DETETIVES - Entre o amor e o crime | Capítulo 01 - Um novo corpo, um novo parceiro

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 2765 palavras
Data: 23/09/2025 21:45:55

Narrado por: Derick

Minha rotina matinal era sagrada. Antes mesmo do sol nascer, meu despertador ecoava pelo quarto escuro, marcando exatamente quatro da manhã. O som metálico do aparelho parecia um golpe no silêncio profundo da madrugada. Abri os olhos devagar, sentindo por um instante o peso da noite ainda grudado no corpo.

Na cozinha, a cafeteira elétrica gemia suavemente, exalando o cheiro amargo e forte do café. Era um aroma que eu conhecia tão bem que quase podia senti-lo antes de me aproximar, um ritual solitário que me lembrava que o dia tinha começado, apesar da escuridão lá fora. Beber o café, sem açúcar, era uma pequena tortura, o líquido escuro e quente queimando a garganta. O gosto era como o do asfalto, amargo e terroso, mas me despertava mais rápido do que qualquer choque de água fria. As fatias de pão na torradeira saltaram com um pequeno estalo, e eu as comi sem prazer — uma necessidade mecânica para manter o corpo funcionando. A verdadeira energia vinha de uma adrenalina que se acumulava na boca do estômago, lembrando-me que logo haveria outro corpo, outro caso, outra caçada. Era uma fome que me consumia, a mesma que me empurrava para a academia. Um impulso viciante de seguir em frente, não para a vida, mas para a morte de um desconhecido. O silêncio da casa era quase total, contrastando com o zumbido nos meus ouvidos. O eco dos meus passos pelo corredor parecia invadir cada canto. As paredes escuras absorviam a pouca luz que vinha da cozinha, e a cada passo, eu sentia como se estivesse me movendo em um túnel que me levaria ao meu santuário particular: a academia no porão.

Assim que pisei na esteira, coloquei os fones e deixei que o som grave da música se misturasse ao impacto ritmado dos meus pés. A cada passada, minha pulsação acelerava, o peito queimando sob o esforço, e uma fina camada de suor começava a escorrer, colando a camiseta ao corpo. Num gesto automático, arranquei a peça e a joguei de lado, deixando a pele exposta ao ar frio que me cortava como navalha.

Foi quando o toque estridente do celular atravessou a música. Não precisei olhar. Sabia o que significava. Sem parar, pressionei o botão no fone.

— Detetive Derek — anunciei, ofegante, a voz firme apesar da respiração pesada.

Do outro lado, a notícia veio direta, sem rodeios. Outro corpo. Outro dia. Outro fardo para carregar.

— Entendido, estou a caminho.

Apertei o botão vermelho, diminuí a velocidade da esteira e em seguida a desliguei. Um silêncio desconfortável se instalou, apenas meu coração ainda batendo forte no peito.

No banho, a água quente deslizava pelos músculos tensos, e eu fechava os olhos por um instante, tentando antecipar o que me esperava. Sempre havia aquele momento entre a chamada e a chegada, em que minha mente projetava cenas horríveis, como se quisesse me preparar para o pior. E, no fundo, eu já sabia que nada me preparava de verdade.

Vesti uma camisa social preta, que moldava o corpo de forma austera, e um paletó escuro que me dava a armadura necessária para enfrentar o mundo. No espelho, meus olhos castanhos refletiam mais cansaço do que dureza. Eu tinha 39 anos agora, mas parecia carregar duas vidas inteiras nos ombros.

Minutos depois, já estava ao volante. Nova Iorque ainda dormia, mas suas ruas nunca estavam completamente vazias. O brilho frio dos postes se refletia no asfalto úmido, criando desenhos distorcidos de luzes que se mexiam com o carro em movimento. Ao fundo, uma música qualquer dos anos 2000 ecoava nos alto-falantes, um lembrete cruel de que já houve um tempo em que eu acreditava que a vida era simples.

Naquele instante, um lampejo de memória me atingiu: o garoto que eu fui, correndo atrás de festas, preocupado apenas com provas de matemática e paqueras adolescentes. Eu não sabia o que era carregar o sangue de estranhos nas mãos, mesmo quando não era o meu. Não sabia o peso de olhar para os olhos mortos de alguém e sentir que, de alguma forma, a culpa também era minha.

Apertei os dedos contra o volante, espantando a lembrança. O painel brilhou, puxando-me de volta ao presente. Desliguei o som e acelerei.

As luzes vermelhas e azuis, pulsantes no horizonte, rasgavam a escuridão, pintando o céu cinzento com um brilho violento. O reflexo se projetava nas janelas sujas dos prédios, dançando em padrões distorcidos sobre o concreto. O Bronx respirava diferente: o ar era pesado, impregnado de um coquetel de cheiros nauseantes — lixo acumulado nos becos, fumaça de cigarro e o cheiro úmido do asfalto frio. A cena já estava montada: viaturas enfileiradas, a fita amarela balançando preguiçosamente no vento. Os curiosos se amontoavam na calçada, de pijama ou com casacos jogados apressadamente sobre os ombros. Um homem mais velho tragava seu cigarro, os olhos impassíveis, como se já tivesse visto aquela cena muitas vezes. Os cochichos ecoavam, se espalhando como um veneno, cada murmúrio uma nova teoria sobre a tragédia. "Ele está de volta," ouvi alguém dizer. O som da voz era quase um sussurro, mas soou como um grito para mim.

— Detetive Derek, Polícia de Nova Iorque. — Ergui o distintivo ao atravessar a barreira.

O frio da madrugada cortava minha pele, mas o que realmente me gelava era a expectativa. O assassino tinha escolhido esse lugar a dedo. Queria ser visto. Queria ser lembrado. Isso não era só crime. Era teatro.

Antes que eu pudesse dar mais um passo, os repórteres me cercaram, vozes nervosas e microfones apontados como armas.

— Detetive! Estamos falando de um maníaco à solta? Essa já é a segunda vítima!

Mantive a expressão impassível, embora por dentro a pressão aumentasse.

— Ainda não posso dar respostas precipitados. Estamos fazendo o possível para encontrar o assassino.

Girei os calcanhares e atravessei a área isolada.

— Quero tudo fechado. Ninguém entra, ninguém sai. E bloqueiem as saídas do metrô — ordenei.

E então vi o corpo.

A adolescente jazia sobre a calçada como se alguém tivesse cuidadosamente montado a cena para uma plateia invisível. As mãos estavam cruzadas sobre o peito, mas a posição era antinatural, rígida demais, como se tivessem sido arrumadas após a morte. Entre os dedos pálidos, havia uma única flor — uma margarida murcha, fora de lugar no cenário imundo do Bronx.

O rosto dela, sereno em contraste com o sangue que escorria pelo canto da boca, parecia o de uma boneca esquecida. Os olhos, abertos e fixos no vazio, refletiam as luzes vermelhas e azuis das viaturas, dando-lhes um brilho quase sobrenatural. Ao lado do corpo, como um detalhe colocado de propósito, repousava um pequeno livro de capa gasta: uma coletânea de contos policiais.

Nada naquela morte parecia obra do acaso. Era encenação. Um espetáculo mórbido, inspirado em algo maior.

E eu sabia que esse seria apenas o começo.

— Parece que temos um serial killer — disse uma voz atrás de mim.

A frase cortou o ar gelado da madrugada como uma lâmina. Eu não deveria dar atenção, muito menos satisfações, mas meu instinto fez meu corpo girar de imediato.

— Ainda não sabemos... — comecei a retrucar, mas calei a boca no meio da frase. O peso da responsabilidade me lembrava que comentários como esse não deviam ser ditos em público.

Meu olhar afiado se fixou no homem que se aproximava.

Ele não era alto — devia ter por volta de um metro e setenta — mas a presença era marcante, quase incômoda. A pele branca parecia destoar da madrugada cinzenta do Bronx, como se tivesse sido arrancado à força de um dia ensolarado e jogado naquele cenário lúgubre. O rosto era bem definido, com um maxilar que denunciava firmeza, e os olhos castanhos, escuros, brilhavam sob a oscilação das luzes vermelhas e azuis das viaturas. Usava uma blusa simples, mas o tecido moldava os ombros largos e os braços fortes, denunciando alguém acostumado a treinar. Seu cabelo loiro era angelical, como se ele tivesse sido desenhado. Ainda assim, havia desconforto em sua postura. Não no corpo, mas no olhar — como se não soubesse onde estava se metendo.

— Quem é você? — perguntei, estreitando os olhos, deixando claro que não havia espaço para surpresas naquele tipo de cena.

— Me chamo Kaleo — respondeu, firme, mesmo com a hesitação visível. — Sou seu novo ajudante. É uma honra trabalhar com o senhor e...

— Eu não tenho ajudante. — Cortei seco, como um golpe de faca.

Kaleo respirou fundo, os ombros se expandindo como se reunisse coragem antes de continuar:

— Mas eu fui designado para trabalhar com o senhor. Só estou seguindo ordens. Se quiser, pode reclamar com a comandante depois.

Cruzei os braços e o encarei em silêncio por alguns segundos. Ele sustentou o olhar, mas não sem esforço. A tensão estava ali, explícita, como se cada segundo fosse um teste.

— Eu vou. — Respondi enfim, virando de costas, voltando a me concentrar no corpo.

Mas ele não se calou.

— O rosto sereno... — murmurou, contornando o cadáver com cuidado, como se estudasse a cena. — A flor... Vocês realmente vão fingir que isso não significa nada?

A legista, Maya, que ainda estava agachada, ergueu os olhos, surpresa com a ousadia dele. Eu, por outro lado, senti a irritação crescer.

— Por que você não explica, novato? — rebati, a voz carregada de desprezo.

Ele me encarou por um instante, e eu vi claramente a batalha interna: a insegurança contra a determinação. No fim, a segunda venceu.

— Os Crimes ABC. — Sua voz saiu firme.

As palavras ficaram suspensas no ar.

— Isso quer dizer o quê? — Maya perguntou, se levantando, limpando as mãos com a calma de quem tentava processar aquilo.

Kaleo olhou primeiro para ela, depois para mim. Havia um brilho nos olhos, algo entre nervosismo e desafio.

— Vocês não têm o hábito de ler? — soltou, quase como uma acusação. — Isso é Agatha Christie. Ele está matando as vítimas como se fossem personagens dos livros dela.

O silêncio que se seguiu pesou mais do que qualquer sirene no fundo da rua.

Eu o encarei com frieza, mas, por dentro, algo me incomodava. O novato não só tinha percebido antes de mim — ele tinha colocado em palavras algo que, até então, era apenas uma sensação difusa.

E eu odiava ter essa sensação de estar um passo atrás.

Maya ajeitou a luva cirúrgica e se inclinou novamente sobre o corpo. A luz amarelada dos postes fazia a pele da vítima parecer ainda mais pálida, quase translúcida. A flor entre os dedos dava a impressão de um ritual — algo calculado, frio.

— Hora da morte estimada entre nove e onze da noite — disse ela, a voz firme, mas baixa. — Não há sinais de luta, nenhum arranhão, hematoma ou machucado nas mãos.

Kaleo se aproximou mais um passo, como se estivesse hipnotizado pela serenidade da vítima. — ela não resistiu porque provavelmente conhecia quem a atacou...

Olhei para ele de soslaio. Ainda que fosse novato, a lógica fazia sentido. A jovem parecia quase adormecida, o rosto calmo demais para alguém que tivesse encarado a própria morte.

— Estrangulamento? — perguntei a Maya, mantendo os braços cruzados.

Ela assentiu levemente, os olhos fixos no pescoço da menina. — Exato. Marcas discretas, mas nítidas para quem sabe o que procurar. Não foi rápido… mas também não parece ter sido violento. É como se o assassino tivesse controlado cada segundo, até o último suspiro.

Kaleo desviou o olhar, engolindo em seco.

— Isso é doentio — murmurou, baixo, mas o suficiente para ser ouvido.

Mark, um dos investigadores que acompanhava a perícia, agachou-se ao lado do corpo e comentou:

— Ele está certo. Ela confiava. Não tem tensão nos músculos, nem rigidez defensiva. Se não lutou… é porque esperava algo completamente diferente da pessoa que a matou.

Maya retirou com cuidado a flor das mãos da vítima, depositando-a em um saco lacrado. Depois se levantou e suspirou. — Vou precisar levar o corpo para o laboratório. Sem identidade, sem documentos… até agora, ela é apenas uma desconhecida. Assim que eu tiver algo mais concreto — impressões digitais, exames toxicológicos, qualquer pista — aviso vocês.

Assenti em silêncio, observando enquanto ela e os técnicos preparavam o transporte. O zumbido distante da cidade contrastava com o peso daquela cena, como se o mundo continuasse indiferente ao que tínhamos acabado de testemunhar.

Quando tudo se encerrou, caminhei até meu carro e encostei na lateral fria da lataria. O cheiro metálico do sangue ainda parecia grudado em mim, mesmo que a cena já tivesse sido isolada.

Do outro lado da rua, Kaleo permanecia imóvel, olhando na direção do corpo que já não estava mais lá. Um novato, pensei, mas não recuava diante da escuridão. Isso me incomodava e, ao mesmo tempo, despertava algo que não queria admitir.

Esperei alguns minutos, observando-o em silêncio. O garoto parecia perdido em pensamentos, como se ainda buscasse respostas em uma cena que já havia sido levada embora.

Finalmente, quebrei o silêncio. — E aí? — minha voz saiu firme, quase ríspida. — Vai vir comigo ou vai ficar aí sozinho?

Ele ergueu os olhos para mim, surpreso. Não respondeu de imediato, mas seus passos começaram a se mover em minha direção.

Entrei no carro e bati a porta com força, o barulho ecoando na madrugada silenciosa. Kaleo demorou alguns segundos para abrir a porta do passageiro, mas logo se acomodou ao meu lado.

Deixei o motor ligado, os faróis iluminando a rua deserta. O silêncio entre nós era espesso, quase sufocante. Apenas o som baixo do rádio preenchia o espaço, uma melodia antiga, jazz misturado ao chiado da frequência mal sintonizada.

Dirigi alguns quarteirões sem dizer uma palavra. Estava acostumado a trabalhar sozinho, a lidar com o peso das cenas de crime sem ter ninguém respirando ao meu lado. Mas agora, aquele garoto parecia estar grudado à minha sombra.

— Você é sempre assim? — ele perguntou de repente, quebrando o silêncio.

Ergui uma sobrancelha, sem tirar os olhos da estrada. — Assim como?

— Frio. Distante. — Ele cruzou os braços, encarando o vidro. — Achei que você era mais legal.

Virei o rosto na direção dele por um instante, surpreso. — Mais… legal?

Ele suspirou fundo, como se estivesse carregando aquilo havia muito tempo, embora só me conhecesse há poucas horas. — Eu sempre sonhei em trabalhar com você. Na academia, a gente estudou vários dos seus casos. O mais novo da história a entrar para o NYPD, o recorde de casos resolvidos… Você é praticamente uma lenda entre os novatos.

A voz dele vacilou levemente no fim da frase. — Mas eu não sabia que você iria me tratar como se eu fosse um peso morto.

Engoli em seco, mantendo a expressão fechada, mas por dentro algo me apertava. A admiração dele era verdadeira. E eu, em vez de corresponder, só tinha dado motivos para ele me odiar.

— Não é sobre você — respondi, a voz mais baixa agora, quase um desabafo. — Eu não gosto de trabalhar com ninguém. Cada vez que tenho um parceiro, é como se eu tivesse mais uma vida nas minhas mãos. Mais uma responsabilidade. E eu já tenho fantasmas demais para carregar.

Kaleo me encarou em silêncio, os olhos castanhos brilhando sob a iluminação fraca do painel. Havia algo na maneira como ele me olhava que me desarmava, como se enxergasse além das minhas defesas.

O rádio tocava uma música suave, e sem pensar, murmurei: — Eu amo essa música.

Ele sorriu de leve, como se fosse a primeira rachadura real no meu muro de gelo. Estendeu a mão para aumentar o volume, e ao mesmo tempo, instintivamente, estiquei a minha para fazer o mesmo.

Nossas mãos se tocaram.

Ele não moveu a mão, os dedos quentes a poucos milímetros dos meus. Seus olhos castanhos, que há pouco brilhavam com admiração, agora me encaravam com uma intensidade que eu não sabia como processar. O silêncio novo que se instalou era pesado, diferente daquele que eu estava acostumado. Não era o silêncio da solidão, nem o silêncio do desconforto. Era um silêncio denso, cheio de uma eletricidade que não fazia sentido. Eu sentia uma familiaridade repentina, como se tivéssemos compartilhado algo antes daquele momento. Minha mente, que sempre trabalhava de forma racional, tentava catalogar a sensação: Era nervosismo? Curiosidade? Pura rejeição? Eu não queria ter uma resposta. Retirei minha mão devagar, o contato rompido, e voltei a segurar o volante com uma força que quase doía.

— Coloca mais baixo. — falei, minha voz mais fria do que o ar da manhã, para me dar algum controle.

Ele apenas assentiu, mas o sorriso discreto ainda estava lá, uma pequena rachadura no meu muro, como se ele tivesse percebido mais do que eu queria mostrar. E isso, eu sabia, era a última coisa que eu precisava. Ser visto, ser lido, por alguém que eu mal conhecia.

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Comentários

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Gostei! Se puder continuar seria legal...quero ver mais do Batman e o seu Robin loirinho rsrsrs.

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