Ma Petite Princesse - 3a Temporada - IX

Um conto erótico de Ana_Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 11178 palavras
Data: 09/08/2025 22:41:43

Sinopse:

Uma aula interrompida e por consequência, uma punição. Na festa de aniversário de Gabriele e Patrick, um inesperado encontro será o ponto de partida para uma provocação que talvez saia do controle.

***

Se não bastasse o retorno por e-mail das cobranças intermináveis que todos os alunos do terceiro ano estavam sofrendo desde o início do ano letivo, o anúncio colado no meio do quadro negro da sala de aula foi a fórmula perfeita para piorar tudo, inclusive a minha sensação de estar sufocada com essa situação.

- A semana de provas do segundo bimestre será antecipada em uma semana??? - eu me recusava a acreditar no que estava escrito enquanto segurava as duas alças da minha mochila.

- Pensa pelo lado bom, Nívea! - Patrick disse animado - Teremos uns dias a mais de férias.

- Não tem lado bom! Eu vou ter dias a menos para estudar! - senti o nervosismo na minha voz.

- Foi necessário, Nívea - Frederik ponderou com as mãos nos meus ombros, também visualizando o aviso - A Dona Jacqueline explicou no grupo dos representantes que essa obra no sistema hidráulico do colégio não podia mais ser adiada. Por isso a antecipação das provas, para que elas aconteçam no período das férias quando ficam poucos funcionários.

A aflição parecia aumentar mais dentro de mim uma vez que eu não saberia se iria dar conta de estudar todo o conteúdo das aulas em menos tempo. Pensando em como iria dividir o tempo para me dedicar a todos os conteúdos do bimestre, fui para a minha carteira e devagar, colocava em cima da mesa o meu material.

- Nívea, vai dar tudo certo! - Gabriele já sentada ao meu lado, tentava me animar - Você é a aluna mais inteligente da turma. Fica calma.

- E se eu tirar alguma nota ruim? Não posso tirar nenhuma abaixo de nove e meio.

- Você não vai. Por que você não pensa na minha festa e do meu irmão no próximo sábado? Vai ser uma coisa bem menor do que foi no ano passado, na cobertura mesmo! Já sabe que roupa vai usar?

- Claro que não, Gabi! Nem pensei nisso.

- Pois comece a pensar. Aí sim, depois de curtirmos bastante, nós focamos nas provas.

Incrível como a Gabriele possuía a capacidade de não se sentir tensa, sufocada com toda a pressão que estávamos vivendo no ano.

- Acho que você tem razão. Tô ficando apavorada à toa.

- Uhum.

- Lembra que hoje é segunda-feira - e chegou perto do meu ouvido falando baixinho - é a aula do nosso professor gato e que frequenta a sua casa e a minha.

Não pude controlar as batidas do coração com aquele comentário.

- Você convidou o professor Schneider para a festa?

- Mas é óbvio! Meu pai telefonou para ele. Os convidados deste ano serão selecionados até porque teremos um diferencial na comemoração.

- Como assim?

- Isso você vai descobrir na hora. Só posso dizer que alguns pais dos nossos amigos estarão entre eles.

- Meus pais ficaram surpresos com o convite, mas confirmaram presença.

- E a única aflita aqui é você pensando em prova. Relaxa um pouco!

- Vou tentar. Começando por hoje. - dei um meio sorriso.

- É isso aí!

O sinal tocou e todos os alunos dispersos pela sala rapidamente sentaram-se cada um em seus lugares. E eu precisava parar de sofrer por antecipação.

***

O Estrangeiro do escritor francês Albert Camus foi o livro indicado daquele bimestre. Comecei a leitura dele após o fim das primeiras provas e como era uma leitura que eu considerei rápida, com menos de cento e vinte páginas, o terminei em poucos dias.

De pé, encostado em sua mesa e com o livro em mãos, Eric analisava que a obra explicava o conceito do absurdo e a indiferença do universo onde o protagonista Mersault é, para Camus, o herói deste conceito cujo seu destino no final do livro foi aceito por ele sem receio e com total frieza. Sentimento este que me chamou a atenção durante toda a minha leitura. O personagem principal demonstrava total apatia em relação à tudo ao seu redor.

- Mersault est-il considéré comme un protagoniste anti-héros, Professeur ? - um aluno questionou.

(Mersault é considerado um protagonista anti-herói, professor?)

- Oui, nous pouvons le classer dans cette catégorie. Un homme qui n'éprouve aucun sentiment de tristesse, même lors de la veillée funèbre de sa mère, est une personne au caractère douteux.

(Sim, podemos classificá-lo deste modo. Um homem que não demonstra nenhum sentimento de tristeza até mesmo no velório da própria mãe, é alguém de caráter duvidoso.)

Após a pergunta, a análise do livro continuava tranquilamente entre professor e alunos. Não era cansativa e fiz algumas anotações. No meu caso, eu era suspeita em elogiar as aulas de Literatura Francesa com o professor que tínhamos em sala de aula.

Olhei para o lado e, na outra fileira, a Nicole estava atenta a tudo que o Eric explicava exatamente como os outros alunos. Até que uma coisa em sua mesa chamou a minha atenção: seu estojo cor-de-rosa com estampas de abacaxi.

Algo simples, mas que me fez lembrar de algo que não deveria ser lembrado naquele momento.

"Abacaxi e outras frutas podem melhorar o sexo oral. Veja como:"

"É verdade que o gosto do sêmen muda com suco de abacaxi?"

"Como comer abacaxi pode ajudar no sexo oral!"

A pesquisa que fiz no dia da minha festa surpresa surgiu rapidamente na minha memória. E no mesmo instante, um calor inesperado cresceu por entre as minhas coxas me forçando a cruzá-las na tentativa de conter minha calcinha molhada.

Ainda que apertasse os lábios, não consegui segurar o riso que em segundos transformou-se em uma risada, onde imediatamente a abafei com uma das mãos. Porém, já era tarde. Chamei a atenção de todos em sala, o que fez a aula ser interrompida. O olhar e semblante sério do Eric voltaram-se na minha direção. E então, em nosso idioma, ele questionou:

- Há algo de engraçado na narrativa do livro que quer compartilhar com a turma, senhorita Martin?

- Não professor, me desculpe. - respirei fundo, sentindo minha pele arrepiada ao mesmo tempo que meu rosto deveria estar vermelho pimentão de vergonha - Não é nada demais.

Eric continuou a me observar e prosseguiu:

- Eh bien, l'un des aspects intéressants de l'histoire... - por trás dos seus lindos óculos transparentes e com uma das sobrancelhas arqueadas, o seu olhar, que sempre me desmontava, permaneceu em mim.

**(Bom, uma das coisas interessantes na história...)

Abaixei o meu olhar, respirando fundo e tentando me concentrar na explicação. Não podia acreditar que o meu corpo estava me traindo naquele momento no meio de uma aula. Mas era tão bom! O pulsar delicioso entre as minhas pernas indo de encontro até o ponto mais sensível e que me fez morder de leve o meu lábio inferior, me levou até a lembrança da noite do sábado anterior:

Deitada com os meus seios esmagados sobre o corpo perfeito que o Eric sempre teve, eu acariciava de leve a sua barba com um dos dedos, trocávamos selinhos demorados e suas mãos passeavam pela minha coluna chegando até a minha bunda.

- Você deixa eu te chupar? - pedi, ainda trocando pequenos beijos.

- E precisa perguntar? Essa sua boquinha gostosa pode fazer o que quiser com o meu pau.

Era impossível disfarçar as minhas bochechas e a minha boceta queimando por igual. Deslizei os meus lábios por todo aquele caminho de músculos do peitoral, que eram a minha perdição, até chegar onde a minha boca queria e comecei a sugar de leve a ponta, chupando com toda calma. Minha língua deslizava em volta e pude sentir o Eric erguendo levemente o corpo rígido querendo mais.

- Isso, ma petite... - sua voz rouca implorava com as suas mãos por dentro dos meus cabelos - Não para...

Seu membro duro e as veias reagiam sem parar dentro da minha boca e eu chupava todo aquele tamanho devagar até encaixá-lo, sem machucar a minha garganta...

Lembrar daquele momento fez com que meu coração disparasse ainda mais e eu cruzar as minhas coxas com toda força possível sentada na cadeira. Olhei novamente para o estojo da Nicole, associando o abacaxi ao sábado e o inevitável aconteceu. Comecei a rir descontroladamente.

- Nívea! - com os olhos arregalados, Gabriele ficou sem entender nada. - O que foi?

Eu não conseguia parar de rir em meio a um misto de excitação que percorria todo o meu corpo e isso fez com que a aula fosse interrompida mais uma vez.

- Senhorita Martin... - de novo, Eric chamou a minha atenção.

- Fumar maconha é proibido dentro do colégio, Nívea - Patrick brincou, fazendo a turma inteira rir.

- Silêncio! - a voz dele em tom autoritário cresceu e em um passe de mágica todos obedeceram - E agora conte para nós, senhorita - com força, ele jogou o livro sobre a sua mesa e cruzou os braços - Divida comigo e com seus colegas de turma este fato tão engraçado que fez você interromper a minha aula por duas vezes.

Respirei fundo tentando conter a crise de riso.

- Não posso explicar, professor... Sinto muito.

- Ah, não pode?

- É uma coisa que não tem nada a ver com a aula.

- Disso eu tenho absoluta certeza uma vez que O Estrangeiro não é nenhum clássico da comédia. Vamos, estou esperando. Explique-se!

Sua expressão séria dizia o óbvio. Aquele não era o meu Eric da noite de sábado. Era o meu professor o qual a sua aula eu interrompi, por conta de uma lembrança erótica que tive em um horário totalmente inadequado.

- É que... Eu vi o estojo da Nicole - falei apontando rapidamente na direção - E me deu vontade de rir.

- E o que tem de engraçado no meu estojo? - foi a vez dela querer saber - Ele é rosa e com abacaxis!

Mais uma vez, eu caí na gargalhada e o olhar do Eric manteve-se inalterado na minha direção.

- Não entendo como abacaxis seja algo engraçado e pode ser encaixado na análise que estou fazendo com vocês. Faz algum sentido, senhorita?

- Albert Camus foi um marido infiel. - respondi prontamente sem parar de encará-lo.

- Correto.

- E sendo infiel, quem sabe ele comeu bastante abacaxi antes de se encontrar com suas várias amantes.

- Uoooooowwwww - a turma foi à loucura e inesperadamente deixei o Eric sem palavras. Ao mesmo tempo que eu também fiquei em choque pelo que tinha acabado de comentar.

- Você não é a Nívea, você tomou o lugar dela! - Frederik sentado atrás de mim, segurou nos meus braços e me sacudiu de leve - Saia já deste corpo!!!

Mesmo com a brincadeira de exorcismo do meu amigo, a troca de olhares entre Eric e eu manteve-se e o conhecendo bem, observei o seu engolir em seco e o maxilar endurecido. Mas não era raiva, era outra coisa. Era o mesmo que senti minutos atrás.

Tesão.

Para a alegria de todos, o sinal tocou indicando o fim da aula e a movimentação em sala começou aos poucos. Lentamente, Eric saiu do transe em que estava e, respirando fundo, voltou-se para a sua mesa, guardando todo o seu material de trabalho na mochila, não deixando de passar o último recado do dia.

- Continuaremos a análise literária na próxima aula.

Guardei rapidamente todo o meu material e deixei a sala sem encará-lo. Precisava sair dali ou então pagaria outro mico novamente que seria rir sem parar.

***

Chegamos na portaria e não vimos o Evandro.

- Recebi uma mensagem dele agora - Frederik disse, olhando o seu celular - Ficou parado no engarrafamento da auto estrada mas que já está à caminho. Ele enviou a mensagem pro meu pai também.

- Então é melhor a gente esperar no corredor do primeiro andar ao invés de ficarmos aqui fora. - Gabriele sugeriu.

Voltamos para dentro do colégio e nos sentamos em um dos bancos de madeira que fica entre as salas. Coloquei a minha mochila no meu colo e abrindo cada zíper eu não encontrava o meu aparelho.

- Não acredito que deixei o meu celular na sala - bufei - Guardar tudo de qualquer jeito dá nisso.

- Deixa a sua mochila aqui e corre lá pra buscar! - Patrick segurou a minha mochila e sentou-se ao lado da irmã. - Evandro não vai chegar agora.

Fui caminhando rapidamente em meio a alguns alunos que saíam na direção da portaria e subi o lance de escadas que levava até o andar onde eu estudava. O silêncio ali era maior pois todas as salas de aula estavam vazias.

Quase todas.

Ao chegar à porta da minha sala, vi o Eric em pé atento ao seu aparelho, com a mochila preta fechada em cima da mesa como se estivesse pronto para sair.

- Ah... - prendi a respiração - Oi, professor. Não sabia que ainda estava aqui.

- Já estou saindo - respondeu sem me olhar.

- Esqueci o celular na minha carteira e só vim buscar.

- Fique à vontade.

Caminhei ligeira até onde eu me sentava e ao abrir o compartimento, ele estava lá. Respirei aliviada.

- Tchau - com o aparelho nas mãos, me despedi e quando estava a menos de dois passos de cruzar pela porta, senti o seu braço na minha cintura, me erguendo do chão.

- Eric! - comecei a me debater, deixando meu celular cair - Me solta!

Com destreza e usando a outra mão, ele trancou a porta, me levando de volta até chegarmos na sua mesa.

- Interrompe a minha aula, me deixando de pau duro e acha mesmo que iria sair impune, mocinha? - questionou comigo, ainda erguida no seu braço.

- Eu? Eu não fiz nada! Me coloca no chão!

E ele o fez. No entanto, fiquei encurralada entre ele e a mesa, sendo erguida de novo, sentada na ponta e sem ter como escapar.

Olhando nos meus olhos, suas mãos firmes e apressadas abriram as minhas pernas por baixo da longa saia do meu uniforme, colocando minha calcinha de lado e dois dos seus dedos me invadiram sem pena.

- Eric... Isso não... - Meu corpo quase desabou na mesa de imediato e comecei a pulsar sem controle, perdendo o ar - Ah, meu Deus...

- Ficou com a boceta molhada no meio da minha aula... - confirmou o óbvio enquanto me masturbava - E olha pra mim! Estava pensando em quê, hein? Responde! - exigiu, enfiando com mais força.

- No sábado... Enquanto eu te chupava...

- Fantasiando putaria com o seu professor no meio de uma aula importante... Que feio...

Com as pernas abertas e dobradas e a saia toda erguida até a minha cintura, somente me apoiando pelos cotovelos, não acreditei quando o Eric parou o que fazia e começou a abrir o cinto junto dos botões da sua calça social preta.

- Eu sempre quis foder você de uniforme aqui nesta mesa, ma petite... - confessou ao libertar seu membro duro, sem abaixar totalmente a calça - Só não podia imaginar que seria hoje...

- Eric, eu preciso voltar... Estão me esperando para ir embora... - implorei, ainda que o meu corpo quisesse o contrário - Podem bater na porta, nos flagrarem aqui e sermos expulsos.

- E isso aumenta mais o meu tesão, sabia?

Não pensei em mais nada quando Eric me puxou para mais perto e se enfiou em mim do jeito bruto que me deixava maluca. Fechei as pernas em torno da sua cintura e o agarrei com força sentindo o seu perfume por cima da sua blusa.

Eric socava gostoso dentro de mim e sussurrava abafado no meu pescoço para evitar qualquer gemido e eu fiz igual mordendo seu ombro.

Era real. A adrenalina do perigo que estávamos correndo aumentava o prazer em cada parte do meu corpo e me fazia querer mais do meu amor.

Um prazer inexplicável que eu não queria que acabasse. Suas mãos seguraram no meu rosto e seus olhos azuis de puro desejo cruzaram com os meus.

- Era em nós dois que você estava pensando, minha gostosa? Nessa sua boquinha me sugando?

- Era...

Suas mãos e dedos cruzaram com as meus por cima da minha cabeça e a língua quente deslizou pelo meu rosto, me deixando totalmente em chamas.

- Faz com mais força, Eric... - eu pedi e ele acelerou os movimentos - Eu...

- Goza, meu amor... Goza, vai...

- Não quero... - mordi meu lábio - me coloca por cima... Por favor...

Ainda grudados, Eric me pegou no colo com cuidado, sentando-se na sua cadeira preta e fez o que eu pedi, abaixando um pouco mais a calça até os joelhos. Com receio dos meus gemidos ainda que tímidos, serem ouvidos ele cobriu minha boca de leve para que eu pudesse respirar.

- Isso... Rebola no meu pau à vontade...

Com as mãos nos seus ombros, fiz o que eu mais queria sem medo, me esquecendo de onde estávamos. Rebolei até começar a esfregar meu ponto no seu ventre rígido, onde o meu corpo dava sinais de que não aguentaria por muito tempo todo aquele orgasmo pronto para explodir.

- Eric...

Lentamente, suas mãos acariciaram o meu pescoço, fazendo com que meu rosto se aproximasse do seu e um beijo urgente aconteceu.

- Goza... - ele pediu e sua boca, junto da barba macia no meu rosto, transformou-se em um sorriso depravado como prova do que sabia o que iria acontecer.

Fui ao céu inclinando o meu corpo para trás, agarrada com força nos seus ombros, sentindo minha boceta esmagar aquele que era o meu homem e as mãos dele segurarem a minha cintura, unindo-se a mim em meio àquelas estrelas que surgiram somente para nós.

Desabei abraçada pelo seu pescoço, ficando aninhada no seu colo. O cheiro de suor e perfumes misturavam-se ao do sexo.

- Quero mais disso... - pedi, tentando respirar normalmente.

- Eu sei... - ele beijou a minha testa suada - essa bocetinha quente e molhada no meu pau não te deixa mentir.

- Foi perigoso e delicioso.

- Foi.

- Faz de novo?

- Foi muito arriscado, ma petite... Devem estar estranhando a sua demora aqui em cima - sua mão acariciou o meu rosto e os meus lábios - É melhor você voltar.

- Foi você que me provocou!

- Foi um castigo pelo que fez na minha aula.

- Hum... - e beijos e mais beijos seus percorreram o meu rosto - Então vou te provocar mais vezes!

Mesmo respiração exausto e admirando cada detalhe do meu rosto, ele riu.

Nos levantamos da cadeira, ainda excitados. Trocamos um último e longo beijo antes de eu sair primeiro da sala.

- Vou precisar ir ao banheiro, então é uma ótima desculpa.

- Isso mesmo. - e continuava a me encarar do jeito carinhoso de sempre - Je t'aime, ma petite.

- Je t'aime aussi.

***

Saí da minha sala de aula, após pegar o meu celular do chão, pois precisava ser rápida. O corredor estava completamente vazio e para a minha sorte, o banheiro feminino também. Ao me encarar no espelho, vi minhas bochechas ainda vermelhas, meu rosto com suor pela testa e as têmporas molhando alguns fios de cabelo. Deixei meu aparelho na pia e abri a torneira para começar a lavar o meu rosto, mas principalmente entre o meio das minhas coxas para limpar todo o "vestígio do crime" que escorria por elas. Limpei tanto a ponto de ensopar a minha calcinha pra valer e molhar um pouco as meias e os sapatos.

Enquanto eu me limpava, a tela do meu celular abriu uma notificação com uma mensagem do Frederik. Com as mãos molhadas digitei devagar para desbloquear e ler a mensagem.

Nívea, tá aonde?

Tô no banheiro.

Tá tudo bem?

Veio do nada a vontade de... Enfim... rsrsrs vc entende né?

Ah tá. Vc quer que eu suba e te espere aí na porta?

Não, já vou descer.

O Evandro chegou e estamos te esperando.

Tá bom.

Terminei de me limpar, me enxugando com uma toalha de papel. Ao voltar em passos ligeiros, passei pela minha sala e não havia mais ninguém para o meu alívio, pois se o Eric ainda estivesse lá, seria fácil cometermos outra loucura.

Chegando na portaria, não havia mais quase ninguém e vi o Evandro parado na porta do carro junto dos meus amigos.

- Você tá legal? - Frederik quis saber me observando com preocupação.

- Tô sim.

- Relaxa Nívea, acontece com todo mundo - Patrick fez graça da situação.

- O professor Schneider passou por aqui agora pouco, indo pro estacionamento. - Foi a vez da Gabriele falar - Estranhou não te ver com a gente...

- Mesmo?

Como ele consegue ser tão cínico?, pensei.

Neste momento, Evandro me encarava com atenção. Ainda que eu estivesse tentando controlar o meu corpo pelo que aconteceu, pude ver que ele esboçou um leve sorriso de canto de boca. Era certeza absoluta que ele leu na minha testa, grifado com letras em neon, o que eu estava tentando esconder ou ao menos disfarçar.

- Se a senhorita Martin está bem, então podemos ir todos para casa.

Entramos no carro e com a minha mochila no colo, pude enfim respirar fundo com tranquilidade sem que nenhum dos meus amigos desconfiasse de algo.

E eu precisava contar o que aconteceu para a única pessoa que com certeza iria surtar.

***

- Entra minha querida, a Melissa está no quarto. - Dona Cecília disse muito gentilmente depois de abrir a porta para mim.

- Obrigada.

Ainda de uniforme e mochila nas costas, entrei e vi Felipe e o pai sentados à mesa de jantar encarando várias apostilas de estudo e em uma das pontas, uma bandeja com uma jarra de suco de laranja até a metade, alguns biscoitos e outros lanches. Estranhei não ver a Melissa com eles.

- Não repare a bagunça, eu e o Henrique estamos estudando com o Felipe.

- Tudo bem.

- Como vai, minha querida?

- Oi, Nívea.

- Oi. Vou bem, obrigada.

Observei o Felipe e o cansaço era nítido no seu rosto. Ainda assim era admirável toda a dedicação e foco que ele possuía para ser aprovado no concurso que ele tanto sonhava.

- Você vai passar, Lipe. Tenho certeza.

- É, eu também queria ter. A pior coisa que eu fiz foi acompanhar esse edital por etapas. Quando decidi ler na íntegra, o resultado final será daqui a mais ou menos dois anos.

- É sério?

- Sim - ele relaxou na cadeira, deixando o lápis em cima da página de uma apostila - Dá vontade de jogar tudo pro alto, fazer a prova da OAB e virar mais um advogado que trabalha em uma empresa jurídica qualquer.

- Filho, você sabe muito bem que eu posso acelerar todo esse processo...

- Não, pai! - ele enfatizou - Eu quero realizar cada etapa do concurso com o meu esforço mesmo sabendo que sou filho de um juiz.

- Que seja. Me sentiria mal fazendo isso, mas você é o meu filho. Usar da minha influência não seria difícil.

- Também não gosto quando você fala desse jeito, Henrique. - a madrasta do meu amigo sentou-se de volta à mesa, servindo-se de suco e bebendo um gole - É muito mais correto estarmos aqui com ele e estudando os três juntos. Aceita um pouco de suco, Nívea?

- Não obrigada, eu vou falar com a Melissa. - e segui em direção ao corredor até o seu quarto.

- Fique à vontade - e sorriu para mim.

Dei duas batidinhas e quando ouvi entra! de modo abafado, ao entrar, sorri gostando do que via. Melissa sentada em sua mesa de estudos toda preta fazendo algum trabalho, pois ela digitava rapidamente sem parar.

- É isso aí. Levando a sério o seu acordo com o seu padrasto.

- Oi, Ní! - ela continuava a digitar - Tô terminando esse trabalho de biologia que vale dois pontos contando com a nota da prova.

- Até estranhei não te ver na sala.

Ela então virou-se pra mim.

- Nós duas sabemos que Direito não é a minha área.

- Queria te contar uma coisa mas se você está ocupada eu volto depois.

- Calma aí - dando dois cliques com o mouse, ela salvou o que escrevia e fechou o notebook - Pode me contar agora! - E saiu da sua mesa, indo sentar-se na beira da sua cama e eu fiz o mesmo, colocando minha mochila do meu lado - Desembucha.

- Tenho que falar baixo. Fiz uma coisa hoje.

- Que coisa? - ela me encarava e ouvia com atenção.

- Eu e o Eric.

- Se encontraram de novo depois da aula? Normal. E como fez pro Evandro não descobrir? Sim, ele sabe de vocês, mas e aí?

- Foi depois da aula mas ao mesmo tempo não foi.

- Hã? Entendi nada!

- Dentro da sala de aula! - falei de uma vez e seus lindos olhos verdes dobraram de tamanho.

- É O QUÊ????? - a pergunta saiu em forma de grito e precisei cobrir a sua boca.

- Eu sabia que você ia reagir assim!

- Nívea... - ela tirou minhas mãos da sua boca - Como foi isso?

Contei para ela tudo o que aconteceu desde o início, com a minha crise de riso até a hora de ir embora para casa.

- Ní, vocês se arriscaram muito! Imagina se fossem flagrados por alguém mesmo com a porta trancada? Algum inspetor abre a porta? Tudo pode acontecer!

- Eu sei mas foi delicioso, você tinha mesmo razão, a adrenalina e o tesão vão à mil com o risco.

- Sim, só que uma coisa é fazer em uma praia deserta como eu te falei, outra coisa é você ser aluna de um colégio tão tradicional e dar a boceta pro seu professor em sala de aula. Percebe a diferença?

- Sim, mas eu adorei. Foi muito bom - e comecei a rir - Gozei muito!

- Pronto - ela revirou os olhos - Mas e aí, animada para sábado?

- Sim, só que eu tô muito preocupada com as provas. Elas foram antecipadas e agora eu terei dias a menos para estudar.

- E daí? Você sempre foi inteligente, vai dar um baile nas notas.

- Não posso ficar abaixo de nove e meio em nenhuma disciplina, isso conta muito no histórico dos alunos do terceiro ano.

- Você está com alguma nota abaixo dessa no primeiro bimestre?

- Não.

- Pois então não vai ser diferente agora. Mudando de assunto, lembra daquele dia em Búzios em que eu comprei na urgência um vestido pro restaurante?

- Lembro.

- Que bom - ela levantou-se rapidamente indo até seu guarda-roupa e pegando um modelo - O que você não viu ou se viu, eu não lembro, é que eu comprei mais de um e vou usar um deles na festa de sábado. - E pôs o vestido de cor azul-marinho em frente ao próprio corpo - O que você acha?

- Vai ficar linda.

- Pois é, a parte ruim disso tudo é que o Fê não vai, pois a próxima etapa do concurso é bem no domingo.

- Poxa, que pena. Por isso que tem aquela pilha de apostilas na mesa e ele tá mergulhado nela.

- Uhum. A minha mãe quer fazer um dia de beleza comigo, você acredita? Ela marcou na filial da clínica da sua mãe lá na Barra!

- Ué, então aproveita!

- É né, não tem outro jeito...

- Eu também amo esses momentos com a minha mãe. Mesmo aflita com as provas vou pedir à ela para fazermos igual. Ah e assim, se o Felipe não vai, então você vai comigo e os meus pais.

- Vou sim. Você viu o banner da festa? Dizendo que teremos algo diferente no dia.

- A Gabriele comentou comigo mas, não quis me dizer.

- O que você acha que é?

- Não faço ideia. Bom - peguei minha mochila de volta e a coloquei nas costas - Vou pra casa e me focar nas matérias de hoje.

- Não fica desse jeito. A pressão deve ser chata mas faz parte.

- Se eu tirar nove e meio em todas as matérias já fico feliz.

- Vai tirar muito mais que isso.

- Obrigada, Meli. - e trocamos um abraço apertado.

***

Por muitas vezes eu achava que o closet dos meus pais era um mundo à parte. Especialmente pelo fato de que a minha mãe ocupava o maior espaço com suas roupas, bolsas, sapatos e acessórios.

Sendo assim, tive o dia de beleza junto dela começando primeiro pela banheira de hidromassagem com os deliciosos sais de banho e depois garimpando algum vestido que combinasse comigo e com aquela noite de festa a qual iríamos em família.

O escolhido foi um preto todo em couro cujo comprimento iria até o meio das minhas coxas, fechado nos seios e que a alça contornava o pescoço sem apertar tanto. Ficou um pouco justo, o que salientou as minhas formas mas não ao ponto de parecer vulgar.

- Eu já tenho esse vestido há tempos, meu anjo! - minha mãe, usando um vestido bordô, comentou enquanto me observava através do espelho gigante do cômodo - E estou surpresa o quanto ele serviu perfeitamente em você. Na verdade, nem tanto.

- Não entendi - respondi confusa.

- Bom, ele cabia em mim quando eu estava alguns quilos mais magra - e riu.

- Você fala como se estivesse obesa.

- Prefiro dizer que não estou na minha melhor forma.

- Você é linda de todo jeito.

- Sim, mas uma dietinha básica até o seu baile de formatura não vai me fazer mal algum.

- Quando eu voltar da minha viagem de férias acho que vou controlar minha boca também - falei enquanto ajeitava a saia do vestido nas coxas e calçando a sandália de salto alto que toda a produção exigia - Você pode me maquiar?

- Claro, meu amor - sentei-me na penteadeira que ficava do outro lado e ela começou a limpar o meu rosto, realizando todos os passos de uma maquiagem.

Estava quase terminando, quando eu pedi:

- Posso escolher o batom? Queria usar um bem vermelho que vai destacar a minha pele.

- Deixa eu ver aqui... - ela começou a mexer em uma das gavetas com vários batons e me deu um da cor que eu havia escolhido - Toma. Comprei este aqui na loja da Dior em Paris. Lembra quando eu dei uma escapada de trem de Lyon para a capital alguns dias antes do Natal? Pois então...

Comecei a passar lentamente pelos lábios, concentrada, olhando para o espelho e ficou incrível. Olhos azuis destacados pelo lápis de olho e a boca vermelha feito sangue.

- Não poderia ter ficado mais linda, meu amor. E agora deixa eu fazer uma coisa - pegou os meus cabelos com cuidado e começou a penteá-los até deixar o rabo de cavalo no alto convertendo em um coque - O seu rosto precisa aparecer mais com toda essa produção - Prendeu os fios com um elástico fino e macio e alguns grampos pequenos, puxando duas mechas para a frente do meu rosto - Pronto.

- Fiquei parecendo aquelas modelos e atrizes que adotam o estilo menos é mais. Apenas um par de brincos discretos e aí sim, estou pronta.

- Isso, agora é a minha vez de terminar de me arrumar. Seu pai já deve estar impaciente na sala.

Deixei o closet e fui até o meu quarto escolher o par de brincos. O escolhido foi um de ouro com pedrinhas brancas bem pequenas.

Peguei meu celular, fiz uma rápida selfie de corpo inteiro no meu espelho e enviei uma mensagem para a Melissa avisando que já estava pronta.

***

- Realmente uma pena, o Felipe não ter vindo - comentei quando chegamos no hall de entrada do prédio em direção ao elevador - Ele iria se divertir muito.

- Eu também fiquei triste, Ní. Mas como ele mesmo disse: de que adianta vir e ter que ir embora cedo da festa para não se atrasar amanhã no local da prova?

- Melissa tem razão, món ange - meu pai comentou e as portas do elevador logo abriram-se, no que nós entramos - Se o Felipe tem este sonho em ser delegado, sacrifícios como esse serão necessários.

- Nem mesmo na sua festa de formatura ele confirmou presença ainda - minha mãe acrescentou.

- Se ele não for, eu vou entender, não tem outro jeito.

Ao chegarmos na cobertura, tomamos um susto. A enorme sala estava completamente vazia e foi transformada em uma boate com luzes e fumaças típicas das pistas de dança. Alguns jovens convidados já estavam dançando em pequenos grupos.

- Meu Deus, o que aconteceu aqui? - minha mãe perguntou.

- Sejam bem-vindos - uma recepcionista trajada em um colete e calça social pretos com finas riscas brancas aproximou-se com um tablet em mãos - Preciso dos nomes de vocês.

- Somos a família Martin e a amiga Melissa Amorim - meu pai respondeu de imediato.

- Claro, só um instante. - procurou na lista nossos nomes - Aqui está! Melissa Amorim, os pais não vieram mas enviaram presentes para os aniversariantes.

- Isso mesmo - a ruiva confirmou.

- A Família Martin, os nomes também estão aqui. Certo, agora eu preciso que me entreguem os aparelhos celulares.

- Como assim? - minha mãe quis saber.

- Bom. Fotos e vídeos com celulares estão proibidos durante a festa pois estamos com fotógrafos contratados para realizar todos os registros dos aniversariantes e convidados.

- E qual a razão para o recolhimento dos aparelhos? - foi a vez do meu pai perguntar.

- Teremos um open bar na festa com vários tipos de drinks sendo servidos e com isso, excessos não poderão ser registrados. Se é que me entendem.

- Nossa, que demais! - Melissa vibrou empolgada.

- Sim - a recepcionista continuou - É uma comemoração apenas para convidados mesmo, nenhum veículo de imprensa está presente. Mesmo com a presença de alguns pais, a maioria dos jovens aqui são menores de idade.

- E se alguma foto inadequada vazar para a imprensa... - meu pai rapidamente entendeu o procedimento - A imagem do Willian e da Natália será exposta de forma negativa.

- Exato. Mas fiquem despreocupados. Os aparelhos de vocês serão cuidadosamente lacrados, marcados com uma numeração e uma pequena placa correspondente ficarão com vocês. No final da festa, os celulares serão entregues de volta. Temos três pessoas responsáveis por isso, afinal são muitos aparelhos.

- Então era esse o diferencial que a Gabi me falou na aula... - comentei enquanto todos os aparelhos foram recolhidos e lacrados.

- Eu adorei! Vamos poder aprontar todas e ninguém vai ficar sabendo - Melissa começou a rir.

Após o lacre, as pequenas placas correspondentes ficaram na bolsa da minha mãe e enfim, entramos na festa. O telão da sala estava passando várias imagens dos aniversariantes em diversos momentos da vida enquanto uma DJ tocava as músicas do momento.

Um fotógrafo aproximou-se, tirou fotos de nós e quando chegamos na área externa da cobertura, havia mesas e cadeiras e o open bar montado na ponta oposta da piscina.

- Nossos amigos sempre presentes! - Simon Bertrand nos avistou e cumprimentou com toda empolgação de sempre.

- Adorei que a Nívea decidiu ousar no batom - Denise me observava - Como você está? E você, Melissa?

- Estou bem, querendo saber se já estão servindo alguma coisa pra comer!

- Estava demorando para você perguntar o óbvio.

- Mas é claro, do contrário não é festa.

Willian e Natália aproximaram-se de nós e repetiu-se toda aquela formalidade de cumprimentos.

- Patrick e Gabriele estão por aí, fiquem à vontade para procurá-los. - Natália disse e saímos pela festa.

- Eu ainda não vi o Eric... - falei em voz baixa.

- Se ele não chegou, deve chegar daqui a pouco. Controla essa ansiedade no meio das pernas!

- Ai Meli, para com isso! Não custa nada vê-lo e cumprimentá-lo como professor e aluna...

- Sim, e não se esqueça disso.

De repente, Patrick e Frederik surgiram na nossa frente em meio aos convidados na pista.

- As minhas favoritas chegaram! - o aniversariante falou com a voz alta e um pouco arrastada, munido de uma bebida de cor branca com um abacaxi enfeitando uma taça alta e diferenciada, de base mais larga, além de um canudo transparente que o ajudaria a sorver - Deixa eu dar um beijo em vocês - E tascou um beijo estalado em cada lado das nossas bochechas.

- O Patrick já está na segunda taça de Piña Colada, meninas. - Frederik explicou - Que bom que chegaram.

- Eu vivi pra ver o Patrick bêbado - Melissa fez a zoação enquanto que eu fiquei sem reação ao vê-lo sob efeito da bebida.

- Então... - ele começou a falar pausadamente tentando disfarçar o efeito do álcool - Isso aqui - ergueu um pouco a taça - Já é a preparação para a nossa maioridade no ano que vem.

- Entendi, Patrick! - sorri.

- Não, não! Tem mais! Tem todas as bebidas que vocês podem imaginar lá no open. Nossos pais liberaram tudo. Menos drogas - e começou a rir descontroladamente.

- Tá e cadê a sua irmã? Queremos falar com ela. - a ruiva perguntou.

- Não sei, deve... Ah, ela deve estar no quarto, na décima tentativa de ajeitar aqueles cachos.

- Queremos falar com ela e a sua avó também.

- Ah, a vovó... Então... A vovó, ela... - e parou ficando calado - A vovó tá aonde mesmo? - virou-se para o Frederik.

- A avó Raquel foi hoje para um hotel depois que vocês almoçaram com ela - Frederik explicou calmamente.

- Isso aeeeee - sua voz se alterou - Por isso que eu amo esse meu melhor amigo desde a infância - e do nada estalou um beijo na bochecha do Frederik.

- Patrick, vai com calma... - eu pedi - Você bêbado não vai curtir nada do próprio aniversário.

- Ih relaxa, Nívea. Tá tudo sobre controle, inclusive vou dar uma pausa agora para depois continuar experimentando cada um dos drinks. Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier!

Os dois amigos saíram pela pista e nós duas continuamos a circular pela comemoração, encontrando e cumprimentando alguns rostos conhecidos do condomínio que estávamos acostumadas a frequentar.

- Ih, olha ali o Evandro! - Melissa apontou para o guarda-costas que estava no open bar conversando com um dos barmans - Como sempre isolado nas festas.

- Vamos falar com ele, aproveitamos para ver os cardápios e o que estão servindo!

- Até parece que seus pais vão deixar você beber alguma coisa!

- Não custa nada olhar os drinks como foi no aniversário do Felipe aquela vez!

- Sim e sabemos bem como a noite terminou! O Eric rompeu o seu lacre!

- Shiuu, fala baixo!

- Com a música nesse volume alto ninguém vai ouvir a gente!

- Tá bom, agora vem!

Nos aproximamos de mansinho e cutuquei o ombro do Evandro que imediatamente virou-se.

- Oi, meninas! - sempre simpático, ele sorriu ao nos ver e o barman continuou a preparar um drink para um dos convidados - Que bom vê-las aqui!

- Bom saber que desta vez você veio, bem diferente do ano passado! - Melissa relembrou.

- Naquela semana a minha mãe teve uma crise de hipertensão e então eu e minha irmã ficamos com ela. Por isso, eu não fui à festa deles.

- Que pena. Mas agora ela está bem?

- Sim, basta tomar os remédios que fica tudo sobre controle.

Um dos barmans nos entregou os cardápios com todas as bebidas de inúmeras cores: Cosmopolitan, Dry Martini, Piña Colada, Lagoa Azul, Bloody Mary, Sex on The Beach, Gin Tonica, Tequila, Margarita... Eram muitas opções e cores. Além daquelas que eram frequentes como Ice, vinho e caipirinhas de limão, morango e maracujá.

- Puta que pariu, Ní. Imagina se a gente experimentasse todas elas!

- São tantas cores e servidas em taças cada uma mais diferente que a outra. Você já experimentou alguma, Evandro? - perguntei a ele com os olhos nas diferentes bebidas, mas ele não me respondeu - Evandro? - Ao encará-lo, seus olhos estavam paralisados em uma direção e podia jurar que eles brilhavam um pouco.

Quando vi para onde ele olhava, meu mundo paralisou também. Eric e Luciana estavam cumprimentando os donos da casa e em seguida pelos meus pais e os pais do Frederik.

- Finalmente a festa vai começar! - Melissa me abraçou pelos ombros, observando também a cena que se desenrolava.

- Eu não sabia que ela viria... - Evandro falou em forma de sussurro e não conseguiu disfarçar um meio sorriso.

- Não foi você quem a convidou? - perguntei.

- Não, claro que não, eu estou aqui na festa, mas trabalhando. Não vou beber nada além de água e muito menos tive a intenção de pedir ao Willian para trazer alguém.

- Sei como é, convidado não convida! - a ruiva comentou e deduziu em seguida - Então foi o Eric quem conseguiu convidar e armou tudo, porque ele sabia que você estaria aqui! Que jogada certeira do seu professor favorito, hein?

De repente, Luciana olhou na nossa direção e tomou um pequeno susto. Talvez ela não imaginava que o Evandro estaria aqui e a expressão no seu rosto era um pouco perplexa. Eric fez o mesmo, com a diferença de que seus lindos olhos azuis estavam voltados para mim. Eles aproximaram-se de nós junto de um climão desconfortável.

- Oi, Evandro. Meninas - Eric nos cumprimentou e seu olhar parou nos meus lábios - Está linda como sempre, Nívea.

- Obrigada - respondi em voz baixa.

- Oi, Eric - Evandro fez o mesmo - Não sabia que você, viria Luciana.

- Pois é - ela respirou fundo - O Schneider fez algo raro na nossa amizade que é implorar por alguma coisa e ele o fez. Implorou de todas as formas para que eu viesse à festa e agora eu entendi o motivo.

- O Willian me convidou à pedido dos aniversariantes, perguntei se poderia trazer a Luciana e ele disse que não teria problema nenhum. Foi apenas isso.

- É claro que foi - ela disse em tom sarcástico.

- Foi bom você vir, Luciana. Essa sua mudança está te deixando mais estressada do que o normal e você precisava se distrair. Estou errado?

- Concordo com o Eric - Evandro afirmou sem tirar os olhos dela.

- É verdade! - Melissa foi sagaz em aliviar a tensão do momento - E como está indo a mudança?

- Eu já estou com as chaves do apartamento. Felizmente, vou ficar por Copacabana em uma rua bem mais tranquila. Mas como o imóvel precisa de algumas reformas e uma boa pintura, que já estão em andamento, eu só devo me mudar no início de julho.

- Que bom.

- Fico feliz por você, Luciana.

- Obrigada, Nívea. Também estou muito feliz. Agora sim, meu cantinho será do jeito como eu sempre sonhei. E não se preocupem, vou marcar um jantar com todos vocês assim que tudo estiver cem por cento.

- Iremos com toda certeza!

Quando o assunto é comida, Melissa fica feliz.

- Com licença, ainda não vimos a Gabriele - pedi para sair daquele climão.

- Claro, estarei bem na companhia de dois amigos.

- Bom, eu... - Eric tentou argumentar algo.

- O Evandro não vai se importar do Schneider aqui com nós dois.

- Claro que não!

Percebi que a Luciana sentia-se insegura naquela situação ao ponto de não ficar sozinha com o guarda-costas. A surpresa em rever o Evandro a deixou despreparada.

Saí na companhia da Melissa e não consegui esconder totalmente a minha tristeza ao saber que o Eric não havia me contado sobre o plano para que ela e o Evandro se encontrassem.

- Que cara é essa? - Melissa questionou quando chegamos perto da pista de dança que estava mais cheia.

- O Eric não me contou sobre o plano dele...

- Ah, pronto! Agora a sua noite vai acabar por causa disso?

- Não é justo ele esconder as coisas de mim, Meli...

- Ué Nívea, vai ver ele não te contou porque... Bom... - ela me encarou pensativa... Ah, sei lá!!!

- Quando é o contrário ele praticamente exige que eu conte tudo o que se passa comigo... E está se repetindo igual no ano passado, chegou de surpresa na festa...

- Nívea, para de ficar montando tríplexs na sua cabeça, cacete!

- Eu vou perguntar e quero ver se ele vai me confirmar.

- Isso mesmo, agora vamos achar a Gabi e depois procurar alguma coisa pra comer!

***

Gabriele estava linda em um vestido vermelho bem ajustado ao corpo, no meio da pista de dança posando para fotos. Primeiro sozinha e depois ao lado de duas amigas também influencers digitais. Algumas poses depois, os fotógrafos encerraram aquela rápida sessão e ela veio ao nosso encontro.

- De todos os convidados só faltavam vocês, hein! - ela falou exaltada, nos abraçando e beijando - Vamos tirar foto nós três.

- Vamos sim, Gabi. Aliás, foi um diferencial e tanto este que você não quis me contar.

- Gostaram? - ela riu - Sem imprensa e tudo liberado pela festa.

- Eu amei. E realmente não falta mais ninguém, nem o seu professor favorito. - Melissa disse, sorrindo de forma irônica.

- Como assim? - ela congelou - O professor Schneider também já chegou?

- Aham. Ele e a Luciana estão perto do open bar.

- Meu Deus! Como está o meu rosto? Meu batom está borrado? - perguntou aflita para os próprios lábios pintados de vinho - E os meus cabelos?

- Você está linda como sempre, Gabi. No ano passado você não ficou tensa desse jeito.

- Tem certeza disso, Nívea? Vou falar com o professor e não posso cometer deslizes, afinal sou a aniversariante.

- Não tem nenhum deslize na sua maquiagem. Pode ir sem medo.

Ajeitando o seu vestido e sua postura, Gabriele foi em direção aonde Eric e Luciana estavam para cumprimentá-los, no alto dos seus saltos também vermelhos. Melissa e eu ficamos dançando discretamente ao som da batida e pegamos uma pequena taça de coquetel de frutas que um dos garçons servia.

- Esse coquetel possui álcool? - perguntei antes de dar o primeiro gole.

- Estes não. - ele explicou - Os drinks alcoólicos estão no open bar.

- Ah, sim.

Bebíamos tranquilamente e alguns minutos depois, Gabriele voltou na nossa direção sem deixar de olhar para trás algumas vezes.

- Por acaso vocês perceberam o que eu percebi?

- Sobre o quê? - perguntei.

- Tá rolando alguma coisa entre o Evandro e a Luciana?

- Desde o Carnaval, Gabriele - Melissa respondeu após sorver o coquetel no pequeno canudo.

- E vocês não me contaram nada? - ela fechou a cara - Que ótimas amigas eu tenho.

- Gabi, não é isso. Até onde a gente sabe, eles não estão namorando. Apenas eu e a Meli estamos sabendo e o professor Schneider comentou com a gente, mas não me lembro quando foi - disfarcei a informação que eu sabia desde o Carnaval - Claro, sendo eu a aluna favorita dele.

- Nós duas - enfatizou - somos as alunas favoritas dele, Nívea! - ela mantém o semblante fechado.

- Tá bom, tá bom!

- Com licença, meninas - Natália aproximou-se de nós e puxou a filha pela mão - Gabriele, o fotógrafo quer mais algumas fotos suas com o seu irmão. Vamos lá.

Mãe e filha afastaram-se de nós para mais fotos.

- Coitada, eu já sinto pena dela quando descobrir que você senta horrores na pica do professor gato. Vai surtar de todas as formas... - a ruiva comentou.

Suspirei fundo, revirando os olhos. Mas também me peguei pensando no comentário da minha amiga.

- Você estava certa. Ela precisa estar no centro das atenções o tempo todo.

***

A festa corria naturalmente bem.

Porém, aquele incômodo em saber que o Eric não havia me contado nada, insistia dentro de mim.

Após bebermos água, alguns coquetéis de frutas e dançarmos na pista senti vontade de ir ao banheiro. O longo corredor da cobertura, iluminado com uma luz baixa, estava uma movimentação caótica com os convidados da nossa idade bebendo, alguns aos beijos e a porta do pequeno escritório dos pais dos aniversariantes era um entra e sai sem parar.

- Uma pequena amostra do inferno existe e podemos provar - Melissa brincou.

Ao tentar entrarmos, a porta do banheiro social estava trancada e não nos restou outra coisa além de esperar, encostadas na parede, a pessoa sair de dentro dele. O que eu não esperava era que não tratava-se de qualquer pessoa.

- Meninas... - O dono daquele olhos azuis nos encarou e parou de forma automática na minha boca. Novamente.

- Oi, Eric... Vem logo, Nívea - a ruiva me pegou pelo braço - Também estou apertada.

Fiquei séria o tempo todo enquanto usávamos o banheiro e lavarmos as mãos.

- Ainda com essa cara de enterro pelo que o Eric fez? - ela cruzou os braços questionando.

- Vem, vamos sair.

Destrancamos a porta e fiquei levemente surpresa ao vê-lo parado no corredor.

- Fiquei esperando vocês porque quero ter certeza de que voltarão inteiras para a festa no meio dessa confusão.

- Está tudo sob controle, senhor master chato. Eu e a Nívea não nos desgrudamos.

Convidados da nossa idade continuavam a passar entre nós três rindo, falando alto com suas bebidas em mãos não dando a mínima para o clima pesado presente naquela conversa.

- Os meus pais estão aqui. Você não precisa se preocupar comigo. - falei de forma fria no que ele sentiu.

- O que houve?

- Você vai me contar ou não?

- Contar sobre o quê?

- Você trouxe a Luciana pra festa de propósito para que ela e o Evandro se encontrassem, não foi?

- Não sei do que você está falando.

- Eric, conta logo - Melissa pediu - Não é mais um tríplex, e sim a mansão da cantora Beyoncé que está montada na cabeça dela.

- Eu trouxe a Luciana exatamente pelo motivo que eu contei logo que chegamos.

- E ainda prefere mentir. Agora imagina se fosse eu, não é?

- Não fica desse jeito, ma petite - ele aproximou-se tentando me tocar mas eu recuei.

- Não encosta em mim. Ou você me conta ou então eu sumo com o Frederik aqui na festa.

- Cacete, agora pegou pesado! - Melissa riu.

- Você não vai fazer isso. Não tem coragem.

Eric e eu continuamos a nos encarar de forma séria, absorvendo toda a tensão existente naquele momento entre nós. Foi quando surgiu em mim uma ideia.

- Você tem razão - sorri fechado - Farei algo melhor. Vamos, Meli. Preciso falar com os meus pais - e a puxei pela mão em direção à festa, deixando-o parado no corredor. Tinha certeza de que os seus olhos me seguiam.

Caminhei a passos rápidos, em meio a esbarrões em outros jovens, decidida a fazer o que eu queria mas precisava da permissão dos meus pais para isso.

- Ní, pelo amor de Deus, o quê que você vai fazer? - Melissa me acompanhava no mesmo ritmo.

- Você já vai saber.

Chegamos no meio dos adultos da festa e vimos meus pais conversando de forma animada, sentados em uma mesa, com um dos convidados.

- Meu anjo - minha mãe sorriu para mim e meu pai me encarou ao me ver - Você sumiu! Está tudo bem?

- Está sim. Quero pedir uma coisa à vocês dois.

- O que você quer? - meu pai perguntou.

- Quero pedir à vocês se eu posso beber os drinks que estão sendo servidos no open bar.

- Filha...

- Nívea, já conversamos sobre isso...

- Eu sei mas é só hoje! Além disso, eu não estou sozinha. Vocês estão aqui e a Melissa vai ficar ao meu lado o tempo todo.

- Eu? Ah... É. Vou sim!

- E tem mais: vamos embora para casa todos juntos. Eu não vou ficar aqui.

- Nisso ela tem razão, Jacques.

Meu pai suspirou e deu a resposta que eu precisava ouvir.

- Está certo! - ele autorizou e eu vibrei - Mas que você beba água entre um drink e outro. E Melissa, não saia de perto dela.

- Não vou sair! - e fez um gesto com a mão na testa em forma de continência.

Saímos as duas em direção ao open bar. Eu estava com o coração acelerado mas iria seguir com a minha provocação em forma de vingança até o fim.

- Nívea, você tem certeza disso?

- Tenho sim, isso é para o Eric aprender a nunca mais me esconder as coisas. Agora eu preciso achar o Patrick.

Percorremos as duas pela festa até que vimos o aniversariante indo em direção ao corredor ao lado de uma menina com os cabelos ruivos cor de morango, com o braço dele por cima do ombro dela.

- Patrick! - chamei por ele e consegui alcançá-lo, parando na sua frente.

- Nívea! Diga aí! - àquela altura da festa ele mal conseguia manter-se de pé sendo amparado pela garota ruiva cor de morango - Vem cá, deixa eu te dar outro beijo - e beijou novamente a minha bochecha.

- Qual era mesmo o nome daquele drink que você estava bebendo?

- Qual deles? Já foram alguns até agora.

- O de cor branca!

- Ah... Era.. Agora eu esqueci... Ah, lembrei.. Acho que era a Piña Colada.

- E é muito forte?

- Forte... Aí depende, linda...

- Depende do quê?

- Depende da quantidade de vodka que você pedir para colocar. Se quiser muito forte, pode colocar o leite de coco na mesma quantidade para você não sentir tanto.

- Entendi.

- Vai experimentar? - perguntou com um sorriso.

- Vou. Meus pais deixaram.

- Boa, garota! Aproveita a festa ao máximo. Agora com licença que eu e a Paloma vamos tentar fazer nossa festinha privada, não é não? - ele piscou para a garota e lhe deu um selinho.

- Nem nos meus sonhos eu poderia imaginar estar aqui com você, Patrick - ela disse ansiosa.

- Patrick, se cuida! - pedi a ele.

- Tá tudo bem, Nívea. Ó, vou te mostrar - ele pôs a mão dentro de um dos bolsos da calça social preta e tirou uns pacotes de camisinhas - Só tô bêbado, não doido.

Agora com licença, gatas. Ou vocês querem assistir?

- Claro que não, deixa de ser nojento! - Melissa retrucou e ele começou a rir saindo com a ruiva corredor adentro.

- Agora vamos, Meli - Vi a Melissa com cara de preocupação e ela me seguiu de mãos dadas até o meu objetivo final.

- Você ainda pode voltar atrás, Nívea...

- Eu não vou voltar!

- Tem certeza?

- Melissa, você ficou toda empolgada quando viu os drinks e agora está com medo? Você não precisa beber junto comigo!

- Que Deus tenha piedade... - e fez o sinal da cruz.

Quando nos aproximamos do balcão, todos os barmans estavam ocupados montando drinks para os outros jovens e enquanto esperava a minha vez de ser atendida, peguei o cardápio para ver com mais calma as opções.

- Aqui amiga, o que você acha? Depois da Piña Colada, qual eu escolho para experimentar? Cosmopolitan ou Sex on The Beach? - perguntei em um tom de voz elevado para provocar.

- Escolhe o que você quiser, eu só preciso ficar ao seu lado.

- Nívea. - ouvi a voz da Luciana me chamar - Tá tudo bem?

- Tá sim, Luciana. Fica sossegada, meus pais estão sabendo. Eles deixaram - e pisquei para ela.

- Ah, então tá certo. - ela sorriu e em seguida balançou a cabeça em negação.

A essa altura, Evandro não parava de rir e a terceira pessoa ao lado deles, eu fiz questão de ignorar a existência, sabendo que a raiva estava dominando o seu pescoço com as veias saltando.

- Próximo! - o barman moreno, usando blusa branca regata e avental preto chamou. Era a minha vez.

- Então, eu vou querer esse aqui - apontei para o drink no cardápio.

- Certo, qual o tamanho da taça?

- Tem mais de um tamanho?

- Tem sim - ele pegou duas taças vazias de tamanhos diferentes e pôs no balcão - Qual delas você prefere?

- Quero a grande. Pode caprichar na vodka? Quero dose dupla.

- Posso, claro.

- Ótimo.

E aguardei pacientemente o preparo do meu drink.

- Eu espero que essa noite não acabe em tragédia... - Melissa comentou em voz baixa.

- E por quê iria acabar? Eu estou com os meus pais! - falei bem alto para que o Eric ouvisse.

- Aqui está. - o rapaz me entregou o drink devidamente pronto e dei um primeiro gole com o canudo - Nossa, isso é delicioso! Qual o seu nome?

- Ivan.

- Obrigada, Ivan. Vamos pra pista, amiga.

E fomos nós duas dançar como se não houvesse amanhã.

****

🎶 🎵 Desenrola, bate...

Joga de ladinho 🎶 🎵

A sequência de funk não poderia estar melhor e isso eu percebi com a pista lotada.

- Gente, isso é muito bom! - elogiei a cada gole que eu dava com força e rebolava até o chão com a música.

- Nívea, bebe isso devagar. Você não está acostumada! - a ruiva implorava.

- Você sabe que eu bebo vinho branco com os meus avós em dezembro, Meli!

- Tu quer comparar vinho branco com uma bebida feita de vodka em dose dupla?

- Tudo é álcool! - terminei de beber e comi o pedaço da fruta que enfeitava a taça.

- Ih, era abacaxi! - e comecei a rir descontroladamente - Lembrei da piada! - e continuei a rir, já sentindo os efeitos da Piña - Acho que eu tô um pouco tonta...

- Claro que está, bebeu isso como se bebe água! Aliás, é o que você precisa agora.

- Verdade... Eu prometi aos meus pais.

De mãos dadas com a Melissa, saímos a procura de algum garçom que estivesse servindo água. Infelizmente a cozinha estava com o acesso restrito apenas aos funcionários do buffet.

🎶 🎵 Hawaiano é brabo, hein 🎶 🎵

No meio da pista de dança, vimos o Frederik dançando do jeito fofo dele com algumas meninas e, ao me ver, percebeu que eu não estava no meu normal.

- Nívea...

- Jacques e Helena deixaram ela beber essa noite e agora eu estou de babá - Melissa explicou, não descruzando o braço dela do meu.

- Ah, tá. Você tá legal?

- Eu tô ótima! - minha voz claramente alterada - Só preciso beber água.

- Sei... Fica aqui que eu vou ver se consigo no open.

- Tá, a gente te espera.

- Ele sempre tão fofo, Meli... - falava sorrindo, sentindo também a minha voz arrastar.

- Aham, muito.

Rapidamente, Frederik voltou com uma pequena garrafa de água gelada e eu bebi rapidamente sentindo minha garganta aliviar.

- Agora espera - Melissa passou o dedo no contorno dos meus lábios - vamos deixar esse batom decente.

- Ajeitou?

- É, dá pro gasto.

- Show! Agora eu vou experimentar outro drink.

Frederik não parava de me encarar com um olhar de preocupação pois era a primeira vez que me via sob o efeito de álcool.

- Você não quer beber também, Frederik?

- Só bebi uma taça de vinho tinto. Eu tô legal.

- Ah, que pena. Só eu bebendo sozinha. O Patrick podia me fazer companhia mas ele está com outra garota. Vem Meli, vou pegar outro.

Com apenas um drink eu me sentia um pouco tonta mas ao mesmo tempo, uma sensação de estar nas nuvens. Não sei como eu não torci o pé pois o salto que eu usava era bem alto.

- Oi Ivan, sou eu de novo! - desta vez o balcão estava vazio.

- Oi - ele sorriu gentilmente - O que vai ser?

- Quero aquele que a taça é em forma de triângulo!

- O Cosmopolitan.

- Isso mesmo! - falei bem alto chamando a atenção de quem estava por perto. - Por isso que eu escolhi você pra me atender. Pode fazer com dose dupla de vodka também?

- Infelizmente não, pois vai transbordar na taça.

- Ah, que pena! Então faz do jeito dele de sempre.

- Está certo.

- E eu quero duas garrafas de água - Melissa pediu.

- Agora mesmo!

Melissa ficou calada e não tirava os olhos de mim.

- Amiga, é sério. Bebe esse e depois vamos comer um pouco...

- Eu quero experimentar todos do cardápio!

- Tá bom, mas vamos comer também. Você está de estômago vazio.

- Tá, tá bom!

O drink chegou junto das duas pequenas garrafas de água, e diferente do anterior, a dose dele era mais discreta e até sofisticada.

- Agora vamos procurar alguma coisa pra comer!

Achamos uma mesa vazia e a minha amiga me deixou sentada sozinha por alguns minutos. Foi quando senti minhas pernas doloridas por causa do salto e de tanto dançar. Esperei e Melissa voltou com dois pequenos pratos de Coq au vin e batatas.

- Olha só, um típico prato francês. - e ri - Vamos ver se é bom igual ao da minha avó. - dei a primeira garfada - Hum, tá uma delícia.

- Por sua causa, eu estou quase a noite toda sem comer! - Melissa fazia o mesmo com garfadas mais generosas.

- Por minha causa por quê?

- Porque eu tenho amor à minha vida e estou de olho em você!

- Você que está sentindo medo por nada.

- Ah, que bom. Encontrei vocês! - minha mãe nos viu sentadas e fez o mesmo - Você está bem, meu anjo? - e fez um carinho no meu rosto.

- Estou sim, mãe - e sorri - Já bebi água e agora comendo.

- Vou deixar vocês aqui e pegar batata-frita que também estão servindo! - e a ruiva saiu da mesa com o seu prato já vazio.

- Quantos drinks você bebeu?

- Até agora, dois - continuei comendo - Mas eu posso beber os outros, não posso? - ergui discretamente e dei um pequeno gole no Cosmopolitan.

- Com calma, sim. Você pode.

- Falei a mesma coisa - Melissa voltou trazendo uma porção de batatas fritas modo crinkle, colocando na mesa e comendo em seguida.

Terminei de comer, bebi mais um gole do drink e acompanhei a Melissa nas batatas.

- Fica tranquila, mãe - beijei o seu rosto - Vou me comportar direitinho como sempre.

- Tá bom. Só te procurei porque seu pai ficou preocupado e eu também. Melissa...

- Não se preocupa, Dona Helena. Estou grudada na sua filha.

- Certo - ela parecia aliviada - Se você se sentir mal, me fala tá bom?

- Tá bom, mãe. Eu estou ótima! - ergui a bebida e dei o gole final, deixando-a na mesa.

Ela ajeitou alguns fios dos meus cabelos, beijou o meu rosto e voltou para onde estava com os seus amigos. Terminei de comer as batatas fritas com a Melissa e estava me sentindo melhor do que nunca.

- Meli, acho que eu estava com tanta fome igual a você mas a bebida não me deixou sentir... - E comecei a rir de novo.

- Sim, agora bebe essa água aqui - e encheu a taça vazia do Cosmopolitan - Vamos ver se vai cortar o efeito o que eu tenho quase certeza que não.

Bebi a água e quando me levantei da mesa, tudo girava.

- Melissa! - agarrei no seu pulso - Me segura! Eu tô tonta! - Meu corpo não me obedecia indo para frente e para trás.

- Eu falei pra você ir com calma!

- Então ficar totalmente bêbada é assim?

- É, é assim. Satisfeita?

- Meli, tô vendo tudo rodar! Meu Deus... Como que isso passa?

- Se você não beber mais nada colorido à base de vodka, isso vai passar!

- Mas e os outros drinks? Eu quero experimentar os outros drinks! - eu não reconhecia minha voz bastante arrastada. - Eu já comi e agora posso beber de novo!

- Primeiro você tem que conseguir ficar em pé sem correr o risco de ele torcer nesse salto! - ela segurava a minha mão tentando não me deixar cair.

- Mas eu quero continuar bebendo!

- Que tal alguma coisa mais leve? Lembra do vinho branco na casa dos seus avós?

- Você acha?

- Na verdade acho que você podia parar. Mas o vinho deve ser mais leve.

- Então tá bom.

- Vai conseguir andar?

- Não sai do meu lado, Meli.

- Não vou sair.

Saímos as duas da mesa onde estávamos e, mesmo vendo tudo girar, consegui caminhar devagar. Paramos na pista novamente e começamos a dançar ao som da sequencia de hip-hop que tocava. Apesar de sentir o cheiro do álcool na minha boca e na pele junto do meu perfume e do suor, veio a vontade de experimentar os vinhos servidos.

- Cadê o vinho branco, Meli? - falei o mais alto que pude para a minha amiga ouvir pois a música parecia mais estrondosa que o normal.

- Tem certeza de quer continuar, Ní?

- Você disse que vinho é mais leve!

- Eu sei mas espera mais um pouco. Toma mais água. - e me deu a garrafa para beber e eu o fiz.

- Pronto. Agora eu quero o vinho!

- Vem comigo. - me pegou pela mão em direção ao corredor e encostamos na parede e por pouco não deslizei até o chão pois sentia minhas pernas fracas.

- Que tal se você parasse e ficasse apenas na água?

- Parar por quê se os meus pais deixaram?

- Você pode passar mal...

- Meli, você tá uma chata! - comecei a reclamar em voz alta - Fica me controlando, parece até alguém que a gente conhece.

- E se eu fosse você, nem chegava mais perto dessa pessoa por hoje.

- Eu não vou! Ele que fique por lá!

Vi um garçom passando pela pista com uma bandeja, uma garrafa de vinho e algumas taças.

- Moço! - gritei - Isso aí é vinho, não é?

- É sim.

- Eu quero uma taça.

Prontamente ele me serviu até a metade e eu bebi de uma vez só, deixado a taça vazia em questão de segundos.

- Deseja outra dose?

- Não, obrigada - pus a taça vazia de volta à bandeja - Tenho que experimentar as outras.

O vi saindo para servir os outros convidados e senti o braço da Melissa cruzado com o meu. Meus olhos piscavam e fechavam devagar como se eu estivesse com sono. Mas não era. Além da tontura, deveria ser mais um efeito da bebida.

- Meli.

- Oi, estou te ouvindo.

- Quero ir ao banheiro de novo. A vontade é enorme.

- Tá bom, vamos ver se o social está ocupado.

Fomos as duas caminhando pelo corredor e cruzamos com a Natália vindo da direção do quarto dela.

- Meninas!

- Oi, Natália! - sorri ao vê-la.

- Está tudo bem com vocês?

- Comigo sim. Com a Nívea nem tanto.

- Estou vendo que exagerou pelo open bar. - a apresentadora comentou enquanto me observava.

- Ah, só um pouquinho. Agora só preciso ir ao banheiro.

- O social está fechado por um momento porque tem dois funcionários do buffet fazendo a limpeza. Vocês podem imaginar o quanto ele deveria estar intragável. Mas esperem aqui.

Ela saiu caminhando rapidamente até a recepção e voltou trazendo uma pequena chave.

- Toma - ela entregou para a Melissa - o meu quarto, o da minha sogra e o da Gabriele estão fechados para os convidados mas vocês duas são de casa e esta é a chave reserva do quarto da Gabriele. Vocês podem usar a suíte dela.

- Poxa, obrigada mesmo. - a ruiva agradeceu.

- Fiquem o tempo que precisarem e não entreguem esta chave a ninguém, certo? Ah e daqui a pouco vamos cantar Parabéns. Patrick exagerou na dose também.

- Está certo. Não vamos demorar. Vamos lá, Ní.

O caos existente entre os convidados não parecia ter fim conforme eu e a Melissa nos aproximávamos do quarto da aniversariante. Disfarçando, Melissa parou em frente à porta e esperou até ver que ninguém estava nos olhando. Ela abriu a porta, nós entramos e ela trancou rapidamente.

Nunca pensei que poderia apreciar tanto o silêncio e a paz em um cômodo.

- Ufa, que alívio!

- Preciso ir ao banheiro.

- Amiga, deixa eu ir primeiro. Você com certeza vai demorar, eu vou usar rapidinho e depois prender os meus cabelos.

- Pode ir - Me sentei na cama, sentindo dor em cada parte das minhas pernas e a vontade de deitar naquela cama era imensa. Mas se eu fizesse isso, iria dormir.

Ouvi o barulho da descarga e a porta se abrir. Melissa saiu com os cabelos ruivos presos no alto e úmidos na testa.

- Agora me deixa ir. - Entrei, fechando a porta e ao ver meu rosto no enorme espelho da pia, quase não me reconheci: rosto suado, maquiagem borrada... O fixador de maquiagem que a minha mãe usou em mim não deu conta.

Me sentei para me aliviar e parecia que não acabava nunca, tudo o que eu precisava eliminar. Foram longos minutos. Porém, ao terminar, a sensação de leveza me preencheu como se eu não tivesse bebido absolutamente nada. Apenas a tontura continuou.

- Acho que o álcool foi embora com o xixi - falei baixinho e ri - Será que estou pronta para beber tudo de novo?

Me limpei e chegando na pia, me apoiei com uma das mãos para ficar com o rosto o mais perto possível do espelho, tentando acertar e limpar o lápis preto nos olhos e o batom vermelho usando os lenços umedecidos que estavam ali em meio aos vários produtos de beleza da Gabriele.

Ao terminar de lavar as mãos, ouvi três fortes batidas vindas da porta do quarto e me aproximei da porta da suíte, ficando quieta.

- Quem é? - ouvi a Melissa perguntar.

- Melissa, abre essa porta! - a voz firme exigiu em tom de ordem - Agora!

Aquela voz.

Continua...

Nota da autora:

É isso aí, galera linda. O caldo vai engrossar e o professor querido de vocês não vai gostar nadinha de ver a princesa dele tomada pelo efeito do álcool.

Será o fim do romance? Eric vai colocar um ponto final do namoro? Habemus teorias hahahahahaha

Quero mais uma vez agradecer a vocês que continuam aqui comigo nesse romance que escrevo com todo carinho e dedicação. Infelizmente não posso prometer nada mas vou escrever com afinco nos meus domingos de folga para, quem sabe, o próximo não demorar tanto a ser postado.

Abraços.

Coq au vin = prato típico da culinária francesa feito à base de galo (opcionalmente frango) e vinho.

Contato:

a_escritora@outlook.com

/aescritora_

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Foto de perfil de Ana_EscritoraAna_EscritoraContos: 65Seguidores: 182Seguindo: 35Mensagem "Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo." Toni Morrison

Comentários

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Muito bom ver você de volta!

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