Capítulo 4: O Avô e O Tio
Ainda estava na cozinha, encostado no balcão, soltando provocações bobas pra tia Patrícia e pra minha avó Pilar. As duas reagiam de jeitos opostos — Pilar ria baixinho, mexendo o café com a colher, enquanto Patrícia fingia que não ouvia, o maxilar duro de quem carrega a “moral da família” nas costas.
Foi quando ouvi o barulho da caminhonete na entrada, motor engasgando, pneus mastigando a terra seca. O ronco parou, e a voz do meu avô, Patrício, atravessou o quintal como um tiro:
— Põe esse saco lá fora, Paulo!
Minha avó se levantou na mesma hora, ajeitando o vestido na altura dos quadris. O sorriso doce continuou preso no rosto, mas os dedos demoraram meio segundo a mais na barra do tecido.
Patrícia, por outro lado, se enrijeceu. Coluna reta, queixo levemente erguido, como se a simples presença do pai exigisse dela uma performance de virtude.
Entre as duas, pequenas trocas de olhares — rápidas, quase invisíveis. Eu peguei todas. Minha avó, cúmplice silenciosa, olhou de relance pra Patrícia. Patrícia desviou, mas o canto da boca dela se moveu, quase imperceptível, como se estivesse engolindo um comentário ácido.
As duas foram pra sala. Eu, claro, fui atrás.
Me sentei num canto, fingindo desinteresse, mas de olho em cada movimento. Minha avó ajeitou a toalha da mesa como quem precisa ocupar as mãos, Patrícia cruzou os braços, postura dura, o queixo erguido — só que o olhar denunciava o contrário: ela estava desconfortável, sim, mas também atenta demais.
A porta da sala rangeu quando eles entraram, e o ar mudou de repente, mais denso, mais pesado. Meu avô à frente, peito estufado, passo firme como se cada movimento fosse um comando. Ocupando o batente como se a porta fosse moldura de um retrato dele. Chapéu na mão, mas sem pressa de tirá-lo da cabeça. O rosto curtido pelo sol, bigode grosso que se mexia junto com cada palavra cuspida alto. Ombros largos, postura ereta demais pra quem já tinha passado dos sessenta. A camisa aberta nos dois primeiros botões deixava ver o peito peludo e queimado. Caminhava falando, mas não era conversa: era anúncio. Botas grossas batendo no piso de madeira, um cheiro forte de terra e fumo vindo junto, misturado ao suor quente. A voz dele cortava o espaço, ecoando pelas paredes baixas:
— Óia só, sô… num disse que ia chegá antes do almoço? — a voz grave, arrastada, parecia vir de algum lugar mais fundo que o peito.
Parou na minha frente. Não estendeu a mão. Ficou plantado, esperando. Eu que tive que avançar até ele.
— Cheguei agora há pouco… — respondi baixo, sem força, como se qualquer palavra minha tivesse que pedir licença pra sair.
O aperto foi daqueles que testam ossos. Os dedos dele fecharam devagar, um a um, como se quisessem imprimir meu formato na palma dele. O olhar não largava do meu, firme demais, demorando meio segundo além do necessário — medindo, pesando, julgando.
— Ocê cresceu, hein, minino… — disse, soltando minha mão num estalo seco, como quem encerrava um veredito.
— Pois é… — foi tudo o que consegui dizer.
E mesmo depois de soltar, fiquei com a sensação de que ele ainda não tinha me largado de verdade.
Paulo veio logo atrás, quase tropeçando no próprio passo. O saco de milho no ombro puxava sua coluna pra frente, fazendo a barriga se projetar. A camiseta, grudada nas costas pelo suor, cheirava a sol e fumo. O cabelo ralo e úmido na testa denunciava que a vinda da roça tinha sido sob pressa. O suor escorria pelo rosto, pelas têmporas. Sorriso contido, olhar baixo, postura quase curvada, como se estivesse tentando ocupar menos espaço do que o pai naturalmente ocupava. Ele não comandava nada ali; era apenas um figurante da própria vida, e todo mundo sabia.
Ele sorriu pra mim, rápido, de canto, como quem não queria roubar a cena do pai.
— Ô, Miguel… bão? — apertou minha mão com mais calor, mas ligeiro, quase pedindo desculpa por existir.
— Tudo bem, tio… e o senhor? — respondi, sem precisar medir tanto as palavras quanto com o velho.
— Ah… vamo indo, né? — riu baixo, coçando a nuca, aquele riso sem força que mais parecia um pedido de trégua. — Cê tá mais homem, uai… estudando firme ainda?
— Tô sim. Arquitetura. — falei, e ele assentiu rápido, orgulhoso de um jeito tímido.
— Ocê sempre teve cabeça boa… — disse, mas logo olhou de relance pro pai, como se não pudesse me elogiar demais sem pedir permissão.
— Deixa de conversa e põe esse saco lá na dispensa, Paulo! — cortou Patrício sem nem olhar pra ele.
O contraste era imediato. A casa, até segundos atrás acolhedora, com minha avó sorrindo e Patrícia mantendo a moral, agora parecia menor, comprimida pelo tamanho do homem que entrava. Patrícia mudou o tom da voz sem perceber, palavras mais contidas, cadência mais dura, quase medindo cada sílaba. Minha avó, que até então falava sem cuidado, ficou mais silenciosa, as mãos paradas no vestido. Eu senti o ar pesar, uma temperatura nova que grudava na pele — não quente, mas cheia de expectativa.
Meu avô ocupava o espaço como se cada centímetro fosse dele. Falava alto, gesticulando, dando ordens não só para o meu tio, mas como se tivesse direito sobre todos ali. Cada comando, cada risada seca, parecia calcular a reação de quem o ouvia. Um golpe de autoridade natural, que ninguém discutia — e que tudo que respirava naquele ambiente se ajustava.
O cheiro da terra grudava na roupa, misturado ao fumo forte e ao suor, entrando em choque com o perfume sutil do café, o aroma de pão fresco. Era um choque sensorial: o campo cru invadindo a cozinha limpa e organizada, arrastando uma sensação de perigo.
Enquanto meu avô falava alto, apontava aqui, gesticulava ali, eu notei Paulo: passos lentos, olhar baixo, evitando qualquer contato visual direto, mas tentando não deixar o saco cair. O contraste entre pai e filho era nítido. Um era a força bruta, o comando; o outro, submisso, tentando sobreviver.
— Flor já chegou? — perguntou meu tio, largando o saco de milho no canto do alpendre.
— Em vez de perguntá, cê devia era aprendê a mandá — respondeu meu avô, firme. — Tá criando mulher solta… depois num sabe por onde ela anda.
Minha tia, que até então estava calada, se ajeitou na cadeira.
— Pai tá certo. Floriana vive rodando por aí, sempre arrumada demais… — disse, a voz carregada de julgamento.
Paulo forçou um sorriso e tentou responder.
— Cês sabem como é a Flor, gosta de se cuidar…
— Gosta é de se mostrâ — cortou meu avô, sem nem olhar pra ele.
Patrícia se aproximou, braços cruzados, aproveitando o embalo do pai.
— E ele ainda acha bonito, pai. Essa mulher fica rodando por aí como se fosse… sei lá.
Meu tio soltou um riso breve, quase um pedido de desculpa.
— Ô, Patrícia, não é bem assim… cês falam da Flor como se ela…
— Como se ela o quê? — Meu avô interrompeu, voz firme, o bigode se mexendo enquanto mascava as palavras.
Paulo riu fraco, olhando pro chão. Não dava pra saber se ria da situação ou de si mesmo. Eu percebi o desconforto, aquela hesitação entre defender a esposa e simplesmente engolir. E como sempre, engoliu.
O silêncio ficou pesado. Minha avó foi quem quebrou, ajeitando o vestido e sorrindo daquele jeito doce que mais escondia do que revelava.
— Patrício… às vez parece até que ocê tem mais ciúme da Flor do que o próprio Paulo.
— Não é ciúme, não — meu avô cortou, limpando o bigode com o polegar. — É que não quero filho meu mal falado por aí.
Minha avó ergueu o rosto.
— Mal falado?
— É — entrou Patrícia, voz afiada. — O pessoal da cidade anda dizendo que a Floriana meteu chifre no Paulo.
A expressão de minha avó fechou na hora, como se tivesse engolido um caroço de jabuticaba.
— Patrícia! — repreendeu, horrorizada.
— Isso é conversa fiada! — Meu tio rebateu, levantando um pouco a voz, mas sem perder o tom manso. — Ocês tão repetindo fofoca de boteco. A Flor nunca…
— Então toma as rédeas, rapaz — Meu avô devolveu, seco. — Homem que não se impõe perde a mulher e ainda fica de bobo na história.
O silêncio caiu pesado. Eu vi meu tio sorrir sem graça, um riso curto que mais parecia uma rendição. Ele não sabia se defendia a mulher ou se baixava a cabeça pro pai e pra irmã. No fundo, tive a impressão de que meu avô falava de “não querer filho mal falado” com mais prazer do que preocupação — como se a fofoca, pra ele, fosse um tempero e não um problema.
— Ocê tem que sê mais firme, fio. Tá virando motivo de chacota — disse, cuspindo a palavra “chacota” como se fosse algo podre. — Homem que não impõe respeito dentro de casa perde até o nome.
Meu avô se recostou na cadeira, mas o olhar afiado continuava cravado em Paulo.
— Ocê num tem pulso, menino. Muié percebe quando o homem é frouxo… e aí, ó, começa a pisá.
Paulo tentou manter a calma. Abaixou a cabeça, apertando as mãos.
— Pai… num é assim…
— É sim, e cê sabe — Patrício cortou. — Homem que não cuida do que é dele, perde. E depois num adianta chorá pelos canto.
— Pai… eu já falei que nóis tá bem. A Flor não…
— Cala a boca, Paulo! — Meu avô interrompeu. — Ocê fala manso demais… desse jeito até o cachorro da rua monta em cima de ocê.
O silêncio ficou incômodo. Sentia como se meu tio estivesse sendo esfolado vivo ali na frente de todo mundo.
Minha avó deu um passo à frente.
— Patrício, deixa o menino… — Começou, tentando mudar o tom da conversa.
Ele virou o rosto pra ela, lento, carregando um sorriso sem humor.
— Cala a boca, muié — ele rosnou, sem sequer olhar pra ela. — Vai lá passá mais café pra nóis, vai.
— Mas…
— Vai logo.
Minha avó hesitou, mordendo o lábio, mas deu a volta pela mesa. Quando passou atrás dele, meu avô levantou a mão pesada e deu um tapa firme na bunda dela — um estalo seco que fez a carne vibrar. O som do tapa ecoou na sala. Um estalo seco. A bunda dela tremeu de um jeito quase hipnótico, o vestido balançando meio segundo depois.
— Ai! — ela gritou, mais de susto do que de dor.
Não virou o rosto, não protestou. Apenas acelerou o passo até a cozinha.
— Vai logo, Pilar — ele disse, como se nada tivesse acontecido, ajeitando o bigode.
Minha avó desapareceu pela porta e eu fiquei olhando pro corredor, meio hipnotizado pelo balanço que o tapa tinha deixado nela. Coisa de dois segundos, mas que, pra mim, pareceu câmera lenta.
Paulo fingiu não ver. Patrícia olhou de lado, a boca tensa, mas não disse nada. Qual a lógica? Quando tentei roubar um selinho dela, armou sermão de meia hora sobre moral e família. Agora, vendo o próprio pai encher a mão na bunda da mãe, nada. Nem um pigarro. Nem um “pai, por favor”. Nada. Engoliu seco como se fosse missa. Eu apenas registrei, ciente de que aquela família tinha um jeito muito próprio de medir silêncio e vergonha.
Dava pra ouvir o som da chaleira sendo tirada do fogo, o tilintar de xícaras. Depois, um barulho leve — a colher batendo na borda, irregular, como se a mão dela tremesse.
Levantei e fui até a cozinha, fingindo que queria ajudar. Minha avó estava de costas, mexendo o açúcar na caneca. O quadril ainda parecia carregar o eco da mão do marido.
Pensei, por um segundo, em fazer o mesmo — chegar por trás e estalar a palma na bunda dela, ver a carne tremer como tinha tremido antes. Quase senti o estalo na minha mão. Mas fiquei só na vontade.
O que fiz de verdade foi mais inocente — ou parecia. Encostei por trás, como quem não quer nada, e deslizei a mão na cintura dela. Pilar deu um sobressalto leve, o corpo arqueando um instante, como se tivesse recebido um choque morno. Virou só a cabeça, rápido, os olhos escuros me atravessando com estranhamento — mas atrás do susto havia um brilho úmido, quase tímido. O rubor subiu na pele dela, disfarçado pelo calor da cozinha.
— Posso ajudar a senhora? — perguntei, baixo, quase rindo da própria audácia.
Ela demorou um segundo a mais pra responder. Engoliu seco, desviou o olhar pra colher dentro da caneca.
— N-não, meu filho… já tô acabando aqui… — a voz saiu mais suave do que deveria.
— Quer que eu leve? — perguntei.
Ela virou só a cabeça, os olhos ligeiramente estreitos. Um sorriso fraco.
— Eu levo.
Mas o que ela dizia não combinava com a respiração — rápida, curta, quase engolida. Eu percebia esses detalhes. Sempre percebi.
No instante em que estendeu a xícara pra mim, os dedos encostaram nos meus. Morno. Um morno que não vinha só do café.
— Segura firme… — disse, quase sussurrando.
Vi a boca dela tremer, como se estivesse segurando palavras que nunca saíam. Aquele silêncio me sufocou. Abaixei a voz, quase num segredo:
— Ele não devia te tratar assim. — Eu mesmo me surpreendi por dizer.
Ela fechou os olhos por um segundo, e o canto da boca cedeu num sorrisinho curto, quase cúmplice.
— Aquilo? — ela abriu os olhos, direto em mim. — Ah, meu filho… disso eu já tô acostumada.
Não soou como mágoa. Soou como quem falava do tempo, da rotina, de algo que se repete até perder importância. Só que, por trás da leveza, havia um ar de quem não só suportava — talvez até esperasse.
A respiração dela encurtou um pouco. E, sem pensar, passei o polegar sobre o dorso da mão dela, devagar, como quem consola. Só que não era só consolo. A pele queimava, viva. Eu quis puxar aquela mão inteira, colar no meu peito, me oferecer como a tal “opção melhor”. Só que percebi: com ela não funcionaria. Minha avó estava moldada no jeito bruto do meu avô. Talvez fosse isso que a sustentava.
Antes que eu pudesse insistir, ela se soltou rápido, pegou a bandeja e se afastou, como se nada tivesse acontecido.
Atrás dela, pela porta entreaberta, ainda dava pra ouvir a voz grossa do meu avô, agora chamando o Paulo de “molenga”. Ela respirou fundo, ergueu o queixo e atravessou de volta pra sala.
Eu fiquei ali um segundo, com a xícara na mão e a sensação de que tinha acabado de espiar por uma fresta que ninguém queria que fosse aberta.
Minha avó voltou pra sala com o café na bandeja, sorriso ensaiado, mas o olhar… o olhar denunciava que ela ainda sentia o tapa.
— Mas, gente… como é que inventam uma coisa dessa?
Meu avô estendeu a mão sem nem agradecer. Tomou um gole e voltou a mirar no Paulo como quem calibra uma espingarda.
— Inventam porque ele deixa, muié — Meu avô respondeu, apontando pro Paulo como se fosse um aluno burro. — Tá na hora de tomar as rédeas, fio.
Paulo se encolheu na cadeira. E meu avô, sentindo que tinha a sala inteira sob controle, recostou-se e sorveu o café como se fosse a vitória dele.
Eu, ali no canto, só observava. E pensava que o mais estranho não era o tapa, nem a acusação, nem a humilhação. Era a sensação de que todo mundo naquela sala já tinha escolhido de que lado ia ficar — só não tinha coragem de dizer em voz alta.
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