Fábio sempre foi um rapaz reservado, daqueles que fogem do centro das atenções e preferem o conforto do anonimato. A timidez era uma velha companheira, limitada, mas segura. Sua namorada, Sheyla, enxergava nele alguém com muito mais potência, alguém que poderia se surpreender se soubesse se libertar. E foi assim que, ao planejarem viajar para o Carnaval numa cidade onde ninguém os conhecia, Sheyla fez uma proposta ousada: que Fábio aceitasse experimentar ser outra pessoa — alguém inteiramente novo.
A preparação foi quase um ritual: depilação completa, brincos longos que balançavam a cada movimento, unhas vermelhas muito bem feitas. O cabelo, já naturalmente comprido, ganhou um corte delicado e um toque de feminilidade. Nas mãos de Sheyla, a maquiagem transformou Fábio num rosto delicado, com olhos bem delineados e lábios vivos. Quando terminou, mal conseguiu se reconhecer no espelho. Quem olhava de volta era Suelem — uma jovem aparentemente cheia de confiança, com um sorriso ensaiado, mas convincente.
Nos primeiros passos pelas ruas lotadas, Suelem hesitava. Mas logo descobriu algo novo: ninguém a olhava com estranhamento, pelo contrário, chamava a atenção como uma moça bonita, segura, se destacando em meio à multidão colorida. Rapidamente, Fábio percebeu que ali tinha uma oportunidade única — poderia existir sem o peso das expectativas antigas, sem medo de julgamento.
A cada dia de Carnaval, Suelem se soltava mais. Conversava facilmente com desconhecidos, sorria para fotos, aceitava convites para dançar — e se divertia com as cantadas dos rapazes, com um charme que nunca pensou ter. Era como se, por trás daquele novo nome, da maquiagem e do vestido, houvesse portas abertas para gestos, palavras e ações que Fábio jamais ousou experimentar.
Sheyla, ora cúmplice, ora espectadora orgulhosa, se impressionava com o quanto a sua namorada estava se permitindo viver. Quando decidiu que iriam à praia, ajudou Suelem a preparar um maiô à altura: chapéu largo, canga estampada, uma delicadeza em cada detalhe. Ali, na areia, Suelem provou novas formas de liberdade, se banhou de mar e riu alto sem receio de olhares. Era quase como nascer de novo.
O acordo entre elas era que Suelem permanecesse até o domingo do Carnaval. Só que, a cada pôr do sol, a vontade de voltar a ser Fábio diminuía. Suelem sentia uma leveza, um tipo de felicidade genuína que antes desconhecia. Enquanto as fantasias do Carnaval iam partindo com os foliões, Suelem permaneceu, tomada por uma dúvida curiosa — será que Fábio ainda queria voltar? Ou havia, ali, encontrado quem sempre desejou ser?
Para Suelem, a resposta ainda não estava clara. Durante aquela semana tinha experimentado sensações nunca antes sentidas, experiências completamente novas e deliciosas. Pela primeira vez, se permitia sonhar com novas possibilidades e considerava, talvez sonhando acordada na beira da praia, que a liberdade é a melhor fantasia que alguém pode vestir.