia ter uns dois anos a mais que eu, no máximo. E, agora sabia, solteira. Por que não a solteira que eu já conhecia? Claro, era por ela ser a minha chefe.
— A Jéssica tá tentando me fazer encontrar aquele médico colega dela, mas... sei lá — continuou Lorena.
Ouvindo isso e pensando que eles era óbvio que queriam juntar ela com um médico. Nível social, prestígio, estabilidade. Era assim que essas coisas funcionavam. No fim, todo mundo quer ver os amigos com alguém “à altura”. O que, na prática, significa alguém com o mesmo CEP emocional e bancário.
Antes que voltassem a me puxar pro centro da conversa, os dois relógios apitaram ao mesmo tempo.
— A reunião com o pessoal de Londres! — disse Rogério, se levantando apressado.
A Lorena já ajeitava os óculos e recolhia a pasta com os papéis. Antes de sair, o Rogério se virou de novo pra mim, quase suplicando:
— Vai no arraial, tá? Sério. Você vai adorar a Lisandra.
Assenti com um sorriso de canto de boca, e eles se afastaram.
Quando eles viraram o corredor, percebi que eles nem mostraram uma foto da Lisandra. Nem mencionaram a idade. Isso nunca é bom sinal.
Os dias passaram e estávamos na sexta de noite. Eu tava no Café Cultural, pra encontrar uns amigos. O clima estava fresco e umas lâmpadas âmbar penduradas no teto davam aquele ar meio calmo, meio convidativo. O cheiro de café passado na hora misturado com notas de frutas cítricas dos bolos artesanais me pegou bem na memória. Gostava de lugar assim. Pedi um espresso no balcão e fiquei esperando.
Foi quando olhei para a direita e o tempo congelou por dois segundos.
Era ela. Sentada num banco alto, de perfil. A mesma mulher do elevador na semana anterior. Aquela que eu encoxei sem querer e me senti um babaca o resto do dia. Lembrei do perfume e da sensação da bundinha dela esfregada no meu pau.
Ela virou o rosto devagar, sem pressa. Os ombros continuaram na direção do balcão, mas o tronco fez um giro pequeno, calculado. Um tipo de pose que não parece pose, mas que deixava tudo mais sensual. Os olhos dela me encontraram. Castanhos, calmos, semiabertos. Um olhar de canto, como quem perguntava se eu ia fazer alguma coisa ou só ficar ali, travado.
Segurava uma copo com um drinque vermelho, cheio de gelo. Devia ser algo de cereja. Ela levou o canudo à boca. Não mordeu, apenas chupou. Sugando o líquido pela boca enquanto me olhava.
A blusa dela era um cropped estampado com flores. Cores quentes e vivas. Ombros à mostra, elástico logo abaixo dos seios. Os shorts brancos, curtinhos, mostravam um belo par de coxas que parecia ter sido desenhadas pra esse tipo de luz. Aquela pose parecia inocente, mas cada detalhe gritava intenção. E, por algum motivo que eu não conseguia explicar, ela tava olhando direto pra mim pela eternidade de cinco segundos.
Eu sabia, pelo olhar dela, que ela me reconhecia do elevador. Mas não conseguia decifrar o olhar. Ela tava me testando? Brincando? Me provocando? Ou só tava curiosa? Estava a alguns segundos de me denunciar como encoxador?
Fiquei ali, travado. O espresso esfriando no balcão, a colher ainda intacta. Meu coração num misto de impulso e freio. Uma parte de mim gritava pra ir até ela, pedir desculpa pelo elevador, puxar assunto, qualquer coisa. Outra parte travava completamente, lembrando que eu era só um cara comum, de camiseta lavada demais e cabelo pedindo corte. E ela parecia segura demais, bonita demais, interessante demais.
O celular vibrou no bolso. Aviso dos meus amigos dizendo que tinham mudado de café de última hora. Suspirei. Bebi o espresso tão rápido quanto podia, paguei a conta e saí sem olhar pra gostosa misteriosa, que devia estar esperando alguém. Não tive coragem.
Sábado de manhã. Eu estava com o celular na mão, deitado de lado no sofá, me perguntando se valia a pena gastar num Uber pro arraial ou se dava tempo de sair umas duas horinhas mais cedo e ir de busão, fazer uma integração com o metrô e deixar o Uber só pra volta. O celular vibrou numa ligação.
Rogério. Em pleno século 2025, só o Rogério ainda fazia ligações de voz. Atendi:
— Fala, chefe.
— Ô, Vinícius! Tudo certo? — veio a voz animada do outro lado.
— Tudo certo, e aí?
— Só liguei pra confirmar: vai no arraial hoje, né?
— Vou sim.
— Boa, boa.
Houve uma micro pausa. Aquele silêncio que dá pra sentir quando alguém tá preparando um pedido.
— Posso te apresentar a Lisandra mesmo?
Por dentro, eu lembrei que, até aquele momento, eu não fazia a menor ideia da aparência da mulher. Nenhuma foto. Nenhuma dica concreta. Só elogios hiperbólicos sobre como ela era incrível, batalhadora, cheia de luz e essência e outras elogios à personalidade. Por outro lado, tanto Rogério quanto Lorena tinham falado com muita convicção.
— Pode sim — respondi. — Você e a Lorena falaram tão bem dela que fiquei curioso. Parece ser uma pessoa maneira. Quero conhecer, bater um papo.
Rogério soltou um suspiro satisfeito.
— Massa, cara. Fico feliz mesmo. Ela também falou que queria bater um papo.
— É mesmo? — falei, tentando manter o tom neutro, mas deu uma travadinha.
— Uhum. Valeu demais. A gente se vê mais tarde então!
— Fechado. Até logo.
Ele desligou. E eu fiquei olhando pro teto. Será que ela também não tinha visto uma foto minha? Seria mesmo um encontro às cegas? Tão às cegas que, se a gente se esbarrasse sem o Rogério por perto, nem ia saber que era um com o outro?
Cheguei no arraial por volta das 21h00. No céu, a lua minguante se escondia entre umas nuvens magras, mas a iluminação das barracas e da quadrilha deixava tudo quase diurno. O espaço era aberto, gramado, com bandeirinhas coloridas atravessando de um poste ao outro. As barracas de comidas típicas, de brincadeiras, as mesas redondas de plástico com cadeiras espaçadas. O ar trazia aquele cheiro de milho cozido, fumaça de fogueira e amendoim torrado. Um forrozinho tocava ao fundo. Não era um evento só da nossa firma, mas de várias do mesmo prédio empresarial.
Eu fui de calça jeans escura, camiseta preta sem estampa, botinha marrom. Nada demais, mas limpo. Joguei uma jaqueta jeans por cima, mesmo sabendo que ia tirar logo. Gosto de andar leve. Conversei com um ou outro colega da empresa, alguns rostos familiares, gente de outros andares. Até que ouvi a voz do Rogério rindo.
Me virei. Rogério estava com aquele jeito despreocupado de sempre, vestindo camisa quadriculada e chapéu de palha. A Lorena estava ao lado, linda como sempre, com uma saia rodada vermelha e uma blusinha branca com babados. Usava tranças e umas fitas coloridas no cabelo.
— E aí, Vinícius! — disse Rogério, ao me ver. Ele me puxou para um meio-abraço.
A Lorena sorriu para mim.
— Aproveita que a gente vai te apresentar uma pessoa.
Foi quando ele chamou:
— Lisandra!
Foi a primeira vez que nos vimos.
Primeiro veio a silhueta alta, esguia, e depois o sorriso, leve e quase malicioso, e por fim a presença inteira, como se o resto da festa tivesse ficado em mudo por um instante.
Ela devia ter por volta de 1,75m, e se impunha não por força, mas por uma graça silenciosa, quase etérea. O rosto era suave, jovem, de traços finos e ao mesmo tempo marcantes. Os olhos grandes, de um azul-claro puxando pro verde, tinham aquele tipo de brilho que fazia a gente esquecer o que ia dizer. Neles havia algo curioso, quase atrevido. O nariz pequeno e reto, as sardinhas delicadas sobre as bochechas levemente coradas, os lábios carnudos. Tudo nela parecia espontâneo e delicado, como se a beleza fosse um efeito colateral da sua existência.
O chapéu de palha com laço rosa parecia parte natural da moldura. A camisa xadrez rosa e roxa, amarrada na cintura, deixava à mostra um top preto que revelava os contornos do busto. O short jeans claro, desfiado, deixava as pernas longas em destaque. A pele era clara, quase leitosa, com um brilho sutil sob as luzes do arraial. Os cabelos loiros-claros, ondulados, escorriam como ouro pálido até o meio das costas. E cada passo que ela dava era como se carregasse luz própria.
— Vinícius, essa é a Lisandra — disse Rogério. — Lisandra, esse é o Vinícius.
Ela me cumprimentou com um leve aperto de mão. A palma quente, mas o gesto, contido.
— Eu sou a diarista deles, viu? Do Rogério e da Lorena. Só pra deixar claro.
— E eu era estagiário deles até o ano passado. Fui promovido, mas sigo sendo tão ferrado quanto antes.
Ela deu uma risadinha curta, meio surpresa.
— Quer sentar numa mesa e bater um papo? — arrisquei. — A gente se conhece melhor.
Ela olhou pro lado, procurando pelos dois. Rogério e Lorena tinham sumido feito ninjas.
— Pelo visto, não temos muita escolha — comentou.
Nos sentamos em uma mesa perto da barraca do milho. Ela puxou a cadeira com certo cuidado. Estava claramente na defensiva. Pernas cruzadas, mãos no colo, postura reta.
Comecei a puxar assunto, falando de bobagens do trabalho, das barracas que tinham comida boa.
— Posso ser direta? — ela me cortou, depois de uns cinco minutos de conversa leve. — Melhor alinhar as expectativas logo.
Assenti.
— Não vamos pra cama hoje. Tire o cavalinho da chuva se veio pensando nisso. Também não vamos ficar. E também não é como se eu tivesse outros amiguinhos. Não tenho Tinder, não tenho contatinho, não quero nada disso. Dei um pé na bunda do meu ex faz uns meses porque comecei a repensar minhas péssimas decisões. E, sinceramente, começar um namoro com um traste sem conhecer direito foi umas das piores. Hoje, eu só quero conversar. Te conhecer. Nada mais.
Respirei fundo e sorri, com calma.
— Justo. E bom saber. Pra ser sincero, eu nem tava vindo com segundas intenções. Na verdade, nem com terceiras.
Ela me olhou com certa desconfiança, mas sem agressividade.
— Não é arrogância minha, viu? É só que eu... Eu sei que, mesmo sendo amiga do Rogério e da Lorena, não posso esquecer que não faço parte do mundo deles. Eu sou empregada deles.
— Eu também não faço parte do mundo deles. Também sou empregado deles. Do tipo que pega metrô lotado todo dia, conta moeda no dia 10 e divide aluguel.
Ela riu. Dessa vez mais espontânea.
— Pelo menos você ganha VR. Eu faço a minha quentinha.
Ela encostou um pouco mais na cadeira. O ombro relaxou. Os olhos pararam de varrer o ambiente.
— Então vamos combinar uma coisa? — falei. — Essa noite a gente só bate papo. Minha meta é até o final da noite, a gente ser amigo. Aí, se quiser manter contato, a gente troca WhatsApp. Se não quiser, sem pressão.
Ela me olhou por um instante, e depois assentiu com a cabeça.
— Justo. Amizade é um bom começo.
E, pela primeira vez, ela sorriu como se realmente estivesse presente ali. Eu relaxei também. O forró seguiu tocando ao fundo, e a gente começou a falar da vida. Sem pressa. Sem intenção escondida. Com vontade sincera de conhecer quem estava na frente.
A conversa continuou leve, mas a Lisandra seguia firme na postura fechada. Sempre atenta, como se ela estivesse checando, por dentro, se eu ia quebrar o combinado e tentar algo. Testando a consistência das minhas intenções. E eu entendia. Não era uma garota tímida. Era uma mulher cautelosa. E essa diferença era importante.
Falamos de coisas banais no começo. Trânsito, metrô, calor. A cada assunto, eu buscava perceber o que acendia uma centelha nos olhos dela.
— E você faz faculdade, né? O Rogério comentou.
— Faço. Odonto. À noite. Tô no penúltimo semestre agora.
— Caramba. E ainda trabalha em três apartamentos?
— Quatro, na verdade.
— E ainda tem energia pra sorrir?
Ela deu um sorriso discreto, mas dessa vez com um leve brilho nos olhos.
— O sorriso é automático. A energia, nem sempre. Mas eu vou levando.
Ela estava me testando o tempo todo. Se eu conseguia me manter genuíno, sem escorregar em nenhum flerte involuntário. Era quase um jogo silencioso entre a intenção e o respeito. E, sinceramente, mais interessante do que qualquer tentativa clichê de conquista.
— E você? — ela perguntou. — Faz o quê agora, exatamente?
— Analista de projetos.
— E você gosta do que faz?
Pensei um pouco antes de responder.
— Gosto de aprender. Isso me move mais do que cargo ou nome bonito no crachá. E gosto de resolver problema. De achar solução onde ninguém tá vendo.
Ela assentiu, pensativa.
— Gosto disso. De quem sabe por que faz as coisas.
Aos poucos, o corpo dela foi mudando. A postura foi ficando mais relaxada. Ela se encostou um pouco mais na cadeira, mexeu nos cabelos com naturalidade. Até os olhos, que antes eram um radar, agora pareciam mais curiosos do que vigilantes.
— E você tem irmãos?
— Não exatamente. Tem um cara, ele foi como meu irmão de criação, mas a gente passou uns dez anos sem se ver.
— Vou ali pegar um suco. Quer alguma coisa? — ela disse, se levantando.
— Aceito o que você achar que combina comigo.
— Vai se arrepender de me dar liberdade de escolha.
— Confio no seu julgamento.
Ela deu dois passos e se virou.
— Fica aí. Já volto.
Assim que a Lisandra se levantou, me vi sozinho por uns três segundos antes de uma dupla de ninjas malucos pularem na mesa.
— E então? — veio Rogério.
— Se você magoar a Lisandra, eu te capo. — completou Lorena, sentando do outro lado.
— Caramba. Me deixem respirar primeiro.
— Só me certificando de que você vai se comportar. — disse Lorena.
— Vocês podiam pelo menos ter me mostrado uma foto dela antes. Eu fui completamente no escuro.
Rogério riu.
— A gente mostrou uma foto sua pra ela.
— Sério?
O Rogério puxou o celular e me mostrou a foto. Era uma do ano passado, quando nós três fomos almoçar no shopping. Eu fui inventar de comer um Subway de almôndegas e me sujei todo. Camiseta branca e jeans todo manchado de molho vermelho, as bochechas toda meladas. A boca cheia. Minha cara de desolação e surpresa pela foto do nada.
— Isso é crueldade. Vocês escolheram justamente essa?
— Sim — disse Rogério. — Ela deu uma risada, então já era um bom sinal.
— Mas por que ninguém me mostrou uma foto DELA?
— Porque eu queria que você se interessasse pela personalidade dela primeiro — respondeu Rogério.
— Porque sei que você é tímido — respondeu Lorena. — Se visse uma foto da Lisandra antes, você ia travar na hora. Ela é três vezes mais linda do que eu, e isso não é falsa modéstia.
Rogério virou pra ela, fingindo ofensa.
— Três vezes mais linda? Ah, não. Lisandra é linda, claro, mas você está exagerando.
— Não é exagero. É que, como eu sou sua melhor amiga, ganho uns pontos extras de beleza nos seus olhos. E também ganho pontos por acomodação sensorial a cada ano de amizade. Somando tudo, aos teus olhos, devo ser a segunda ou terceira mulher mais linda e gostosa do mundo. Perdendo pra Jéssica, evidentemente.
— Isso não tem base científica nenhuma, Lorena.
— Tem sim. É neuroestímulo afetivo. Olha lá. Sem essa vantagem, você veria que sou só bonitinha perto da top model internacional que a Lisandra é.
— Você devia parar de encher tanto a bola da Lisandra. Vai acabar assustando o Vinícius — comentou Rogério.
— Quem é Jéssica? — perguntei, ainda rindo da troca entre eles.
Foi quando senti uma presença se aproximar.
— Essa é a minha esposa. — disse Rogério, virando-se com um sorriso. — Jéssica, esse é o Vinícius.
Eu levantei o olhar e a vi. E meu corpo gelou.
Era a mulher do elevador e da cafeteria.
Ela vestia uma blusa xadrez vermelha com preto, justinha no busto, com decote discreto. Seios médios, bem marcados pela roupa, convidando a imaginação a preencher o que o tecido escondia. A calça jeans skinny azul-escura era a mesma do dia do elevador, desenhando com precisão quase pornográfica cada curva da coxa, cada centímetro dos quadris, da bundinha redonda.
As coxas, volumosas e torneadas, faziam contraste perfeito com a cintura fina. O tipo de beleza que impunha respeito antes mesmo de desejo. E mesmo assim, desejável pra caralho. Jéssica era de uma gostosura difícil de olhar de frente sem trair algum pensamento sujo. Não era só linda. Era perigosamente linda.
Mas o mais impressionante é que ela me olhou como se nunca tivesse me visto na vida.
— Prazer, Vinícius! — disse ela, estendendo a mão com naturalidade.
Apertei. Quente, macia.
— O prazer é meu.
Segui o jogo. Nem uma palavra sobre o elevador. Nem um olhar atravessado. E nem eu ia abrir esse jogo ali. A coisa era tão inacreditável que me pareceu quase ensaiada. Ela se sentou entre o Rogério e a Lorena, e por alguns minutos os três conversaram sobre o churrasco, sobre os vizinhos, sobre as políticas do condomínio. Eu entrei pouco. Estava absorto nela. Tentando conciliar a mulher que eu via agora com a visão fragmentada que tive dela antes.
Uma parte de mim ainda queria entender por que ela fingia que não me conhecia. Outra parte queria agradecer por isso.
E foi nesse emaranhado de pensamentos que vi a Lisandra voltando, atravessando as mesas com uma garrafinha de água na mão e um sorriso tranquilo no rosto. Ela se acomodou de volta ao meu lado.
— Vocês não vão dançar? — perguntou Lisandra, se endireitando na cadeira. O sorriso agora era mais animado. — Tá tocando um forrozinho tão gostoso.
A Lorena foi a primeira a se levantar.
— Bora! — disse, puxando Lisandra pela mão.
O Rogério se levantou em seguida e estendeu a mão pra Jéssica, que aceitou de imediato. Fiquei sentado ali, observando os quatro irem pra pista. A luz baixa, o som do forró romântico tocando, e os casais começando a se movimentar com naturalidade.
A dança entre Rogério e Jéssica era especialmente hipnótica. Eles dançavam colados, com os corpos encaixados como peças de um quebra-cabeça. Os movimentos eram suaves e compassados, mas a energia entre os dois era sexual mesmo. Tão naturais juntos que pareciam ter sido feitos um para o outro. A mão dele na parte baixa das costas dela, os olhos trocando sorrisos e pequenas provocações silenciosas. Havia amor, desejo e muito tesão ali.
Lorena e Lisandra também tinha muita química juntas, mas algo mais brincalhão. Dançavam como amigas descontraídas, rindo e exagerando os passos. Com a minha chefe, a loirinha se permitia mais, ria mais, girava com mais leveza.
Foi quando a Lorena fez um gesto, empurrando Lisandra levemente para mim. Ela caminhou até onde eu estava sentado e estendeu a mão.
— Vai ficar aí parado?
Sorri. Peguei a mão dela e me levantei.
No início, dançar com a Lisandra foi como tentar equilibrar dois pés esquerdos. Me sentia desajeitado, ela parecia calcular a distância exata entre nossos corpos. Mas bastaram alguns compassos para o ritmo se encaixar.
Seus olhos vinham e iam. O toque da mão dela na minha era leve, mas firme. Aos poucos, sua postura mudava. Começava a confiar, a permitir um pouco mais de proximidade, e nossos corpos se aproximavam sem força, como se atraíssem por conta própria. O perfume dela era doce. O calor do corpo dela me atravessava a camisa.
De repente, nova troca. Lorena puxou a Lisandra com um riso leve e a jogou pra cima do Rogério. Ele apenas riu, como quem já esperava. E eu fiquei com a Jéssica.
Ela se aproximou com um sorriso quase travesso. A mão dela tocou meu ombro com suavidade.
— Eu lembro de você do elevador e da cafeteira, viu? — sussurrou no meu ouvido enquanto começávamos a dançar.
Meu coração deu um salto.
— Você... você me reconheceu?
Ela riu baixo.
— O Rogério me mostrou uma foto tua quando tava falando de te juntar com a Lisandra.
Senti meu rosto esquentar. A dança continuava, mas meus pensamentos estavam em pânico.
— Calma, fica tranquilo — murmurou ela. — Isso é só um segredinho nosso... por ora.
A voz dela era calma e confiante. O tipo de mulher que sempre está dois passos à frente.
— Quanto te reconheci, achei que você era ironicamente adequado pra Lisandra.
Ela não explicou de imediato. Em vez disso, fez um movimento de cabeça, me chamando a atenção pra outra dupla. Rogério e Lisandra.
Eles dançavam com naturalidade, rindo, girando, trocando olhares. A felicidade, os olhares, eram muito amigos mesmo. O Rogério a olhava como se fosse uma das suas melhores amigas. Se a Lorena era sua irmã de escolha, a Lisandra seria como uma prima. Um carinho leve, gentil. Já Lisandra o olhava com brilho nos olhos. Quase deslumbrada. A boca entreaberta num sorriso que beirava a paixão. O corpo dela se inclinava sutilmente na direção dele. O contraste era nítido.
Jéssica suspirou.
— Parte disso é culpa minha... E eu meio que devo me redimir com ela.
— Deve?
Ela assentiu, mas não se explicou. Em vez disso, riu de leve, ainda colada a mim.
— Por outro lado, também sou meio ciumenta. E gosto de dar o troco. Mesmo que eu tenha autorizado certas ações.
Dei um meio sorriso sem saber o que responder. Foi então que ela me olhou de um jeito diferente. Intenso. Malicioso.
— Se o Rogério deixar... Talvez eu junte meu senso de proteção e minha vontade de vingança e decida testar se você é mesmo um rapaz sério, fiel e adequado pra Lisandra.
Engoli em seco.
— Ela ainda nem disse se vai querer que a gente seja amigo...
Jéssica soltou uma gargalhada curta e sincera.
— Agora entendi o que o Rogério viu em você. Ele era assim também. Lento. Levou quase um ano da gente se conhecer numa calourada pra gente começar a namorar.
— Ele não parece lento agora — comentei, observando como ele fazia Lisandra rir com um movimento engraçado de mãos.
— A sorte dele é que eu tava muito ocupada com a faculdade pra conhecer outros caras.
Quando a música terminou, nos afastamos com naturalidade. Ela deu um tapinha de leve no meu ombro.
O resto da noite foi uma sequência meio embriagada de risadas, dança e trocas de casais, como se estivéssemos todos presos num rodízio desgovernado de forró.
Havia momentos em que nos empolgávamos na pista, outros em que sentávamos para descansar os pés, comer alguma coisa ou simplesmente conversar. Alternávamos entre comer espetinhos, beber drinks coloridos, andar pelo salão conversando com outras pessoas e nos reencontrar à mesa para dar risada.
Na pista, testamos quase todos os casais possíveis, tirando eu com o Rogério e, estranhamente, a Jéssica com a Lorena.
Mais tarde, percebi que Rogério e Jéssica tinham sumido. Olhei em volta, confuso. A Lorena deu um gole no gin tônica, olhou pra Lisandra e apenas soltou um irritado:
— Dois. Coelhos!
A Lisandra ficou tão vermelha que pensei que tivesse engasgado. Olhou pra mim rápido, depois pro chão, e murmurou:
— Eles... são muito apaixonados.
Assenti, tentando manter uma expressão neutra. Entendi que os dois tinham saído pra transar em algum canto da festa, mas não era um assunto que as duas queriam abordar abertamente. Então me fiz de desentendido, como se a ausência repentina fosse algo banal.
Por volta de uma da madrugada, o grupo começou a se dispersar. Já não havia música ao vivo e o DJ parecia preso num looping de reggaeton melancólico. Na porta do bar, Rogério, sempre solícito, virou pra Lisandra:
— Se quiser dormir lá em casa, o quarto de hóspedes tá arrumado.
A Jéssica completou:
— E tem café da manhã grátis do chef Rogério, viu?
A Lorena entrou na disputa:
— No meu apê não tem café, mas tem vinho e um edredom com cheiro de lavanda. E você não vai escutar nada indecoroso.
A Lisandra riu nervosa e respondeu:
— Gente, socorro. Posso me dividir em duas? Mas acho que vou com a Lorena hoje. Obrigada mesmo, viu, gente? Vocês são uns amores.
Começaram as despedidas. O Rogério me deu um breve abraço. A Jéssica me abraçou e falou baixo:
— Adorei o troca-troca de casais. Foi divertido.
Fiquei vermelho na hora, sem saber onde enfiar a cara.
— Brincadeirinha, Vinicius. Relaxa. — completou, rindo. — Você é ótimo. A gente se vê.
A Lorena me abraçou forte e cheirou meu pescoço:
— Tô vendo potencial aqui. Potencial bruto. Mas não estraga, hein?
E por fim, a Lisandra. Ela se aproximou devagar, meio tímida, e falou:
— Foi divertido. Gostei muito. Obrigada por respeitar o combinado.
— Sempre.
Ela riu, puxou o celular da bolsa e disse:
— Me passa seu WhatsApp? A gente pode continuar essa amizade por lá... sem pressão.
— Sem pressão, só memórias e figurinhas.
Ela riu de novo, e trocamos os números.
Quando todos foram embora, Abri o aplicativo de transporte. O Uber pra casa tava cinco vezes mais caro que o normal. Dei um suspiro.
Pois bem, leitor. No próximo capítulo, as coisas ficam mais loucas quando eu acabo conhecendo o pretendente da Lorena, o Miguel. Uma hora, eu tava solteiro e na minha. Na hora, acabo entrando em um sexteto cheio de tensão sexual mal resolvida. Iríamos ser três casais amigos, daqueles bem funcionais, ou viraríamos um daqueles sextetos em que todo mundo se comia entre si e ninguém era mais de ninguém? Diga nos comentários qual delas você torce que seja.
Algumas questões que gostaria que os leitores especulassem/respondessem nos comentários:
1) Com quem eu deveria terminar a história: Lorena ou Lisandra?
2) Eu deveria comer a Lorena antes do namoro com a Lisandra ou esse barco já zarpou?
3) A Jéssica deve aplicar em mim o mesmo “teste de fidelidade” que a Lisandra aplicou no Rogério? No estilo “no segundo que eu corresponder, ela corta tudo na mesma hora e me denuncia como ‘traíra infiel’ pra amiga”.
4) E se, antes de qualquer namoro, eu comesse a Lorena ou a Jéssica em um ménage na qual eu acabaria sendo comido pelo Miguel ou Rogério como ‘preço’?
NOTA DO AUTOR: Os eventos deste capítulo se passam durante o “Sábado das Surubas”, onde no mesmo sábado as séries do condomínio apresentam diferentes surubas (diferente do crossover anterior, são aventuras independentes). As histórias participantes são:
* Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 06
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 11
* Minhas coleções de calcinhas, amantes e putinhas - Parte 06
* No surubão do arraial do hospital, vou tentar comer minha amiga gostosa
* Eu, a esposa gostosa do meu chefe e os vizinhos deles - Parte 01
* Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 06 (ainda não publicado).
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a três semanas, teremos a continuação.