...CONTINUANDO:
O sol agora atingiu o rosto de Lucas. Ele piscou lentamente, sentindo a maciez dos lençóis e o calor suave do novo dia. A primeira coisa que notou foi o silêncio. Estava só. O cheiro da mulher ainda impregnava o ambiente.
Virou-se na cama e, ao alcançar o celular no criado-mudo, viu a notificação que explicava o vazio: uma mensagem curta de Vanessa.
“Fui tomar café com meu marido. Depois vou caminhar na praia. Aproveitem o dia.”
Ele soltou um suspiro, relaxado. Nada nele acusava ciúmes, medo ou desconforto. Pelo contrário, aquele cenário — a mulher casada que ele havia fodido até o limite agora tomando café com o corno — tinha um sabor de vitória. Se espreguiçou na cama, observando pela janela a praia ganhando vida. Crianças faziam castelos de areia, adultos montavam guarda-sóis, e o mar desenhava um som constante e hipnotizante.
A lembrança da noite anterior pulsava nele como uma trilha sonora erótica. O cheiro da buceta dela ainda parecia impregnado em seus dedos. Levantou-se com preguiça gostosa e foi ao banheiro. Fez suas necessidades, entrou no chuveiro e deixou a água quente cair sobre o corpo como se lavasse, em câmera lenta, os pecados recentes. Sorriu consigo mesmo. "Porra... que mulher."
Ao sair do banheiro, enxugando o cabelo, levou um susto ao ver Pedro parado próximo à porta, com cara de quem tinha acordado num pesadelo.
— Porra, Pedro, que cara é essa? Quer me matar de susto? Parece um zumbi, caralho.
Pedro não respondeu de imediato. Apenas passou a mão no rosto, como se quisesse apagar as marcas da noite.
— Temos que ir embora, Lucas — disse, a voz rouca, assombrada.
Lucas soltou uma risada incrédula, quase divertida.
— Ir embora? Você tá brincando, né? Ontem foi uma das melhores noites da minha vida. Vai me dizer que não valeu a pena?
Pedro, com o rosto abatido, olhou para ele com um pavor genuíno nos olhos.
— Se a gente não for embora agora... pode ser a última noite da nossa vida, irmão.
— Que porra você tá falando, cara? Vai tomar um banho, sério. Tá fedendo. Parece que dormiu num curral.
Pedro hesitou, mas acabou cedendo. Sumiu no banheiro, e minutos depois, saiu renovado no físico, mas não na alma.
Com esforço, Lucas o convenceu a descer para o café. Depois, caminharam para a praia. Foram para longe do hotel, longe dos olhares, longe da cama onde haviam cruzado a linha. O sol batia forte, mas o frio que Pedro sentia vinha de dentro.
Caminhavam descalços na areia quando Pedro falou, de olhos fixos no mar:
— Cara, o Marcão é doente. Não é só ciumento, ele é perigoso de verdade. Você não tem ideia. Já bateu em vizinho por causa de bobagem, já quebrou um cara só porque achou que ele olhou demais pra Vanessa. Agora imagina o que ta passando na cabeça desse cara só de saber que um moleque como você e eu, meteu na mulher dele... dentro dela, Lucas! Sem camisinha! Gozando nela!
Lucas escutava com mais atenção agora. A paisagem não era mais tão pacífica.
— E por que você acha que ele ainda não explodiu?
— Porque tá segurando. Tá digerindo. Esperando o momento certo. Esse cara não é burro, é do tipo que faz merda de forma calculada. E quando fizer, não vai ser discussão. Vai ser hospital... ou cemitério.
Lucas passou a mão na nuca, finalmente assimilando o peso do que Pedro dizia. Ficaram em silêncio por um tempo, ouvindo apenas o som das ondas.
— Eu só não fui embora ainda porque não queria te deixar sozinho. Mas se fosse por mim, eu já tinha pegado minhas coisas e vazado dessa porra. Eu tô falando sério, Lucas. Eu quero mudar de nome, de endereço e até mesmo de Estado!
Lucas respirou fundo, sem fazer piada. Não ria mais. Pedro havia passado do exagero para o razoável, talvez fosse a ausência do álcool em sua mente.
— Eu entendo. Mas eu vou conversar com a Vanessa. Ver o que ela diz. Ela não é burra. Talvez ela já saiba como lidar com isso.
Pedro olhou para ele como se estivesse diante de um suicida.
— Você tá louco. Você vai esperar a mulher do cara que quer te matar pra ter uma DR? Tu não entendeu nada do que eu falei?
Mas Lucas estava decidido.
— Já mandei mensagem. Ela respondeu que está vindo pro quarto do hotel. Não saio sem falar com ela.
Pedro balançava a perna, nervoso, olhando em volta como se esperasse Marcão brotar da areia.
De volta ao quarto, os dois arrumaram as malas. Pedro com pressa, Lucas com calma. Enquanto o amigo deslizava roupas na mochila como quem prepara uma fuga, Lucas sentou-se no sofá, celular na mão.
Pedro ficou parado, inquieto.
— E aí? Vamos ou não vamos? — Pedro tentava o amigo para abandonar a deia de qualquer diálogo.
— Vamos. Mas só depois que eu falar com a Vanessa. — Aquilo era bom de mais para ele abandonar sem entender melhor as coisas.
— Ah não... — Pedro andava de um lado pro outro. — Cara, você é doido! Tu vai morrer por buceta!
Lucas sorriu com um misto de deboche e desejo.
— Que mulher, hein... Mas calma. Vamos ouvir o que ela tem a dizer.
E assim ficaram. Um garoto desesperado. Outro, desejando respostas. E uma mulher casada a caminho — dona da tensão, do prazer e talvez da próxima tragédia.
...CONTINUA...