Os dias que vinham pela frente pareciam uma verdadeira tortura para mim. O desejo ardente que eu sentia pelo meu irmão só crescia, se tornando cada vez mais difícil de controlar. Ao mesmo tempo, uma bolha de ciúmes me prendia, porque eu via que a relação dele com aquela menina da fazenda também ia se fortalecendo a cada dia. Era um misto de sentimentos que me deixava confuso e inquieto.
Foi então que comecei a pensar em como contar para a minha família sobre quem eu realmente era. Meu irmão Rafael sempre foi minha pessoa de confiança. Ele era meu confidente, aquele para quem eu revelava todos os meus segredos, todas as minhas angústias. Por isso, decidi que ele seria a primeira pessoa a saber da minha verdade.
Numa tarde, depois da escola, tomei meu banho e esperei o Rafael chegar do trabalho. Quando ele finalmente chegou, tomou seu banho e entrou no quarto, eu respirei fundo e disse:
— Rafael, eu preciso conversar com você.
Ele me olhou com aquele sorriso tranquilo e perguntou:
— O que foi, meu irmãozinho?
Eu hesitei, sem saber exatamente como começar, e ele percebeu minha insegurança.
— Fala, o que tá te intrigando?
Eu tentei encontrar as palavras certas, mas elas pareciam escapar:
— Rafa... eu acho que eu sou gay.
Ele me fitou com um olhar de surpresa, meio incerto.
— Como assim? Você acha?
Eu expliquei para ele o que sentia, que estava começando a me sentir atraído por homens, por alguns amigos da escola, por pessoas do meu dia a dia. Mas também contei o medo que tinha de como nosso pai, nossa mãe, ele mesmo e o Marcos reagiriam. Afinal, Rafael e Marcos sempre tiveram aquela pose de machões, de homens que puxaram o jeito do nosso pai. E eu não sabia como seria para eles aceitar que eu fosse gay.
Rafael me olhou com carinho e começou a me tranquilizar:
— Mano, cada um tem seu jeito. Você não precisa ser igual a nós para ser amado. E saiba que, por mim, eu continuo te amando do mesmo jeito.
Ele sorriu, como se já tivesse percebido há muito tempo que eu não me interessava muito por mulheres.
— Tá tudo bem, não tem problema nenhum. Se você quiser, a gente pode pensar em como contar juntos para os nossos pais e para o Marcos sobre a sua orientação.
Naquele momento, Rafael me deu um abraço apertado, que parecia proteger todo o meu medo, e um beijo carinhoso na bochecha. Ali, naquele instante, eu encontrei um ponto seguro, um porto onde podia finalmente ser eu mesmo.
Naquele instante, quando Rafael me deu aquele beijo na bochecha, uma vontade louca tomou conta de mim: queria virar minha boca e beijar ele de verdade, na boca, sentindo o desejo que ardia dentro de mim. Mas eu me contive, segurando aquele impulso, porque sabia que aquele momento precisava ser mais do que um ato impulsivo.
Nós dois começamos a pensar em como contar para os nossos pais, como revelar essa parte tão íntima de mim que estava guardada há tanto tempo. E o momento chegou numa sexta-feira, durante o jantar.
Eu olhei para Rafael, ele me olhou de volta, firme, me dando força. Então, ele tomou a frente:
— A família, o Lucas tem algo muito importante para falar. É algo que precisa ser ouvido com clareza e carinho.
Ele me encorajou:
— Vai, fala!
Eu respirei fundo, olhei para o meu pai, para a minha mãe, para o Marcos. E falei, simples e direto:
— Eu sou gay.
O olhar do meu pai foi o primeiro que eu notei: um misto de choque e rejeição, como se ele precisasse digerir aquela notícia. Minha mãe, por outro lado, sorriu com ternura, um sorriso cheio de aconchego, e disse:
— Que bom, meu filho, que você está nos dizendo isso. Saiba que eu continuo te amando.
Marcos ficou em silêncio, não disse nada, apenas continuou a comer. Meu pai permaneceu ali, quieto, sem palavras.
O jantar seguiu seu curso. Rafael, do meu lado, colocou o braço sobre o meu ombro e, baixinho, me disse:
— Parabéns.
Eu senti aquele gesto como um escudo, uma proteção silenciosa.
De repente, meu pai olhou para mim, com os olhos cheios de um sentimento que eu não esperava:
— Lucas, eu te amo, meu filho. Quero que saiba que desejo tudo de bom para você e que ninguém jamais machuque o seu coração. Eu vou te proteger de todos os males que possam acontecer com você.
Ele se levantou e me abraçou forte. Naquele abraço, eu me senti amado, acolhido, mais uma vez.Eu olhei para ele, sentindo o nó na garganta, e disse:
— Eu também te amo, pai. E me desculpe por não ser igual o senhor e os meus irmãos.
Ele me encarou com um olhar firme, cheio de compreensão, e respondeu:
— Não peça desculpas, meu filho. Eu estou feliz por você realmente ser quem você é. Você não precisa ser igual a mim ou aos seus irmãos. Cada um tem o seu jeito. E eu te amo e te respeito do jeito que você é.
Senti uma paz enorme invadir meu peito naquele momento. Era como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas, e eu pudesse finalmente respirar livremente.
Minha mãe sorriu para nós dois, seus olhos brilhando de orgulho e amor materno.
Marcos, Terminou seu jantar sem falar nada, sem nem olhar para mim, se levantou e foi para o quarto.
Eu, a partir daquele momento, vi que poderia ser eu mesmo dali para frente, ser o Lucas de verdade. Depois do jantar, em meu quarto, fiquei refletindo, pensando em tudo o que tinha acontecido naquele dia. Um peso tomou conta da minha consciência. Como eu poderia ter aqueles pensamentos com o Rafa? Se ele era o meu porto seguro, se era ele quem me cuidava, se foi ele que esteve ao meu lado nesse momento difícil de me abrir para a família.
Comecei a me sentir um monstro por pensar e querer, por desejar o meu irmão. Os pensamentos tomaram conta da minha cabeça, e eu comecei a lutar contra mim mesmo. Aí, comecei a chorar.
Rafael entrou no quarto e perguntou por que eu estava chorando. Eu tentei disfarçar e falei:
— Não, é por tudo que aconteceu hoje... Nada demais.
Rafael, mais uma vez, me abraçou e falou:
— Eu estou contigo. Eu te amo, meu irmão.
E a partir daquele momento, começou outro dilema.
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