Capitulo 44 - Não posso aceitar!
Gabriel:
— Adivinha quem é? — senti um corpo quente encostar no meu, num jeito provocante que me arrancou um sorriso. Duas mãos cobriram meus olhos enquanto uma voz baixa soprou no meu ouvido.
— O monstro do lago? — virei-me e beijei Nick, com carinho e um ponto de urgência. Ele me segurou pela cintura e me trouxe ainda mais para perto.
— Bobo… — disse, dando um selinho. — Oi, gente. — cumprimentou Roberta e Lorenzo, que caminhavam comigo pelo pátio em direção ao refeitório.
— Oi — responderam, meio corados, tentando fingir naturalidade.
— Vocês vão à competição estadual? — perguntou Nick.
A disputa seria no sábado, dia vinte e um, dali a dois dias. A escola inteira só falava nisso; o ar parecia vibrar de expectativa.
— Eu só vou por causa do Daniel. Esporte não é comigo — disse Roberta, num tom flat.
— Eu não perco por nada — Lorenzo quase saltou de empolgação. — Não falto a um treino de natação e, nos últimos dias, até os de futebol eu tenho assistido.
— Me chamaram pro time de futebol, mas eu não quis — comentou Nick.
— Você não tinha me contado — falei, surpreso. — Quando foi?
— No dia em que disse que joguei bola depois da corrida. O técnico estava lá, falou que me queria no time, mas eu recusei. Acabei esquecendo de te falar.
— Mas por quê? — Lorenzo arregalou os olhos. — Eu daria tudo pra entrar num time desses!
— Fiquei sem jeito de chegar agora, tão perto da competição — Nick deu de ombros, passando a mão nos cabelos. — E você, por que não tentou vaga em algum time?
— Vergonha… — Lorenzo encarou o chão. — Vão zoar, porque eu sou esquisito.
— Sério que você deixou de fazer o que gosta por medo de piada? — franzi a testa.
— Eu sou muito tímido, Gabriel… — ele corou. — Até os treinos de natação eu vejo escondido.
— E eu achando que era pra reler “O Iluminado” pela milésima vez — provoquei.
Lorenzo sorriu, confirmando a obsessão: estava com o livro nas mãos. O exemplar, embora surrado, seguia inteiro. Na capa, “Stephen King” em letras largas; abaixo, “The Shining”. Uma porta arrebentada com um facho de luz atravessando o buraco e, em vermelho, “Redrum”. Ele me convenceu a ler — é excelente e perturbador —, mas para ele era obra-prima. Já tinha lido “Doctor Sleep”, a continuação; ainda assim, dizia que o primeiro era incomparável.
— Eu leio antes dos treinos. Depois, foco total na piscina.
— Sei não, Lorenzo… essa paixão por um esporte em que todo mundo está de sunga é, no mínimo, suspeita — brinquei.
— Engraçadinho, Gabriel… — ele riu de leve. — Mas tá tranquilo. Não tenho conflito com a minha sexualidade, e não tenho vergonha de dizer que gosto de natação.
— Tô só zoando. Sei que você não é gay.
— E, se me permite, Lorenzo — Nick entrou na conversa com calma —, você não precisa se encolher por medo de zoeira. Do mesmo jeito que banca a tua, dizendo que curte natação, banca o que você quer fazer. Faz o que te faz feliz.
Lorenzo respirou fundo e assentiu. Ali, eu já percebi um fio de confiança diferente nele.
No refeitório, Patrick, Giovana, Léo, Fábio e Alice já estavam. Em minutos, o resto do grupo apareceu, inclusive Théo e Daniel, que tinham enterrado o pai pouco mais de duas semanas antes. Eles ficaram muito mal no começo, mas foram se recompondo. Por mais que o histórico com o pai fosse pesado, a ausência pesava — e eu não entendia direito. Pelo que o Bernardo me contou depois do funeral, Théo foi tratado como lixo e chegou a ser espancado quando se assumiu. Daniel apanhou e teve uma arma apontada na cabeça por quem deveria protegê-lo. Não era pouca coisa; eram feridas fundas, que demorariam a cicatrizar e, ainda assim, deixariam marcas. Mesmo assim, eles sentiram a dor da perda. Diferente de mim, que, quando vi o cadáver de Gustavo com o enorme buraco no couro cabeludo — a bala entrando pelo céu da boca e atravessando o cérebro — não consegui sentir pena. Ele provavelmente não sofreu, e isso me revoltou. Eu queria que tivesse doído. Era cruel pensar assim… e eu sabia.
Depois do almoço, encaramos as últimas aulas da semana — a penúltima antes das provas finais. O conteúdo estava puxado, mas, com a cabeça mais livre, eu conseguia acompanhar. Isso era um luxo que eu quase nunca tive. Antes, minha mente era um redemoinho de medo e raiva, alimentado pelo meu padrasto e pelo meu irmão. Foi nesse turbilhão que tentei me cortar no banheiro; hoje, entendo que eu não queria morrer — só queria que a dor parasse. Era um pedido de socorro silencioso.
Mais tarde, já no quarto do Nick, depois do toque de recolher, senti seus braços me envolverem por trás.
— Três meses, já — ele murmurou, sorrindo na voz.
— Passou voando — respondi, roçando meu quadril no dele, sentindo a resposta imediata.
Ele mordeu de leve minha orelha e deixou os lábios escorregarem pelo meu pescoço, acendendo uma trilha de arrepios. As mãos dele desceram pelo meu peito até a cintura, e a tensão entre nós aumentou rápido. Virei-me para encará-lo; nossos beijos vieram urgentes, fundos, como se o quarto ficasse pequeno para a fome que a gente tinha um do outro. Fomos nos despindo entre risos abafados e carícias, a pele colada, o calor subindo, o coração disparado. Caímos na cama e, por um tempo que eu não sei medir, tudo foi ritmo, toque, respiração e entrega — sem pressa de acabar, com a certeza de que ali era lugar seguro. Quando finalmente desabamos lado a lado, ofegantes e suados, ele passou um dedo no meu peito e riu baixo.
— Acho que nunca estive tão inspirado…
— A culpa é nossa — sorri, ainda tonto do depois.
Ficamos um pouco em silêncio, até que a conversa mudou de rumo.
— Eu te amo, Gabriel Nascimento… ou já posso dizer Gabriel de Andrade? — ele brincou.
— Para com isso, garoto — levantei para pegar uma garrafinha no frigobar. — Ainda sou Nascimento.
— Já decidiu sobre o sobrenome? — perguntou Nick.
— Miguel e Cristina gostariam que eu adotasse o deles, mas não querem forçar — do mesmo jeito que não me pressionam a chamá-los de pai e mãe.
— Eles também tocaram nesse assunto?
— Não diretamente. Semana passada, o Pedrinho chamou a Cristina de “mãe” no jantar, e o Miguel comentou que não teria problema se a gente fizesse o mesmo. O Pedrinho se acostumou rápido.
— Você, nem tanto — ele deduziu.
Assenti. — É diferente. O Pedrinho é pequeno; pra ele, tudo é mais simples. Eu já tô quase na maioridade e… por mais que eles sejam incríveis, ainda estamos nos conhecendo. Leva tempo pra nascer algo que mereça esse nome.
— Faz sentido — Nick concordou, com os olhos gentis. — E, falando em pais… os meus querem te conhecer.
Eu estava bebendo água e quase engasguei. — Tá brincando?
— Não.
— Mas você disse que eles não queriam ouvir falar de namorado homem. Só se fosse menina…
— Era a regra deles, sim. Mas tem uma coisa: eles querem que você jante com a gente antes do cruzeiro de fim de ano.
— Você vai fazer um cruzeiro?
— Nós vamos — ele enfatizou, sorrindo. — Meus pais falaram comigo no domingo, e eu perguntei se você podia ir.
— E eles aceitaram de boa? — achei tudo meio surreal.
Nick fez uma careta. — Não. Discutimos feio. Eu disse que eles estavam me empurrando pra longe, ameacei ir pros Estados Unidos morar com a minha avó… Eles continuaram dizendo não. Mas hoje cedo meu pai ligou: conversaram e… aceitaram — com a condição de te conhecerem oficialmente. Extra-oficialmente, já te viram no noticiário.
— Óbvio que viram — fechei o frigobar. — Eu topo conhecer seus pais, mas esquece o cruzeiro. Eu não tenho dinheiro pra isso.
— Não se preocupa. Eles pagam tudo.
— Eu não posso aceitar, Nick. É demais. Não quero me aproveitar da sua família.
— Ninguém vai se aproveitar de ninguém. Eles bancam passagens e refeições; o que for extra, seus responsáveis cobrem.
— Também não vou pedir isso à Cristina e ao Miguel. Não é certo.
— Eu imaginei que você diria isso… — Nick coçou a nuca. — Falei com o Bernardo, ele conversou com seus pais — e, sério, é estranho pensar em vocês dois como irmãos —, e eles disseram que arcam com os extras desde que você aproveite. E avisaram que não vão aceitar “não”.
— Eu não aceito, Nick! — senti a raiva subir. — É muito dinheiro!
— Pra minha família, não é. Eles ganham muito bem. Não é um esforço pra eles. Mas, antes de qualquer coisa, querem te conhecer.
— Eu… não sei — passei a mão no rosto. — Parece errado.
— Faz assim: janta com eles semana que vem. Até lá, você pensa com calma. Se não quiser ir ao cruzeiro, eu vou respeitar. Mas dá essa chance ao menos do jantar.
Eu queria dizer “não” na hora, mas o jeito que ele me olhava pedia uma trégua.
— Tá. Fechado — concordei, por fim.
Nick sorriu, me puxou para um beijo demorado e, ainda com o riso preso no canto da boca, fomos juntos para o banho, deixando que a água quente levasse, por alguns minutos, o peso que o mundo insistia em colocar nos nossos ombros.
...
Daniel:
– É só se concentrar que vai dar tudo certo – disse o treinador Orlando, colocando a mão em meu ombro no vestiário.
“Falar é fácil” pensei, mordendo a língua para não verbalizar o que realmente sentia. Era o grande dia: o das olimpíadas estaduais, onde as melhores escolas do Rio Grande do Sul competiriam entre si em diversos esportes, tentando uma vaga nas olimpíadas nacionais. Um evento anual de porte médio que, vez ou outra, revelava algum talento promissor. Sempre havia olheiros atentos, procurando jovens atletas com potencial profissional.
– Estou um nervoso só – disse, passando a mão pelas pernas por cima do roupão azul com o emblema do Colégio no peito esquerdo – Faz anos que não participo de competições. Estou inseguro.
“Em pânico” era o sentimento mais exato. Em duas horas eu estaria na piscina, competindo com outros nove garotos que não conhecia, mas sabia que eram os melhores de suas escolas.
– Você vai se sair muito bem, Daniel – Orlando falou confiante – Você é, de longe, o melhor nadador que nossa escola já teve. Vai garantir a medalha de ouro e a classificação para a nacional em dezembro.
Queria ter tanta certeza quanto ele, mas minha confiança era frágil. Meu nervosismo me fazia imaginar escorregando na beira da piscina, sendo eliminado, e João assumindo meu lugar. Não queria dar aquele prazer a ele, depois da vez em que me empurrou durante um treino e me machuquei na cabeça. Passei a mão sobre a cicatriz na nuca — uma linha fina, em relevo, escondida pelo cabelo loiro — que se raspasse revelaria que ali nenhum fio de cabelo voltaria a crescer. Isso me enchia de raiva. Jurei a mim mesmo que João não conseguiria o que queria: tomar meu lugar como titular da natação.
Ele queria, e muito, mas eu era melhor. Desde que Orlando anunciou o titular, eu quase não prestei atenção, mas meu olhar buscava meu namorado e melhor amigo na arquibancada, observando cada movimento meu. Nos dias após o funeral do meu pai, treinamos juntos, e mesmo que algo acontecesse comigo, haveria alguém para me substituir. João, por sua vez, não me dirigiu uma palavra sequer, mas seus olhares eram de ódio puro. Ontem, juro, quase tropecei na perna dele durante os abdominais na borda da piscina, mas consegui pular a tempo, fazendo-o franzir o cenho.
– Oi Dany! – Meu namorado entrou no vestiário usando uma bermuda jeans justa e camiseta preta com bolso azul na frente. Chinelo nos pés, cabelo castanho penteado, franja cuidada para não cair sobre seus olhos verdes. – Como está meu atleta?
– Nervoso – respondi, com um sorrisinho trêmulo – Querendo fugir e me esconder.
– Já falei para ele que vai dar tudo certo, mas não me escuta – Orlando comentou, olhando para Bernardo – Talvez você o acalme um pouco. Vou dar uma olhada la em cima, volto antes da prova.
Assentimos, e o treinador saiu, nos deixando sozinhos. Bernardo sentou-se ao meu lado no banco de madeira do vestiário do ginásio. Sua mão acariciava minha perna com delicadeza.
– Já chegaram todos? – perguntei, tentando não pensar em João ou na possibilidade de errar, mas era impossível.
– Todos, exceto Gabriel, que se atrasou por causa do Nick. Mas ele disse que chega em até meia hora – Bernardo sorriu.
– Estou realmente nervoso, Be – confessei – Com medo de algo dar errado.
– Nada vai dar errado, Daniel – ele disse, com suavidade – Você vai subir aquelas escadas, mergulhar na piscina e dar o seu melhor. Tenho certeza da sua vitória, mas mesmo que não consiga, ser o titular da escola nas olimpíadas estaduais já é um grande feito. Qualquer outro garoto mataria para estar no seu lugar.
Ao ouvir isso, lembrei das sabotagens de João e percebi que Bernardo tinha razão. Sorri e me inclinei para ele, dando um beijo carinhoso que logo se transformou em um beijo intenso e cheio de desejo. A tensão fez com que eu puxasse Bernardo para o meu colo sem hesitar. Beijava-o com paixão enquanto minhas mãos exploravam sua bunda, por cima da bermuda jeans. Ele gemeu, rebolando no meu pau que já pressionava a sunga.
– Quero você agora – disse, abrindo meu roupão e ficando apenas de sunga.
Be tirou a camiseta e passou a mão pelo meu peito, liso devido à natação. Beijou meu pescoço, desceu até meus mamilos, chupando-os com intensidade. Eu apertava sua bunda, sentindo-o gemer, enquanto ele rebolava, deixando meu pau cada vez mais duro. Levantei-me com ele no colo e deitei-o no banco. Abri sua bermuda de uma vez, junto com a cueca. Seu pau estava duro como pedra, rosado e pulsante. Não resisti: comecei a chupá-lo, sentindo cada centímetro em minha boca. Bernardo gemia baixinho, enterrando os dedos no meu cabelo, me forçando a aumentar a velocidade. Eu obedeci, sentindo prazer em cada reação do seu corpo. Mas logo percebi que ele estava próximo de gozar, então parei. Tirei minha sunga e coloquei Be de quatro, bunda empinada. Mordia suas nádegas, fazendo-o gemer alto.
– Me come, porra! – ele disse, exigente e excitado.
Não precisei de mais incentivo. Cuspi em seu cu e introduzi meu pau devagar, sentindo cada centímetro de seu apertado buraquinho. Bernardo empinava a bunda, facilitando a penetração. Lentamente, comecei a estocá-lo, e ele gemia, misturando dor e prazer. Sentia seu cu ceder a cada investida, e aquilo me excitava. Logo estava totalmente dentro dele, fodi-o com intensidade, fazendo-o gemer de prazer.
– Gosta assim, sua putinha? – dei um tapa em sua bunda – Gosta de rola?
– Gosto! – ele gemeu – Me come, porra! Com força!
Obedeci, estocando com força suficiente para arrastar o banco pelo vestiário. Bernardo gemia como uma piranha, e isso me excitava ainda mais. Era fascinante vê-lo se transformar de garoto fofo em uma puta desesperada por pau.
Mudamos de posição: eu deitado no banco, ele sentado de costas para mim. Subia e descia, guiando meu pau para dentro dele com precisão. Rebolava tão gostoso que não demorou para que eu gozasse dentro dele, enchendo-o de porra quente. Bernardo gemeu alto, levantou-se, deixando o líquido escorrer pelo chão. Em seguida, começou a se masturbar. Sentei-me e chupava-o com vontade, até que ele gozou na minha boca. Engoli tudo, e ele me lançou um sorriso travesso, inclinando-se para me beijar, sentindo o gosto de si mesmo.
– Agora sim estou mais relaxado – falei.
– Vai lá em cima, a prova começa em menos de uma hora – disse, olhando no Apple Watch.
Tomei um banho rápido, limpei o suor e a porra, vesti a sunga e o roupão. Bernardo também se limpou e se vestiu rapidamente, me dando um beijo de despedida. Não resisti e apertei sua bunda, e ele sorriu:
– Deixa de ser safado, garoto! Agora vai lá e brilha.
Olhei-me no espelho, mais calmo e confiante. Respirei fundo e subi as escadas para a piscina.
...
Continua...