✨ Estamos quase chegando ao fim dessa caminhada. Depois de tantos capítulos repletos de emoções, dilemas, encontros e despedidas, a história se aproxima do seu momento derradeiro. Este é o penúltimo capítulo — um ponto de virada em que tudo o que acompanhamos até agora começa a convergir para a conclusão.
Cada detalhe, cada diálogo, cada escolha feita pelos personagens trouxe consequências que agora se revelam com mais intensidade. Ao longo dessa jornada, vimos amores nascerem, laços se fortalecerem, segredos virem à tona e obstáculos desafiadores se colocarem no caminho. Nada foi por acaso: cada passo dado até aqui preparou o terreno para o que está prestes a acontecer.
O penúltimo capítulo sempre carrega um sabor especial: não é apenas a continuação da trama, mas a ponte que conduz ao desfecho. É o momento em que sentimos a proximidade da despedida, mas também a expectativa de descobrir como todas as histórias irão se entrelaçar no final.
Prepare-se para viver essas últimas páginas com intensidade. Ainda resta uma dose de emoção antes do adeus — e ela promete ser memorável.
O próximo capítulo será o último, o fechamento de tudo aquilo que acompanhamos até aqui. 🌹
Capitulo - Formatura!
...
Daniel:
Não pretendia contar para Bernardo, pois sabia exatamente o que ele diria — e, para mim, aquela decisão já havia sido tomada no instante em que o recrutador veio falar comigo. Eu estava vivendo uma das melhores noites da minha vida ao lado dele e percebi que estava mais animado do que de costume, mas não me importei. Meu copo já estava vazio e o dele terminaria com apenas um gole. Foi então que anunciei que iria buscar mais bebidas para nós. Bernardo me abraçou e me deu um beijo intenso, carregado de paixão e desejo, que me deixou excitado instantaneamente.
Pedi nossos drinks ao barman subornado para nos servir álcool, quando senti uma mão firme pousar sobre meu ombro.
— Estava te procurando, minha estrela — disse o treinador Orlando, sorrindo com entusiasmo e segurando um copo que, provavelmente, também tinha sido batizado. Conhecendo-o, guardaria esse detalhe para si, contanto que não lhe causasse problemas. — Tenho um assunto para tratar com você e acredito que vá gostar.
— Sobre o quê? — perguntei, curioso.
— Venha comigo até o gramado. Quero que conheça alguém.
Ele me conduziu para fora do ginásio sem dar mais detalhes. Eu estava tão ansioso que até esqueci das bebidas que o barman preparava. No gramado, havia um homem alto, de aparência simpática, vestindo um blazer cinza de grife e exibindo um sorriso impecável, com dentes brancos e alinhados. Ele mantinha as mãos nos bolsos da calça jeans e aparentava ter entre 35 e 40 anos.
— Daniel, este é Drew Bassett, recrutador da equipe de natação americana. Drew, este é Daniel — disse Orlando em inglês.
— Prazer em conhecê-lo, Daniel — cumprimentou Drew, estendendo a mão.
— O prazer é meu — respondi, também em inglês, o que fez seu sorriso se abrir ainda mais.
— Acho que não precisarei traduzir nada — comentou Orlando, com seu inglês carregado de sotaque. Drew pareceu acostumado a isso.
— Uma barreira a menos entre nós — respondeu o recrutador, animado. — Bom, Daniel, eu o vi nadando ontem e fiquei realmente impressionado. Há quanto tempo você nada?
— Fiz natação quando criança, mas parei na adolescência e voltei apenas este ano — respondi, tentando soar claro, embora meu sotaque fosse tão forte quanto o do treinador.
— Então voltou agora e mesmo assim conquistou o ouro contra atletas que treinam há anos sem parar? — ele arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Foi sua primeira medalha?
— Não exatamente — respondi, lembrando das competições da infância. — Já ganhei várias provas, e em outras fiquei em segundo ou terceiro. Acho que só não subi ao pódio duas ou três vezes.
Drew aplaudiu, visivelmente empolgado.
— Estamos diante de um talento, então! — declarou.
— Eu disse que ele era o que você procurava — Orlando completou.
— Concordo — disse Drew. — Eu costumo assistir a todas as competições estaduais e raramente encontro alguém com seu potencial. Sou recrutador do time de natação de Washington e, depois de ver seu desempenho, acho que vale investir em você. Sua forma de nadar é inspiradora, como se estivesse completamente livre. Parecia que nasceu para isso, que o resto do mundo desaparecia quando estava na água.
— É exatamente assim que me sinto — admiti, constrangido com a intensidade da descrição. — Quando nado, posso ser eu mesmo, sem medo ou amarras. Me sinto livre.
— E é isso que busco — disse ele, sério. — Talentos assim são raros. O que acha de se profissionalizar?
Olhei para Orlando, que me observava com orgulho. Provavelmente era a primeira vez que um aluno seu recebia uma proposta como essa.
— Sempre foi o meu sonho — falei em voz alta, pela primeira vez desde criança, quando sonhava com as Olimpíadas.
— E é isso que estou te oferecendo — continuou Drew. — Queremos que se junte à nossa equipe em Washington. Cuidamos da acomodação, documentação e passagem. Você teria um quarto individual no centro de treinamento, mais parecido com um pequeno apartamento, com sala, cozinha, quarto e banheiro. O salário inicial é de quinze mil dólares por mês, podendo alugar algo fora, se preferir. Terá equipe médica 24 horas à disposição. A única coisa que pedimos é comprometimento total. E então?
Fiquei em choque. Dentro de mim, o garoto de dez anos gritava para aceitar imediatamente. Era o sonho de muitos ali — e estava sendo oferecido para mim. Eu já me imaginava competindo nos Estados Unidos, conquistando reconhecimento, quem sabe até representando o Brasil nas Olimpíadas.
Mas, antes que pudesse responder, vi Théo e Samuel se aproximarem com Bernardo no colo. Meu namorado ria, completamente embriagado. Théo avisou que o levaria ao dormitório. Ao vê-lo se afastar, percebi que não era tão simples dizer “sim”. Para ir, teria que abandonar tudo o que construí: um irmão que me ama, um melhor amigo incrível e o amor da minha vida.
— Sinto muito, senhor Bassett, mas não posso — respondi, olhando para o chão.
Orlando me puxou para o lado, irritado.
— Você enlouqueceu? Essa é a chance da sua vida! Não jogue fora por causa de uma paixão! — disse em português.
Ele conhecia meu amor por Bernardo. Sabia que era ele quem me dava coragem para entrar na piscina, que era o rosto que eu buscava nas arquibancadas, o abraço que me esperava no fim de cada treino.
— Não posso deixá-lo. Eu o amo! — falei, com lágrimas nos olhos.
Orlando suspirou, frustrado, e contou que já tinha passado pela mesma situação, recusando ir para os EUA por amor — amor que, no fim, não resistiu. Disse que se arrependia amargamente.
Drew, sem entender a conversa, aproximou-se novamente e me entregou um cartão com seu número, pedindo que eu lhe desse uma resposta até segunda-feira.
Guardei o cartão no bolso, mas já sabia qual seria minha decisão… ou pelo menos achava que sabia.
No dormitório, Bernardo acordou ainda com ressaca. Perguntou se eu já tinha decidido. Respondi perguntando se ele iria comigo. Ele sorriu, mas disse que não era simples: questões legais, a resistência dos pais… Ainda assim, pediu que eu fosse.
Eu me desesperei. Não queria ir sem ele. Ele me abraçou e disse que talvez resistíssemos à distância, talvez não, mas que minha vida estava lá fora, e não aqui.
Choramos juntos. Eu o amava tanto que seria capaz de me colocar na frente de uma bala por ele. Mas, no fundo, eu sabia: um dia, se não fosse, poderia me culpar pelo resto da vida.
...
Bernardo:
Estava decidido: Daniel partiria no dia seguinte à festa de formatura, marcada para 19 de dezembro. Um sábado que, para mim, ficaria eternamente registrado como o dia em que meu namorado se foi. Havia, é claro, aquele plano de eu terminar o ensino médio nos Estados Unidos, mas, como eu já previa, meus pais não aceitaram a ideia.
– Não vamos deixar você estudar fora! – decretou meu pai. – Você já está na melhor escola do Brasil. Além disso, é tradição na nossa família que todos se formem lá.
– Mas eu quero estudar com o Daniel! – protestei, quase em lágrimas, mesmo sabendo que não adiantaria.
– Sinto muito, Bernardo – minha mãe interveio com firmeza –, mas seu pai tem razão. Não vamos permitir que você vá.
– Mas... – eu estava prestes a dizer que aquilo era injusto, que eu tinha direito de escolher, quando Daniel pousou a mão sobre minha coxa. Naquele instante, entendi que a batalha estava perdida.
Deixei todos na sala e subi correndo as escadas, encontrando Gabriel sentado no corredor ao lado de Pedrinho. Os dois haviam ouvido toda a conversa. Entrei no meu quarto, bati a porta e me joguei na cama, chorando até perder a noção do tempo. Mesmo sabendo qual seria a resposta dos meus pais, ainda restava aquele fio de esperança inútil, uma tentativa desesperada de me convencer de que tudo ficaria bem. Eu imaginava uma vida com Daniel em uma linda casa em Washington, com ele conquistando o visto permanente, nós nos casando e, mais adiante, adotando dois filhos. Era um sonho doce e juvenil... até que a realidade o despedaçou.
Eu não podia culpar meus pais – no fundo, só queriam o meu bem. Mas o medo, às vezes, impede que os pais façam o que é certo, e isso magoa. Tinham receio de me perder se eu fosse para longe. E, talvez, esse medo os consumisse mais do que eu imaginava.
Não sei quando adormeci, mas acordei com batidas na porta. Olhei o celular e vi que haviam se passado cinco horas desde que me tranquei ali. Também havia várias mensagens de Daniel: “Fui para casa, depois a gente se fala”, “Cheguei, como você está?”, “Be?”, “Deve estar dormindo, boa noite”, “Te amo, independente da distância”. Eu também o amava, mas isso não significava que a distância não me mataria aos poucos.
– Bernardo? – a voz veio acompanhada de novas batidas na porta. – Sou eu, Gabriel.
Eu já sabia que era ele. Levantei-me, destranquei a porta e voltei para a cama. Gabriel entrou, fechou a porta e mergulhou o quarto na penumbra novamente. Sentou-se na beira da cama, em silêncio, como se buscasse as palavras certas.
– Você ouviu tudo? – perguntei, para quebrar o gelo.
– Daniel vai embora – ele confirmou. – Imagino que esteja arrasado.
– Estou destruído, Gabriel – as lágrimas voltaram. – Quero que ele vá, porque é o sonho dele... mas não sei como vou viver sem ele.
Ele se aproximou e afagou meu cabelo castanho. Seus olhos verdes me encaravam com compreensão. Lembrei da primeira conversa que tivemos e de como ele, antes, carregava um olhar assustado e triste, apertando o próprio braço com força, como se fosse quebrá-lo. Agora, diante de mim, estava alguém mais confiante, livre daquele desespero. Gabriel nunca mais buscou conforto machucando a si mesmo. Hoje, era apenas um garoto comum.
– Posso te dizer algo como irmão mais velho? – perguntou. – Se é que você me considera assim.
– Claro que considero – sorri, ainda com os olhos marejados. – Você é meu irmão. Pode falar o que quiser.
Ele sorriu satisfeito.
– Sei que você ama muito o Daniel e que vai sentir falta dele. Mas quero que saiba: a vida continua depois dele.
– Eu o amo tanto... – minha voz falhou. – E se ele encontrar outra pessoa lá? Se se apaixonar e me esquecer?
– Se isso acontecer, você vai seguir em frente – afirmou. – Eu já perdi três pessoas que amava muito. Meu pai, Izac... e minha mãe. Eu sobrevivi. Você também vai. Se for para vocês continuarem juntos, nem dois anos de distância vão impedir.
– Dois anos? – sorri de leve. – Então sabe que, depois da formatura, eu vou atrás dele.
– Imaginei – disse, retribuindo o sorriso. – Mas, se não for para ser, não será. Você ainda é jovem, e Daniel é seu primeiro namorado. Pode ser o amor da sua vida... ou não. Só o tempo vai dizer.
– Quero acreditar em você, mas sinto que vou perdê-lo.
– Dê tempo ao tempo, Be – ele segurou minha mão. – Vai doer muito no começo, mas a dor vai diminuir. E você vai ser feliz, eu prometo.
– Fala por experiência própria, não é? – perguntei, e ele assentiu. – E hoje, você é feliz?
– Bom... – ele fez uma pausa. – Eu tinha perdido tudo. Pedro iria para um abrigo, eu ficaria sozinho, sem casa, sem trabalho. Pelo meu passado, era provável que recorresse à prostituição para sobreviver... e Pedro perderia o pouco de inocência que ainda tinha. Mas nossos pais não deixaram isso acontecer. Nos acolheram, nos deram amor e um lar. Nos deram uma chance. Então, sim, hoje eu posso dizer que sou feliz.
– E eu sou feliz que você esteja aqui – disse, enxugando as lágrimas. – Você é um ótimo irmão mais velho. Eu te amo, Gabriel.
– Eu também te amo, maninho – respondeu, lembrando do beijo confuso que nos fez questionar sentimentos no passado. – Agora, vamos jantar. Você precisa comer.
– Estou sem fome – admiti. – Quero ficar sozinho um pouco.
– Tudo bem – ele se levantou. – Mas, aconteça o que acontecer, você vai ser feliz. Com ou sem o Daniel.
– Espero que esteja certo.
– Eu sei que estou – respondeu, antes de sair e me deixar sozinho.
...
Daniel:
Liguei para Drew na segunda e aceitei a proposta. Ele parecia radiante, dizendo que eu tinha feito a escolha certa. Mas, no fundo, meu coração insistia que eu estava cometendo um erro. Fui acompanhado de Bernardo e da minha mãe para assinar o contrato e entregar a documentação. Ambos estavam orgulhosos; minha mãe sorria, mas havia uma ponta de tristeza. Bernardo, no entanto, me pesava. Cada olhar dele transbordava dor, saudade, e eu sentia como aquilo o consumia dia após dia.
Os últimos dias na escola passaram rápido demais. Aproveitávamos cada momento juntos, dormindo lado a lado e fazendo amor, mas sempre terminando em lágrimas. Bernardo me ajudava a arrumar minhas malas e eu o abraçava apertado cada vez que ele se perdia no vazio. Ele nunca disse o que sentia, mas eu sabia: ele temia que nossa despedida marcasse o fim. Respeitei sua escolha de não falar e nunca perguntei.
– Você está uma pilha de nervos – disse Samuel após a última prova, no dia quatro de dezembro – E não é por causa do calor.
Olhei para meu melhor amigo. Desde que soube que eu partiria, ele me abraçara, disse que sentiria minha falta, mas que entendia. Chamou-me de ótimo amigo e garantiu que eu merecia aquela oportunidade.
– Estou apreensivo – respondi, saindo para o pátio – Minha viagem está chegando.
– E você não quer deixar o Bernardo – disse ele, hesitando – Todo mundo já te falou para não perder essa chance, mas acho que você deve seguir o que sente.
– O problema é que ele me incentiva a ir – admiti – É o meu sonho, Samuel. Sempre foi!
– Mas você o ama tanto que poderia desistir por ele – completou, sem que eu precisasse responder.
– Amo – disse, com a voz firme – Não quero ficar sem ele nem deixá-lo triste. – Caminhamos juntos – E se nesse tempo ele arrumar outra pessoa? E se me esquecer?
Samuel sacudiu a cabeça e sorriu.
– Daniel, deixa de ser inseguro! Bernardo te ama demais para te esquecer. Ele vai te esperar.
– Você acha?
– Tenho certeza! – respondeu, convicto – Vocês foram feitos um para o outro. Vai dar tudo certo.
Ele estava certo. Bernardo me amava tanto quanto eu o amava. Ele esperaria. Seríamos um do outro, sempre.
A noite de formatura chegou. Eu vestia meu smoking quando Fernanda entrou, deslumbrante no vestido vermelho, cabelos loiros em cachos sobre os ombros e olhos azuis brilhando.
– Você está lindo! – disse, me abraçando – Nem acredito que vai se formar! Parece que foi ontem que mamãe chegou do hospital com você no colo. E agora… esse homem grande e honesto que tanto amo.
– Vai começar com a crise da meia-idade agora, Fê? – sorri, olhando-nos no espelho. Ela era mais alta que eu, estranho, pois na infância costumava ser mais baixa – Lembre-se que ainda falta o Théo se formar para você se sentir velha oficialmente.
– Nem quero pensar nisso! – disse, sentando-se na cama. Como sempre, adivinhou meus sentimentos – É assustador, não é? Terminar a escola, perceber que não somos mais crianças… e que a vida realmente começa, e no meu caso, em outro país.
– Estou em pânico – confessei com um sorriso amarelo – Não sei o que pensar e sinto que vou surtar.
Ela bateu gentilmente no espaço ao lado na cama. Sentei-me.
– Você vai conseguir – disse segurando minha mão – Já passou por tanto e não desistiu. Vai subir ao palco, pegar seu diploma, curtir a festa, se despedir do seu namorado e embarcar amanhã.
– Não vou conseguir – meus olhos se encheram de lágrimas.
– Vai sim, Daniel! – garantiu – Você é mais forte do que imagina. Já conquistou tanto… Agora é hora de brilhar.
– Eu te amo, Fernanda – abracei minha irmã mais velha. Apesar da distância recente, ela sempre foi uma das minhas melhores amigas e meu maior apoio.
– Vou sentir muito a sua falta.
– Eu também, maninho – disse, emocionada.
Théo bateu na porta e entrou, elegante no smoking preto, cabelo loiro penteado de lado. A aparência juvenil me lembrou nossa infância, quando nós três nos apoiávamos.
– Hora de brilhar, Danny – disse sorrindo.
A formatura foi no pátio da escola, com cadeiras dispostas em fileiras e um palco à frente. Balões e flores prateados e brancos decoravam o espaço. Entramos com nossas becas e nos sentamos. Ao todo, éramos vinte e três alunos com honras.
O Diretor Olavo iniciou o discurso, destacando nossas conquistas no Enem e concursos. Alguns colegas seguiram para universidades de destaque, enquanto eu conquistara a chance de me profissionalizar como atleta. Aplausos calorosos nos receberam. Segurei a mão de Leonardo à esquerda e Samuel à direita, ambos emocionados.
Rafael, presidente do corpo estudantil, subiu e falou sobre a importância das amizades e das escolhas que moldam nossas vidas. Olhei para Bernardo na plateia, ao lado de Théo e Gabriel. Ele estava destruído, consciente de que nossa despedida se aproximava. Meu coração apertou, mas respirei fundo e segui.
Fui o quarto a receber o diploma, enrolado como um canudo com laço azul. Agradeci ao Diretor, posamos para fotos e jogamos nossos chapéus ao ar. O aplauso de pé dos professores e familiares me encheu de orgulho.
A festa ocorreu no ginásio, decorado em branco e prateado. Buffet e barman para os maiores de idade, homenagens e um clipe engraçado da “caçada aos calouros”, que fez todos rirem, incluindo os próprios calouros.
– Para onde você está me levando? – perguntou Bernardo, enquanto eu o guiava pelo gramado.
– A um lugar onde possamos ficar sozinhos – respondi.
Na casa do zelador, escura às três da manhã, acendi o candelabro. As chamas tremeluziam com a brisa.
– Faz tempo que não venho aqui – disse Bernardo, observando o espaço.
– Desde que os góticos nos expulsaram – respondi, aproximando-me – Lembra que foi aqui que fizemos amor pela primeira vez?
– E você correu – lembrou ele, sorrindo sem rancor.
– E ainda me odeio por isso – admiti, afastando sua franja castanha – Deveria ter ficado e assumido que estava apaixonado. Mas foi aqui que comecei a me libertar.
– Aqui nasceu nosso amor – disse ele – Vou sentir falta dessa cabana.
– Eu também – falei, acariciando seu rosto – Eu te amo, Bernardo. Sempre vou te amar.
– Também te amo, Daniel – murmurou – Desde que te vi na fila para pegar a chave do quarto. E vou te amar até depois da minha morte.
Nos beijamos intensamente, até que meu celular tocou: minha mãe, nos lembrando do aeroporto. Olhei para Bernardo, e meu coração apertou.
– Eu tenho que ir – disse com lágrimas nos olhos.
– Eu sei – respondeu, começando a chorar.
Vestimo-nos e apaguei as velas, mergulhando a cabana em sombras. Um lugar mágico, berço do nosso amor.
No estacionamento, amigos e familiares nos esperavam para se despedir. Abraços, palavras sinceras, lágrimas. Samuel, Théo, todos.
Finalmente, me aproximei de Bernardo.
– Não queria te deixar – falei.
– Mas você precisa – respondeu, com dor – É o seu sonho.
– Tenho medo de te perder – confessei.
– Jamais me perderá, Daniel – disse ele – Estarei te esperando aqui.
– Eu te amo – sussurrei.
– Eu também te amo – murmurou.
Nos abraçamos com pesar. Era a última vez em muito tempo que sentiria seu calor, seu cheiro. Não queria sair dali, mas a buzina do carro da minha mãe lembrava que era hora de ir. Dei-lhe um último beijo e entrei no carro, levando comigo um pedaço de Bernardo e seguindo meu sonho.
...
Continua...