Deixei Duda dormindo em minha cama. Deixei um belo café da manhã sobre a mesa e um bilhete, me desculpando por não estar lá quando ela acordasse. Era estranho fazer isso por outra mulher. Parecia tão errado. De diversas formas. Só fiz isso por Luciana. Eu gostaria de me desconectar desse lado bonzinho e certinho. Mas não conseguiria tratá-la mal. Ela me fez sorrir depois de meses. O mínimo que deveria fazer era agradecê-la. Saí em seguida. Fui ao escritório em pleno fim de semana.
Chegando lá, fui pra minha sala e me tranquei. Precisava de notícias. Ele já esperava minha ligação então não tardou em aceitar a vídeo chamada. Estava em casa. Em seu apartamento modesto no subúrbio. Parecia estar pronto pra sair quando liguei:
- bom dia, chefe. - disse DG.
conversamos por horas. Fiz alguns ajustes e planos para continuar minha vingança. Diferente do que fizeram a Andre, não levaria e não deixaria que nenhum dos dois morresse. Tiraria primeiro, aquilo que mais prezavam: dinheiro. Combinei com DG uma série de encontros bem específicos com Marcela mas o alertei que durante um tempo, até que ela se apaixonasse pelo dinheiro de DG, ela contaria tudo a Murilo. Quanto a Murilo, faria com que ele achasse um desvio nas contas. Um desvio meu. Ou ele tentaria me chantagear ou tomar o meu lugar. Pra qualquer uma das duas, eu estava preparado. Fui pra casa e DG deu andamento no planejado.
DG manteve contato com Marcela por uma semana. Já havia começado na festa, quando ele afastou a mim e a Murilo e foi dançar com a vadia. Fez uma série de elogios. Alguns corteses, outros mais atrevidos. Ela, como narcisista e interesseira que era, caiu como previa. Seguindo como planejado, DG saiu com ela para almoços. Mas não coisas bobas. Ele tinha que impressionar. Mandava ela ela colocar biquíni e mandava um motorista buscá-la em casa e levá-la até o heliporto, onde ela o encontrava e iam almoçar. Primeiro em angra. Depois em búzios. DG continuou com os galanteios e logo estava no meio das pernas daquela puta. Disso, eu sei que Murilo não sabia. E quanto a ele...
Demorou mais do que eu imaginava o que pra mim, só provou a incompetência dele, mas Murilo finalmente pegou os meus desvios e nessa, DG foi brilhante. Murilo levou tudo diretamente a ele e meu amigo não decepcionou. Era um dia qualquer e ele me chamou na sala dele. Quando cheguei lá e o vi, minha postura mudou. Ele ria vitorioso e com escárnio. Parecia muito mais inteligente e homem do que realmente era e isso quase me fez rir mas mantive a compostura.
- pois não, DG? Algum problema. - disse, enquanto olhava prós dois.
Assim que a porta se fechou DG começou.
- eu não acredito que você, dentre todas as pessoas... VOCÊ!! Tava me roubando!! Seu ratinho desgraçado!!! Se não fosse pelo Murilo você faria isso até me falir!! - ele gostava desse papel. Parecia e vendia bem o papel de transtornado.
Eu agia como se tentasse falar mas na verdade tentava segurar o riso. Murilo estava com o queixo empinado como se estivesse orgulhoso do trabalho que fez.
- não diga nada!!! Pega suas coisas e some!!! E só não coloco a polícia atrás de você por consideração aos serviços prestados, mas nessa cidade você não arranja mais trabalho. - Murilo colocou a mão no ombro de DG como quem pede um momento.
- você foi burro demais!! Operações tão óbvias e não identificadas. 2x0 pra mim, loser! Agora sai que não quero te ver mais na minha frente. - sacudindo a mão como quem espanta um cachorro.
Mesmo sendo planejado, mesmo esperando aquilo, meu sangue ferveu. Cheguei a caminhar na direção dele com passos pesados e a mão fechada. Ele começou a gritar a segurança com uma voz esganiçada e em pânico.
- ainda vou te pegar, seu merdinha. E a hora que eu fizer isso, vai ser bem pior do que você fez com o seu irmão! Isso eu te prometo! - disse com o dedo em riste próximo ao nariz dele.
Antes da segurança chegar, eu já tinha ido. Peguei minhas coisas e voltei pra casa com a cabeça tranquila e a felicidade de quem vê seus planos seguindo de acordo com o proposto. Estava realmente feliz mas a mera visão dela me derrubava. Novamente, ela me pegou chegando em casa. Parecia não haver desistido. Estava sentada na escada com as mãos afundadas nos cabelos bagunçados. Usava calça jeans justa e uma camisa vintage. Respirei fundo:
- o que você quer agora, Luciana? - disse exasperado.
- você, seu idiota!! Só quero você! A gente! De novo! Como sempre foi. - dizia com a voz chorosa enquanto escondia o rosto com as mãos.
Queria muito dizer pra vocês que fui forte e a dispensei sem dó mas aquela não era a Luciana. Era uma mulher frágil, destruída, surtada. E ela ainda estava em meu coração mesmo com tudo ainda muito vívido na mente. Abri a porta e ordenei:
- entra. - minha voz soou mais mansa do que eu queria e ela rapidamente se levantou e entrou.
Seguimos calados até o loft. Entrei e mandei que ficasse. De pé e aguardando. Peguei uma toalha entreguei a ela.
- se ajeite. Relaxe. Não tenha pressa. Depois conversamos. - disse. Parecia um robô.
Ela com os olhos cheios de lágrimas foi para o banheiro. E escutei o som da ducha abrindo. Sinceramente, não sei o que estava pensando quando deixei que ela entrasse. Agora, tão perto, fiquei tentado a entrar no banheiro e possuí-la. Sentia falta do corpo dela, do calor dela. Nesse momento, sinto meu pau reagir e me forço a pensar em toda a merda que ela me colocou. Ainda sim é difícil.
Ela sai do banho enrolada na toalha. Fiquei em dúvida se foi proposital ou não mas a evitei a muito custo. Entreguei uma das minhas camisas que ficavam como vestidos nela e ela sorriu da minha situação. Cara, que saudade daquele sorriso. Pena que não era mais só meu. Levei-a para a sala e lhe servi uma caneca de chá. Mirtilos. Era o favorito dela. E sentei de frente pra ela com um generoso copo de café.
- está se sentindo melhor? - disse verdadeiramente preocupado. Já carregava a culpa da morte de alguém. Não aguentaria mais essa. Mesmo sendo da minha futura ex-mulher
Ela sacudiu timidamente a cabeça concordando enquanto tomava uma pouco do chá.
- Lipe, a gente pode se acertar... Me perdoa... Eu não sei o que eu estava na cabeça. O pior é que... - os olhos cheios de lágrimas já - o pior é que nem era algo tão satisfatório! - e chorou copiosamente.
Aquela informação só me doeu mais. Só machucou ainda mais meu coração e fez minhas têmporas latejarem. Era preferível que dissesse que Murilo era um amante fora do normal mas eu já tinha presenciado que não. Seria só mais uma mentira.
- Luciana, quando eu te conheci parecia que... Era como um dia de sol em lugar escuro. Eu fugi de relacionamentos durante toda minha vida por ter medo de tudo que vi e tudo que vivi. Tinha medo de ser como meus pais. E então você apareceu e eu perdi esse medo, resolvi pagar pra ver. E acho que fomos muito felizes na maior parte do tempo... - eu dizia de maneira calma. Estava pondo pra fora tudo que me afligia e sentia meu coração se destroçar.
- nós podemos ser de novo! Eu te amo, Lipe! Você é a melhor parte de mim! Você é mais do que sexo! Você é meu melhor amigo! Meu confidente! Minha metade! - dizia enquanto as lágrimas rolavam
- e ainda sim você fez o que fez. Mas me diga... Suponha que voltemos... O que você acha que vai acontecer? Com você... Comigo... Eu te digo. Toda vez que você chegasse tarde em casa, eu ia ficar com aquela agulha espetando a cabeça. Você ia ficar desconfortável com minha cobrança velada. E se eu me achasse no mesmo direito e arranjasse uma amante pra "igualar o jogo"? Logo não teríamos mais respeito um pelo outro... - Deus como doía.
- NÓS NÃO SOMOS COMO SEUS PAIS!!!! - ela deixou a cabeça cair e se jogou sobre mim, pegando meu rosto entre as mãos e percebendo que meu olhar estava vazio. E isso a assustou. A matou na verdade.
- não dá mais, Luciana. Por mais que eu te ame... Por mais que você me ame... O que a gente tinha se partiu, acabou. E não tem mais como voltar. Eu não sou hipócrita. Ainda tenho sentimentos muito fortes por você mas já são bem mais fracos do que há 5 meses atrás... Quando descobri tudo. - a verdade é que eu tava cansado dessa situação com ela.
Respirei fundo, tirei as mãos dela do meu rosto e as segurei com uma mão só. Com a outra acariciei seu rosto e enxuguei suas lágrimas. Que vontade de beijá-la e fazê-la minha mais uma vez. Respirei fundo. Também para me controlar e não chorar junto. Não queria demonstrar dúvida ou fraqueza. Não mais.
- Não dá mais, Lu. E embora eu quisesse te odiar a ponto de te desejar mal, eu não consigo. Só desejo que siga sua vida. Aos poucos esse amor vai morrendo... Até que só seja uma cicatriz que a gente só lembrei do que foi bom.
Ela chorou. Chorou muito. Acho que pela primeira vez ela teve real ciência que havia acabado. Fiquei consolando ela por um tempo até que ela se levantou e se despediu. Pegou as coisas dela e deixou o anel em cima da mesinha da sala.
- você tá certo. Por hora. Esse amor pode morrer mas pode dar lugar a algo novo. Quem sabe em algum outro momento da vida a gente não se esbarre de novo... - e me deu o sorriso mais triste que eu já vi.
É importante falar aqui que minha relação com Luciana não era só pele. Saca aqueles casais velhinho e que são super engraçados juntos? Era como nós éramos antes de toda essa merda. Haviam muitos planos, muita vontade... Por isso a traição tenha sido tão devastadora.
Assim que Luciana saiu, eu peguei o anel. Ele não guardava importância alguma. Fora feito sob encomenda. Tinha significado somente pra ela e pra mim. Queria me desfazer dele mas resolvi guardá-lo no cofre.
Passaram - se 6 meses. Essa passagem de tempo é importante porque aconteceu algo que eu não previa mais adorei. 2 coisas, na verdade: primeiro, desenvolvi uma espécie de relacionamento prático e funcional com a Duda. Pelo menos 2 vezes por mês, nos encontrávamos. Transávamos loucamente e depois ela ia embora, como se nada tivesse acontecido. E a outra e muito mais importante: Marcela estava grávida. E não era do Murilo.