No dia seguinte, eu ainda estava ali, refletindo o que eu faria com aquele vídeo, enquanto estava na mesa do trabalho. Na verdade, eu precisava tomar uma decisão, mas não queria que fosse sozinho, eu queria ver Mônica e ver o que ela achava.
Mandei o vídeo para Alex, uma cópia dele. A resposta foi positiva e animadora, como eu imaginava. Existia sim uma boa possibilidade de poder usar esse vídeo na justiça contra Vítor.
Mas ainda tinha a situação do Marcos. Um lado meu sinceramente, queria sacanear encerrar com aquele cara. Eu nunca gostei dele, desde o primeiro momento em que ele se atreveu a se colocar no caminho da minha namorada, sempre dando uma de talarico mesmo sabendo que ela namorava.
E ainda tentou algo na festa, mesmo que na viagem ele tenha sido forçado. Mas eu era um homem de palavra, ou pelo menos tentava ser. Eu havia prometido pelo menos dar alguns dias para ele dar o pé do Rio. Mas essa decisão não podia ser somente minha.
Encontrei Mônica no mesmo quarto de nosso último encontro. Ela estava sentada na beira da cama, pernas cruzadas, olhar firme, como se já soubesse que eu tinha alguma carta na manga.
— Consegui o vídeo — falei, colocando o pendrive no notebook, mostrando a tela a ela. — Você precisa ver isso.
Ela se inclinou pra frente, apoiando o queixo na mão, e assistiu cada segundo sem piscar. Quando terminou, ficou um tempo em silêncio, encarando a tela preta.
— E o que a gente pode conseguir com isso? — perguntou, a voz baixa, quase cautelosa.
— Olha, eu acho que esse material prova que o Marcos estava sofrendo uma extorsão. — respondi. — E ainda tem esse outro vídeo que ele fez sem eu pedir, falando o conteúdo da conversa, revelando que estava sendo extorquido por Vítor.
— Mas isso é bom, não é? — Mônica perguntou.
— Excelente, amor. — respondi. — Extorsão, ameaça armada… isso é o bastante pra colocar o Vitor contra a parede. Só que teve um preço.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Que preço?
— Vamos ter que fazer vista grossa pro Marcos. — Suspirei. — Mas eu não quero. Você sabe que ele não merece que a gente faça isso.
— Como assim vista grossa, Pedro? — ela perguntou.
— Ele quer fugir do Rio de Janeiro. Até porque ele sabe que se ficar aqui vai sobrar Pra Ele também, já que ele cometeu crime contra você. Ele me pediu 7 dias para conseguir arrumar suas coisas e fugir, depois disso ele vai se virar no mundo por aí , enquanto possivelmente a polícia vai ficar no encalço dele.
Mônica respirou fundo, enquanto dizia. — Eu preciso pensar… Eu tenho raiva dele, muito. Mas, na primeira vez, ele estava bêbado. E depois… foi chantageado. No fundo, não sei se ele é realmente uma pessoa ruim.
Balancei a cabeça, meio incrédulo. — Você sempre foi assim, Mô. Não gosta de ver o mal nas pessoas. É uma das coisas que me fez me apaixonar por você… mas também foi isso que te fez cair na conversa do Vitor, da Vanessa, da Elisa.
Ela me olhou de lado, mas sem mágoa. — Eu sei. E já estou mudando isso. Foi por isso que tive coragem de gravar tudo e te mostrar.
— E eu estou com você. Eu te prometi que não iria largar a sua mão.
Toquei a mão dela, e assim ficamos de mãos unidas naquele momento. Aproximei meu rosto junto dela, e assim nossos lábios se tocam, e ao beija-la, eu senti o peso da conversa sumir. Mônica conseguia sempre tirar o melhor de mim.
Depois nos encaramos, enquanto ainda permanecia com os dedos junto aos dela. Fiquei em silêncio por um momento, olhando pra ela. — Então eu já decidi. A gente vai mostrar as provas pra polícia o quanto antes.
Ela assentiu, mas completou: — Está certo, amor. Mas antes, tem uma coisa que precisamos fazer, eu estava pensando em algo...
— O que você está pensando?
Um sorriso lento surgiu no rosto dela. — Já trabalhei nessa ideia. Amanhã mesmo tem algo marcado.
— E faz parte daquilo que você combinou comigo? — perguntei.
— Faz.
Nos encaramos por alguns segundos. Então, decidimos de vez sobre o que faríamos com relação ao Marcos, que no momento, ele seria nossa segunda opção. Tinha uma outra pessoa que merecia cair, antes dele.
Depois de um tempinho namorando, pois ninguém é de ferro, nos despedimos. Mônica seguiu para a casa dos pais, enquanto eu, aproveitei para "seguir a minha parte de uma coisa que era necessária ser feita."
Eu acabei por revisitar o meu Facebook. Olhei para a última mensagem que Elisa me mandou. Não nos falamos mais desde que eu a ignorei, mas fiquei feliz de ter aquele perfil entre os meus amigos. Ela não sabia o que estava por vir.
Foi então que entrei no perfil dela e consegui achar o tal namorado. Chamei ele no privado, não adicionei como amigo. Então começamos a trocar uma ideia.
O nome dele é Caio, um cara bem gente boa. E ao contrário de tudo que a Elisa falava dele para as meninas, ele não era nem um pouco mulherengo. Olhando o perfil dele, tinha diversas declarações para ela. Ela não fazia questão de curtir nem metade.
Para conseguir falar com ele, olhei se tínhamos algo em comum, e vi que estávamos no mesmo grupo, de games usados na zona norte.
Torci para ver se tinha alguma postagem dele, e como os céus estavam ao meu favor! Ele estava tentando vender seu Nintendo switch, então chamei ele no privado.
— Coé mano. Quanto tá esse game aí? — perguntei nas mensagens.
— Então, eu tenho um Switch desbloqueado versão OLED, edição especial do Mario. Tá vindo com todos os acessórios, e ainda tem esses Joycon da foto que comprei por fora. Tô vendendo R$ 2400 tudo.
— O preço tá muito bom cara. — disse, enquanto seguiamos conversando. — Tô interessado, onde podemos nos encontrar?
— Pode ser no metrô. Eu tô precisando da grana.
— E por que mano?
— Minha namorada. Ela tá na pior, alguns problemas aí. E aí ela me pediu um dinheiro, e eu não tinha tudo. E como eu não tô mais jogando esse, resolvi vender.
— Pode crer, mano. Eu fico, já disse. — comentei.
Confesso que naquele momento ao ler aquilo, eu fiquei num misto de pena e raiva pra caralho, o cara querendo se livrar do seu game para poder ajudar uma vagabunda. Senti ainda mais necessidade de seguir com aquilo, o cara não merecia passar por aquilo.
Acabamos nos encontrando no mesmo dia no metrô, e assim comprei o game do cara e aproveitei para começar a jogar conversa e assim começamos uma amizade.
— Aqui está cara. Uma bela peça hein, eu irei testar em casa devagar. — disse.
— Se quiser, pode ligar e já testar ai. — Ele falou.
— De boa amigo, eu confio em você. — respondi.
— Que bacana, pode ficar de boa, que ta tudo funcionando ai.
— Não vai te fazer falta? — perguntei.
— Não, mano. Eu tô com um lite em casa também. E eu jogo mais portátil, além do mais, é pra ajudar alguém do peito, né? — ele disse.
— Tu deve amar muito ela né? — perguntei.
— Sim, ela é minha namorada já faz um tempo. Sempre firmeza comigo, sabe? Além do mais, é uma gata, e eu... Sei lá, sou zoado. — comentou.
— Eu só espero que ela não faça você se arrepender. — comentei.
Acabamos nos adicionando na rede social, e ficamos lá conversando, falando sobre jogos, algo que eu sempre gostei, sinceramente.
Foi então que ele acabou finalmente notando que eu tinha a namorada dele adicionada em comum, e perguntou de onde eu a conhecia.
— Maneiro irmão, você tem a Elisa adicionada! — ele disse. — Tu não tinha percebido que ela é a minha namorada não?
— Não! hahahaha. — ri, comentando em seguida. — E pra ser sincero, nunca nem falei com ela também.
Papo vem, ficamos ali conversando numa boa. Comentei que conhecia ela através de Mônica, que era minha ex-namorada. As duas são muito amigas. Ele acreditou, o que de fato não era tão mentira.
Ele então me disse que não conhecia essa Mônica, só conhecia a Vanessa. Mas ele não gosta muito dela, segundo ele, a Vanessa é muito "evoluída" pro nosso tempo, e Elisa já comentou algumas coisas dela pra ele.
Não podia acreditar que Elisa era tão suja, ficar mentindo pra geral que o namorado é um mulherengo quando claramente é um cara de boa, tranquilo, bem nerd mesmo. Claramente só está com ele pra ganho próprio, pois conversa vem e vem, ele me disse que já deu dinheiro a ela antes e outras coisas. Claramente tem medo de perde-la.
O primeiro passo já estava feito, agora eu só esperava a Mônica fazer a parte dela. O que na minha opinião me embrulhava o estômago, mas era necessário para começar a dar o troco em todos que nos prejudicaram, e a primeira pessoa seria a Elisa.
Mônica:
No momento, estava morando na casa dos meus pais, como já fazia desde sempre. Por conta da situação, e por "fingirmos ter terminado", eu e Pedro não nos vemos normalmente, tendo encontros ali em lugares que selecionamos.
Eu já estava a algum tempo iniciando algo junto com a Isa. E para a nossa última etapa, eu estava iniciando uma amizade com Rafael e pegando sua confiança, não só pra saber mais sobre tudo, mas também porque eu iria usar isso para um outro fim.
Estava motivada a acabar com uma injustiça que já vinha sendo praticada a algum tempo por uma pessoa em especial.
Em uma noite, depois de minha briga com Pedro, estava deitada no meu quarto, a luz do abajur preenchendo o espaço com aquele tom amarelado suave. Deslizei o dedo pelo tablet distraidamente, tentando me distrair antes de dormir. Estava olhando um vídeo, quando a tela do celular vibrou ao lado da cama. Era uma chamada de voz no WhatsApp. O nome que apareceu me fez franzir a testa: Rafael. Antes de atender, eu ativei a gravação do celular. Precisava dessa conversa.
Atendi com um misto de surpresa e curiosidade.
— Alô? — perguntei.
— Oi, Mô. Como você tá? — a voz dele saiu calma, até suave demais.
Respirei fundo antes de responder, deixando um certo peso transparecer.
— Ué, você? O que foi? — perguntei.
— Tô te ligando, pra saber como está a agora solteira mais linda desse mundo. — ele disse.
— Ah, ta bom. — disse, dando de ombros.
— É sério, Mônica. Você é linda demais pra ficar triste. — ele disse.
— Eu tô… tentando superar o término. Mas ainda tô muito chateada. Irritada, na verdade. Foi muita humilhação o que o Pedro me fez passar… principalmente ali, na sua frente.
Do outro lado da linha, ouvi ele bufar.
— Pois é… aquele cara não passa de um sem-vergonha. Você devia se tocar e procurar alguém melhor.
Sorri sozinha. Era exatamente a deixa que eu queria.
— Quando você diz alguém melhor, você está se referindo a você? — soltei, em tom quase desafiador.
Ele riu, um pouco nervoso.
— Não sei… pode ser… ou pode não ser.
Aproveitei para apertar ainda mais o cerco.
— Então me diz… por que você tá tão interessado em mim?
Houve um breve silêncio, depois ele devolveu:
— Porque você tem algo especial.
—Ah cara, conta outra vai. — Falei, fazendo charme, o provocando. Ele caiu.
— Tô falando sério, princesa. Você não quis liberar nem pro Vitor quando tava com raiva. Uma virgem é pra casar, ainda mais uma firmeza como você.
— Hum, mas quer saber? Não sei se vale a pena seguir me guardando não.
— Como assim, princesa? — ouço ele perguntar, mudando completamente o tom, parecendo interessado. Mordeu a isca.
— Bom, mas e você e a Elisa? Fiquei sabendo de coisas.
— É, umas coisas, ai. — Ele comentou.
— E vocês estão ficando? — perguntei, deixando minha voz soar curiosa, quase inocente.
— Estamos, sim. Mas… ela namora, né? Então é só algo casual mesmo.
Mordi o lábio, deixando uma pausa dramática.
— Rafael… e se eu falasse em algo… diferente?
Ele pareceu desconfiar.
— Diferente como?
— Eu tô querendo transar. Mas queria transar com homem e mulher, sabe? Elisa foi muito minha amiga, e você me apoiando... — falei firme, sem hesitar.
Do outro lado da linha, ele tossiu, se engasgou, e riu nervoso.
— Como assim, Mô? Tá brincando, né?
— Não. — garanti. — Eu guardei a minha virgindade por muito tempo, e pior… pra uma pessoa que não merecia. Eu quero extravasar. Você e a Elisa abriram meus olhos pra verdade: que a gente tem que se lançar no mundo e aproveitar as oportunidades. Então eu pensei… por que não começar com vocês?
Ele ficou em silêncio, e eu consegui imaginar o olhar dele cruzando com o da Elisa naquele instante.
— Você tá falando sério? — ele perguntou, ainda meio incrédulo. — Tu ta querendo o que, afinal?
— Quero você abrindo minha bucetinha e me fudendo enquanto eu chupo a Elisa. — afirmei, seca. — E eu quero marcar isso logo. Num motel.
— Qual? — ele perguntou, já caindo na armadilha.
— Tenho que ver um discreto. Pois não quero correr riscos, ser flagrada saindo de um. — sorri sozinha, sabendo que ele não conseguia ver.
— Tu me deixou de pau duro agora, princesa. Vou comer você toda e no pensamento tirar onda com aquele escroto. HAHAHA— Rafael disse.
— Eu ainda quero saber por que você tem tanta implicância com o Pedro. — perguntei.
— É uma longa história, mas eu posso te contar se você quiser. Eu acho bom pra você saber na real quem é esse seu ex.
— Me conte sim. Eu fiquei curiosa.
— Uma outra oportunidade, princesa. Não hoje. — ele respondeu.
— Acho que no momento temos coisas mais interessantes pra pensar, não é? — perguntei.
— Estou muito ansioso para você arrumar um lugar para gente foder. Não esquece de me ligar hein gata.
Assim que desliguei a chamada, encarei a tela preta do celular refletindo meu rosto. Eu parei de gravar, e mandei a conversa para o Pedro. Ele não falou nada, provavelmente estava dormindo. Confesso que estava mais curiosa que o normal sobre a participação de Rafael nisso tudo, mas principalmente no que vai acontecer nos próximos dias.
O dia seguinte parecia comum, até demais. A aula teórica na faculdade terminou e eu guardava meus materiais, já pensando em ir direto pra casa. Mas, quando atravessei o corredor até a porta de saída, dei de cara com Elisa. Não tivemos os melhores encontros nos ultimos tempos, mas dessa vez ela parecia... Bem diferente.
Ela vinha sorridente, quase saltitante, como se tivesse acabado de ganhar uma notícia maravilhosa.
— Mônica! — chamou, apressando o passo até mim. — O que o Rafael me contou é verdade?
Ergui a sobrancelha, fingindo desentender.
— Depende… o que exatamente ele te contou?
Ela deu uma risadinha abafada, mordeu o lábio e sussurrou, animada:
— Que você caiu na real amiga, e que finalmente vai perder seu cabaço?
Cruzei os braços, mantendo um ar de mistério.
— Pode ser que sim.
Os olhos dela brilharam.
— Ai, que incrível! Isso merece mesmo uma comemoração, e eu vou adorar te chupar todinha... — Ela em seguida deu um tapa na minha bunda. Eu só encenei, mostrando gostar, mas achava aquilo um nojo.
— Eu só quero ver... — pisquei.
— Sabe, Mô... Eu só tava pensando em achar um lugar legal pra gente.
Respirei fundo, calculando cada palavra.
— Olha, Elisa, eu não quero ficar na casa de terceiros. Prefiro algo mais… discreto. Um motel seria o ideal. Até porque, vai que o seu namorado resolve aparecer bem no meio, né?
Ela soltou uma risada alta, olhando de lado, e de repente acenou discretamente.
— Falando nele… olha ali, ele veio me buscar.
Segui o olhar dela e vi o rapaz dentro de um carro do outro lado da rua, sorridente, retribuindo o gesto da mão dela como se fosse o homem mais sortudo do mundo. Meu estômago revirou.
— Elisa… até quando você vai ficar com ele? — perguntei, olhando fundo nos olhos dela. — Se nem gosta dele de verdade…
Ela deu de ombros, como se não tivesse dito nada demais:
— Eu não me importo com ele. Só tô com ele pra agradar meus pais. E, claro, porque ele banca minhas coisas. Mas o que eu gosto mesmo é de homens de verdade. Homens viris.
Forçou um sorriso malicioso e acenou novamente para o namorado, que a esperava pacientemente.
— Te ligo mais tarde, tá? — disse, já se afastando.
Fiquei parada ali, observando ela entrar no carro com aquele sorriso falso, e me bateu uma sensação estranha. Pena. Pena daquele cara que mal sabia o tamanho da falsidade que tinha ao lado.
No caminho de volta pra casa, repassei mentalmente cada detalhe. Pedro então me mandou uma mensagem, de boa tarde. Disse que ouviu o audio, e que finalmente contou para o Caio sobre Elisa. Ele comentou que o rapaz ficou em choque quando escutou e leu as mensagens que Elisa mandava para ele, e disse que estará no local combinado para ver com os próprios olhos o tipo de mulher traidora que Elisa é. Não demorou muito até o celular tocar. Era a Elisa.
Eu estava deitada na cama, rolando o celular sem muita atenção, quando a tela se iluminou com o nome da Elisa. Atendi rápido, curiosa.
— Oi, Elisa! — falei, tentando soar animada.
Do outro lado da linha, ela suspirou antes de responder.
— Mô… Me desculpa mais cedo, o papo tava interessante, mas você sabe né, o mala do Caio foi me buscar... — Sua voz soava sincera, um pouco envergonhada. — Eu precisava me livrar do meu namorado, ele é muito grudento. Aliás, nunca apresentei vocês, né?
Eu sorri de leve, entendendo.
— Ah, relaxa. Não, nunca apresentou, então esse é o namorado que você me falava que era todo pegador e que te trai também? Ele parece ser tão nerd.
— Vai entender, né? Tem garotas que se atraem nesse tipo ai. — Ela então respondeu.
Houve um breve silêncio, e então ela completou com um tom mais leve, quase empolgado:
— Mas… eu tenho uma notícia boa! Ele vai viajar, acredita? Vou ficar dois dias inteiros sem ele no meu pé.
Senti um friozinho de expectativa na barriga.
— Sério? Isso é perfeito!
Ela riu baixinho, cúmplice.
— Então… pensei que a gente podia aproveitar. Você, eu… e o Rafael. Você me disse que prefere motel, né? Eu ainda acho que em casa seria melhor.
Eu já tinha pensado nisso. Na hora, me veio à mente o local reservado que conhecia.
— Eu andei pesquisando alguns, eu achei um que é muito bom, tem até banheira espaçosa... — mordi o lábio, hesitando um instante. — Eu vou te mandar o endereço, tá?
— Ah, manda mesmo! — disse Elisa, ansiosa. — Quero ver.
Rapidamente, copiei o endereço e enviei para ela pelo celular. Alguns segundos depois, ela exclamou, animada:
— Nossa, Mô, é perfeito! Não podia ter escolhido melhor.
Sorri satisfeita, sentindo que tudo estava se encaixando.
— Então amanhã a gente se encontra lá. Vou combinar com o Rafael também, pode deixar.
— Combinado! — respondeu ela, e logo em seguida se despediu: — Beijo, até amanhã, gostosa. Arrasou!
— Beijo, Elisa.
Assim que desliguei, fiquei encarando o teto por alguns segundos, tentando entender por que a Elisa parecia tão empolgada com aquilo, até mais do que o Rafael. Dei de ombros, afinal, meu objetivo com isso era outro. Mas não perdi tempo: abri a conversa com o Pedro e digitei rápido:
"Amor, amanhã a gente vai pro lugar que falei. Vai rolar."
A resposta veio quase imediata, como se ele estivesse esperando.
"Perfeito. Eu vou estar escondido com o Caio amanhã. Vamos flagrar eles juntos."
Estava enfim tudo preparado para as devidas pessoas receberem seu troco. A começar pela Elisa, e quem sabe, também o Rafael.
Pedro:
Assim que terminei de mandar as mensagens para a Mônica, o celular vibrou com uma notificação de e-mail. O remetente era Alex. Já imaginei que fosse coisa séria pelo horário e pelo título da mensagem: “Informações de São Paulo”.
Abri o e-mail e comecei a ler.
O amigo dele havia conseguido vasculhar registros antigos. Descobri que Ana morreu em um acidente de carro… Praticamente dois dias depois que eu mandei a mensagem pra ela. Mas não foi um acidente simples. Ela dirigia embriagada, em alta velocidade. A versão oficial era de uma perda de controle do veículo. Mas o que me chamou atenção foi outra coisa: nunca foi feita autópsia no corpo dela.
Além disso, o marido dela, Vitor, tinha o nome dela como beneficiária de uma apólice de seguro. Ele recebeu uma boa quantia em dinheiro logo após a morte.
Continuei lendo, tentando organizar as peças. Rafael… o tal Rafael era meio-irmão de Ana. Eles ficaram afastados por anos, brigados, até a morte dela. Depois disso, estranhamente, ele se aproximou de Vitor. Antes, os dois se detestavam. Agora, ninguém sabia exatamente qual era a relação deles.
Fechei o notebook e fiquei em silêncio. Aquilo tudo parecia mais uma novela de segredos e dinheiro do que qualquer outra coisa. Mas a pergunta que não saía da minha cabeça era: dava para usar essas informações de alguma forma?
A princípio, nada disso me ajudava diretamente. Eram pistas vagas, histórias sem provas sólidas. O que eu tinha de verdade em mãos era o vídeo com Marcos. As ameaças dele eram claras, diretas, e isso poderia colocá-lo atrás das grades por um tempo, com multa pesada junto. Talvez fosse a forma mais segura de agir agora.
Mas uma dúvida me corroía. Se Rafael e Vitor estavam tão entrelaçados após a morte de Ana… se havia dinheiro envolvido, um seguro, uma morte sem autópsia… será que eu estava, sem querer, lidando com um possível assassino?
Engoli seco. Até onde isso poderia ir?
O dia seguinte chegou, e misteriosamente eu recebi uma mensagem no WhatsApp. Um número desconhecido, que eu sequer reconhecia. Era um audio, e um pdf. Quando eu abri tal audio, eu tomei um susto.
— E ai, vai me sacanear, ou não? — era uma voz masculina. Não reconhecia, mas a outra voz, eu conhecia muito bem.
— Por favor, não me entrega para a polícia não! — Era Marcos. E pela ameaça, eu já tinha certeza que do outro lado, era Vítor.
— Você ta ferrado, cara. O meu amigo aqui tem uma gravação bem interessante sua, tentando forçar algo com a Mônica, que pode ser interpretada como abuso sexual. Isso hoje é crime, sabia? Imagina um estudante merdinha como você indo pra cadeia.
— Mas eu tava bêbado, eu sei que fiz merda, mas não destrói minha vida assim, eu faço tudo que você quiser.
— Pois é isso mesmo que eu queria ouvir. Você vai fazer o seguinte. Vocês vão viajar pra São Paulo em uma excursão, e você vai tirar vantagem disso aí pra mim. Quando a Mônica estiver sozinha, eu quero que você aborde ela que rasgue as roupas dela e Simule um novo abuso, mas toma cuidado meu chapa. É só pra simular, eu vou aparecer e vou dar umas porrada em você, depois eu deixo você cair fora. Se você fizer isso eu apago o vídeo na sua frente.
— E por que você quer que eu faça isso? — Disse Marcos.
— Isso não é da sua conta garoto, só faz o que eu tô mandando. Ou por acaso você quer levar uma dessas aqui?
— Não cara, não precisa disso. Eu faço.— Disse Marcos, com a voz claramente cheia de medo.
— Eu já me livrei de pessoas como você antes, pra mim não vai ter nenhum problema me livrar de você.
Eu não fazia ideia de como esse áudio foi gravado, mas aqui junto com o vídeo , era tudo o que eu precisava para colocar o Vitor na justiça. Não fazia ideia de quem enviou esse áudio mas provavelmente era alguém que estava próximo demais da conversa, e já supus que provavelmente foi o Marcos , o que me fez ver que o desgraçado estava blefando em não ter mais nada.
Mas também tinha um pdf. Que eram prints de um extrato bancário, de Vítor transferindo dinheiro para a conta de alguém que eu não fazia ideia de quem era. Mandei para Alex todo o material para que ele tomasse as providencias, pois no momento, eu tinha uma outra coisa para resolver.
Era hora de seguir o que eu e Mônica havíamos combinado. Chegamos ao motel antes de todo mundo. Eu e Caio descemos do carro em silêncio, e mesmo sem olhar pra ele eu sentia o peso da dúvida que pairava no ar. Foi então que resolvi perguntar, a voz quase num sussurro, mas firme:
— Caio… você tem certeza que quer continuar com isso? A gente ainda pode desistir agora. Se a gente flagrar o que imagina… vai ser pior do que qualquer coisa que já passou na sua cabeça.
Ele não respondeu de imediato. Ficou parado, encarando o letreiro piscando da fachada do motel como se buscasse coragem lá. Quando finalmente se virou pra mim, o olhar dele estava carregado de raiva e determinação.
— Eu não posso continuar sendo feito de idiota, Pedro. Prefiro ver com meus próprios olhos do que viver nessa dúvida que me corrói.
— Tu tem certeza disso? — perguntei.
— Tenho. Eu tenho feito todas as vontades dela, e ela mentindo sobre tudo, sobre nós... Sobre mim!
— Temos que fazer direito isso. Eles não podem suspeitar que Mônica está armando isso com ele, você tem que agir como se já desconfiasse a tempos de Elisa e que me procurou. Ok?
— Tá, entendi cara. Se isso realmente estiver acontecendo, tem em mim um amigo, viu?
Assenti em silêncio. Eu já sabia que não teria como convencê-lo do contrário. Entramos juntos e, como combinado, peguei o quarto do lado. Antes, tive que molhar a mão do dono do lugar. Ele fez um pouco de cena, mas no fim o dinheiro falou mais alto. Sai de lá com a cópia da chave queimando no meu bolso, como se fosse dinamite prestes a explodir.
O quarto tinha cheiro de cigarro velho misturado com desinfetante barato. Caio se jogou numa cadeira perto da parede, os punhos cerrados, enquanto eu ficava de pé, andando de um lado para o outro, tentando acalmar a respiração. O silêncio era sufocante.
E então, aconteceu.
Primeiro foram passos pelo corredor. Dois, talvez três pares de passos. Vozes abafadas, risadinhas, uma porta se abrindo, e logo depois se fechando com um clique seco.
Caio prendeu a respiração. Eu também. Encostamos os ouvidos na parede, tentando captar cada som.
— São eles… — Caio murmurou, quase sem voz.
— Eu ouvi a voz da Elisa. São eles mesmo. — falei.
— E quando vamos entrar? — ele perguntou.
— Perai.
O coração batia tão forte no meu peito que parecia querer atravessar a camisa. Eu sabia que estávamos a um passo de desmascarar os dois ali, e o momento certo precisava ser perfeito. Mandei ele esperar mais, ainda teríamos nossa oportunidade.
Mônica.
Estávamos finalmente no corredor do Motel, e eu já sabia que os dois haviam chegado. Tinha que fazer tudo milimetricamente, pois ninguém podia desconfiar de nada. Eu caminhava entre Elisa e Rafael, sentindo aquela ansiedade subir no peito. Eles não esperaram nem chegar ao quarto para começar os amasso — Rafael já agarrava a cintura dela, e Elisa ria baixinho entre um beijo e outro, como se não houvesse ninguém ali. Fiquei constrangida com a cena, confesso, principalmente em ver ela empinando a bunda enquanto ele mete com vontade a mão na bunda dela.
— Ei, calma vocês dois… — falei rindo, deslizando a chave na porta. — Já, já vamos ter tempo de sobra.
— Eu tô estranhando é você, gata. — Disse Elisa. — Ficou atiçando fogo, e até agora nada.
— Calma, Elisa. — Disse Rafael. — A gata ta com vergonha, poxa. É a primeira vez dela, vamos esquenta-la.
Eles riram junto comigo, mas não se desgrudaram. Abri a porta, empurrei com o ombro e deixei escancarada por alguns segundos antes de entrar. Só depois puxei para fechar atrás de nós, mas não girei a tranca. Era como se, no fundo, eu não quisesse cortar todas as possibilidades…
O quarto tinha aquela iluminação fraca, um abajur amarelado na mesinha e a cama feita de forma quase automática, típica de motel. Antes mesmo de eu me ambientar, Rafael já puxava Elisa para a beira do colchão, colando os lábios dela aos dele. O som dos beijos preenchia o espaço, abafado pela respiração ofegante dos dois.
Ele então jogou ela na cama, e tirava a sua camisa, ficando com o tronco completamente exposto. Enquanto ele frouxou o cinto e foi retirando, Elisa olhou para mim.
— Vem cá, Mô… — Elisa chamou com a mão estendida, sorrindo enquanto abria as pernas, já com seu sutiã apenas.
Eu respirei fundo, enquanto pegava uma cadeira para sentar. Para não parecer nada estranho, tirei minha camisa, ficando de sutiã também e disse:
— Eu to com vontade, mas tô com medo, sabe?. — disse, quase tropeçando nas palavras. — Pra ser sincera… eu queria começar só assistindo vocês.
— Que tesão hein gata. — Disse Rafael. — Então assiste aí eu dar um trato na sua amiga, mas depois tem que me chupar.
Elisa parou por um segundo, me encarando com aquele olhar curioso e malicioso ao mesmo tempo. Depois riu, jogando o cabelo para trás.
— Olha só… eu não sabia que você tinha esse fetiche de voyeurismo, Mônica… Gosta de assistir é?
Antes que eu pudesse responder, ela puxou Rafael de volta para perto e voltou a beijá-lo, mais intensa do que antes. Eu permaneci ali, de pé, observando, e pensando quando Pedro e Caio iriam aparecer.
Eu precisava simular alguma coisa, então coloquei as minhas mãos dentro da minha calça e comecei a fingir que estava me tocando enquanto vejo os dois ali praticamente já na pegação.
Rafael já estava entre as pernas de Elisa chupando ela, enquanto ele levava as mãos até seu pau e começou a bater uma. Eu estava bem desconfortável com a cena, mas precisava parecer o mais autêntica possível então comecei a gemer.
Aproveitando que estava gemendo alto e Elisa também, dei duas batidas na parede sabendo que eles estavam no quarto ao lado.
Não demorou muito e Caio e Pedro apareceram, abrindo a porta com violência.
— Pedro!? — Disse.
Pedro:
Empurrei a porta do quarto com força, Caio logo atrás de mim. O som da madeira batendo contra a parede ecoou pelo ambiente abafado, e por um instante o tempo pareceu parar.
Precisava fingir surpresa ao ver aquilo, então fiz uma expressão de raiva, enquanto minha voz ecoava no quarto, com indignação:
— Eu peguei vocês, seus filhos da puta!
Elisa se afastou, puxando o lençol para se cobrir, a boca tremendo ao murmurar:
— O… o que aconteceu aqui…? Caio...?
— Pois é Elisa, sua vagabunda. Eu tô aqui.
Meu sangue ferveu. Olhei para eles, para aquela cena nojenta, e a palavra saiu cuspida:
— Imundos. Todos vocês.
Mônica, pálida, levou as mãos ao rosto e correu direto para o banheiro, batendo a porta atrás de si. Elisa ficou paralisada, mas não pelo flagrante — seus olhos estavam fixos em mim.
— Caio… você aqui… — Elisa sussurrou olhando pra ele.
Ele riu com amargura, balançando a cabeça.
— Sempre soube, no fundo, que você era isso aí mesmo. Uma prostituta de quinta, mas eu tentei me enganar, fingir que era só coisa da minha cabeça.
— Caio, não é isso, eu to ajudando uma amiga, eu tava... — Ela disse, desesperada. Ele respondeu:
— É assim que você ajuda uma amiga, sua puta? Quanto tempo você ta me traindo? Eu... — Ele então disse, num misto de raiva e choro. — Eu fiz tudo por você, sua ordinária. Você tava com mensalidade atrasada da faculdade, eu paguei, você agora disse estar devendo pra agiota, eu vendi coisa minha pra inteirar o dinheiro e te ajudar. Você não vale nada. —E sem olhar para trás, virou as costas e saiu do quarto.
Elisa se levantou às pressas, jogando as roupas contra o corpo de qualquer jeito, tropeçando nas próprias pernas enquanto corria atrás dele.
— Você me paga, Pedro! — Ela então saiu correndo ali.
Fiquei ali, encarando Rafael. Ele levantou as mãos, tentando se justificar:
— Pedro, não é o que parece. Eu… eu posso explicar…
Não deixei terminar. Cruzei a distância num passo só e acertei um soco direto na cara dele. O impacto fez seu corpo voar contra a cama, onde ele caiu com um gemido.
— Desgraçado! — gritei, ofegante, o punho latejando. — Nem deixou a cama esfriar, e já tava com a minha mulher!
Rafael cuspiu sangue, se apoiando no colchão para se levantar.
— Foi ela! Ela que se insinuou pra mim, eu juro!
Eu então perdi o controle e novamente parti pra cima. Ele me deu um soco, mas eu acabei pegando ele contra o pescoço e jogando-o no chão, dando outro soco nele. Senti o peito arder, uma mistura de ódio e amargura. Olhei para a porta do banheiro, ouvi o choro abafado de Mônica, e voltei os olhos para ele.
— Já esperava isso dela. — cuspi as palavras, veneno na boca. — Mas de você? Eu esperava que fosse amigo o bastante pra não ceder. No fundo, sempre foi um desgraçado.
A porta do banheiro se abriu, Mônica saiu com os olhos vermelhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Pedro… — ela começou, mas eu cortei.
— Cala a boca! — berrei, o peito subindo e descendo de tanta raiva. — Você não passa de uma piranha!
Saí do quarto sem olhar para trás, o coração pesando como pedra. Atrás de mim, ouvi a voz dela, quebrada:
— Rafael… por quê? Por que você fez isso comigo?
Rafael, ainda atordoado, sentou-se ao lado dela, tentando alcançar suas mãos.
— Eu não entendo, Mônica… o que está acontecendo? Como ele apareceu aqui?
— Você armou isso né? Fez ele vir aqui só pra nos flagrar?
Lá fora, acabei então olhando para o Caio, que estava atordoado dentro do meu carro enquanto ele estava do lado de fora tentando convencer ele. Fui direto ao meu carro entrei no banco da frente enquanto Elisa veio atrás de mim.
— Pedro, você me paga, você acabou com meu namoro! Você é um desgraçado, corno do caralho!
— Sai fora, sua puta. — Acabei então dando um empurrão de leve contra ela e entrei no carro e dei partida para irmos embora. No caminho estacionei próximo de uma rua e conversei com ele.
— Você ta bem?
— Sua namorada é bem convincente. — ele disse.
— É sim, Talvez os ultimos acontecimentos nos fez tirar forças de onde não tínhamos.
— Muito obrigado, Pedro. Preciso agradecer os dois. — disse Caio.
— Não podia deixar você seguir sendo enganado por ela. Você é um bom homem.
Deixei então Caio em casa. Mais a noite, acabei recebendo uma mensagem de Monica. Ela dizia que eu fui convincente demais, até ela se achou uma vadia. nos despedimos, já sabendo que uma parte de nosso plano deu certo. Agora só restavam mais alguns.